Mãe da Divina Graça e da perseverança

Estreitamente unido a Maria Santíssima por meio da escravidão de amor, segundo o método de São Luís Grignion de Montfort, tinha Dr. Plinio grande devoção à invocação “Mater Divinæ Gratiæ” — Mãe da Divina Graça —, neste mês comemorada na festa da Medalha Milagrosa.

Sobre a efígie impressa na Medalha, cuja confecção foi pedida pela própria Mãe de Deus, abaixo reproduzimos um profundo comentário de Dr. Plinio(1), relacionando-a à Contra-Revolução, à realeza de Maria e à graça da perseverança que deve ser almejada por cada um dos filhos da Santa Igreja: Nós temos, numa das faces da medalha, Nossa Senhora pondo os pés sobre o mundo, na afirmação de sua realeza sobre toda a Terra. É exatamente essa a doutrina da realeza de Nossa Senhora que vem lembrada em Fátima e afirmada com uma vitória sobre a Revolução.

Ela calca também uma serpente, o que está inteiramente coerente, concludente, porque desse lado está escrito: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”.

Quer dizer, é a Imaculada Conceição. Mas não é pura e simplesmente a Imaculada Conceição, porque há aqui um atributo que não se encontra nas imagens da Imaculada Conceição como tal: Nossa Senhora está com as mãos abertas em sinal de aquiescência, de atendimento, e de suas mãos partem fachos luminosos imensos, simbolizando as graças e os favores que pelas mãos d’Ela — quer dizer, pela ação e por meio d’Ela — descem sobre o mundo.

Essas graças são concedidas para a conversão dos pecadores, dos hereges, mas também para o castigo dos irredutíveis e proteção daqueles que se mantiveram fiéis até o fim. São graças para a perseverança dos fiéis. Tudo isso sai das mãos de Nossa Senhora como de um manancial.

Ela está afável, risonha, acolhedora, para todos aqueles que tendo em vista esse conjunto de fatos, de símbolos, de atributos, de noções, se dirigem confiantes a Ela, pedindo as graças de que precisam.

Vamos pedir a Nossa Senhora que pelas graças da Medalha Milagrosa, Ela apresse o dia de sua vitória, de um lado. E de outro lado, também nos ajude a sermos fiéis durante todas as tormentas que se aproximam. Porque devemos nos lembrar bem disso: a perseverança é uma graça inestimável. Do que adianta ter virtudes, se depois cair no pecado?

Essa perseverança não é fruto de nossas qualidades pessoais, mas da graça que se trata de pedir humildemente, de implorar com insistência, e à qual se trata de corresponder. Portanto, precisamos pedir as graças que nos assegurem a perseverança.

Essa invocação de Nossa Senhora das Graças — ou de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa — é particularmente eficiente na luta contra o poder das trevas, que tanto e tanto nós devemos conduzir nos dias de hoje.

 

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 212 (Novembro de 2015)

1) Conferência de 27/11/1964.

Nosso Senhor Jesus Cristo deve reinar efetivamente sobre nós

Celebrar a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é festejar seu poder sobre nós. E, implicitamente, nossa obediência em relação a Ele.
Há exatamente 70 anos, Dr. Plinio lembrava o profundo significado da Solenidade de Cristo Rei.

 

Neste domingo em que a Santa Igreja de Deus celebra a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo, encher-se-ão, no mundo inteiro, os templos católicos com uma multidão piedosa que irá depositar aos pés dos altares suas súplicas e suas orações. Contemplando em espírito essa imensa multidão, composta de pessoas oriundas de todas as raças e de todos os pontos do globo, tão numerosa que, segundo a previsão do Apocalipse, “ninguém a pode recensear”, um pensamento se apodera de mim. E ao mesmo tempo eu experimento o desejo imperioso de o comunicar aos meus leitores.

Ai daqueles que, por covardia ou egoísmo, calaram os bons conselhos que poderiam ter dado

Ser-me-ia, sem dúvida, muito mais grato e mais fácil cingir-me exclusivamente a considerações de ordem geral sobre a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tenho, porém, a certeza de que tais considerações outros as farão. Mas o pensamento que está em mim, posso eu porventura ter a certeza de que todos os demais o tiveram, e de que em hipótese afirmativa o externarão? Uma dolorosa negativa me responde a esta pergunta. E, por isto, deixando a outros uma tarefa, aliás, incontestavelmente indispensável e fundamental, vou fazer a tarefa mais ingrata, mais obscura, mais desagradável, porém mais necessária: a de dizer uma verdade áspera e dolorosa, neste grande dia de festa.

Os bons pensamentos têm isto de característico: quando aproveitados, servem de remédio, tanto a nós mesmos quanto ao próximo. Quando, porém, nós os rejeitamos em nossa vida interior, ou os calamos em nossas relações com o próximo, eles se transformam, segundo São Paulo, em carvões ardentes que nos causticam e calcinam a alma. Ai dos que receberam e, por egoísmo ou covardia, não atenderam aos bons conselhos! Ai também dos que, por covardia ou egoísmo, calaram os bons conselhos que eles poderiam ter dado! Estes conselhos salutares, que eles não externaram, queimá-los-ão a eles próprios pelo interior, como brasas ardentes. E no dia do juízo serão levados à conta de talentos inaproveitados.

Aí vão minhas reflexões, portanto…

Quantos procuram implantar o Reino de Cristo no mundo, esquecidos de que devem começar por si mesmos…

Quando pronunciou, em Lisieux, sua magistral alocução, o então Cardeal Pacelli, já predestinado pelo Espírito Santo a reger futuramente a Igreja de Deus, fez uma queixa amarga, que nos cabe hoje recordar. Disse ele que entre os muitos homens que desobedecem hoje às palavras dos Pontífices, há uma categoria que causa especial mágoa ao Papa. Não se trata dos que não têm Fé, e nem dos que, tendo uma Fé morta e inoperante, não procuram ouvir o que o Papa lhes diz. Os que mais fazem sofrer o Papa — e este é o ponto que nos interessa — são os que, aos pés do púlpito, em atitude externa correta e reverente, ouvem a palavra do Vigário de Cristo comunicada pela Hierarquia Eclesiástica… mas não a compreendem; se a compreendem não a amam, e se a amam platonicamente não lhe dão execução!

Assim, no dia de hoje, quantos e quantos católicos, elevados pelo Batismo à dignidade de cidadãos do Reino de Deus, nem sequer cumprirão o preceito dominical! Quantos outros católicos, ainda, indo à igreja, ouvirão algum sermão sobre a Realeza de Jesus Cristo, sem saber, entretanto, e sem procurar saber em que sentido se deve atribuir a esta tão clara e tão litúrgica festa! Quantos católicos, finalmente, acompanhando até o próprio texto da Liturgia Sagrada, lerão as maravilhosas lições que ela contém sobre a Realeza de Jesus Cristo e não a compreenderão! Quantos os católicos que procuram implantar o Reino de Cristo no mundo inteiro, esquecidos ou ignorantes de que devem começar por implantar dentro de si mesmos! E quantos outros supõem que podem implantar realmente dentro de si o Reino de Cristo, sem sentir um desejo ardente e devorador de o implantar no mundo inteiro! Em outros termos, não são tais católicos do mesmo jaez daqueles que ouvem corretamente… porém, só com ouvidos do corpo e não com os da alma, o que lhes diz a Igreja pela voz dos Pontífices?

A doutrina da Realeza de Jesus Cristo está intimamente ligada à belíssima e piedosíssima prática da entronização do Sagrado Coração de Jesus nos lares. Se se entroniza a imagem do Sagrado Coração de Jesus no lugar mais rico e mais nobre do lar, é exatamente porque se reconhece que Ele é Rei. Entretanto, quanto lar há por aí, em que a imagem está entronizada na sala, mas em que Cristo não está entronizado nos corações!

Evidentemente, não quero exagerar a tristeza, já de per si tão grande, deste quadro, cometendo a injustiça de desprezar o que há de belo e de bom apesar destas lacunas. Qualquer ato de piedade, qualquer atitude de reverência para com a Igreja de Deus, por mais superficial e insignificante que seja, deve ser por nós, católicos, apreciado, amado e estimulado com um zelo imenso, reflexo direto de nosso amor a Deus. Longe de nós, pois, um pessimismo de sabor farisaico, que nos fizesse contestar todo e qualquer valor a estas práticas de piedade, desde que sejam sinceras, por mais que a frieza ou a ignorância lhes toldem o brilho sobrenatural.

Entretanto, feita esta reserva, a verdade aí está: a queixa de São João ainda hoje é muitas vezes procedente: “in propria venit et sui eum non receperunt”…

Jesus Cristo, o Rei por excelência

Não seria, aliás, difícil conhecer a doutrina da Igreja sobre a Realeza de Jesus Cristo.

Na sua infinita misericórdia, Deus Se dignou de comparar o amor infinito com que nos ama ao amor que nos têm nossos pais. Evidentemente, não quer isto dizer que Ele tenha reduzido na comparação as insondáveis dimensões de seu amor, para as amesquinhar até as proporções exíguas dos afetos de que os homens são capazes. Pelo contrário, se Ele se serviu dessa comparação do amor paterno, foi apenas para nos dar a entender, de longe, o quanto Ele nos ama. Se dermos à palavra “pai” o sentido que ela tem na ordem natural, Deus não é apenas nosso Pai, mas muito mais do que isto, por ser nosso Criador. Porém, como a função de pai, na natureza, não é senão de coadjuvar a Deus na obra da Criação, se alguém merece na realidade o nome de Pai, é Deus. E nosso pai, segundo a natureza, outra coisa não é senão o depositário de uma parcela da paternidade que Deus tem sobre nós.

O mesmo se dá com a Realeza de Jesus Cristo. Para nos fazer compreender a autoridade absoluta que, como Deus, Ele tem sobre nós, Jesus Cristo dignou-Se de Se comparar com um Rei. Entretanto, como é por Ele que reinam os reis — e a autoridade dos reis só é autêntica por provir d’Ele — na realidade, o único Rei, Rei por excelência, é Ele. E os reis ou chefes de Estado não são senão seus humildes acólitos, dos quais Ele se digna servir-Se na obra da direção do mundo. Cristo é Rei por ser Deus. Chamando-O de Rei, queremos simplesmente afirmar a Onipotência divina, e nossa obrigação de Lhe obedecer.

A um rei se deve obediência!

Obediência! Eis aí um dos conceitos contidos essencialmente no conceito da Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. Cristo é Rei, e a um Rei se deve obediência. Festejar a Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo é festejar Seu poder sobre nós. E, implicitamente, nossa obediência em relação a Ele.

Como é que se obedece a um rei? A resposta é simples: conhecendo-lhe as vontades e cumprindo-as com amorosa e pormenorizada exatidão.

Assim, pois, o único modo de obedecermos a Cristo Rei é conhecer sua vontade e segui-la. Dessa noção tão clara, tão simples, tão luminosa, um programa de vida, também ele claro, luminoso e simples, se segue.

Para conhecer a vontade de Cristo Rei, devemos conhecer o Catecismo. Porque é ali, através do estudo dos Mandamentos — estudo este que só será completo com o estudo de toda a Doutrina Católica — que conhecemos a vontade de Deus. E para seguir esta vontade, devemos pedir a graça de Deus pela oração, pela prática dos Sacramentos e por nossas boas obras; finalmente, pela vida interior, isto é, pela leitura espiritual, pela meditação. E pela vida vivida exclusivamente à luz do Catecismo, seguiremos a vontade de Deus.

Disse Nosso Senhor que o Reino de Deus está dentro de nós mesmos. Ora, este pequeno reino, pequeno como extensão, mas infinito como valor, porque custou o Sangue de Cristo, cada um de nós o deve conquistar para Nosso Senhor, destruindo tudo aquilo que, dentro de nós, se oponha ao cumprimento de sua lei.

Finalmente, as leis de Cristo se aplicam não apenas a um indivíduo em particular, mas aos povos e nações. Que os povos conheçam e pratiquem na sua organização doméstica, social e política, as Encíclicas — que são a expressão da própria vontade de Deus —, e Jesus Cristo será Rei.

Em outros termos, sejamos bons católicos; sendo-o, seremos necessariamente apóstolos; e sendo apóstolos, seremos necessariamente soldados de Cristo Rei.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de “O Legionário”, Nº 372, de 29 de outubro de 1939)

 

Cristandade, o verdadeiro reinado de Cristo

Percorrendo a vossa cidade, e examinando os vossos monumentos sagrados, até encontrei um altar com esta inscrição: Ao Deus desconhecido. Pois bem! O que venerais sem conhecer é que eu vos anuncio” (Atos 17, 22). Isto disse São Paulo no Areópago de Atenas, há mais de dois mil anos.

Os atenienses nem sequer conheciam a Deus, porém o adoravam. Por quê? “Anima humana, naturaliter christiana”, já dizia Tertuliano.

Se a alma humana é naturalmente cristã, seu autêntico gáudio está onde Cristo verdadeiramente se encontra, ou seja, na Igreja Católica. Constituída por membros vivos que compõem o Corpo Místico de Cristo, a Igreja transmite aos fiéis a própria imagem do Salvador.

Nas seguintes considerações, Dr. Plinio nos apresenta a intrínseca ligação que há entre a Igreja e a Cristandade:

“Lendo a História Sagrada explicitei que Nosso Senhor Jesus Cristo era a própria perfeição, e que as coisas só deveriam ser amadas na medida em que se parecessem com Ele.

“Era preciso ser conforme a Ele, e, portanto, conforme a Igreja instituída por Ele. E, por causa disso, era necessário amar as pessoas que tinham o espírito religioso, bom, verdadeiro.

“Em certo momento, pela natural maturação do espírito humano, dei-me conta de que havia nações, veios, correntes de opinião mais católicos e menos católicos. E que a esse mundo formado segundo a Religião Católica, se dava o nome de Cristandade.

“O nome me pareceu, no seu próprio som, augusto e majestoso, deleitável no mais alto ponto. Cristandade, mas que expressão bonita! Como é que uma simples palavra podia ter tanta majestade, tanta doçura? Cristandade!

“O que é a Cristandade? É, afinal de contas, a ordem de Cristo, quer dizer, a boa ordenação das coisas segundo Jesus Cristo, no Reino de Cristo.

“O que é o Reino de Cristo?

“É o conjunto das nações, que forma uma família em torno da Igreja e que vive na paz de Cristo, sob o Reino de Cristo; essa é a Cristandade.

“A Cristandade é a família das nações que vivem no Reino de Cristo. Esse conjunto de nações, como a nação é uma realidade temporal, existe nesse mundo, mas não existirá no outro mundo. No Céu não haverá nações, elas todas se dissolvem na realidade celeste.

“Qual é a relação entre a Cristandade e a Igreja? A Igreja é a alma da Cristandade. Não é possível que uma nação pertença à Cristandade sem pertencer à Igreja. A nação que se afastar parcialmente da Igreja será um membro doente da Cristandade. A Igreja é a sociedade de todos os indivíduos que acreditam na verdadeira Fé, estão sob a autoridade dos legítimos pastores e vivem segundo a Lei de Deus.

“Os homens que constituem a Igreja, vistos no plano terreno, constituem a Cristandade.

“Poderíamos dizer que — todo exemplo claudica — Igreja sem Cristandade é como uma alma sem corpo; mas a Cristandade sem a Igreja é como um corpo sem alma. Quer dizer, a Igreja faz mais falta à Cristandade do que a Cristandade faz falta à Igreja. Porque uma alma sem corpo vive; um corpo sem alma é um cadáver, apodrece.”

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/8/1983)

Majestade infinita

Ao celebrar a Solenidade de Cristo Rei, a liturgia deste ano oferece à meditação dos fiéis a passagem do Evangelho em que São Lucas descreve os padecimentos de Jesus pregado na Cruz entre dois ladrões, sendo alvo do escárnio, blasfêmias e maus tratos por parte dos circunstantes.

Pode haver conjuntura mais adversa do que esta, de completa desolação, para proclamar a realeza de alguém? Entretanto, ao insinuar esse aparente paradoxo, o texto sagrado nos introduz num profundo e adorável mistério.

Precisamente por ser Homem-Deus, Jesus é o Rei da História, e todos os acontecimentos se passam segundo sua santíssima e onipotente vontade.

Assim, ao sorver até a última gota a taça de todas as dores e humilhações possíveis, o Redentor sabia que cada um desses tormentos seria objeto da adoração de multidões ao longo dos séculos; e viria um dia em que os maiores monarcas da Terra disputariam a honra de ter incrustado no respectivo cetro um minúsculo fragmento da cana de irrisão usada na Paixão para ridicularizar a divina realeza; e a coroa de espinhos seria de tal maneira venerada, que um dos maiores reis da Cristandade, São Luís IX, haveria de mandar construir a Sainte-Chapelle de Paris para acolher essa inapreciável relíquia.

Por isso, do fundo de sua dor e abandono, possuía Jesus a majestade da certeza da vitória que haveria de vir.

Misteriosa majestade que Dr. Plinio admirou desde tenra infância, ao contemplá-la numa imagem do Sagrado Coração de Jesus, conforme sua própria descrição:
“Jesus me parecia tão majestoso e, ao mesmo tempo, tão bom; tão infinitamente superior a mim, e tão misericordioso, que eu dizia: ‘Mas, isso é majestade! Como eu gosto dessa majestade!’

“Quando me deparei na ladainha do Coração de Jesus com a invocação “Cor Jesu, majestatis infinitae, miserere nobis”, eu a adotei e a inscrevi entre as minhas invocações prediletas, desde logo, porque é uma coisa magnífica!

“Esse equilíbrio entre a majestade e a bondade me encantava, dando-me a ideia de que o mais alto e pleno padrão da majestade era Jesus Cristo. E sendo Ele “Rex regum et Dominus dominantium” — Rei dos reis e Senhor de todos os que dominam — era natural que se concebesse n’Ele uma majestade dessa elevação.”

Esta majestade infinita, sem dúvida, transluziu no alto da Cruz, aos olhos do Bom Ladrão que disse: “Senhor, lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino”. Ato de amor e de fé que mereceu, comenta Dr. Plinio, “esta promessa de Quem é, de fato, o Rei do Céu e da Terra: ‘Hoje estarás comigo no Paraíso’. Que realeza!”

Plinio Corrêa de Oliveira (Revista Dr Plinio 188 – Novembro de 2013)

São Martinho de Porres

Na Lima dos santos, brilhou a figura de São Martinho de Porres, misto de fidalgo e homem do povo, cujas virtudes esplendentes contribuíram para conferir à civilização peruana do seu tempo uma beleza e uma ordenação católicas até hoje insuperáveis. Ordenação e beleza que anseiam por reviver e traçar um futuro ainda mais glorioso que o passado.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 9/5/1994)
Revista Dr Plinio 116 (Novembro de 2007)

Refulgente destruidor das heresias

Santo Alberto Magno refulgiu enquanto intelectual, contemplativo e homem de ação porque colocou acima de tudo a vida interior. Mereceu, assim, este elogio expresso num vitral da igreja dos dominicanos de Colônia: “Este santuário foi construído pelo Bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios, modelo dos costumes, refulgente destruidor das heresias e flagelo dos maus.”

 

A respeito de Santo Alberto Magno, temos uma biografia muito interessante(1) sobre a qual pretendo tecer alguns comentários.

São Tomás de Aquino: o mais ilustre de seus discípulos

Alberto, o Grande, nasceu por volta de 1206, em Laurigen, na Baviera. Depois de uma educação cuidadosa, recebida em sua infância, foi estudar Direito em Pádua. Lá ele encontrou o Bem-aventurado Giordano, mestre geral dos Irmãos Pregadores, cujos conselhos o engajaram a entrar na família dominicana.

Logo se fez notar por sua terna e filial devoção para com Nossa Senhora, e pela fidelidade de sua observância monástica. Enviado a Colônia para completar os seus estudos, era tão aplicado que parecia ter penetrado todas as ciências humanas, mais do que nenhum de seus contemporâneos.

Julgado digno de ensinar, foi nomeado professor em Hildesheim, Friburgo, Ratisbona, Estrasburgo, enfim na Universidade de Paris, onde ele demonstrou o acordo existente entre a fé e a razão, as ciências pagãs e as ciências sacras. O mais ilustre de seus discípulos foi São Tomás de Aquino, que lhe devia suceder na Sorbonne.

Poderoso intelectual, grande contemplativo e homem de ação

Ele voltou a Colônia para dirigir os Capítulos Gerais de sua Ordem, foi nomeado Provincial na Alemanha, depois Bispo de Ratisbona. Lá ele se dedicou a seu rebanho e conservou seus hábitos de simplicidade religiosa. Mas ele renunciou três anos depois, em 1262. Desde então exerceu o ministério da pregação, agiu como árbitro e pacificador dos príncipes e dos bispos, assistiu ao II Concílio de Lyon e morreu em 1280. Por decreto de 16 de dezembro de 1931, Pio XII o inscreveu no número dos Santos e o nomeou Doutor da Igreja Universal.

Num vitral da igreja dos dominicanos de Colônia podiam-se ler, a partir do ano de 1300, as seguintes palavras: “Este santuário foi construído pelo Bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios, modelo dos costumes, refulgente destruidor das heresias e flagelo dos maus. Ponde-o, Senhor, no número dos vossos santos.”

Ele tinha por natureza, segundo se diz, o instinto das grandes coisas. Assim como Salomão, ele implorou o dom da sabedoria, que une intimamente o homem a Deus, dilata as almas e leva para cima o espírito dos fiéis. E a sabedoria lhe comunicou o segredo de unir uma vida intelectual intensa, uma vida interior profunda e uma vida apostólica das mais frutíferas, porque ele foi ao mesmo tempo o iniciador de um poderoso movimento intelectual, um grande contemplativo e um homem de ação.

O essencial é a vida interior

A linha geral da vida de Santo Alberto Magno está bem expressa quando se diz que ele refulgiu ao mesmo tempo nesses três dons. Ele se manifesta, nessas condições, como uma daquelas grandes figuras da Idade Média, que são os construtores e consolidadores dessa era histórica, a quem Deus deu graças para se tornarem salientes em todas as coisas, de tal maneira que se ele tivesse feito só uma delas, por exemplo, simplesmente tivesse sido o intelectual que foi, já seria um homem imortal.

Além de intelectual, ele foi um grande religioso e um grande contemplativo. E, como Santo, também só por isso teria a imortalidade. Por outro lado, apenas como modelo de bispo ele teria também uma fama durável em sua pátria.

Por que a Providência estabelece a conjugação desses três dons, e faz alguns homens brilharem nessas três pistas ao mesmo tempo? É para dar a entender a seguinte verdade: O homem deve ser, primeiro, de vida interior, e depois as outras coisas. Mas quando ele escolhe ser, antes de tudo, homem de vida interior, de fato ele põe a mais importante das condições para, nos outros campos, ser o que deveria.

Santo Alberto Magno foi muito maior como intelectual porque tinha vida interior. De maneira tal que se ele simplesmente quisesse ser um grande intelectual, pela mera ambição da cultura, ele tinha vantagem em continuar a vida interior. Se apenas desejasse ser um homem de ação, pela mera vantagem de o ser, ele deveria continuar a vida interior. Porque a vida interior verdadeira, plena, faz o homem executar a vontade de Deus com toda a perfeição e dá à alma recursos que são, em parte, a plenitude de seus recursos naturais e, em parte, carismas e dons que o fazem centuplicar as suas possibilidades. De maneira que ele fica muito maior nas outras atividades porque exatamente naquele elemento essencial ele soube ser grande.

Isso me faz lembrar um dito de Dom Chautard, o famoso autor de A alma de todo apostolado, para um político francês anticlerical, Clemenceau. Este, sabendo que Dom Chautard estava envolto em mil atividades, perguntou-lhe o seguinte:

– Como é que o senhor consegue levar a cabo tantas atividades num dia de 24 horas? Respondeu Dom Chautard:

– O segredo é que além de fazer tudo quanto faço, eu ainda rezo o Rosário. Então, acrescentando essa ocupação, há tempo para todas as outras.

É um paradoxo, porque acrescentando deveria diminuir o tempo. Mas nisso que parece uma brincadeira há uma verdade profunda: se dermos a Deus todo o tempo que devemos dar, dedicando-nos à vida interior, a Divina Providência velará por nós e teremos tempo para tudo. Essa é a grande verdade que se desprende da vida de Santo Alberto Magno.

Um elogio que desapareceu completamente

Eu gostaria de analisar rapidamente esse lindo elogio a ele, escrito no vitral da igreja dos dominicanos de Colônia:

Este santuário foi construído pelo Bispo Alberto, flor dos filósofos e dos sábios, modelo dos costumes…

Coisas positivas, construtivas.

…refulgente destruidor das heresias e flagelo dos maus.

Quando é que hoje se elogia alguém por ser um refulgente destruidor das heresias ou flagelo dos maus? É verdadeiramente incrível como nós caímos, a tal ponto que esse elogio desapareceu completamente…                v

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 14/11/1966)

 

Revista Dr Plinio 248 (Novembro de 2018)

 

1) Não dispomos dos dados bibliográficos da obra citada.

 

Mãe de misericórdia

A invocação de Nossa Senhora das Graças quer dizer que Ela tem em suas mãos todas as graças, porque é a depositária de todos os tesouros de Deus. Mas também significa Nossa Senhora dadivosa, misericordiosa, que tem as mãos abertas para mostrar que Ela quer dar tudo.

Ela é a Mãe de misericórdia, que deseja tocar todas as almas, inundá-las de benefícios, encher o mundo inteiro das manifestações soberanas e celestes de sua bondade e de seu poder.

 

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 176 (Novembro de 2012)

(Extraído de conferência de 26/11/1970)

 

 

Mãe da Divina Providência

O amor materno de Maria tem força regeneradora para elevar e santificar uma alma; Ela é a Medianeira das graças necessárias para a justificação daquele a quem Ela ama. Confiemos a todo instante em Nossa Senhora, lembrando-nos sempre de sua extrema meiguice para conosco, de sua compaixão para com as misérias de cada um de nós.

Tenhamos presente que, na Salve Rainha, Nossa Senhora é chamada “Mãe de misericórdia”, e que o Lembrai-vos acentua a bondade d’Ela para com o pecador arrependido.

Sem nos compenetrarmos da misericórdia de Maria Santíssima, nada de bom faremos. Cultivando-a, nossa alma se cumula de confiança, de alegria e de ânimo. Tendo a Mãe da Divina Providência como nossa própria Mãe, nada nos deve abater. Ela tudo resolverá se, confiantes, implorarmos seu maternal socorro.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 16/11/1965)

Revista Dr Plinio 224 (Novembro de 2016)

O valor do sofrimento e a majestade da morte

O valor do sofrimento, aceito por amor a Deus, e a majestade da morte constituem duas importantes verdades negadas pelo mundo moderno, cuja meditação é necessária para o progresso na vida espiritual. A respeito delas, Dr. Plinio colhe preciosas lições da Comemoração dos Fiéis Defuntos.

 

O  dia de Finados representa muitíssimo para nós. Antes de tudo, por ser a ocasião em que rezamos pelas almas de todos os fiéis falecidos e que, porventura, estejam no Purgatório. Mas é também o dia em que a Igreja, com aquele tato que lhe é próprio e absolutamente inconfundível, torna presente para nós a realidade da morte.

”Lembra-te que és pó…”

A Igreja como que abre um precipício debaixo de nossos pés e nos faz ver uma multidão de almas em estado de pena, de sofrimento, ou seja, o infortúnio daqueles que, ao morrerem, não foram diretamente para o Céu. Tudo isso se torna presente diante de nós.

É bonito ver na Liturgia as frases de Jó, as lamentações que lembram o homem levado até às beiras da loucura; e depois aquele que penetra pelas fauces da morte, inteiramente isolado, e seus ossos vão se desfazendo, sua carne virando pó, um imenso pranto inunda sua alma separada do corpo, e a desventura daquela criatura pecadora, posta numa atmosfera de punição, esperando a misericórdia de Deus e a compaixão dos vivos. Isso faz muito bem!

De quando em quando devemos meditar sobre a morte, para compreendermos o que há de profundamente real naquela advertência do sacerdote na Quarta-Feira de Cinzas: “Lembra-te, homem, de que és pó e que voltarás a ser pó”. E isso nos faz dar uma dimensão exata a todas as coisas desta vida.

A qualquer momento podemos ser julgados por Deus

Nós todos, neste momento, podemos estar movidos por desejos tão vários. Mas o que são eles, quando calculamos o que somos? É uma coisa tremenda! No momento em que estou falando, é possível que um coágulo esteja a um centésimo de segundo para chegar ao meu cérebro e que eu não acabe de pronunciar esta frase, e caia morto.

Se sou algo de tão inconsistente que um coágulo partido de meu calcanhar liquida com todas as minhas aspirações, todos os meus desejos, todos os movimentos que eu tenha em relação às coisas desta vida; tão débil que, em última análise, sei que morrerei, e, ao passar pelo cemitério, vejo ali o meu destino fixado: é virar pó… Então sou levado a considerar com equilíbrio as coisas desta Terra.

Ponderem, por exemplo, o modo horroroso pelo qual se dá a decomposição dos nossos corpos. Primeiramente, o corpo começa a apodrecer e adquire, muito frequentemente, um estado de sebo ou de gelatina. Olhem-se no espelho, vejam seus traços definidos e pensem como será quando tudo isso tiver um caráter repugnante e gelatinoso…

Isso serei eu, esta carne, estes ossos, cujo impacto estou sentindo, ficarão reduzidos a esqueleto. Muita gente passará perto e dirá: “Que alívio!” Um ou outro lamentará: “Coitado!” Algum se lembrará de rezar por mim…

Pergunto: não é boa essa meditação para refrigerar muitos ardores, criar muitos desapegos, humilhar muito orgulho e fazer-nos compreender que podemos cair, de um momento para o outro, no julgamento do Deus vivo? Quem de nós sabe se vai chegar a sua casa hoje, se daqui a uma hora não estará sendo julgado por Deus, e em seguida queimado pelas chamas do Purgatório?

Como era o luto no início do século XX

Ora, sem essas incertezas a vida não tem grandeza nenhuma. Nada é belo, nada é atraente, a não ser com um pano mortuário no fundo. Porque é só pelo contraste com essa miséria fundamental, que compreendemos como é pouco tudo quanto queremos nesta Terra, e a grandeza do outro destino que nos espera.

A civilização moderna tem pavor do luto. Eu conheci o tempo em que as viúvas ainda usavam um luto, trajando-se de preto de alto a baixo, com um véu negro sobre a cabeça, mais espesso atrás e mais diáfano na frente. E quando elas iam fazer visitas para agradecer os pêsames, apresentavam-se com esse traje, levantando o véu para conversar e abaixando-o novamente ao sair.

Havia também o luto moderado. Aliviava-se o luto seis meses ou um ano depois da morte, conforme o grau de parentesco da pessoa falecida: esposo, pai, mãe, etc. Usava-se, então, o branco juntamente com o preto até que, ao cabo de um ou dois anos, suprimia-se completamente o luto.

Alguns dizem: “Isso é pura formalidade, eu não gosto disso”. Tais pessoas, na realidade, têm pânico da morte e por esta razão têm medo até dos trajes de cor preta. É, portanto, o medo de morrer que as fazem rejeitar o luto.

Nós devemos ver a morte com serenidade e com grandeza, inclusive no que ela tem de aflitivo e de tremendo. Há uma miséria grandiosa na morte, que nos leva a dizer: O ser inteligente, capaz de morrer e de passar por catástrofe tão enorme, tem uma tal capacidade de grandeza que, certamente, uma outra vida e um outro destino o aguarda. E nisso compreendemos, então, toda a nossa grandeza.

O papel do sofrimento na vida do homem

Digo mais: não é só a consideração da morte que faz bem, mas inclusive a visão da dor. Às vezes, sinto-me inclinado a fazer o papel de cicerone, levando alguns para um hospital do câncer, para a Santa Casa, para hospitais onde há gente que sofre de úlcera exposta na mão, no rosto, para compreendermos qual é o papel do sofrimento na vida, e como não se pode levar uma vidinha de boneca de louça, ignorando essas coisas, sem ter coragem de vê-las de frente.

Gostaria de fazer, algum dia, comentários de alguns trechos do Livro de Jó, que tem algumas descrições, as mais faustosas, da dor. Nunca vi tanta majestade na dor e fora da dor, como no Livro de Jó.

A meu ver, assim como Nosso Senhor disse que Salomão, em todas as suas glórias, não se vestiu como um lírio do campo — sentença admirável e inteiramente verdadeira —, acho que se pode afirmar que Luís XIV, em todo o seu esplendor, não teve a majestade de Jó no seu monturo. As lamentações de Jó são das coisas mais majestosas que tenha havido na Terra.

Compreendemos, assim, a majestade da tragédia que chega aos últimos limites, a grandeza que o homem tem conservando-se sapiencialmente sereno diante dessa tragédia.

Reflexo da majestade de Deus “puniente”

A propósito do dia dos fiéis defuntos, essa é a lição que a morte e os mortos nos dão. É uma lição incomparável de profundidade, de força de alma, de coragem, de grandeza.

Antigamente havia reportagens sobre a morte até em jornalecos ordinários, em que o redator, quando descrevia alguém que morreu, para falar do momento de seu falecimento, dizia: “Por fim expirou e a majestade da morte revestiu os seus traços”. Era uma ideia muito bonita. Há uma majestade da morte e, sobretudo, de certos mortos que refletem a própria majestade de Deus “puniente”, do Altíssimo enquanto castiga; existe a majestade do trovão, do relâmpago, do terremoto, dos cataclismos, e que é preciso conhecer e amar. Porque quem não conhece e não ama isso, não é capaz de ver Deus inteiro, na sua afabilidade, na sua meiguice sem fim e na grandeza de sua justiça também infinita.

Todas essas são meditações úteis para se fazer a respeito do dia de Finados.

Proponho rezar pelos fiéis defuntos nos seguintes termos: Desde que Nossa Senhora — detentora de todo o valor de nossas orações — nisso consinta, que as orações desta noite sejam para as almas do Purgatório mais abandonadas, e para as quais ninguém reza; almas que talvez tenham ainda mil anos de penas para cumprir, e não há quem peça por elas.

Mas com uma condição: que elas nos obtenham a compreensão, o amor e o entusiasmo por todas as sombras com que a morte enriquece a estética do universo e os panoramas verdadeiros da vida humana.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 2/11/1966)

Revista Dr Plinio  Novembro de 2013 (Reflexões Teológicas).

 

Um chamado para todos

No calendário litúrgico o mês de novembro se abre com a Festa de Todos os Santos, estendida à Igreja Universal no século IX, a fim de homenagear a multidão dos justos: aqueles que habitam a Jerusalém Celestial, canonizados ou não, bem como os vivos que se encontram na graça de Deus e conservam a sua amizade.

Nesse sentido, esta efeméride entrelaça a Igreja Triunfante, cujos membros já receberam a palma da glória eterna, e a Militante, vivendo neste mundo na prática da virtude, à espera da felicidade  futura. Consiste tal celebração, portanto, em mais um apelo para a vocação universal à santidade, dirigido por Deus a todo homem. Precioso convite ao nosso alcance e conforme aos melhores anseios de nossos corações, como salienta Dr. Plinio: Por sua natureza, a criatura humana é dotada de possibilidades e valores os quais deve procurar cultivar e aperfeiçoar, caso deseje se realizar  por inteiro. Nessa busca, ela não pode ter ambição mais bela e mais nobre diante de si, do que a de ser santa.

Enganar-se-ia quem pensasse ser o ideal da santidade exclusivo dos expoentes da humanidade que um dia chegam à glória dos altares. Não. Pela ação da graça divina, todos podemos ser cortesões do Rei dos reis no Céu, desfrutando de uma felicidade sem jaça, imorredoura, pelos séculos sem fim. Todos fomos feitos para essa imensa, criteriosa, sábia, mas ousada aventura, na qual ordenamos nossa alma para Deus, a purificamos e embelezamos, dispondo-a à bem aventurança eterna, à corte celestial onde um assento nos está reservado.

É, pois, na esperança de podermos viver, de batalhar pela nossa santificação e de morrer na paz de Deus, confiantes em Nossa Senhora, agradecendo a Ela porque nos obteve graças para nos tornarmos outros heróis da Fé e príncipes do Céu, que devemos atravessar nossos dias neste chão de exílio. Cumpre lembrar que a Festa de Todos os Santos precede a celebração da memória dos  fiéis defuntos, ou seja, da Igreja Padecente no Purgatório, ela também partícipe desse hífen maravilhoso que liga a Terra ao Céu.

Quão sensível era Dr. Plinio a esse universo aberto, no qual a Igreja Triunfante e a Penitente se unem à Militante! Entusiasmava-o sobremodo considerar essa grandiosa epopeia da santidade, a todo momento enriquecida pela ação da graça divina, dispensada a rogos de Maria em favor de todos, e impetrada por nossas orações, pelos méritos infinitos do Santo Sacrifício de Jesus renovado nos altares do mundo inteiro, assim como pela  intercessão de nossos Anjos da Guarda e padroeiros celestes.

É uma situação simplesmente admirável a que somos chamados — exclamava Dr. Plinio —, fazendo- nos santos, postos na visão e na adoração contínuas da Trindade Santíssima! E o homem que santificou sua alma, no instante de transpor os umbrais da eternidade poderá dizer as palavras mais magníficas que imagino postas nos lábios de um moribundo, repetindo São Paulo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé; resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele dia!” (II Tim 4, 7-8).