Ascese da Companhia de Jesus – I Vigoroso torreão da Cidade de Deus

Em 1941 celebrou-se o IV centenário da fundação da Companhia de Jesus por Santo Inácio de Loyola. No marco das comemorações pela efeméride, foi Dr. Plinio convidado a falar para um seleto público na Sala João Mendes Júnior, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 22 de maio. E o fez com o eloquente desembaraço de quem conhecia de perto a obra e a fisionomia moral jesuíticas, à luz da grandiosa missão para a qual os filhos de Santo Inácio foram suscitados.

 

Pretendo tratar daquilo que o espírito da Companhia de Jesus tem de mais essencial, íntimo e caracteristicamente seu, isto é, da ascese inaciana.

Num mundo em crise, surge a Companhia de Jesus

O ambiente em que nasceu a Companhia de Jesus é assaz conhecido. Ninguém ignora as profundas comoções de ordem intelectual, artística, social, política e econômica que assinalaram a passagem da Idade Média para os Tempos Modernos. As novas concepções religiosas, pretendendo proclamar a independência do homem perante a autoridade infalível da Igreja, sujeitaram a doutrina bíblica aos caprichos da livre-interpretação. E, através dessa fenda imensa, aberta na armadura psicológica da Europa católica, não houve erro nem rebeldia que não se mostrassem à luz do sol, ataviando-se com os ilusórios enfeites de uma teologia ou de uma filosofia errônea. Seria, entretanto, manifestar singular superficialidade de espírito, pretender que o surto tumultuário de idéias subversivas, ocorrido na Renascença, constituísse um movimento de completa anarquia doutrinária. No entrechoque dos pensamentos diversos e dos extremismos que entravam em colisão, havia uma nota constante e uniforme, que atraía o desejo dos reis, príncipes, burgueses e plebeus, para uma ordem de coisas que mais abertamente lisonjeasse seu amor-próprio e suas vantagens indivi­duais. O mesmo surto de egoísmo que levava os soberanos a favorecer os propugnadores da monarquia absoluta, levava os burgueses a investir contra as desigualdades que beneficiavam a aristocracia, e a baixa plebe a se revoltar contra a diferença de fortunas.

À ordem política e social da Idade Média, caracterizada pela distribuição equitativa dos deve­res e direitos entre as várias ordens e classes do corpo social, sucedia uma ruptura profunda, em que cada classe ou indivíduo optava pela doutrina unilateral que mais abertamente ­favorecesse seus interesses. No mais profundo do homem, a causa das desordens se estabelecera. O mesmo non serviam orgulhoso, que explodira nas fileiras angélicas, se manifestava agora na Terra. A crise da pseudo-Reforma e da Renascença não foi meramente especulativa. Os debates a que ela assistiu não foram simples entrechoques de idéias. Havia na Renascença uma crise de mentalidade, e não só na inteligência, mas também na vontade o veneno penetrara.

O modo de agir da Contra-Reforma

Evidentemente, a Contra-Reforma deveria solucionar esta crise de duas maneiras: em primeiro lugar, tonificando e restaurando o vigor das convicções católicas, nos países atingidos pela influência paganizante e naturalista da Renascença; além disso, coordenando os recursos de todas essas nações para conter as investidas da heresia, e, quiçá, eliminá-la inteiramente.

A terrível parábola do Evangelho do sal insípido que não tem outra serventia, senão o ser atirado pela janela e calcado aos pés pelos transeuntes [Mt 5, 13], não se aplica exclusivamente ao cumprimento dos deveres do clero. Quando em um país as convicções, os sentimentos, o teor de vida, as camadas mais profundas da personalidade como da vida social, estão impregnadas de Catolicismo autêntico e sem restrições, não há heresia que prevaleça nem erro que logre infiltrar-se. Pelo contrário, se a debilidade das convicções, a superficialidade dos sentimentos, a incoerência da vida social com a doutrina da Igreja, fazem de um país outrora católico uma coletividade apenas relativamente católica, não há perigo que não se possa recear para ele no dia de amanhã.

O trabalho de tonificação, radicalização, restauração, revigoramento do espírito da Igreja nos países católicos se impunha, portanto, para Inácio e todos os paladinos da Contra-Reforma, como a grande condição essencial de qualquer triunfo sobre a heresia.

Com isto, o espírito da Companhia de Jesus estava definido. Na Santa Igreja de Deus, naquela época como hoje, não faltavam instituições admiráveis que, produzindo os mais autênticos frutos de contemplação e apostolado, constituíam a alegria das almas santas e o terror dos homens pérfidos. A Companhia não vinha, própria e essencialmente, fazer uma obra diferente. Estudos, colégios, congregações, missões, tudo isto não é exatamente a finalidade da obra de Santo Inácio, mas apenas seus principais e mais constantes meios de ação, quites para ela se valer também de quaisquer outros recursos lícitos, desde que úteis à maior glória de Deus. O programa próprio da Companhia de Jesus, sua finalidade suprema que, insistimos, não é exclusivamente dela, consiste essencialmente nesse empenho pela autenticidade da vida católica nos países e nos ambientes católicos, não só pelo bem que daí decorre, como ainda para a dilatação generosa e invencível desse sadio, autêntico e sólido catolicismo, nas regiões assoladas pela heresia ou pelo paganismo.

Esposo místico da dama Ortodoxia

A Companhia teria falhado em sua missão se tivesse apenas promovido obras geralmente compreendidas e aplaudidas, afirmado as verdades por todos aceitas e apregoadas, ou recomendado os preceitos comumente observados e cumpridos. Por isso ela se esmerou sobretudo em promover, diretamente ou através de terceiros, as obras que o espírito do mundo não pode nem compreender nem aplaudir; defender, com amor particularmente ardente e insistência especialmente apostólica, as verdades que o orgulho humano mais facilmente nega ou deturpa; inculcar o cumprimento dos deveres mais freqüentemente sujeitos à revolta da carne ou da cobiça. Na Cidade de Deus, não veio a Companhia para ser somente um novo palácio, e sim ocupar lugar entre as obras de vanguarda, sendo mais um vigoroso bastião na muralha fortíssima, contra a qual se devem quebrar todas as investidas da cidade do demônio. São Francisco de Assis, sem ter nem pretender o monopólio — aliás, austero — da renúncia às riquezas, foi o trovador e o esposo místico da dama Pobreza. Santo Inácio de Loyola, sem ter nem pretender o monopólio da verdade, foi o esposo místico da dama Ortodoxia.

Grande sentinela dos perigos que ameaçam a Igreja

Evidentemente, não quer isto dizer que a Companhia de Jesus tenha exclusividade em tão alta e nobre tarefa. O jesuíta não possui o privilégio da ortodoxia, como o franciscano não tem o da pobreza, o beneditino o da piedade, o trapista o do recolhimento, ou o dominicano o da ciência. Assim como cada uma dessas Ordens tem sua missão própria, sua faceta mais saliente, sua espiritualidade peculiar, e serve de meio providencial para a manifestação de especiais grandezas e bondades de Deus, a Companhia de Jesus é destinada a ser a grande sentinela dos perigos, mormente daqueles que ninguém ainda vê; o grande remédio dos males, especialmente daqueles que ainda ninguém discerne; o martelo das heresias, sobretudo daquelas cujo murmúrio incipiente ou cuja germinação imperceptível, escapa aos olhos da maior parte dos observadores. Contra a malícia humana e o espírito das trevas, que procuram desnaturar ou falsear nos homens os conceitos das verdades que ainda não conseguiram arrancar, a Companhia de Jesus é o vigia avançado, a muralha resistente, a torre elevada, que permite discernir de longe o inimigo, e quebrar o ímpeto de suas primeiras e mais fortes investidas.

Sendo essa a missão do jesuíta, tal deverá ser sua mentalidade.

(Continua em próximo artigo.)

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio (Março de 2007)

(Extraído dos “Anais do IV centenário da Companhia de Jesus, Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1946, pp. 369-382.)

 

Santo Inácio de Loyola – A coerência sem meios termos

Uma conversão assumida com extraordinário vigor de espírito, a santidade abraçada e levada às suas últimas conseqüências: na vida de Santo Inácio de Loyola a força de vontade e as atitudes extremas foram uma constante, e sua inflexível coerência constitui, no dizer de Dr. Plinio, a nota mais bela da existência do grande Fundador da Companhia de Jesus.

 

Santo Inácio de Loyola nasceu em 1491, na casa-torre dos senhores de Loyola, em Azpeitia, norte da Espanha. Era o décimo terceiro filho do casal e entrou aos l9 anos como pajem na corte do Rei Fernando V. Dotado de temperamento ardente e belicoso, a carreira das armas o seduziu. No cerco de Pamplona foi gravemente ferido na perna. Durante longa convalescença, por falta de livros de cavalaria, que o apaixonavam, deram-lhe para ler a Vida de Jesus Cristo e dos santos. Tal leitura foi para ele uma revelação. Compreendeu que  a Igreja também possuía sua milícia, a qual, sob ordens do representante de Cristo, luta para defender na Terra os interesses sagrados do Deus dos exércitos.

Cavaleiro de Cristo e da Igreja militante

Na célebre abadia de Montserrat, Inácio depõe a espada aos pés da Santíssima Virgem e sua alma generosa, outrora seduzida pela glória mundana, não mais aspira senão  pela maior glória do grande Rei que doravante servirá. Na noite da Encarnação, a 25 de Março, depois da confissão de suas faltas, fez a vigília de armas e pela Mãe de Jesus é armado cavaleiro de Cristo e da Igreja militante, sua esposa. Será em breve general da admirável Companhia de Jesus, suscitada pela Providência para combater o protestantismo, o jansenismo e o paganismo renascente. A fim de conservar em seus filhos a intensa vida interior que supõe a atividade militante à qual os destina, Santo Inácio lhes dá uma forte hierarquia e lhes ensina, em magistral tratado aprovado pela Igreja, seus Exercícios Espirituais que têm santificado milhares de almas.

Tudo para a maior glória de Deus

O lema que santo Inácio escolheu para sua milícia foram: “Ad Maiorem Dei Gloriam — Para a Maior Gloria de Deus”. Eis toda a sua santidade. E o fim da Criação, o fim da elevação do homem ao mundo sobrenatural, o fim dos preceitos do Evangelho em que almas generosas renunciam às coisas lícitas para se ocuparem mais livremente dos interesses de Deus e para lhe darem essa totalidade de glória acidental, cujo uso pelos homens, de coisas ilícitas, O havia privado. A 13 de julho de 1556 morre Santo Inácio, pronunciando o nome de Jesus. Sua Companhia, espalhada pelo mundo inteiro, contava então dez províncias e cem colégios.

Homem de decisões extremas

Sobre a vida de Santo Inácio de Loyola, cujos aspectos constituem um conjunto sobremodo arquitetônico e rico, poder-se-ia tecer inúmeros comentários. Entretanto, gostaria de ressaltar um lado que me parece ser a nota mais bela de sua existência, o ponto pelo qual ele brilhou especialmente no firmamento da Igreja.

Refiro-me à sua força de vontade e de decisão que o fazia tomar, em todas as suas atitudes, a posição mais extrema, mais aguda, aquela que chegava ao fim último, sem meios termos.

Tomemos em consideração, por exemplo, o conhecido episódio de sua perna quebrada no cerco de Pamplona. Não se pode conceber algo de mais tremendo do que um homem, então mundano e voltado para as honras terrenas, ao se ver na contingência de mancar para o resto da vida em virtude de um erro ortopédico, decidir mandar quebrar de novo o osso imperfeitamente consolidado para que a perna ficasse em ordem. E isto porque, pelos cânones da elegância naquele tempo, um fidalgo capenga seria malvisto na corte e teria sua carreira política e militar prejudicada.

Ora, Inácio de Loyola encarou de frente o futuro que essa deficiência lhe traçava. Pesou tudo em sua crueza: “Quero viver na corte, desejo seguir a carreira militar. Se eu ficar coxo de uma perna, não brilharei entre meus pares, não dançarei, não terei valor algum como soldado. Ora, devo lutar, devo luzir na corte. Se não me livrar dessa carência física, minha vida está rateada. Então, vamos quebrar de novo esta perna!”

Imaginemos agora um cirurgião munido dos instrumentos e métodos ortopédicos daquele tempo, desferindo pancadas sobre um osso mal jungido, rompendo-o e ligando-o de novo. O que isso significava de dolorido e dramático, só quem o sofreu pode saber!

Em seguida, os longos dias e as horas intermináveis de inércia num leito, aguardando a consolidação do osso e a recuperação dos movimentos da perna, seriam horrivelmente enfadonhos para aquele homem super-ativo, afeito a batalhas e grandes realizações.

Vê-se nessa atitude a decisão extrema do homem que mediu tudo e resolveu aceitar um sacrifício momentâneo em prol de seu futuro brilhante. Excluindo-se os motivos meramente mundanos que o levaram a essa situação, percebe-se naquele Inácio de Loyola o senso da preeminência do definitivo sobre o efêmero, uma fibra de alma para enfrentar tudo que fosse preciso e uma capacidade de olhar os problemas de frente que nos deixam admirados.

Santidade levada às últimas conseqüências

O mesmo vigor de espírito, a mesma força de decisão e de vontade ele empregará no momento de se converter e abraçar o chamado de Deus. Homem mundano e militar vaidoso, esquecido das coisas do Céu, sente-se tocado de modo irresistível pela graça e, como procedera em relação ao defeito físico, medita nas suas lacunas morais: “Tenho de encarar de frente as verdades eternas, o Céu, o inferno, a salvação ou a condenação. Recebi graças, compreendi como o ser autêntico católico significa dedicar-se ao serviço de Deus, a amá-Lo sobre todas as coisas nesta Terra e na eternidade. Não ser assim é procurar apenas a felicidade transitória do mundo, mas também o infortúnio e a injúria a Deus. Essa é a verdade, e tenho de encará-la.

“Devo tirar todas as conseqüências que daí pendem para mim, Inácio de Loyola, e estas consistem em seguir a voz da graça que me pede, à vista dessas considerações, uma completa mudança de vida, vivendo ao contrário do que até agora vivi, construindo para mim uma existência feita de abnegação, de humildade, mas, sobretudo, de coerência. Serei coerente até o fim na verdade que considerei e abracei por inteiro”.

E temos, assim, o programa de vida magnífico de Santo Inácio de Loyola. Ele não recuou diante de nada e empreendeu tudo quanto foi necessário para levar essa coerência até os últimos limites. Recordemos, por exemplo, o fato de ele se pôr como um mendigo, sujo e maltrapilho, pelas ruas de sua cidade, sendo reconhecido pelos seus antigos amigos fidalgos que o interpelavam com risos sarcásticos nos lábios:

— Sois vós, Inácio? O que aconteceu?

— Faço isto por amor a Deus e em reparação de meus pecados.

Os outros riam mais alto e se afastavam. Se nos colocarmos, cada um de nós, na pele de Santo Inácio em semelhante situação, numa rua de nossa cidade natal, poderemos talvez aquilatar o que essa atitude representava de vitória sobre o amor próprio e os apegos mundanos.

Pouco depois, ele funda a Companhia de Jesus, obra minúscula, constituída de meia dúzia de discípulos, com a intenção de deter a avalanche da reforma protestante pela Europa do século XVI. Santo Inácio decide realizar essa coisa extraordinária: uma ordem militar, no sentido mais elevado da palavra, para opor barreiras ao inimigo da Igreja.

Mais uma vez, é a eterna coerência levada às últimas conseqüências. Ele empreende a obra jesuítica, levanta diques à Revolução e, afinal de contas, consegue salvar e preservar vastos territórios do mundo católico.

Tratado da coerência humana

Esse espírito coerente levado até o fim, esse tratado da genuína coerência humana se acha expresso nos célebres Exercícios Espirituais escritos por Santo Inácio. Da primeira à derradeira linha, tudo neles não é senão o ver os problemas de frente, sem nenhuma mitigação covarde.

Poder-se-ia distinguir, nos Exercícios Espirituais, duas gamas de coerência levadas ao último ponto: uma, que é o pólo de todas as outras coerências, exprime-se pelo direito soberano de Deus, de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Santa Igreja Católica, de serem amados sobre todas as coisas pelos homens; a segunda se traduz pela desconfiança a nosso próprio respeito, pela consideração da maldade de toda criatura humana concebida no pecado original, pela falta de lealdade que cada um tem para consigo mesmo e nossa desonestidade em assumirmos os bons propósitos — o que, tudo, deve ser visto igualmente de frente e até o fim.

Na junção dessas duas gamas de coerência temos uma obra característica da alma de Santo Inácio. Encontra-se ali uma super-coerência que só as almas autenticamente virginais possuem, e constitui para nós um indizível modelo de pureza de intenção, aliada à pureza do corpo.

Pedir a graça de sermos coerentes na santidade

Assim sendo, para concluir esses comentários, creio oportuno invocarmos a intercessão de Santo Inácio de Loyola, rogando a ele nos obtenha a graça de o imitarmos nessa sua extraordinária coerência. Que tenhamos, como ele, a coragem de vermos nossos defeitos de frente, por piores e desagradáveis que sejam, e, como ele, tenhamos a coerência sem meios termos para abraçar a verdade inteira, a virtude completa, o caminho da santidade levado até as últimas consequências.

Claro está, sem a graça divina nada alcançamos. Sem a infalível proteção de Maria Santíssima, dificilmente vencemos nossa maldade e nossas fraquezas. Porém, rezando e confiando nesse patrocínio de nossa Mãe celeste, nossas defecções e debilidades serão sobrepujadas e obteremos de Deus os dons necessários para correspondermos à plenitude do que Ele deseja de nós.

Pode mesmo parecer milagroso que alguém, considerando suas misérias, chegue ao grau de virtude de Santo Inácio de Loyola. Pois devemos pedir esse milagre da misericórdia divina, uma vez que a todos os homens são franqueadas as graças necessárias para alcançarem a perfeição.

Seja essa a nossa ardente súplica ao grande Santo Inácio de Loyola em sua festa.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 30/7/1966)

 

Santo Inácio de Loyola

O grande Santo Inácio, fundador da Companhia de Jesus, à qual se deve a primeira e talvez a mais gloriosa e mais eficaz das Contra-Revoluções, que é a Contra-Reforma, tornou-se famoso pelo seu espírito pugnaz, pela sua penetração política, sua psicologia finíssima e pela capacidade que possuía de pregar extraordinários exercícios espirituais.

Homem capaz de guardar segredo, de fazer no silêncio uma longa, complexa e subtil trama política, dotado de um espírito de autoridade invulgar, Santo Inácio exercia sobre os seus religiosos um mando total, que fez da Companhia de Jesus o próprio símbolo da obediência.

Entretanto, esse mando que Santo Inácio exercia sobre os outros, ele começou por praticar sobre si mesmo: é um homem que tem o completo domínio sobre si.

Ao contemplar sua fisionomia, tem-se a impressão de que se estourasse uma bomba nas proximidades, ele não se assustaria.

Se tivesse que pegar uma espada para combater, ele não mostraria sanha, mas deveria ser um combatente excelente. Entretanto, ele possuía não o hábito de esgrimir com a espada, mas sim com argumentos. E, por nobre que seja esgrimir com espadas, é mais nobre ainda esgrimir com argumentos.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 17/1/1986)

São Charbel Makhlouf Modelo de contemplação e obediência

As poéticas e lendárias montanhas do Líbano foram testemunhas e guardiãs de uma maravilhosa história de santidade: entre elas viveu e sublimou sua alma nas vias da perfeição o monge maronita Charbel Makhlouf. Um dos mais esplendorosos modelos de espírito contemplativo, conforme salienta Dr. Plinio ao analisar a extraordinária fisionomia deste santo.

 

Para bem compreendermos a figura de São Charbel Makhlouf devemos nos situar no panorama e no povo em que ele viveu.

Cenário majestoso e poético

Era árabe e habitava no Líbano, naquelas regiões repletas de poesia e tantas vezes descritas pela Escritura: altas montanhas junto ao Mediterrâneo, que deixam apenas uma língua de terra entre elas e o mar. Montanhas revestidas por algo de sagrado, pois lembram particularmente a Deus Nosso Senhor, talvez pela proximidade da Terra Santa e pela sua majestade. Evocam também Nossa Senhora, comparada a um monte colocado acima de todos os outros.

Essas regiões eram recobertas por uma vegetação maravilhosa — hoje muito dizimada —, constituída sobretudo pelos cedros do Líbano, possantes e bonitos, os quais na linguagem da Bíblia representam a árvore por excelência.

Tipicamente contemplativo

A alma do árabe pode ser considerada sob três aspectos. O contemplativo, que vive no alto de um monte, recolhido, isolado, imaginoso, sedento do maravilhoso: olha para as estrelas e para os cedros, e parece ver estes tocarem naquelas; sente a brisa e a compara com o espírito.

Há ainda o árabe prático, ativo, realizador, e também o guerreiro, cujas proezas o tornaram famoso na História.

São Charbel Makhlouf era tipicamente um árabe contemplativo, que traz no fundo do olhar todo o mistério das noites do Oriente, assim como os de suas próprias meditações, de sua própria alma. Um homem que passou a vida inteira num cenóbio, imerso no mais completo silêncio, em contínua contemplação e numa inteira obediência, procurando única e exclusivamente conhecer e amar a Deus, e fazer a vontade d’Ele custasse o que custasse. Nesse intuito, enfrentou dificuldades e catástrofes, com o espírito sobrenatural e a obstinação dos santos.

Total desapego

Adquiriu alto grau de interioridade, um total desapego de si mesmo, mantendo-se invariável quando era humilhado e desprezado dentro de sua comunidade religiosa. Por exemplo, ele praticava a obediência ao pé da letra, conforme prescreve a regra monástica. Porém, em certas situações, é intuitivo que o religioso deve tomar uma atitude não prevista na regra. Posto diante de circunstâncias assim, São Charbel se dirigia ao superior, e este lhe dizia:

— Não lhe darei resposta, porque é impossível que o senhor seja tão burro a ponto de não compreender o que deve fazer nessa emergência!

Não se pode menosprezar mais alguém do que tratá-lo dessa maneira. Mormente se o outro nos vem consultar, manifestando toda a sua dependência e vassalagem. Ora, qual era a reação de São Charbel Makhlouf?

Permanecia parado diante do padre superior, até que este o dispensasse. Nosso santo fazia uma vênia e se retirava. Sem externar a menor queixa, nem lamentação nem gemido. Aquela inclinação de cabeça significava dizer interiormente: “faça-se em mim a vontade de Deus, expressa na vontade de meu superior”.

Sem mistérios para si mesmo

Feita essa introdução do personagem, analisemos uma difundida fotografia de São Charbel Makhlouf. Exceptuado a Sagrada Face do Santo Sudário de Turim, e algumas imagens de Nossa Senhora, não conheço fisionomia que a mim fale tanto quanto essa. Ela é útil para adequarmos nosso modo de ver. Pois, assim como duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si, assim duas pessoas que admiram a mesma fisionomia têm homogeneidade entre si.

À primeira vista chama a atenção a predominância da cor preta na fotografia: o gorro e o traje de São Charbel são negros, contrastando com a barba muito alva que se divide ao meio. Trata-se de uma pessoa inteiramente categórica: o que pensa, pensa; o que quer, quer, e o que faz, faz. Exímio observante da obediência, mas um homem de vontade férrea. Há uma extraordinária regularidade dos traços: o oval proporcionado da face, o bonito desenho das sobrancelhas, e as maçãs do rosto formando um todo muito harmonioso, como se fossem a expressão de sua coerência. O nariz, tipicamente árabe, possui algo de aquilino, da grandeza e da firmeza da águia. Dir-se-ia que esse homem, se tivesse asas, voaria como essa ave e alcançaria o mais alto do céu.

O que mais impressiona, porém, são os olhos. Fixos num ponto indefinido, são olhos de pensador, do homem de meditação que não se preocupa com banalidades, mas considera todas as coisas sabendo que, detrás e acima delas, está a grandeza de Deus. Seu olhar acha-se voltado, ao mesmo tempo, para o infinito e para si mesmo. Sua alma não lhe reserva mistérios, pois é objeto de um contínuo exame de consciência. Ele conhece o que se passa no seu interior e a qualquer momento pode dizer se cresceu, se diminuiu no amor de Deus. Enfim, é um espelho para si mesmo.

Diante dele, respeito e silêncio

Nota-se nele uma indiferença em relação a tudo que não se refere a Deus; não lhe afligem ambições de honras, nem preocupações com dinheiro; nada de vaidade, sentimentalismo, pena de si. Somente uma firme constância em atingir o ideal — Deus — e uma limpeza de alma por onde, confiando na misericórdia divina, ele sabe que O agrada.

 Se alguém pretender oferecer-lhe qualquer coisa que o desvie de sua trajetória espiritual, a recusa será tão completa que não se terá coragem de fazê-lo. Ele desarma previamente qualquer proposta desonesta. Diante desse homem, a única atitude razoável é o silêncio, o respeito e, por fim, o pedido de orações.

Sofrimento padecido com temperança

A fotografia revela também a alma de um sofredor. Percebe-se montanhas de sofrimento cristalizadas em seu interior. Porém, padeceu com tanta temperança, que todas as tempestades sopraram dentro dele e o deixaram mais rígido, mais firme. De maneira que se trata de um ancião, é verdade, mas inteiramente composto, e não decrépito. Homem profundamente equilibrado, que aceitou o sofrimento por completo e ficou além da dor; nada mais o assusta. Na Terra, não tem outro medo senão o de pecar; outra esperança, senão a do Céu.

Imaginemos que, no canto de um claustro, encontremos de repente um homem desses. Seríamos colhidos por uma sensação de sumo respeito, e não ousaríamos dizer-lhe nada de trivial. Provavelmente, permaneceríamos silenciosos.

Mansidão e bondade autênticas

Poder-se-ia, então, objetar que um homem com tanta força de espírito não teve bondade, mansidão, misericórdia e paciência.

Ora, sendo ele um santo canonizado pela Igreja, foi portanto muito compassivo, misericordioso, paciente e manso. A palavra de Nosso Senhor — “bem-aventurados os mansos porque possuirão a Terra” (Mt 5, 5) — realizou-se nele por inteiro, uma vez que era um bem-aventurado.

Cumpre, porém, esclarecer que os homens verdadeiramente mansos, pacientes, bondosos e misericordiosos não são os que têm fisionomia perpetuamente risonha e que condescendem com os maus. As virtudes sempre são homogêneas e uma atrai outra. Assim, o homem severo é misericordioso; o de espírito lógico, tem pena do ilogismo do próximo; o desapegado sente compaixão pelos apegados; e o que possui vida interior tem misericórdia da dissipação dos outros.

São Charbel Makhlouf é o patrono não só das almas parecidas com a dele (para que se tornem cada vez mais perfeitas), mas também daquelas que padecem dos defeitos opostos às suas qualidades, as dissipadas, as “microlíticas” ou “megalóticas”(1), aquelas voltadas para as ambições terrenas, agitadas, aflitas, inconstantes. Certo estou de que se uma pessoa nessas condições se aproximasse de São Charbel, apesar dos defeitos dela, seria recebida com uma doçura inimaginável.

Gorro singelo e imponente

Uma palavra sobre o gorro usado pelo santo. O desenho assemelha-se ao de uma pequena pirâmide. De uma só cor, forma singela, entretanto digno, imponente e até majestoso. É próprio da genialidade da Igreja inspirar a pobreza e nela inserir uma distinção que chega a torná-la grandiosa. Esse gorro, talvez imposto pelo clima e outras circunstâncias daquela região do Líbano, é simples como um chapéu de camponês; sobre a fronte venerável de Charbel Makhlouf torna-se harmonioso e digno, adequado a este santo admirável e meditativo, de cuja vida conhecemos algumas edificantes passagens(2).

Mártir da vida de obediência

Quando menino, levava uma vaca para pastar num campo pertencente à sua família. Ali havia uma espécie de gruta que servia de refúgio durante o calor. Quando ele notava que o animal tinha se saciado, dizia-lhe: “Repouse aqui; agora é minha vez e vou recitar minhas orações”. A rês então se deitava e ficava quieta até ele terminar de rezar. Esse prodígio repetiu-se tantas vezes que o lugar mudou de nome e passou a chamar-se “el-Qaddis”, ou seja, “o santo”.

Tornando-se moço, entrou na Ordem religiosa de eremitas maronitas e vestiu o hábito que, na linguagem florida do oriente, era conhecido como o “traje angélico”: túnica preta, com tecido abundante, e um cordão feito de pele de cabra. Foi-lhe dado o nome de Charbel, um mártir de Edessa do segundo século, comemorado no rito maronita em 5 de setembro.

Enquanto noviço, São Charbel destacou-se pelo cumprimento perfeito da regra, com muita humildade. Poder-se-ia pensar que essa observância representa uma falta de personalidade, de domínio de si, pois a pessoa faz aquilo que os outros mandam. Nada de mais equivocado, pois não há nenhum homem para quem não seja difícil fazer o que os outros ordenam. A vida de obediência, em si, é um verdadeiro martírio. Esse martírio São Charbel Makhlouf viveu, numa imolação para fazer tudo de acordo com o espírito do Fundador e não a seu talante, movido por inspiração mundana.

Vontade de ferro no cumprir os Mandamentos

Porém, quando se tratava dos Mandamentos, ele manifestava a sua vontade de ferro, até mesmo contrariando suas obrigações de obediência, como atesta o seguinte fato. Certa vez uma moça, impressionada com a seriedade e dignidade do noviço, quis submetê-lo a uma prova e por duas vezes atirou-lhe no rosto um casulo, querendo assim forçar Charbel a sair de sua imperturbabilidade e de seu silêncio. O noviço ficou tão indignado que, percebendo os subentendidos maliciosos desse gesto, naquela mesma noite, sem dizer nada a ninguém, saiu furtivamente do mosteiro e dirigiu-se para outro bem distante, o de São Maron de Annaya, a fim de ali continuar seu noviciado.

Importa salientar que essa atitude não era contrária à regra, pois ele tinha direito de mudar de convento para outro, sem consultar os superiores. E segundo a biografia, ele andou durante 4 horas, à noite, até chegar ao Convento de São Maron de Annaya, onde passaria o resto dos seus dias. Refulge, em tal episódio, a intransigência de um santo quando se trata de guardar a virtude e, nesse intuito, não poupar nenhum sacrifício.

Estabilidade na santidade

Em 1853, Frei Charbel Makhlouf foi admitido a receber o hábito monástico e pronunciar os votos solenes que tornavam irrevogável seu propósito de entrega total a Deus e de perfeição no exercício das virtudes. Recitou a fórmula dos votos de obediência, castidade e pobreza segundo a regra da Ordem, bem como o de renunciar à procura de qualquer dignidade ou proeminência, tanto na Ordem quanto fora dela.

Recebeu a ordenação sacerdotal em 1859 e, segundo seu biógrafo, um exame atento de todos os testemunhos recolhidos para a causa de beatificação de Charbel dão a exata impressão de que, do primeiro ao último dia de sua existência religiosa, ele permaneceu firme num modo de vida sempre igual, seguro, homogêneo, uniforme. E embora ele tenha passado um período eremítico fora das paredes do convento, a mudança das condições exteriores em nada influenciou o seu progresso interior. Quer dizer, desde o princípio ele demonstrou ser um grande santo, e se manteve nesse planalto até o fim de seus dias. Aliás, essa estabilidade na santidade é inteiramente concorde com a fisionomia que acabamos de analisar.

Fé profunda

Atestam seus contemporâneos que, em tudo quanto fazia, sentia-se sua fé profunda. Por exemplo, rezando a Missa, no momento da Consagração, às vezes lágrimas lhe saltavam dos olhos. O Pe. Francesco as-Sibrini, que conheceu São Charbel treze anos antes de sua morte, dizia: “Ele não permitia que o material usado antes da celebração da Missa, como o sabão e a tolha de mão, fosse utilizado para outra finalidade. Terminada a Eucaristia, logo depois da ação de graças, mandava lavar a toalhinha, para sempre ter as mãos modelarmente limpas ao celebrar o santo sacrifício.”

Se ele assim cuidava para retirar a poeira das mãos, quanto mais fazia para extirpar a da alma!

Outros religiosos diziam: “Assistíamos freqüentemente a Missa celebrada por ele e parecia-nos que via com seus olhos o Filho de Deus. Sua voz era baixa e seu rosto refletia a alegria interior”. Quer dizer, tinha-se a impressão de que São Charbel conversava com Nosso Senhor durante a celebração eucarística.

Um irmão leigo disse que ele parecia não saber fazer outra coisa senão rezar, celebrar a Missa e observar a regra. E outro afirmou: “Charbel se distinguia de todos os outros monges, como um grande carvalho se diferencia de uma ervinha do campo”.

Uma lâmpada acesa com água…

Por fim, vale recordar o famoso milagre da lamparina. Certa ocasião, Charbel voltou de seu trabalho no campo, na hora do jantar. E, na presença dos outros monges, pediu ao irmão despenseiro — que guarda os mantimentos do mosteiro e os distribui aos frades — colocasse um pouco de óleo em sua lamparina, para que ele pudesse rezar o Ofício na cela. O irmão o reprovou:

— Por que não viestes antes, durante o dia?

— Eu estava no campo — respondeu Charbel, confuso.

— Por penitência, não tereis óleo esta noite. Ide embora.

Charbel inclinou a cabeça, obedeceu e retirou-se. Perto do refeitório havia uma jarra cheia de água sobre um banco, e ao passar por ela Charbel tomou um pouco daquele conteúdo para sua lamparina e seguiu em direção à cela.Com a máxima simplicidade, acendeu o pavio e rezou o Ofício com a luz bruxuleante, durante duas horas.

Quando soou o sino indicando o início do silêncio, todos os monges apagaram suas luzes, permanecendo acesa apenas a do quarto de Charbel. Compreende-se, pois ele era obrigado a recitar diariamente o Breviário. Aconteceu, porém, que o Superior do convento reparou naquela luz que continuava a rebrilhar, e perguntou a um servente que se achava junto dele naquele momento:

— Quem está com a luz acesa?

— Não sei.

Preocupado com aquela infração da regra, o superior dirigiu-se rapidamente na direção daquela luz solitária e deu-se conta de que provinha da cela do Padre Charbel Makhlouf. Abriu com energia a porta, e perguntou:

— O senhor não ouviu o sino? Por que não apagou a luz? Não fez por acaso voto de pobreza?

Charbel se pôs de joelhos e, inclinando a cabeça até o solo, pediu humildemente perdão:

— Voltei do campo e sou obrigado ainda a rezar o Ofício. Estou agora cumprindo esse dever.

O servente que acompanhava o superior confirmou a explicação de Charbel, acrescentando:

— É estranho. Onde pôde ele encontrar o óleo, se o despenseiro lho recusou?

O superior então perguntou a Charbel:

— De onde o senhor tirou esse óleo?

O Padre Charbel hesitou em responder, ajoelhou-se novamente e disse:

— Perdoe-me, pelo amor de Nosso Senhor.

Quer dizer, como se tivesse sido culpado, quis ocultar o milagre. Porém, face à insistência do superior, confessou:

— Coloquei um pouco de água em minha lamparina, para concluir a recitação do Ofício.

O superior estava disposto a crer apenas se visse com os próprios olhos. Tomou a lamparina, a qual logo se apagou em suas mãos. Então entornou o líquido no chão e, à luz de uma vela, verificou do que se tratava; era mesmo água! O superior enrubesceu e, ao se retirar, murmurou ao Padre Charbel:

— Reze por mim…

O fato é tão extraordinário que dispensa comentários.

“Como se houvesse morrido há pouco”

Ele morreu na vigília do Natal de 1898. No dia 15 de abril de 1899 começou a singular aventura do corpo do santo. Com a presença do superior do convento, dos monges e de um grupo de leigos dos quais dez haviam assistido 4 meses antes ao sepultamento, o túmulo foi reaberto.

Devido a infiltrações de água, o local tornara-se um pântano no qual parecia boiar o corpo de Charbel. Este, embora coberto ligeiramente por uma espécie de musgo, estava completamente intacto. Tenro, todas as juntas flexíveis, os cabelos e a barba como ele os tinha em vida, com um ou outro fio prateado. Nos flancos do cadáver eram visíveis ainda os traços do cilício que ele usara a vida inteira. O corpo transudava continuamente, sem explicação, um líquido sanguinolento.

O corpo de Charbel foi depositado numa urna e a cada duas semanas os monges precisavam mudar seu hábito. Médicos do país e especialistas da Europa foram interpelados, em várias ocasiões, a respeito dessa transudação sanguínea, mas ninguém logrou dar uma explicação do fenômeno, tanto mais estranho quanto mais constante. Como é natural, esse líquido foi usado para curas e operar milagres. Era uma relíquia do santo.

Em 15 de outubro de 1926, o cadáver foi sujeito a novo e apurado exame. A pele, em várias partes, ainda estava fresca e as articulações flexíveis. Tinha-se a impressão de que Charbel havia morrido há pouco. Eram ainda visíveis os traços do cilício e, nos joelhos, os calos devidos às suas intermináveis orações. E continuava a misteriosa transudação do líquido.

Temos assim, um modelo magnífico de varão que abraçou as vias da santidade desde os primórdios de sua existência e a levou até o fim de seus dias. E depois de sua morte, essa trajetória de perfeição é coroada por estupendos milagres.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em  24/1/1972 e 1/2/1972)

 

1) Microlítico e megalótico: Termos criados por Dr. Plinio para caracterizar, o primeiro, as almas dominadas pelo vício da “microlice”, ou seja, as que se preocupam apenas com coisas pequenas (micros), tornando-se mesquinhas e de estreitos horizontes. O segundo se refere às pessoas eivadas pelo vício da “megalice”, isto é, julgam erroneamente possuir grandes (“megas”) qualidades ou exageram as que têm.

2) Dr. Plinio comenta alguns trechos do texto biográfico “O perfume do Líbano”, de Salvatore Garofalo, Editora Àncora, Milão.

 

 

Combatividade, sagacidade e obediência

Em Santo Inácio de Loyola brilha de modo muito particular um santo radicalismo. Ele nunca tomou uma atitude que, em seu gênero, não fosse radical. Todas as suas tomadas de posição visam um fim último. E essa é, a meu ver, a nota mais bela da vida de Santo Inácio.

Uma das maiores belezas da alma dele é o seu desejo de ir até o extremo em todas as virtudes, das quais, três me encantam particularmente: a combatividade, a sagacidade e a obediência. Nestas, Santo Inácio chegou a extremos realmente admiráveis!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 31/7/1964 e 21/3/1974)

São Tiago

São Tiago, o Maior, foi um Apóstolo e um missionário movido por extraordinária ousadia. Empreendeu uma epopeia que, levando-se em conta as condições rudimentares da época, pode ser considerada tão — ou mais — audaciosa quanto uma viagem, em nossos dias, até a Lua. Pois o filho do trovão partiu de Jerusalém para pregar o Evangelho aos povos do Ocidente, e chegou aos extremos da Península Ibérica.

Homem de gigantesca estatura moral, recebeu o infalível auxílio de Maria Santíssima, que lhe apareceu para reconfortá-lo, animando-o a não recuar diante de nenhum obstáculo na sua magnífica obra evangelizadora.

Plinio Corrêa de Oliveira

Contrassenso: uma prova de amor

Uma das piores provações pelas quais podemos passar é nos encontramos diante de um contrassenso inexplicável. Mas, confiando em Nossa Senhora, veremos que tudo tem solução.

 

Santa Brígida foi casada com um homem de um gênio muito difícil e que provou muito o temperamento dela. Ela era uma pessoa muito irritadiça e, naquele contato com o marido, teve que se dominar e acabou, afinal de contas, vencendo o gênio muito desagradável, muito duro que ela também tinha.

Ao final da vida, teve que retomar a batalha

Depois disso, ela fez uma peregrinação para o Oriente, santificou-se e voltou para Roma, tendo renunciado à condição régia que possuía e vivendo como uma espécie de freira.

Quando a Santa chegou ao fim da vida, em que a grande luta tinha sido contra o seu temperamento impulsivo, o mau gênio, aparece uma coisa que para ela foi uma catástrofe: todo aquele mau gênio renasceu, e aquela luta parecia perdida. Ela tinha conseguido dominar seu temperamento, reduzir aqueles ímpetos, e via aquilo tudo ressurgir desabotoadamente; teve que retomar a luta, venceu e então morreu em paz.

Comentam os hagiógrafos que isso não significava que Santa Brígida tivesse dado algum consentimento ao mau gênio, nem era um fenômeno de decadência espiritual dela. Mas Nossa Senhora, que tinha sopitado esse mau gênio por uma graça especial, permitiu-lhe uma última prova, fazendo-a passar por uma situação com características de coisa absurda, sem sentido.

Porque é mais ou menos sem sentido uma vida durante a qual a pessoa constrói uma obra espiritual e, de repente, esta parece desabar. Deve-se ter confiança na Providência e, mesmo na velhice, retomar aquele trabalho espiritual.

Situações que parecem sem sentido

Ela não tinha nenhuma culpa pelo que estava sucedendo e, com uma grande sujeição e confiança na Santíssima Virgem, refez todo o trabalho para apresentar a sua alma ao Criador.

Parecia, portanto, uma espécie de cúmulo o vencer o mau gênio. Mas a última coisa, depois do mau gênio completamente vencido, era aceitar a provação enviada por Deus.

Exatamente aqui está um requinte da vida espiritual, a respeito do qual nunca será suficiente insistir. A Providência Divina nos pede, em muitas ocasiões da vida, que enfrentemos situações que parecem sem sentido, que caminhemos de encontro a muralhas que não têm portas, a mares que não têm fundo, a obstáculos que não têm solução, e depois, quando nos aprofundamos, aquilo se abre, se move, e continuamos a avançar.

Isso é frequentíssimo na vida espiritual, bem como na vida de apostolado e na vida privada. Nossa Senhora faz essas coisas para as almas a quem Ela chama às mais altas finalidades e ama mais especialmente. Essa espécie de contrassenso é exatamente uma prova de amor.

Preparar o espírito para a provação

O que pede uma prova de amor? Uma fé cega, depois da qual vem sempre uma grande graça.

Digo isto para alguém que esteja nessas condições, mas também para os que não estão, porque é preciso preparar o espírito para provas dessas.

A pessoa não compreende por que a prova vem, e passa a provação toda protestando. Entretanto, se não protestasse, tornaria a prova mais breve e, no fim, compreenderia o sentido que aquilo tem.

É mesmo uma constante de muitas vocações excelentes. De maneira que é necessário preparar o espírito para essa ideia e enfrentar a prova, porque Nossa Senhora é assim bem servida. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, encontramos homens de Deus, especialissimamente amados por Ele, que são provados por essa forma. Devemos ir preparando reservas de energia de alma, de disposição, para quando isso acontecer.

Uma das piores provas que podemos atravessar durante a vida é a impressão de que estamos diante de coisas sem sentido, e não há mais solução nem caminho para nada; e, depois, vemos que há solução e caminho, e tudo no final se esclarece.

Uma tentação que se apresentou ao jovem Plinio

Desculpem-me exemplificar com uma reminiscência particular, mas a vida inteira me causou verdadeiro horror a ideia de briga entre católicos. A única tentação que tive em minha vida de deixar o movimento católico foi logo no comecinho das minhas atividades, quando um senhor tentou provocar uma cisãozinha contra mim, na minúscula Ação Universitária Católica(1) daquele tempo.

Fiquei fortemente tentado de desânimo. Lembro-me ainda de mim, andando de bonde pelo Viaduto do Chá para ir a uma reunião deles, numa noite chuvosa e ruim, e eu tomando todos os ventos no bonde aberto, de pernas trançadas e lutando contra aquela tentação de deixar tudo. A minha ideia era esta: “Sou feito para lutar contra os inimigos da Igreja, e não para lutar contra os filhos dela”.

Tempos depois, eu li uma biografia de Santa Teresa de Jesus, que me agradou muito. Quando terminei a leitura, fechei o livro e pensei: “Está bem, graças a Deus isso é para ela, mas eu fui suscitado para lutar contra a Revolução; não para combater dentro da Igreja”.

Se eu tivesse podido prever tudo o que veio depois, talvez desmaiasse. Ora, tive que aceitar uma realidade que durante muito tempo me pareceu um completo contrassenso.

Quantos outros absurdos dentro de minha vida eu poderia apontar. Pilhas de disparates, de situações que não têm sentido, simplesmente, mas que se vai enfrentando, se adaptando, fazendo-se pequeno, obedecendo à vontade de Nossa Senhora que fala pela voz dos acontecimentos e, depois, vai-se compreendendo que devia ser, e que foi bom que tivesse sido assim.

Calma, segurança e certeza

Eu recomendaria muito àqueles que tenham de trilhar veredas semelhantes àquelas trilhadas por mim que, meditando a respeito disto, se preparassem para enfrentar esses contrassensos. É uma forma de ato de humildade compreender que devemos nos colocar diante de Maria Santíssima como escravos, feitos para obedecer sem discutir. Ela é quem manda, quem dispõe e, portanto, tem o direito de nos fazer passar pelas evoluções que entender para, afinal de contas, chegarmos aos resultados que Ela quiser. Porque isto é obediência, confiança e amor.

Peçamos a Santa Brígida para vincar bem esta ideia em nosso espírito: calma, segurança e certeza de que tudo se resolve e tudo se explica, mesmo nos momentos em que tudo parece insolúvel e inexplicável.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/10/1964)

 

1) Grupo fundado por Dr. Plinio em 12 de setembro de 1929, constituído de congregados marianos universitários. Ver Revista Dr. Plinio n. 18, p. 4; n. 59, p. 28-30; n. 152, p. 29; n. 175, p. 5.

 

São Daniel

Às vésperas de sua morte, o Profeta Daniel teve a visão de um anjo que lhe disse: “Quanto a ti, vai até o fim. Tu repousarás e te levantarás para receber tua parte de herança, no fim dos tempos” (Dan 12, 13).

É a majestade varonil do Antigo Testamento que aí se contempla; é a magnitude do Profeta exaltada pela aparição de um anjo que vem anunciar sua passagem para a eternidade: “Tu profetizaste, foste grande aos olhos de Deus e dos homens, mas tu também és perecível em teu corpo. Este desaparecerá, enquanto tua alma viverá à espera da recompensa. Dormirás, e serás feliz quando te reergueres para a ressurreição da carne!”

Há nisto uma elevação, uma excelência profética que paira imensamente acima de todas as coisas e nos descansa de tantas trivialidades deste mundo.

Plinio Corrêa de Oliveira

Santo Elias

Pelas narrações da Escritura e pelas imagens que o representam, Santo Elias nos aparece como um perfeito modelo de varão temente a Deus, sério, digno, majestoso, com o  coração imbuído de zelo no serviço do Altíssimo. A fisionomia possante, a barba espessa e farta, o fulgor do olhar de quem transmite os ditames divinos para o mundo, os  gestos, as atitudes, tudo nele reflete a ênfase — quase diria a pompa — dos profetas do Antigo Testamento.

E se não bastasse ser um espírito incendiado de amor ao Messias que viria, Elias teve por um de seus mais valiosos galardões a devoção à Santíssima Virgem, séculos antes  de Ela nascer.

Foi, com justiça, o precursor das gerações e gerações de filhos que louvariam e aclamariam Nossa Senhora como Bem-aventurada até o fim dos tempos.

Plinio Corrêa de Oliveira (“Santo Elias enfrenta o Rei Acab” — Igreja de São José, Madri)

Santa Macrina, modelo de educadora

Ao contrário do corre-corre e da dilaceração da existência nos dias de hoje, Santa Macrina cuidava dos afazeres domésticos, levando uma vida recolhida, calma e distendida, com muito espírito de oração. Dentro de sua casa, ela educou seus irmãos menores, que depois se tornaram grandes santos.

 

Tenho em mãos uma síntese biográfica de Santa Macrina, virgem, tirada da obra “Vidas dos Santos”, do Padre Rohrbacher(1).

Quatro irmãos santos

Nascida em Cesareia no ano de 327, Macrina, a Jovem, era filha de Emélia e Basílio, o Antigo, e irmã de Basílio, Bispo de Cesareia, de Gregório, Bispo de Nissa, de Pedro, Bispo de Sebaste.

Macrina era a mais velha, a “mãezinha”, a protetora, a incansável, da qual São Basílio, com emoção, fala que foi educadora perfeita.

A mãe inspirou-se na Escritura santa para formar a filha, buscando na Sabedoria de Salomão luzes para educá-la, ao passo que o Saltério foi o preceptor da jovenzinha.

Aos doze anos, ficou noiva, mas morrendo o pretendente não pensou noutra coisa mais, senão em se consagrar à educação dos irmãos.

Em 373, Emélia faleceu. Os filhos, já formados, de vez em vez vinham visitar a “Grande Macrina”, como a chamavam nos tempos da longínqua infância.

Quando doente, já perto da morte que a levou em 379, Gregório encontrou-a sobre uma tábua, com o cilício. Tomou-a carinhosamente e pô-la no leito, onde a moribunda, evocando o passado, pôs-se a render graças a Deus por tudo aquilo que, bondosamente, dignou-se conceder-lhe:

“Senhor, Tu acabaste com o medo da morte. Por Ti, a verdadeira vida começa quando se acaba a vida atual. Dormimos por uns tempos, depois nos ressuscitarás ao som da trombeta”. Depois: “Tu nos salvaste da maldição e do pecado, vindo por nossos pecados e nossa maldição”.

Com o Crucifixo de ferro, que encerrava uma relíquia da Cruz do Salvador, que sempre trouxera consigo, morreu em paz, sendo enterrada perto do pai e da mãe.

Vemos aqui o que é uma alta genealogia; os pais tiveram quatro filhos santos: São Basílio Magno, que superou o pai; São Gregório de Nissa, também grande santo e Padre da Igreja; São Pedro de Sebaste e Santa Macrina.

Pedagogia inspirada no Livro da Sabedoria e dos Salmos

A mãe inspirou-se na Escritura santa para formar a filha, buscando na Sabedoria de Salomão luzes para educá-la, ao passo que o Saltério foi o preceptor da jovenzinha.

Bons tempos aqueles em que a mãe abria o Livro da Sabedoria para aprender como deveria educar os filhos. Hoje, a maioria das mães não se lembra disso. E se puserem esse Livro nas mãos de algumas delas, não entendem ou não concordam.

Em 373, Emélia faleceu. Os filhos, já formados, de vez em vez vinham visitar a “Grande Macrina”, como a chamavam nos tempos da longínqua infância.

Portanto, eles souberam agradecer a educação que receberam desta irmã.

A ficha colhida parece ser um pouco vazia porque, afinal de contas, narra quem são os pais e os irmãos dela, conta que ela ajudou sua mãe a educar seus irmãos e, depois, diz que ela morreu, e nada mais.

Esse vazio pode ser preenchido com algumas considerações a respeito da vida feminina naquele tempo. Creio que daí virá algo de útil para nós.

O papel da mulher é ser o centro natural da família

Uma verdade elementar, acessível a qualquer pessoa, é que sendo a mulher e o homem pertencentes ao gênero humano, são, contudo, muito diferentes, devendo também caber, a cada um, tarefas diversas nesta vida. E se é próprio ao homem velar pela manutenção da família, é próprio à mulher permanecer dentro de casa e proporcionar ao homem um verdadeiro tesouro: uma casa habitada.

Quer dizer, a mulher deve ter seus filhos e educá-los. Depois de terem completado a sua educação, os filhos se casam. O papel da mulher é de ser o centro natural da família. De maneira que sua residência é o ponto de encontro dos filhos, dos netos. E o normal é que ela passe a maior parte de sua vida dentro de casa. Não quero dizer que a mulher deva sempre ficar em sua residência; mas o sair todos os dias de casa não é próprio a uma mulher com espírito feminino completamente bem formado.

A distração, o entretenimento da mulher, o ambiente onde ela completa a sua personalidade é dentro de sua própria casa e das residências dos parentes muito próximos, os quais ela deve visitar com uma relativa assiduidade, de acordo com as circunstâncias. Mas precisa encontrar a sua satisfação em estar dentro de sua própria casa.

Fazendo o que dentro de casa? Recebendo os seus, tomando conta do lar, rezando, e rezando bastante, e levando uma vida recolhida, calma e distendida. É o que a natureza da mulher pede.

Enquanto a natureza do homem requer que ele saia, exerça alguma atividade, lute, a natureza da mulher pede esse tipo de vida especial, que lhe proporciona as circunstâncias dentro das quais ela verdadeiramente se salva, e pode se santificar.

Eu conheci senhoras para as quais o normal era não sair de casa. Quando saíam, era aos domingos para ir à Missa, e uma vez ou outra a fim de fazer compras ou alguma visita. No período em que as filhas deviam contrair matrimônio, elas tinham que sair um pouco mais. Fora disso estavam dentro de casa, onde levavam sua vida habitual.

Essa vida impregnada de calma, de piedade, podia conduzir, conforme fosse o espírito da mulher, a um alto grau de santidade, ou a uma virtude comum. Mas na maior parte das vezes, era uma virtude sólida que dava um eixo, um sustentáculo moral à vida de família.

Esta foi, sem dúvida, a vida de Santa Macrina.

Cuidar dos afazeres domésticos com espírito sobrenatural

Depois de ter cumprido a sua missão na Terra, educando três santos para a Igreja, e transmitindo-lhes a educação que recebera, ela não entrou para um convento. Poderíamos esperar que, sendo uma santa, tivesse resolvido entrar para um convento, ou então ir para uma Tebaida, um lugar remoto. Não. Ela ficou em sua residência e ali levou a vida de uma dona de casa. Fez o menu, cuidou que as coisas não se deteriorassem, dirigiu as criadas, manteve um certo número de relações que era natural que mantivesse, e consagrou o principal de seu tempo à oração. Fez tudo isto com espírito sobrenatural, tornando-se uma grande santa.

É um modo de santificar-se nas condições normais de uma existência sadia, razoável, e não o corre-corre e a dilaceração da vida nos dias de hoje, tão contrária à natureza da mulher e mesmo do homem. Normalmente, uma mulher virtuosa, vivendo aquela vida e impregnando-a intensamente do sobrenatural, se salva. Compreende-se que, não tendo recebido de Deus uma vocação especial, Santa Macrina permanecesse em casa com seus pais.

E essa sua vida foi coroada, em primeiro lugar, pela presença de um tão grande santo, irmão dela, para assistir à sua morte. Foi coroada também pelas lindas palavras que ela proferiu antes de morrer. Palavras de Fé, de quem sabia que não ia terminar, mas ressuscitaria depois, confiante de que a misericórdia divina a receberia no Céu.

Ela levou até o fim da vida uma cruz de ferro, dentro da qual estava embutido um fragmento da verdadeira Cruz. Podemos notar, através desses dados, que ela morreu como tinha vivido, quer dizer, santamente, e foi objeto da veneração dos três santos por ela formados e que a chamavam a “Grande Macrina”.

O que essa “Grande Macrina” fez? Aparentemente nada. Ela educou três crianças, que depois se tornaram grandes santos. E o que mais? Educou-os em sua casa, magnificamente, rezando e vivendo piedosamente uma existência normal. Com isso ela se santificou, adquiriu uma virtude heroica e está no Céu. A Igreja a canonizou. 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência  de 24/7/1971)

 

1) Cf. ROHRBACHER, René François. Vidas dos Santos. Vol. XIII. São Paulo: Editora das Américas, 1959. p. 178-179.