Santo Agostinho – Águia de Hipona

A águia, no momento em que está levantando seu voo, é muito bonita.

Porém, ainda mais belo é o pensamento humano, quando expresso de tal modo que se possa perceber o seu voo. Assim é Santo Agostinho: em seus ímpetos de alma, mostra um voo incomparável.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Santo Agostinho, farol de sabedoria e de amor a Deus

De pecador a modelo de perfeição espiritual, Santo Agostinho abraçou a Fé católica com fervor e zelo invulgares, defendendo-a e a enriquecendo com a extraordinária inteligência que lhe foi concedida por Deus. Algumas facetas dessa grande figura da Igreja reluzem aos nossos olhos, comentadas por Dr. Plinio.

Considerado um dos mais luminosos teólogos da Igreja em todos os tempos, Santo Agostinho legou à História não apenas seus tratados espirituais, como também a narrativa da própria conversão, a descrição de suas lutas interiores e de seu triunfo sobre o pecado. “Confissões”, a célebre obra do Bispo de Hipona, tem produzido inúmeros frutos de emenda de vida, de retomada do caminho da virtude, por parte dos que se deixaram tocar pelo exemplo desse herói da Fé.

Antes de comentarmos uma eloquente passagem dessa autobiografia, convém tomarmos conhecimento de alguns breves contornos do perfil de Santo Agostinho.

Retórico e filósofo ilustre

“Pai por excelência de todos os Padres da Igreja, Doutor da graça, monge, pastor, teólogo, autor de uma obra monumental e escritor de gênio, Agostinho permanece o símbolo vivo do convertido, não cessando de influenciar o espírito e o imaginário da Europa.

“Esse romano da África, de origem berbere, nascido no ano de 354, em Tagasta, na atual Argélia, alcançou grande renome por seu extraordinário domínio das artes liberais, e foi considerado por seus contemporâneos como o mais ilustre dos retóricos e o mais autorizado dos filósofos. Adepto de Cícero, o jovem Agostinho vai para Cartago, e depois para Roma e Milão, que era então a capital do Império. As suas peregrinações espirituais o levaram a aderir ao maniqueísmo, mas é o encontro com o cristianismo que vai revolucionar a sua existência. Aos trinta e dois anos, por insistência de sua mãe, Santa Mônica, e de Santo Ambrósio, e após uma revelação sobrenatural nos jardins da sua casa, Agostinho pede que seja batizado.

“Diz uma tradição que, terminada a cerimônia do Batismo, Santo Ambrósio exclamou: ‘Te Deum laudamus!’, e que Santo Agostinho acrescentou: ‘Te Dominum confittemur!’; e assim, alternando suas frases um e outro, entre os dois improvisaram naquela ocasião os conceitos e palavras que compõem o cântico litúrgico do ‘Te Deum’.

Incansável adversário da heresia

“Depois de um breve retiro em Cassiciaco, Agostinho volta à sua terra natal, torna-se monge e consagra três anos à oração e ao estudo.

“Em 391, O Bispo Valério de Hipona (atual Annaba) chama-o para junto de si. Agostinho suceder-lhe-á em 395 nessa importante sede episcopal. Começa então para esse pregador e catequista infatigável uma era de grandes controvérsias — contra os donatistas, em primeiro lugar, que negam aos ‘lapsi’ (apóstatas) o perdão da Igreja; em seguida contra os pelagianos, que atribuem exclusivamente ao homem o mérito da salvação.

“O Bispo de Hipona descobre em si uma vocação de lutador contra as heresias, capaz não só de inscrever a sua reflexão nas problemáticas do seu tempo, como também de edificar uma autêntica Teologia perene. No fim da sua vida, já em plena invasão dos Vândalos, enfrentou um último desvio à Fé: o dos homeanos, que negam o dogma cristológico.

A tristeza, companheira no fim da vida

“Por volta do ano 430, os bárbaros devastam totalmente o norte da África. Ao atingirem Hipona, os invasores a cercaram e lhe impuseram um rigoroso assédio. Este acontecimento agravou a já amarga e triste ancianidade de Santo Agostinho, que sofreu mais do que todos, e se alimentou de dia e de noite com a torrente de lágrimas que brotavam de seus olhos ao ver como uns caíam mortos e outros fugiam, e ao considerar que as igrejas ficavam viúvas de seus sacerdotes, e as populações arrasadas se transformavam em desertos.

“Como os horrores continuassem, reuniu seus monges e lhes disse: ‘Pedi ao Senhor que nos tire desta angustiosa situação, ou nos dê forças para suportá-la, ou me leve desta vida e me livre de presenciar tantas calamidades’.

“O Senhor o ouviu e lhe concedeu a terceira dessas petições. Meses após o início do cerco da cidade, Santo Agostinho caiu enfermo. Compreendendo que o dia de sua morte se aproximava, mandou que escrevessem os Sete Salmos Penitenciais em grandes cartazes e os pregassem a uma das paredes de sua cela, de maneira a poder lê-los e rezá-los a partir do leito em que se achava prostrado. Assim foi feito, e o Santo, sempre com imensa emoção de alma, recitava constantemente ditas orações.

“Pouco antes de sua morte, Santo Agostinho teve essas interessantes palavras: ‘Ninguém, por muito virtuosamente que tenha vivido, deve sair deste mundo sem fazer previamente confissão de seus pecados e sem receber a Eucaristia’.

“Até o último momento de sua vida conservou perfeito estado de suas faculdades, seus membros e sua vista, de maneira que, com completa lucidez mental, no instante supremo, rodeado de seus monges que o assistiam com suas preces, aos 77 anos de idade e 40 de episcopado entregou seu espírito a Deus.

Apaixonado investigador da verdade

“Luminosíssimo farol de sabedoria, baluarte da ortodoxia, fortaleza inexpugnável da Fé, sobressaindo em talento e ciência entre os demais doutores da Igreja, Agostinho foi homem eminente, tanto pelos exemplos de ­suas virtudes, quanto pela riqueza de sua doutrina.

“A obra que deixou é imensa. Cento e treze Tratados, entre os quais se destacam o ‘De Trinitate’ e ‘A Cidade de Deus’ que inaugura a teologia da História; 218 epístolas, mais de 500 ‘Sermões’, ‘Diálogos’ e ‘Comentários’ bíblicos, e, por fim, essa obra singular que são as ‘Confissões’, a primeira autobiografia de todos os tempos.

“A sua teologia, feita de experiência e permanentemente existencial, eleva-se até a contemplação pura, sem ignorar a psicologia, a historicidade, a realidade humana. Da iluminação fulgurante da sua juventude ao final da sua velhice, Santo Agostinho nunca deixou de meditar sobre o dom feito por Deus ao homem, e que faz dele um investigador apaixonado da verdade.”

“Dai-me o que me ordenais; ordenai-me o que quiserdes!”

Vemos, portanto, como Santo Agostinho se destacou não apenas por suas insignes virtudes, mas também pela luminosa sabedoria que Deus lhe concedeu, a fim de a utilizar para o bem das almas e da doutrina católica.

Em seu famoso livro autobiográfico — “Confissões” — tem ele esta linda passagem sobre a qual gostaria de tecer alguns breves comentários:

“Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e sempre nova. Tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém, chamaste-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez. Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho sede e fome de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz. Só na grandeza da vossa misericórdia coloca toda a minha esperança. Dai-me o que me ordenais, e ordenai-me o que quiserdes.

“Ora, afirmou um sábio: ‘É já um efeito da inteligência saber que ninguém pode ser casto sem o dom de Deus’. Pela continência, reunimo-nos e nos reduzimos à unidade, da qual nos afastamos ao nos derramarmos por inumeráveis criaturas. Pouco Vos ama aquele que ama, ao mesmo tempo, outra criatura sem ser por vossa causa. Ó amor que sempre ardeis e nunca Vos extinguis! Ó caridade, ó meu Deus, inflamai-me! Ordenais-me a continência. Dai-me o que me ordenais e ordenai-me o que quiserdes!”

Trata-se de um texto tão elevado e nobre que sua intelecção pode parecer, à primeira vista, um pouco árdua.

Belos jogos de palavras

Santo Agostinho faz alguns jogos de palavras, muito apreciados pelos antigos. Não sei como soam e que sabor têm na audição e no paladar espiritual das gerações posteriores à minha, mas a meu ver são lindíssimos.

Como se sabe, Santo Agostinho se converteu na idade madura, após ter levado uma vida de pecados. Por isso, se dirige a Deus dizendo: “Tarde Vos amei”, e utiliza o primeiro jogo de palavras: “Ó Beleza tão antiga e sempre nova”. O Criador é antigo, pois, sendo eterno, existiu antes de todos os séculos. Mas é uma Beleza sempre renovada, porque é infinito, manifestando continuamente algo de inédito à nossa consideração. E o homem, adorando-O por tais predicados, encontra em Deus a plenitude, a perfeição expressa pelo aludido jogo de palavras. Este como que vincula dons antitéticos que o espírito humano não saberia unir.

Exclama o Santo: “Eis que habitáveis dentro de mim e eu lá fora a procurar-Vos!”

Em todos os homens, sobretudo nos batizados, Deus age de modo permanente através da ação da graça. Portanto, o Altíssimo permanecia no interior de Santo Agostinho. Porém, como um louco, ele O procurava fora, almejando um contentamento que as criaturas não dão, pois a verdadeira felicidade está dentro de nós.

Vemos, então, outro jogo de palavras: dentro e fora. Ele possuía, no mais fundo da alma, aquilo que tinha o desatino de procurar fora.

Continua o Bispo de Hipona: “Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco!”

Quer dizer, Deus habitava em seu interior, mas ele não permanecia com o Senhor. É uma antítese, sem ser uma contradição.

Recebemos graças para obedecer às ordens divinas

Em certo trecho, Santo Agostinho tem esta linda afirmação: Deus nos proporciona aquilo que nos ordena. O que significa isso?

Quando o Criador nos prescreve um mandamento, nos concede anteriormente a possibilidade de observá-lo. Assim, antes de nos preceitua a castidade, Ele nos dá a graça para praticá-la. Pois Deus, ao contrário de certos dirigentes humanos, é um bom Pai e nos governa pelas regras da sua inesgotável misericórdia.

Com base nessa concepção, Santo Agostinho apresenta uma interessante justificativa para a castidade. Segundo ele, o bem de cada ser e o da ordem do universo é a unidade. O homem puro é aquele que ama a Deus acima de tudo, e as outras coisas por amor ao Criador. Pelo contrário, o impuro corre atrás de mil criaturas, e nessa espécie de pluralidade se afasta da unidade originária, primitiva, para a qual deve tender. Ao agir assim, ofende a ordem do universo.

Tal visualização encerra uma maravilhosa repulsa da poligamia e do divórcio, e é mais valiosa, penso eu, do que qualquer refutação sociológica contra esses desvios morais. Pois a metafísica é muito mais apropriada para convencer o espírito humano do que os dados técnicos, mesmo quando acompanhados de argumentos de índole psico-social. Creio que em qualquer época de minha vida, esse raciocínio a favor da castidade, baseado no conceito da unidade, convenceria mais do que todos os outros.

Com esses breves comentários é-nos dado recordar, então, a memória deste extraordinário varão de Fé e de sabedoria, exemplo fulgurante de amor a Deus, que foi o grande Santo Agostinho de Hipona.

Santo Antonino de Florença

Arcebispo de Florença e grande amigo do Beato Angélico, Santo Antonino lutou contra os desvios da Renascença.

 

A partir do momento em que foi eleito Arcebispo de Florença, Santo Antonino lutou acirradamente contra os desvios propagados pelos renascentistas. Acompanhemos a descrição de sua vida feita pelo Pe. Rohrbacher:

“Antônio, que por sua pequena estatura foi chamado Antonino, nasceu em 1389, sendo filho de um notável homem de Florença. Destacou-se desde cedo nos estudos por sua invulgar inteligência”.

Florença foi uma das grandes cidades que iluminaram a História, com seu especial modo de ser. Florença — ela é a cidade das flores — floresceu precisamente numa época na qual a História italiana encontrava-se em um “tournant”, como denominam os franceses, no  momento em que novos rumos se constituíam e tudo se transformava.

Configurava-se um conflito entre a tradição medieval e os fortes ventos da Renascença que ameaçavam tudo destruir. Entretanto, havia ainda possibilidades de sensibilizar a opinião italiana, caso grandes santos combatessem de frente a Renascença então vicejante.

Florença era propriamente o foco da Renascença. Encontravam-se lá, então, os maiores talentos renascentistas, capazes de irradiar sobre a Itália o seu novo estilo, e que realizavam, na própria cidade, obras de arte de um valor extraordinário. Florença tinha grande importância para aquele tempo. Sendo metrópole do Grão-ducado de Toscana, possuía uma dinastia que haveria de ligar-se por vários laços de casamento com a Casa da França, e haveria de dar mais de um Papa ao sólio pontifício: os Médici, uma das famílias mais poderosas e importantes da Europa. Florença era então um luzeiro do mundo, nutrindo de especial significado, realce e importância, a tudo quanto se passava em seu meio.

A resposta da Providência não haveria de tardar…

“Muito cedo desejou entrar na Ordem Dominicana, pela santidade dos seus membros e pela influência das pregações do Beato João Dominichi. A este pregador dirigiu-se Antonino pedindo o hábito. Mas Dominichi, achando-o muito débil e frágil, prometeu atendê-lo quando houvesse decorado a obra “Decretos de Graciano”. Antes de um ano, para pasmo do dominicano, voltou o menino. Decorara a obra e foi admitido aos dezesseis anos somente.

“Religioso exemplar, foi mais tarde Prior dos dominicanos de Toscana e Nápoles.

“Em 1445 o Papa Eugênio IV procurava um arcebispo para Florença. Um frade dominicano pintor, que mais tarde seria conhecido como Fra Angélico, indicou Antonino como modelo de virtudes. O Papa acedeu à sugestão e, nomeando-o arcebispo, o santo entrou em Florença com pompa magnífica, segundo o costume, mas suprimindo o que havia de secular nessa solenidade…”

Nessa situação, a Providência designou um santo recolhido, diáfano e robusto na Fé: Fra Angélico de Fiesole. Possuindo um talento artístico repleto de delicadeza, candura e, quase se afirmaria, santa ingenuidade, não obstante demonstrou sagacidade e perspicácia, quando se tornou necessário indicar quem deveria assumir o Arcebispado de Florença. O homem a quem indicara foi Santo Antonino.

Ao mesmo tempo em que permitia que as hidras da Renascença deitassem ali todo o seu calor, a Providência fazia florescer santos e gênios naquele mesmo ambiente, para disputar influência e combater o fogo das novas tendências.

Surge então Antonino como Bispo de Florença. Podem-se imaginar os magníficos veludos e damascos com os quais foram confeccionadas as roupagens dos personagens que tomaram parte no cortejo de Santo Antonino, na ocasião em que tomou posse da Sé Arquiepiscopal da cidade. Dessa pompa, ele retirou sabiamente tudo quanto havia de profano…

O poder da santidade

“No trono episcopal, mostrou todas as virtudes de um verdadeiro pastor. Trabalhou com tanto zelo para reformar os escândalos públicos, que o Papa Pio II o escolheu para a reforma da Cúria Romana. Mas antes que pudesse iniciar este grande mister, Deus chamou-o a Si. Era o ano de 1459. Grande orador foi o Arcebispo de Florença. Sua santidade e cultura levaram-no a ser consultado pelos grandes da época, o que lhe valeu o apelido de “Antonino, o Conselheiro”. Seu lema de vida era “Servir a Deus é reina”. Cosme de Médici o tinha em tão alta consideração, que afirmava que a cidade de Florença tudo devia às orações do santo arcebispo.”

A história pouco conta sobre a ação desenvolvida por ele a favor da austeridade de costumes, como também o combate frontal às influências maléficas da Renascença. Dos historiadores renascentistas, vários reconhecem que pela presença de Santo Antonino na Sé de Florença, o movimento da Renascença perdeu em algo seu vigor e sua velocidade em contagiar a cidade e, consequentemente, toda a Itália.

Conclui-se a partir disso quanto é grande o poder de um santo, ao ponto de uma das figuras mais eminentes e talvez mais condenáveis do Renascentismo, Cosme de Médici, afirmar que a cidade devia tudo às orações de Santo Antonino. Vê-se o quanto este santo podia realizar, e quanta receptividade ainda havia em relação a ele.

Poderia alguém indagar-se: “Qual o sentido dessa obra da Providência? Um santo que passa como um meteoro que brilha, detém um pouco o curso das coisas, mas cuja obra não consegue evitar o avanço do Renascimento. Qual é o alcance histórico do fato de a Providência ter colocado Santo Antonino em Florença?”

Uma alma zelosa nunca poderia colocar-se essa pergunta, porque basta ter contido a onda renascentista durante algum tempo, para contribuir em alto grau à glória de Deus. Como Santo Inácio de Loyola que afirmava ter sido bem empregada por amor à glória de Deus uma vida inteira de lutas e padecimentos, a fim de que um grande pecador deixasse de cometer um pecado mortal.

Corresponder é vencer!

Compreende-se, por isso, que deter por pouco que seja a imensa onda de pecados provenientes da Renascença, é evidentemente algo que possui muito significado para quem almeja a glória de Deus.

Há um outro aspecto digno de consideração, que se centra na continuação da obra iniciada por Santo Antonino e pelo Beato Angélico. Deveriam haver almas que eram raízes de bem, aptas a dar continuidade ao trabalho por eles iniciado, e naturalmente apoiadas pelo Papado, e que prosseguissem a ofensiva contra a Renascença.

E com pesar pode-se constatar que a obra da Providência não foi completada pela obra dos homens. E as almas chamadas por Santo Antonino a continuarem sua obra, não corresponderam ou não obtiveram o apoio necessário, e então a obra ruiu.

Deduz-se, então, quão importante é o papel da história de uma alma. Deparamo-nos com uma cidade que irradiava a intemperança para o mundo inteiro, mas que de tal forma era tocada por talentos e dons, que caso as almas eleitas para empunhar a tocha da reação anti renascentista fossem fiéis, possivelmente a cidade inteira teria se convertido. Uma vez convertida a cidade, era bem possível que a história do mundo fosse completamente diversa.

Florença podia ter alterado a história do mundo se, por seu lado, algumas almas próximas de Santo Antonino houvessem modificado a história de Florença. Portanto, se a história do mundo não se alterou, e o mundo desceu pelo despenhadeiro da Renascença — sucessivamente à Revolução Francesa e ao Comunismo — isto se deve a algumas almas que foram fracas e não tiveram generosidade. Disseram “não”, ou disseram um “sim” incompleto ao convite da Providência. Por causa dessas almas, a História não mudou.

Não é devido ao grande talento de algum renascentista que a obra de Santo Antonino não vingou. A dificuldade é que a Providência encontre sempre fiéis os homens que Ela suscitou para serem seus instrumentos. Se todos os eleitos por Deus fossem de fato fiéis, não haveria quem impedisse os planos da Providência de se executarem.

“Vae mihi!”

Surge então uma aplicação para cada alma individualmente: “Não serei também uma alma destas? Não fui chamado a ter uma fidelidade ilibada? Não será que uma pequena falta de generosidade de minha parte determinará um recuo notável nos planos da Providência?”

Quantas vezes não temos a possibilidade de fazer bem a uma alma, que por sua vez faria o bem a inúmeras outras almas! Não poderia resultar dessa atitude uma reação boa que fosse, sob diversos aspectos, um golpe no adversário? Entretanto, por falta de paciência, quantas não foram as ocasiões em que rejeitamos o apelo de Deus, no zelo pelas almas.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência  de 9/5/1968)