Jubilosas esperanças no advento do Messias

As chamadas antífonas do “Ó” nos fazem ingressar pelo pórtico de uma alegria cada vez mais jubilosa, até o deslumbrante átrio do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dr. Plinio comenta o profundo significado dessa semana que antecede o nascimento do Salvador, a qual ensejou a devoção a Nossa Senhora do Ó — ou da Expectação — em Portugal e no Brasil.

Em 18 de dezembro inicia-se a última semana do Advento, denominada pela Igreja de “semana da expectação”(1), já com as vistas postas na festa do Natal. Durante esse período, a Esposa Mística de Cristo imagina o júbilo e a esperança da Santíssima Virgem diante do fato de que o Messias haveria de nascer, e Ela veria por fim a face bendita do Filho que estava gerando em seu imaculado seio.

Novos esplendores conhecidos pela divina Mãe

Há anos Nossa Senhora vinha suplicando a Deus que apressasse a chegada do Redentor e, sendo sua oração insondavelmente agradável ao Padre Eterno, d’Ele tudo alcançando, foi atendida nos seus rogos, e a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade afinal tomaria nossa natureza e habitaria entre nós. Maria foi convidada a ser a Mãe do Verbo, aceitou e gerou em seu claustro virginal o Filho do Altíssimo.

Ao longo dos nove meses de gestação, ia Ela concebendo a fisionomia adorável que Ele teria, e ao contemplar a face do Menino já nascido conhecerá um esplendor novo, uma maravilha nova a respeito da alma e da personalidade d’Ele. Verá chegar a redenção para a humanidade e o triunfo da glória de Deus sobre um estado de coisas marcado, durante milênios, pelo pecado original e pela influência do demônio.

Numa palavra, a Santíssima Virgem sente aproximar-se o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo, restando apenas uma semana para que, pelo nascimento do Salvador, o império de Satanás sofra um golpe mortal e comece a derrocar.

A expectativa de todos os séculos posta na véspera do Natal

Tal conjuntura cumula de esperança a alma da Mãe de Deus, e por isso Ela é chamada, nesse perío­do, Nossa Senhora da Expectação, ou Nossa Senhora da Esperança, ou ainda Nossa Senhora do Ó.

Esta última invocação se explica pelo fato de que, em cada um desses sete dias, a Igreja canta no Ofício Divino uma antífona que começa pela exclamação “Ó” [ver texto em destaque]. Exprimem elas as alegrias de Nossa Senhora ao perceber dentro de si o Corpo de Jesus já completo, seus primeiros movimentos, e a ideia de que Ele ali orava ao Pai, como de dentro do mais prodigioso dos sacrários, assim como o Santíssimo Sacramento, hoje, reza no interior dos tabernáculos nos altares de todo o mundo.

O intenso desejo de Nossa Senhora de dar à luz o Verbo Encarnado continha e sublimava os anseios de todos os profetas do Antigo Testamento por Aquele que, afinal, viesse redimir o gênero humano, esmagar o cetro de fumaça do demônio e apagar, pelo sacramento do Batismo por Ele instituído, a mancha original herdada de nossos primeiros pais. De fato, as exclamações “vinde, ó Emanuel! Ó Rei das nações!”, etc., expressam os pedidos de Adão o qual, após a queda, recebeu de Deus a promessa do Salvador, e ele viveu e morreu com essa esperança. Viveu e morreu na alegria penitencial de ser o antepassado do Redentor que, agora, achava-se no claustro imaculado de Maria Virgem.

Portanto, todas as expectativas de todos os séculos se concentravam nesses dias e nesses momentos que antecediam de tão perto o Natal.

Realização dos anseios do Antigo Testamento

Consideremos, pois, essas invocações.

Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.

Ó Adonai(2), chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Monte Sinai, vinde restaurar-nos com a força de vosso braço.

Há mais de mil anos os hebreus meditavam sobre o episódio da sarça ardente e sabiam que Deus apareceria ao povo eleito de um modo muito mais real e palpável do que a Moisés. Donde o pedido que assim poderia ser expresso: “Vinde, ó Senhor, renovar aquele feito, porém com uma excelência incomparavelmente maior”.

Ó Raiz de Jessé, que estais de pé como sinal dos povos, diante do qual os reis guardarão silêncio e a quem os povos hão de invocar, vinde libertar-nos, não tardeis.

Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu da raiz de Jessé, ou seja, da Casa real de David (filho de Jessé), à qual pertencia a Virgem Maria. Diz a antífona que Jesus será invocado por todos os povos da Terra e diante d’Ele todos os reis ficarão mudos. Por isso implora: “vinde a nós, não tardeis”, pois a humanidade geme e não pode mais esperar pela libertação.

“Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!”

Ó Chave de David e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre, vinde e tirai do cárcere o prisioneiro imerso nas trevas e nas sombras da morte.

Nosso Senhor fecha e ninguém abre, abre e ninguém fecha, quer dizer, Ele possui o domínio de todas as coisas.

Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça, vinde e iluminai aqueles que estão envolvidos pelas sombras da morte.

Em linguagem teológica, “justiça” designa o conjunto de todas as virtudes, o estado de graça.

O Redentor Divino é o “esplendor da luz eterna” e, por outro lado, o sol de todas as virtudes, iluminando os que vivem nas trevas e nas sombras da morte, ou seja, presos dos vícios e dos pecados.
De fato, Nosso Senhor veio ao mundo e da sua luz infinita nasceu a civilização cristã, com seus fulgores de santidade bafejada pela graça.

Ó Rei das nações e por elas desejado, pedra angular que reunis os dois povos [judeus e gentios], vinde e salvai o homem que formastes do lodo da terra!

Jesus Cristo é a pedra angular de toda a ordem humana e n”Ele os dissídios se reconciliam verdadeiramente, e não de um modo relativista. Além disso, o Filho de Deus salva o homem, criado do limo da terra.

E estando o Natal iminente, exclama-se:
Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação das nações, vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!

São exclamações de tal maneira repassadas de desejo e fervor que quase se sente Cristo prestes a nascer, bem como a alegria de todas as nações esperando seu Salvador.

Pedir a implantação do Reino de Maria

Essas belas antífonas nos sugerem uma consideração sobre a época atual.

Disse o Papa Pio XI em sua encíclica Divini Redemptoris, escrita em 1937, que o mundo resgatado por Nosso Senhor Jesus Cristo se encontrava naquela época numa situação lastimável, ameaçado de cair mais baixo do que antes da Redenção.

Ora, com o passar das décadas esse estado lamentável do mundo não fez senão se agravar, a impiedade e a imoralidade grassando sem freios nos mais diversos ambientes da sociedade humana.

Razão pela qual ansiamos por uma renovação da face da Terra, um como que irresistível revigoramento dos frutos da Redenção — de si definitiva e super-suficiente — aplicados aos homens de nosso tempo, para que, regenerados e reconciliados com o Divino Salvador, trabalhem pela implantação do Reino de Maria.

Nas vésperas do Natal, essas antífonas devem exprimir um pedido ao Menino por intercessão de Nossa Senhora: assim como Ele atendeu a prece da Virgem Santíssima e apressou sua vinda ao mundo, abrevie igualmente os presentes dias e faça sentir sua ação mais enérgica, triunfal, invencível para reimplantar seu reino. E reimplantá-lo sob o aspecto mais requintado, magnífico, ou seja, Nosso Senhor reinar por Maria, com Maria e em Maria.

Rezemos com a firme confiança de que essa graça insigne nos será concedida, e assim transporemos com alegria, não só os dias piedosos que circundam a festa de Natal, mas também os umbrais do ano vindouro.

Plinio Corrêa de Oliveira

 

1) Embora as antífonas do Ó continuem a ser rezadas na última semana do Advento, cumpre notar que essa exposição de Dr. Plinio data de 1965, seguindo ele, portanto, a Liturgia então em vigor.
2) Um dos nomes com que os hebreus invocavam o Altíssimo.

Espírito de reparação

Devido aos pecados cometidos em todo o mundo, ao comemorarmos o Santo Natal precisamos também fazer atos de reparação. Nossa Senhora, desde o primeiro instante em que Jesus nasceu, reparava junto ao Redentor os sofrimentos que Ele viria padecer.

Como estamos próximos da Natividade de Nosso Senhor, é interessante ter o pensamento voltado para esta grandíssima data.

Influxos da graça e do demônio no subconsciente

Tenho aqui uma ficha tirada das visões de Catarina Emmerich(1), que trata dos efeitos da vinda próxima de Nosso Senhor, sobre toda a natureza. Mas a palavra “natureza” é tomada não só no sentido dos reinos mineral, vegetal e animal, mas também e sobretudo do homem, quer dizer, de toda a Criação.

Então, Ana Catarina mostra que nas vésperas e com o nascimento de Jesus houve uma transformação, um movimento profundo nas almas e na matéria.

E isto é expresso de um modo muito bonito com estas palavras dela mesmo.

Todos os corações piedosos, que estavam aflitos com um santo desejo, palpitam sem querer nem saber, em presença da Redenção.

São estes movimentos profundos que há nas almas boas, quando alguma coisa grande se aproxima; elas sentem-se tocadas até o fundo para tudo quanto é bem, sem saber por quê.

Tudo está em movimento. Os pecadores sentem tristeza, ternura, arrependimento e esperança. Os que não querem arrepender-se, os pecadores empedernidos, os inimigos, os que hão de crucificar o Salvador sentem angústia, inquietação e confusão, cuja causa não compreendem, mas percebem um movimento indescritível no tempo, cuja plenitude se aproxima.

Dou muito valor a descrições dessa natureza, porque mostram muito os influxos profundos da graça e também do demônio no subconsciente das pessoas. Mas tocando no que a personalidade tem de mais interno e apresentando todo o papel do subconsciente nos grandes movimentos da História.

Movimento dos bons, dos maus e da natureza

Esta plenitude e a felicidade que traz consigo estão no coração puro, humilde e humano de Maria, que ora em presença do Salvador do mundo que n’Ela se fez Homem e que, como Luz feita carne, virá dentre em pouco a esta vida, a seus domínios, onde os seus não O conheceram.

Por que há homens que procuram e não encontram? Aqui eles deveriam ver que o bem produz sempre o bem, e o mal produz mal, quando não é destruído pelo arrependimento e pelo Sangue de Cristo.

Assim como os santos e os que vivem piedosamente, e as pobres almas do Purgatório, estão em constante relação entre si, trabalhando juntamente, ajudando-se e comunicando-se mutuamente os meios de salvação e santificação, assim vejo isto mesmo em toda a natureza.

Então há três movimentos: um de todos os maus, outro de todos os bons, e o terceiro, da natureza. Esses três movimentos são da ordem da Criação e, digamos, representam uma luta de uns com os outros, e são fatos fundamentais da História do mundo.

É inexplicável o que vejo, o que é simples e segue a Jesus recebe-O gratuitamente. Esta é a graça admirável deste tempo para sempre. Nestes dias o demônio está acorrentado, arrasta-se e treme. Por isso aborreço os animais que se arrastam pela terra.

Vejam que conclusão interessante! O animal que se arrasta pela terra é uma figura do demônio como, aliás, está escrito no Gênesis.

Também o demônio nauseabundo e detestável da heresia anda encurvado, e não pode fazer nada nestes dias. Tal é a graça eterna deste tempo.

Realmente, no tempo em que o Natal ainda não era comercializado, não estava transformado numa feira para impor o escoamento de produtos industriais, custe o que custar, sentia-se muito isto: uma doçura, uma cordialidade, uma alegria celeste, sobrenatural, que nenhum caráter meramente humanitário nem de longe tem. E exatamente a industrialização do Natal, a meu ver, é feita para acabar com essa atmosfera e colocar uma atmosfera de fundo diabólico, que é exatamente feita para liquidar os prejuízos que o demônio tem nesse tempo.

Comemoração do Natal numa atmosfera comercializada

Vejamos como essas influências sobre as quais eu falava são verdadeiras. Nas vésperas do nascimento de Nosso Senhor, os homens bons, os pecadores que não eram endurecidos, mas arrependidos, estavam alegres, e os maus, profundamente perturbados.

Pouco antes da Revolução Francesa, do protestantismo, notava-se completamente o contrário. Os homens bons profundamente angustiados, às vezes sem saber por quê; os ruins alegres, cheios de esperança. São as tais influências que percorrem o mundo e dão o sentido profundo da História.

Que devemos pedir à vista disso?

Em primeiro lugar que Nossa Senhora atue sobre a nossa fraqueza, dando-nos uma orientação exata quanto a essas influências para o lado bom e vantagem da nossa alma. E em segundo lugar que Ela nos dê um meio de resistência neste Natal à atmosfera comercializada e péssima que temos diante de nós. Por toda parte se veem essas cestas enormes com pseudo presentes, e nos postes das ruas, manifestações natalinas horrorosas, para preparar o Natal de mentira.

Que Maria Santíssima nos conceda também o espírito verdadeiro do Santo Natal, quer dizer, algo dessa alegria pela comemoração do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Atos de reparação na noite de Natal

Entretanto, eu gostaria de acrescentar algo que deve marcar as nossas festas de Natal.

Não podemos celebrar este Natal como se este fosse um ano qualquer. Imaginemos uma casa na qual a mãe de família está gravemente doente e sofrendo dores atrozes. Compreende-se que se faça uma árvore de Natal e, sobretudo, que haja um movimento de piedade a propósito dessa festa, e alguma coisa da alegria natalina.

Mas isto tudo deve ser dominado pela lembrança da mãe que está doente. Ou seja, há uma espécie de luz de tristeza, arroxeada.

E é bem isto que precisa existir também no nosso Natal, por razões que todos estão fartos de saber.

Devemos carregar a dor de nossa Mãe durante este Natal, porque é como filhos d’Ela que nós o celebramos.

Eu gostaria de insistir também num ponto: no momento do Santo Natal, precisamos fazer atos de reparação. Nossa Senhora, com certeza, desde o primeiro instante reparava junto ao Menino Jesus todos os sofrimentos que Ele viria padecer.

Portanto, o dia de Natal teve tristezas. E na situação atual, não ter essa tristeza é completamente inconcebível.

Então, o cálice está sendo bebido até a última gota e nós, em vez de pensarmos nos cálices com fel, cogitamos nas taças com champagne? Fazendo assim, como se pode ter alma reta? É evidentemente impossível.

De maneira que eu insisto: na própria noite de Natal, é preciso saber ter um espírito de reparação nos atos de piedade, que nesta ocasião vamos oferecer.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 20/12/1965)
Revista Dr Plinio

 

1) Freira Agostiniana, mística, beatificada em 3 de outubro de 2004.

Parai e vede

Não resisti. Era minha intenção escrever sobre algum tema como o agravamento da pressão comunista no Chile, a repressão trágica do levante polonês, o processo de Burgos ou — oh! amargura das amarguras! negrume dos negrumes! — a crise interna na Igreja.

Entretanto, senti que nem em mim, nem em torno de mim, havia condições para isso. Do fundo de minha alma subiam as reminiscências harmoniosas e distensivas dos meus Natais de outrora. Em torno de mim — no olhar de muitos dos conhecidos e desconhecidos com que cruzo pelas ruas, no reflexo dos amigos ao lado dos quais luto e trabalho e dos íntimos cuja amizade me tem acompanhado ao longo dos anos que se vão — noto uma sede espiritual mal saciada, um desejo mudo e talvez até subconsciente de reencontrar um pouco da verdadeira alegria do verdadeiro Natal.

Por certo, tal é também o estado de espírito de muitos dos meus leitores. Nestas condições, parecia-me censurável recusar-me a mim mesmo e a tantas outras pessoas, uma ocasião para libertar das enxovias do olvido tantas recordações áureas, e para desalterar a sede de maravilhoso, de doce, de sacrossanto, de que reluz o Natal.

Para o lado, pois, visões tétricas de povos opressos, de tiranos sanhudos, de multidões eletrizadas por demagogos, de escribas sinuosos a modelar noticiários tendenciosos para enganar o público. Por alguns instantes, abramo-nos à luz do Natal, a fim de que se reanimem as nossas almas exaustas e desoladas. Depois, retomaremos com maior coragem o fardo quase insuportável…

Bem entendido, não falo da alegria propagandística e inautêntica que domina este Natal de hoje. Perdeu ele em nossos costumes sociais quase todo o seu perfume de outrora. E passou a ser uma função do comércio. Uma propaganda frenética quase não deixa à população liberdade psíquica para não fazer compras. Compras que cabem no orçamento de cada qual. E compras que não cabem. É preciso ‘obrigar’ o povo a comprar, para dar circulação aos estoques acumulados e avolumar o montante dos negócios. O Natal tomou assim, há anos, o aspecto afanoso e trepidante de uma imensa correria do povo a serviço do aparelhamento desenvolvimentista.

“Ipso facto”, a psicologia do presente e das festas mudou. Cada vez mais, o presente vai perdendo seu caráter afetivo, desinteressado e íntimo. Ele é um apêndice do negócio. Sua razão de ser principal é criar, entreter ou ampliar relações que sirvam aos negócios. Ao sopro dessa mentalidade, mesmo o presente desinteressado vai tomando ares comerciais. Cada qual procura prever quanto custará o presente que receberá do amigo, para dar um de igual preço. Pois se o presente dado valer mais do que o recebido, o doador se sentirá bobeado e frustrado. E reciprocamente Em suma, o presente passou a ser uma troca, calculada em função do valor. Quanto à festa — preparada em geral com super dificuldade — quantas vezes é o interesse econômico que, em lugar da amizade, motiva a confecção da lista dos convidados, o vulto das despesas, etc…

‘Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens de boa vontade’. Como este cântico angélico encontrou ambiente adequado nas vastidões desertas dos campos de Belém, e nos corações retos dos pastores que despertavam do pesado e tranquilo sono! Como, pelo contrário as palavras do coro angélico parecem estranhas, sem ressonância, sem afinidade com as cogitações dos homens, nestas megalópolis modernas, dominadas pela obsessão do ouro, isto é, da matéria.

* * *

Morreu o Natal autêntico? Com um pouco de exagero, poder-se-ia dizer que sim. Morreu na alma metalizada de tantos milhões de homens. Morreu até em certos presépios. Sim, nos presépios progressistas, que nos exibem a Sagrada Família com os traços e a fisionomia desfigurados pela arte moderna, e com conotações que induzem à revolução social. Mas, se há algum exagero em dizer que o Natal morreu, é verdade que alguns lampejos de vida ele ainda conserva.

Vamos à procura deles. Encontrá-los-emos antes de tudo — e borbulhantes — no próprio fato de ser dia de Natal. Cada festa do calendário litúrgico traz consigo uma efusão de graças peculiares. Queiram ou não queiram os homens, a graça lhes bate às portas da alma, mais sublime, mais meiga, mais insistente, nestes dias de Natal. Dir-se-ia que, apesar de tudo, pairam nos ares uma luz, uma paz, um alento, uma força de idealismo e dedicação, que é difícil não perceber.

Ademais, em inúmeras igrejas, em muito lares, o presépio autêntico ainda nos põe diante dos olhos a imagem do Menino-Deus, que veio para romper os grilhões da morte, para calcar aos pés o pecado, para perdoar, para regenerar, para abrir aos homens novos e ilimitados horizontes de fé e de ideal, novas e ilimitadas possibilidades de virtude e de bem.

Deus, ei-Lo exorável e ao nosso alcance, feito homem como nós, tendo junto de Si a Mãe perfeita. Mãe dEle mas também nossa. Por meio dEla, até os piores pecadores tudo podem pedir e esperar. Ali, também, está São José, o varão sublime que reúne em si a maravilhosa antítese das mais diferentes qualidades. É príncipe da Casa de Davi e é também carpinteiro. É defensor intrépido da Sagrada Família. Mas, ao mesmo tempo, é pai terníssimo e esposo cheio de afeto. Esposo perfeito, é entretanto o esposo castíssimo dAquela que foi sempre Virgem. Pai verdadeiro, entretanto não é pai segundo a carne. Modelo de todos os guerreiros, todos os príncipes, todos os sábios e todos os trabalhadores que, de futuro, a Igreja engendraria nesta terra para o Céu, ele não foi principalmente nada disto. Seus títulos mais altos são dois: pai de Jesus e esposo de Maria. Títulos pequeninos e imensos, que ao mesmo tempo, paradoxalmente, pulverizam e comunicam vida, nobreza e esplendor a todos os títulos da terra.

Os pastores ali se apresentam em amável intimidade com os animais… bem como com Nossa Senhora, São José e o próprio Menino Jesus. É a imagem comovedora de Deus excelso, que leva a irradiação de sua grandeza ao extremo de tocar e elevar até o que há de mais humilde e pequeno entre os homens. Que, não contente com isto, atrai e cobre de bênçãos até as criaturas irracionais.

Ao contemplar isto, nossas almas crispadas se distendem. Nossos egoísmos se desarmam. A paz penetra em nós e em torno de nós. Sentimos que em nosso vizinho algo também está enobrecido e dulcificado. Florescem os dons de alma. O dom do afeto. O dom do perdão. E, como símbolo, a oferta delicada e desinteressada de algum presente.

Para que nada falte, o irmão corpo — como dizia São Francisco — também tem sua parte na alegria. Feita a oração junto ao presépio, sentam-se todos à mesma mesa. Come-se sem comilança. Bebe-se sem embriaguez. É a festa em que brilha a alegria de se ter fé, de se ter virtude, de se ter, em ordem sacral, feitas as ações e postas as coisas.

***

Alegria de Natal? Sim. Mas muito mais do que isto. Alegria dos 365 dias do ano, para o católico verdadeiro. Pois na alma em que, pela graça, habita o Salvador, esta alegria dura sempre e jamais se apaga. Nem a dor, nem a luta, nem a doença e nem a morte a eliminam. É a alegria da fé e do sobrenatural. A alegria da ordem sacral.

— Ó vós que andais pelo caminho, parai e vede se há uma dor semelhante à minha, exclamou Isaías profeta, antevendo a Paixão do Salvador e a compaixão de Maria. Mas ele também poderia ter dito, profetizando as alegrias cristãs perenes e indestrutíveis que o Natal leva a seu auge: Ó vós que passais pelo caminho, parai e vede se há alegria semelhante à minha.

— Ó vós que viveis cupidamente para o ouro, ó vós que viveis tolamente para a vanglória, ó vós que viveis torpemente para a sensualidade, ó vós que viveis diabolicamente para a revolta e para o crime: parai e vede as almas verdadeiramente católicas, iluminadas pela alegria do Natal: o que é a vossa alegria comparada à delas?

Não vejais nestas palavras provocação, nem desdém. Elas são muito mais do que isto.

São um convite para o Natal perene, que é a vida do verdadeiro fiel: “Christianus alter Christus”  o cristão é um outro Jesus Cristo.

Não, não há alegria igual. Até mesmo quando o católico está, como Jesus Nosso Senhor, cravado na cruz…

Plinio Corrêa de Oliveira (Publicado na ‘Folha de S. Paulo’, em 27/12/1970.)

Um conto natalino…

Fruto da Civilização Cristã, o Ancien Régime ainda exalava o perfume da perfeita harmonia social, onde os maiores tinham gosto em  proteger os menores; e os menores, por sua vez, alegria em servi-los. Um característico exemplo disso é o pitoresco conto natalino a seguir, narrado por Dr. Plinio…

Há um pitoresco livro de Georges Lenôtre — a meu ver, o mais saboroso historiador da Revolução Francesa —, composto de contos referentes a essa época.(1)

Poder-se-ia perguntar: que valor têm esses contos? Não seria melhor um fato histórico?

Quando se dá um acontecimento muito importante, como a Revolução Francesa, ao lado dos fatos que deixaram recordação nos arquivos, existiram outros que se contavam de boca em boca e se tornaram célebres. Esses últimos um literato pode registrar a fim de conservar para a História. Foi o que fez Lenôtre.

Depoimento coletivo sobre a Revolução Francesa

Um fato fica célebre quando se propaga entre muitos, que veem nele algo de típico. Quer dizer, muitos que viveram a Revolução, participaram dela, ouvindo o fato contaram-no para outros, porque acharam que era característico. É uma espécie de depoimento geral sobre o ambiente da Revolução Francesa.

Alguém poderia dizer: “Mas Dr. Plinio, cuidado! Quem conta um conto aumenta um ponto. Será que esses fatos não contêm inverdades?” Aí está o mais saboroso. Esses fatos passam de boca em boca e vão sendo modelados, porque cada um coloca algo de mais característico. E fica uma contribuição anônima de muitos sobre como eles viram a Revolução Francesa. Quer dizer, tais fatos se tornam uma espécie de depoimento coletivo de como aquelas pessoas sentiram a Revolução Francesa, embora determinado fato tenha, às vezes, apenas um núcleo verdadeiro e sua periferia seja historicamente discutível.

Além disso, através desses fatos se conhece o ambiente dos acontecimentos. Mais ou menos como, por meio dos fatos semi mitológicos da Grécia Antiga, se toma conhecimento do ambiente da Grécia Antiga, embora muitos deles sejam falsos e outros discutíveis.

Preso na Conciergerie…

Eu gostaria de comentar um desses fatos que nos reproduz a mitologia da Revolução Francesa.(2) Como eu me julgo inferior a Lenôtre, vou repetir o que ele narrou.

Imaginemos a Conciergerie — a lúgubre prisão na qual eram detidos os nobres que eram processados —, nas vésperas da noite de Natal do ano de 1792, onde está preso um conde francês. Preso por ser nobre, de uma família que prestou grandes serviços no tempo das Cruzadas, nas lutas contra os adversários da Igreja etc., por representar um elemento que se destacava dos outros por sua cultura, elegância, distinção. E condenado à morte, esperando que na manhã seguinte se repetisse a cena de todos os dias.

A Conciergerie ficava cheia de presos e todas as manhãs ali chegava uma carretinha em que cabiam dez, doze, quinze pessoas — às vezes eram duas ou três carretinhas, naquele tempo puxadas por cavalo ou burro —; um homem descia e todos os prisioneiros se juntavam. Lia-se então a lista dos que naquela manhã deveriam morrer, quinze, vinte, trinta presos, que eram levados para o suplício; os outros ficavam aguardando o dia seguinte…

O indivíduo que não era chamado tinha um pouco de respiração depois da partida da carretinha, mas à medida que ia entardecendo ele sentia que talvez fosse o crepúsculo de sua vida que ia chegando. E à noite, quando conseguia dormir, acordava agoniado, achando que poderia morrer no dia seguinte. Era uma guerra de nervos.

…um conde recorda as festas de Natal

Suponhamos aquele conde sozinho olhando pelas grades de sua masmorra, e se relembrando de fatos passados, do Natal que, na sua mansão de Paris, era de tal modo.

Ele era viúvo e possuía apenas um filho ainda menino. E todas as noites de Natal o conde preparava para seu filho uma ceiazinha, acordando-o quando chegava meia-noite. O menino levantava-se e encontrava na sala uma pequena árvore de Natal brilhantemente enfeitada, coisas para comer e depois via nos sapatos, que estavam colocados próximo à lareira, os presentes que o Papai Noel teria trazido para ele. O pequeno era órfão de mãe e o conde procurava ser para com ele o mais afetuoso possível, a fim de substituir sua progenitora.

Numa noite de Natal, esperando sozinho chegar a hora para acordar o filho, o conde de repente ouve na chaminé uma barulheira e, na lareira ainda não acesa, cai uma criança.

Era propriamente o meninote que ele pagara para fazer a limpeza, desobstruir de fuligem a chaminé, a fim de que as chamas pudessem subir bonitas. Tratava-se de um menino pobre, o qual tinha a incumbência de subir pelo teto e limpar a chaminé; era uma profissão.

O menino todo sujinho se ergue espantado e vê diante de si a sala bonita, na qual se encontra aquele homem sozinho. Podemos imaginar a cena: o conde — com sapatos de verniz com salto vermelho, como usavam os nobres, fivelas de prata, ou de ouro, com brilhantes e outras pedras preciosas, meia de seda até o joelho, vestido todo de seda, cabeleira branca empoada — contando as horas e que se espanta quando cai aquele meninote.

Ele o vê levantar-se e percebe que sua primeira reação foi um olhar cheio de vontade de comer as coisas que estavam na mesa, destinadas para o outro menino. Fica com pena dele, mas não pode desfalcar a festa de seu filho; ajuda-o a remover a sujeira e manda-o lavar-se. Depois o menino vem agradecer ao conde que, ao despedi-lo, lhe dá um presente de Natal.

E era um presente régio: uma moeda de ouro chamada luís, porque tinha a efígie do Rei Luís. Havia luíses do tempo de Luís XV e Luís XVI. Essa moeda seria mais ou menos como a libra esterlina de hoje, e com ela se poderia fazer uma festa de Natal régia. O menino se retira muito agradecido; e nos anos seguintes, quando se aproxima a festa de Natal, volta à casa do conde para limpar a chaminé.

O conde acha graça e resolve dar a cada Natal uma moeda de ouro para o menino. E começa durante o ano a ajudá-lo e também à sua família; formam-se, então, como que, relações semifeudais, de vassalagem, simpatia e proteção, entre o conde e o menino.

Encontro do filho do conde com o limpador de chaminés

Passam-se os anos; o limpador de chaminés e o filho do conde ficam mocinhos. Arrebenta a Revolução Francesa e o conde é perseguido, preso; seu filho foge de casa, a qual fica abandonada.

São vésperas de Natal. Enquanto o conde está na prisão, lembrando-se dessas e de outras cenas familiares, seu filho, pobre, vagueia à noite pelo bairro onde antigamente fora sua mansão e encontra o limpador de chaminés, do qual ficara amigo, que lhe pergunta como está o conde.

— Você não sabe? Meu pai foi preso.
— Mas como? Então o conde foi preso? Como foi isto?
E o filho do conde conta-lhe que os nobres estavam sendo presos. Então o rapaz diz para o limpador de chaminés:
— Este ano, meu caro, não tem luís de ouro, nem para você, nem para mim. Só tenho aqui um maço de moedas para eu subsistir e arranjar um jeito de libertar meu pai. Mas não sei como libertá-lo.
O limpador de chaminés pergunta-lhe:
— Onde está seu pai?
— Na Conciergerie, em tal local.
— Se me der o maço de moedas para eu libertar seu pai, o senhor confia em mim que de fato o conseguirei?
— Tome as moedas.

O conde é libertado

Dia de Natal na Conciergerie. O conde está pensando e em sua cela há uma lareira miserável, raquítica, acesa.

O jovem limpador arranja um jeito de descer pela chaminé, não se queima com as brasas que estão ali vegetando e, trazendo nos braços um pacote, aparece para o conde, que fica muito surpreso e lhe indaga:

— Mas, você aqui? Entrando por esse local?
Diz o limpador de chaminés:
— Olhe, nós não temos um minuto a perder. O senhor execute o plano que vou lhe propor e sairemos bem. Estou trazendo uma roupa toda suja, de limpador de chaminés, para o senhor vesti-la. E o conde faz o que nunca imaginou na vida: mete-se numa roupa de limpador de chaminés. O mocinho apanha fuligem, arranja a cara do conde e lhe diz:
— Agora, nós vamos sair pela portaria, dizendo que somos os limpadores de chaminé e já fizemos o serviço. É a hora da troca de guarda, e o que assume não sabe quem entrou para limpar a chaminé e não controla quem vai sair. Se formos já, existe uma possibilidade de nós dois escaparmos. Se não der certo, ficamos presos aqui, mas eu arrisco minha vida pelo senhor. E não adianta perder tempo em me agradecer. Agora é preciso sair.

O conde entende a situação, e os dois se dirigem à portaria. Lá chegando, o rapaz se apresenta ao porteiro, que estava dormitando, pisca para o conde e lhe recomenda: “Vá andando”.

E disse para o porteiro:
— Nós somos os limpadores das chaminés…
— Ah! Chama aquele lá que vai andando!
— Ele é meu colega; eu queria dizer a você o seguinte: tenho aqui um pacote de moedas que mandam para seu chefe. Agora, não sei bem se ele e eu esperamos seu chefe acordar, ou se nós saímos e deixamos as moedas para você guardar.
Nesse momento, a situação de ambos ficou entre a vida e a morte. O homem pensou um pouco e disse:
— Pode deixar aqui que eu entrego, e vocês vão andando.

Os dois saem devagar, entram pela Paris deserta e vão até próximo à casa do conde, onde o limpador de chaminés tinha marcado encontro com o filho do conde. Ali se encontram, tomam os cavalos e fogem; os três estavam salvos da fúria revolucionária.

Harmonia entre as classes sociais

Esse é um conto que representa um Natal contrarrevolucionário dentro da Paris revolucionária, e dá uma versão real das relações entre as classes sociais antes da Revolução Francesa. É a imagem inteiramente oposta à que esses livrinhos que falsificam a História apresentam por aí.

A figura que normalmente se teria de um conde, em cuja casa cai, através da chaminé, um menino, seria:
— Pst! Fique aí na lareira! Além de estragar a chaminé, você quer sujar a casa? Você vai apanhar!
Manda chamar um homem e lhe ordena:
— Embrulhe esse sujeito com papel ou num pano para não me sujar a casa. Leve-o para fora e, lá na rua, dê-lhe umas chicotadas e um pontapé.
E voltando-se para o menino lhe diz:
— Ainda bem que você não tem nada dessa comida, que está aí na mesa para meu filho. Vagabundo! Plebeu! Essa comida é para nobre, não para plebeu. Vá embora!

Essa é a imagem que esses livrinhos de História insinuariam a respeito desse episódio.

Vimos, entretanto, que a realidade é inteiramente diferente. Havia harmonia, afabilidade, bom relacionamento entre as classes sociais, baseado num princípio profundamente católico, que é o seguinte:

Deve haver uma hierarquia de classes sociais; mas essa hierarquia não pode ser levada tão longe, que aquele que está em cima negue a elevada condição de homem ao que está embaixo, e, sobretudo, a alta condição de pessoa batizada que é membro do Corpo Místico de Cristo. Portanto, o superior deve tratar o inferior com bondade, afabilidade, protegê-lo, ajudá-lo nas suas necessidades, e até além de suas necessidades.

O cumprimento desse dever, por parte dos que estão acima, traz um dever dos que se encontram embaixo: a gratidão. Quando aquele que foi benfeitor está em apuros, os beneficiados retribuem. Aí está o vínculo que reúne as classes sociais diversas numa unidade.

Esse pequeno episódio ilustra uma realidade histórica e dá um exemplo concreto de um princípio profundo da Doutrina Católica. Mostra como a desigualdade das classes sociais pode ser aproveitada como elemento para a união dos homens, e não para sua desunião.

São Tomás de Aquino diz formalmente que há nobres e plebeus, grandes e pequenos, ricos e pobres, inteligentes e menos inteligentes, para o benefício não só dos que são mais, mas também dos que são menos; porque aquele que é menos, recebendo um benefício de quem é mais, vê neste como que uma imagem de Deus e pode amar melhor o Criador.

No fato narrado percebemos como o limpador de chaminés viu, na bondade do conde, uma imagem da bondade de Deus; depois ele se dedicou ao conde, num ato que tem qualquer coisa de dedicação ao próprio Deus. De um modo fácil de guardar, atraente, interessante, está ilustrado um princípio doutrinário profundo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/8/1974)

1) Lenôtre, G. Légendes de Noël, contes historiques. Paris: J. M. Dent et Fils, 1916.
2) Idem. pp. 161-176.

Presépio

Repousais, Senhor, em vosso misérrimo e augustíssimo presépio, sob os olhos da Virgem, vossa Mãe, que vertem sobre Vós os tesouros inauferíveis de seu respeito e de seu carinho. Jamais uma criatura adorou com tão profunda e respeitosa humildade o seu Deus.

Nunca um coração materno amou mais ternamente seu filho. Reciprocamente, jamais Deus amou tanto uma mera criatura. E nunca filho amou tão plenamente, tão inteiramente, tão super abundantemente sua mãe.

Toda a realidade desse sublime diálogo de almas pode conter-se nestas palavras que indicam aqui todo um oceano de felicidade, e que em ocasião bem diversa haveríeis de dizer um dia do alto da Cruz: Mãe, eis aí teu filho. Filho, eis aí tua Mãe (cf. Jo 19, 26). E, considerando a perfeição deste recíproco amor, entre Vós e vossa Mãe, sentimos o cântico angélico que se levanta das profundezas de toda alma cristã: “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens de boa vontade” (Luc 2, 14).

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de “Catolicismo” n° 156, dezembro de 1963)

O “vitral” do Menino Jesus

Sem dúvida, uma das luzes da Civilização Cristã é o belo e imenso repertório de cânticos natalinos por ela engendrado. Cantado por diferentes nações, o mistério do Natal adquire, segundo a índole de cada povo, diversos coloridos e matizes, como os raios do Sol ao atravessarem um vitral.

Enquanto ouvia esses belos cânticos natalinos ingleses, eu estava pensando: Como é bonita a Civilização Cristã! Vemos como, nos vários povos, as canções de Natal variam de acordo com a índole nacional. Mas, de outro lado, como estão sempre presentes as mesmas características.

Hinos de entusiasmo pela inocência

Por exemplo, as músicas de Natal norte-americanas, brasileiras, italianas, alemãs, francesas, espanholas, são bem diferentes. Entretanto, por toda parte os mesmos sentimentos despertados pelo Menino Jesus, por Nossa Senhora, por São José, pelo presépio, etc., aparecem cantados de acordo com a índole de cada país.

Quais são essas notas características?

A primeira é a inocência. Os diversos povos souberam transmitir verdadeiramente um hino de entusiasmo pela inocência de Nosso Senhor, mas que repercute sob a forma de acordes da inocência com os quais cada um glorifica o Menino Jesus. Quer dizer, cada um dá o que tem de inocência para glorificar o Divino Infante. Isso vale muito mais do que o tambor(1).

O entusiasmo que cada um tem pela inocência d’Ele é um elemento de inocência em nós, porque se não tivéssemos nenhuma inocência, não nos interessaríamos por Ele. Quantas pessoas há por aí afora que não se interessam por Ele! E isso porque não têm verdadeira inocência. Se nos interessamos e cantamos bem a inocência do Menino-Deus, é porque há uma inocência em nós. Então, vê-se a inocência presente nesses cânticos.

A ternura por Deus-Menino

Está presente também a ternura. Dado o fato de o Menino Jesus ser tão fraco, tão pequeno, mas ao mesmo tempo Deus, há uma espécie de ternura, eu quase diria de compaixão, porque sendo Deus tão grande, entretanto está, por assim dizer, contido naquela criancinha. Surge, então, uma vontade de proteger o Menino Jesus contra qualquer perigo. Por isso, certas canções de Natal tomam, em certo momento, um ar de defesa e de proclamação de um hino.

Um ”vitral” de músicas natalinas

Eu gostei muito de encontrar essas várias notas nas canções inglesas que vocês cantaram tão bem. É a permanência do mesmo efeito salvífico, divino, salutar, do Menino Jesus sobre as almas das várias nações. É mais ou menos como o Sol que tem sempre a mesma cor, mas quando seus raios incidem sobre um vitral, ao atravessarem os vidros, tomam coloridos diferentes e muito harmoniosos. E se a luz se projeta no chão, fica uma beleza, como se alguém tivesse jogado ali pedras preciosas.

Assim também, Jesus é um só, mas cantado pela alma anglo-saxônica — inglesa ou americana —, vê-se n’Ele uma beleza; cantado pela alma germânica, outra beleza; pela alma latina, outra beleza. Já ouvi canções eslavas em louvor do Menino Jesus, inclusive russas, muito bonitas, mas com uma outra nota. Também brasileiras, hispano-americanas, etc. Tudo isso forma o “vitral” do Menino Jesus. E foi a beleza que eu notei muito aqui, nas canções há pouco entoadas.

Um verdadeiro presente

Agradou-me muito também constatar a força, energia, ênfase e resolução com que cantaram. Agradeço este verdadeiro presente, em primeiro lugar, porque me deu uma recreação agradável após um dia inteiro de trabalho. Mas também porque são sentimentos internos que vocês revelam e que para mim valem muito mais do que qualquer canção. Ainda que fosse um concerto na Ópera de Nova York, com um coro fantástico, valia menos para mim do que essas canções entoadas pelos meus “bem-te-vis”(2) passados, presentes e futuros. Fico muito agradecido pela iniciativa que tomaram e peço a Nossa Senhora que os abençoe.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 30/12/1988)
Revista Dr Plinio 189 – Dezembro de 2013

1) Dr. Plinio se refere à história de um pobre menino que, não tendo com que presentear a Jesus recém-nascido, toca diante d’Ele seu velho tambor.
2) Título afetuoso dado por Dr. Plinio a seus jovens discípulos norte-americanos.

Natal: festa na terra e no Céu

Ao meditar sobre o ambiente onde nascera o Menino Jesus, em Belém, Dr. Plinio narra saudosas recordações dos Natais que passara em seu tempo de menino.

O Natal é o primeiro passo — quão humilde, velado e discreto — que o Rei glorioso haveria de dar no caminho de sua dor, sua luta e sua vitória.

A palavra agonia, em grego, quer dizer luta. Os atletas que lutavam nos circos eram chamados agonistas. E a agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo foi propriamente sua luta heroica durante a Paixão: Ele imergiu na morte para depois ressuscitar, a fim de nos salvar e podermos reinar ao seu lado no Céu.

Numa gruta em Belém…

O Natal evoca um casal colocado na situação mais triste que uma pessoa possa ter na Terra, na ordem humana dos valores.

A casa de David estava de tal maneira posta de lado, que São José era um carpinteiro pobre. Ele, príncipe da estirpe de David, vai registrar-se em Belém para obedecer às ordens de um soberano estrangeiro, César Augusto, que dominava naquele tempo a Terra Santa. O descendente dos antigos reis vencidos obedece ao decreto do imperador vencedor.

Qual a razão desse decreto de César Augusto?

Vaidade! Ele queria saber quantos homens estavam submetidos ao seu poder, e por causa disso mandou que cada um se recenseasse no lugar de onde era sua família. A de São José era originária da cidadezinha de Belém.

Podemos imaginar Nossa Senhora, na posição difícil de uma mãe que está com uma criança para nascer, montada num burrico, e São José andando a pé. Chegando a Belém, batem de porta em porta pedindo hospedagem e ninguém os acolhe. Foram então a uma gruta onde ficavam os animais.

Nessa gruta se deu o acontecimento mais importante da História: o Filho de Deus, feito carne no seio puríssimo da Virgem Maria, veio ao mundo.

Houve ali uma alegria feita de contraste: uma grande miséria, mas uma grande elevação; uma riqueza à qual nada se compara na Terra, o Filho de Deus feito Homem colocado no lugar mais pobre, numa manjedoura de animais.

A glória, à qual ninguém sabe dar valor, exceto aquele casal, está ali representada no estado de um Menino débil, frágil, que chora, tem fome e estende os bracinhos para a Mãe.

E no Céu, na maior festa até então realizada, todos os Anjos — querubins, serafins, arcanjos —, em coro magnífico com brilho extraordinário, glorificaram a Deus pelo Natal de Jesus Cristo. Esta glória impregnou a gruta discretamente, porque era preciso que somente as almas de Fé a sentissem. E, excetuando Nosso Senhor Jesus Cristo, a maior alma de toda a História — a qual vale mais do que todos os Anjos e todas as almas que houve, havia e haverá até o fim do mundo — estava ali reclinada, rezando: Maria Santíssima. E orando a Ela e ao Menino Jesus, o homem que teve a honra de ser escolhido para Seu esposo.

Vemos assim como é dentro de um quadro da maior pobreza que nasce a maior de todas as glórias.

Nossa Senhora e São José viam aquele Menino chorar, dando a entender que queria alguma coisa, ou que estava com frio. E a Santíssima Virgem O vestiu com as roupinhas que Lhe havia preparado, sabendo que Ele era o próprio Deus cheio de glória, uma só Pessoa, embora em duas naturezas. Aquela Criança era o Criador d’Ela, que Lhe abria os braços; e o dono de todo o universo, que chorava desejando receber um pouco de leite e roupa para se cobrir.

Aerologia do Natal

Tendo Ele nascido à meia-noite, podemos imaginar o que seria esse horário num lugar ermo daquelas vastidões do mundo antigo, onde tão pouca coisa se movia. Na cidade de Belém, o silêncio, todos dormiam, tudo estava escuro. Mas dentro daquela gruta, onde estava aquele casal único, havia uma luz brilhante, pois nascera um Menino que era o Rei de todos os séculos, o próprio Deus encarnado.

Isso faz parte do que poderíamos chamar aerologia do Natal, oposta à da Páscoa. Esta é uma grande vitória triunfal que se comunica a todo o mundo. O Natal é um acontecimento divino, mas que se realiza aos olhos de poucos; a maior das glórias reside num Menino e permanece escondida. De maneira que quem contempla aquela cena deseja se recolher, ficar quieto, para senti-la dentro de si, mais do que proclamá-la a grandes brados. Tem reverência enternecida, uma espécie de comiseração de Deus, porque consentiu em fazer-Se tão pequeno; ao mesmo tempo, não sabe como agradecer a honra de tocar de perto em tão alto mistério: o Verbo de Deus assumiu voluntariamente a natureza humana. E encontra dificuldade em exprimir ao mesmo tempo o respeito tão grande, que chega ao temor, e a ternura tão profunda, a qual quase liquefaz a alma.

Então, suma veneração, adoração e ternura, bem como noção de uma honra — perto da qual percebemos que nada somos — e concomitantemente de uma humilhação. Isto explica o que há de noturno no Natal. Não teria beleza abolir a Missa do galo e celebrar o Natal com uma Missa ao meio-dia. Não se compreende que essa festa não seja comemorada à noite, porque sua luz é muito discreta e pede a noite para dentro dela brilhar.

Stille Nacht, a canção natalina por excelência

A alegria do Natal é tão íntima e delicada que teme se expandir inteiramente. O Stille Nacht, a bela música alemã composta no século XIX por um simples mestre-escola, passou a ser a canção de Natal por excelência. Uma de suas genialidades está em que ela consegue exprimir essa delicadeza e intimidade. Dir-se-ia que o coro está na gruta e canta porque ficou tão emocionado, que quase não conseguiu deixar de fazê-lo. Porém, canta baixinho para não acordar o Menino e não perturbar a canção indizível e serena com que Nossa Senhora está embalando o próprio Deus.

Assim, compreendemos o papel do noturno e as mil delicadezas que vibram no Stille Nacht. Essa canção manifesta uma espécie de compaixão em relação Àquele que está sendo celebrado, como que dizendo: é tão pequeno esse Deus infinito, mas tão infinito esse Deus pequeno!

Foram necessários dezenove séculos de meditação para que desabrochasse essa canção, como uma flor dentro da Igreja Católica.

Pressa pelo Natal

Imaginemos a pressa de Maria Santíssima pelo nascimento do Redentor. Pressa que tiveram todos os profetas pela vinda d’Aquele que haveria de pôr as coisas em ordem, esmagar o demônio e os efeitos do pecado original.

Em meu tempo de moço, tal pressa era representada pela expectativa pelo Natal que havia em toda parte na pequena cidade de São Paulo. Essa expectativa — com uma dessas delicadezas de alma que somente a Igreja Católica possui —, para não ficar uma coisa teórica para as crianças, era ao mesmo tempo a pressa da vinda do Menino Deus e também da festa de Natal.

Às vésperas do nascimento de Jesus

Assim como Jesus ficou oculto antes de nascer, a comemoração do Natal se preparava no mistério para as crianças. Os mais velhos confabulavam entre si e combinavam o tamanho da árvore de Natal, seus enfeites, as mesas de doces para a criançada, o que deveria ser diferente do ano anterior, e o presépio a ser posto aos pés da árvore de Natal.

As crianças não podiam assistir a essa conversa. Sentiam que se preparava uma grande festa de alegria não só para o corpo, mas também para a alma. Mais do que isto, era uma festa religiosa: vinham graças de Deus especiais; era como se o Menino Jesus nascesse. Procurava-se ouvir as últimas palavras dos mais velhos, as quais as crianças contavam entre si para conjeturar como seria a comemoração do Natal.

E havia o mistério do presente natalino. As crianças bem novinhas acreditavam que São Nicolau trazia o presente de Natal. Os pais sondavam para saber mais ou menos o que elas queriam, mas nada diziam. E quando as crianças estavam dormindo profundamente, eles colocavam os presentes aos pés das camas.

Lembro-me que dormia na expectativa do dia seguinte. Minha cama era pintada com laca de cor branca, com figurazinhas de santos e cenas pastoris. Havia um quadrinho na parede que dava para o jardim do fundo da minha casa. Atrás desse jardim existia um terreno baldio — São Paulo não era ainda muito habitada — onde havia uma cabana, que datava, creio eu, do tempo dos índios. E dentro dessa cabana, uma quantidade enorme de grilos. Eu adormecia ouvindo os grilos… Parecia-me ser o latejar de todas as coisas à espera do Natal que viria.

Às vezes, minha pressa de receber o presente era tão grande que eu acordava uma ou duas vezes durante a noite e, quando me virava — sempre fui de virar-me muito na cama —, sentia seu peso nos pés, pois em geral, tinha tamanho grande. E eu ficava desejoso de me sentar para ver o presente. Mas não o fazia porque desgostaria mamãe se eu acendesse a luz para olhá-lo; além disso, eu pensava de mim para comigo o seguinte: será mais gostoso ver o presente amanhã cedo e agora continuar a dormir, com a ideia de que ele já chegou e é pesadão, como estou sentindo.

É melhor fruir esta expectativa e amanhã ver o presente, do que destruí-la, brincando excitado com o presente, e depois não conseguir mais dormir. Então eu me afundava nas cobertas e continuava repousando, embalado pela certeza de ter recebido o presente.

Uma manhã de alegria plena

Na manhã seguinte havia o melhor dos acordares para mim. Assim que manifestava alguns sinais de haver despertado, ocorria o que não se dava em nenhuma outra manhã do ano — exceto se eu estivesse doente: mamãe estava — com um olhar que, ao longo de minha vida, nunca recebi igual — aos pés de minha cama, vendo meu acordar, deleitando-se com o prazer que eu iria ter com o presente dado por ela. Porém, mamãe não sabia que para mim a alegria dela era um maior presente do que aquele colocado aos pés da cama. Quando percebia que eu estava inteiramente acordado, ela estendia os braços e dizia: “Filhinho!” E eu, antes de ver o presente, ia para os braços dela, porque sua alegria e a interpenetração de nossas almas valiam mais do que o presente concedido por ela. Ao mesmo tempo em que a abraçava, eu ia olhando para o presente e depois corria para apanhá-lo.

De todos esses presentes, nenhum deixou uma recordação mais profunda em minha alma do que um de grande valor não quantitativo, mas qualitativo: Um grupo de soldadinhos de chumbo, alguns montando bonitos cavalos; tinham couraças de aço e chapéus com a crina caída, e todos com a espada na mão. Esses soldadinhos me deixaram encantado.

E já de manhã havia a distribuição de algumas boas iguarias, pão de mel com manteiga, deixando as mais saborosas para serem servidas à noite. Depois eu ia para o quarto de brinquedos.

Junto à árvore de Natal

A certa hora da noite, todos os primos estavam em nossa casa, com trajes de festa, que eram então roupas de gala para criança, e não esses vestidinhos de hoje em dia. E todos com modos mais respeitosos e elegantes uns com os outros, porque estavam em trajes de gala.

Afinal, aparecia mamãe anunciando que a festa de Natal ia começar. Então íamos para uma saleta onde nos reuníamos, dávamos-nos as mãos e descíamos uma escada externa da casa para o andar térreo, que dava diretamente para o jardim, onde havia uma árvore de Natal. Éramos umas vinte crianças, todas cantando o Stille Natch, e vínhamos trazendo uma imagem do Menino Jesus, que até hoje está em minha casa, a qual todos os anos mamãe adornava com vestidinhos diferentes.

Girando em torno da árvore, cantávamos canções de Natal, já sentindo o cheiro do chocolate com creme chantilly, com o qual iam se enchendo as xícaras; e também o do pinheiro que, ao ser um pouco queimado por algumas velas, deitava um perfume de resina especial, próprio do Natal.

Em tudo isso havia uma alegria cândida, pura, eu ousaria dizer virginal, que não era perturbada por qualquer intemperança. Nenhuma criança fazia travessura, peraltice; todas brincavam entre si com a maior calma, dentro daquela paz que parecia emanar das imagens do Menino Jesus, de Nossa Senhora, de São José e, naturalmente, do boizinho e burrico que em todo presépio não podem faltar.

Essa alegria era algo que não sei exprimir. No fundo, provinha da idéia do Puer natus est nobis — foi-nos dado um Menino —, e participava da felicidade do Céu. Realizava-se como que a repetição do próprio nascimento de Jesus, e sentíamos estar vivendo as graças do primeiro Natal.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 25/12/1976)
Revista Dr Plinio 141 – Dezembro de 2009

Salve, luz pura!

Nossa Senhora é aquela que gerou luz do mundo: Jesus Cristo, Senhor nosso. Ela é o foco dessa luz que nas trevas não conseguiram envolver e impedir que fosse vista pelos homens.

Ela é o canal por meio do qual a luz do Salvador chega até nós.

E Maria tanto resplandece da luz de seu Divino Filho que dir-se-ia ser Ela a mesma luz. Por isso podemos cantar com a Igreja: “Salve radix, salve porta, ex qua mundo lux est ort – Salve, ó raiz, ó porta, pela qual jorrou a luz no mundo” (da antífona Ave Regina Carlorum).

Devemos pedir a Santíssima Virgem que encha nossas almas dessa luz que fende as trevas e chega até os homens, libertando-os do erro, do vício do crime do mal.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 33 – Dezembro de 2000

Diante do Menino-Deus, a maternal admiração de Nossa Senhora

Dr. Plinio tinha o propósito de sempre, em suas conferências, palestras, reuniões, inserir em certo momento alguma referência a Nossa Senhora. E havendo oportunidade, dedicava a Ela todo o tempo da reunião, notando-se seu júbilo de alma em fazer reluzir, nos seus comentários, as excelências da Mãe de Deus. Enquanto fundador e mestre de uma família de almas, Dr. Plinio visava também, com tais reflexões, afervorar seus seguidores na devoção a Maria Santíssima, assim como alentá-los no cumprimento da vocação a que foram chamados. Exemplo disso é a meditação que a seguir transcrevemos, feita por ele numa véspera de Natal.

Nada mais oportuno, em torno do santo nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, do que considerarmos o afeto, o amor e a admiração indizíveis de Maria, a Mãe celeste, para com seu Filho único e incomparável.

Embora sabendo-se o ápice e a mais eleita de todas as meras criaturas, Nossa Senhora é também modelo de humildade, e tem pleno conhecimento da infinita distância que A separa de seu Criador. Trata-se, portanto, de uma humildade teocêntrica, isto é, mais ainda do que a sua condição limitada de ser humano, tem Ela em vista a inabarcável grandeza de Deus.

Tomando em conta essa perfeitíssima disposição de alma, é compreensível que, no sublime e augusto momento em que a Virgem Mãe trouxe ao mundo o Divino Salvador, tenha Ela, em primeiro lugar, manifestado todo o respeito, toda a admiração e toda a adoração que Ele merece. E somente num movimento posterior passasse a externar seu incomensurável amor pelo Menino Jesus. Há nisso uma ordenação lógica de sentimentos e atitudes. De fato, quando queremos muito bem a alguém, devemos começar por admirá-lo, porque a admiração é o fundamento do amor.

Ora, no caso concreto da Santíssima Virgem, tinha Ela para amar Aquele que, enquanto Homem-Deus, é o mais admirável ser da Criação, hipostaticamente unido à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. E Maria sabia, por revelação divina, que o fruto gerado em suas entranhas era Este que se encontra acima de tudo, o Verbo Encarnado. Havia, portanto, para essa admiração e esse amor, razões que excediam o fato de o Filho recém-nascido ser sumamente belo e gracioso. Então, o primeiro pensamento dEla é para Deus, no que Ele tem de magnificente: “Tão fraco, tão pequenino, entretanto o Altíssimo, na sua infinita grandeza, na sua incomensurável admirabilidade, aí está!”

Em seguida, Ela mede a profundidade dessa União Hipostática, e a glória que tal União faz derivar, a torrentes solares, sobre a natureza humana de seu Filho. Depois, começa a analisar o Menino, mas com todo o afeto de mãe: contempla aqueles olhos nos quais reluz o brilho da luz divina; toca-lhe os tenros braços, os pezinhos, e vai assim manifestando para com Jesus recém-nascido sua insondável ternura materna.

Quando qualquer mãe se enternece com seu bebê, no subconsciente dela está a seguinte reflexão: “Eis aqui um novo homem (ou uma nova mulher). Que grandeza há numa criatura humana, chamada a levar uma vida de extensa duração, a cumprir deveres graves, os deveres da paternidade, os da maternidade, mas, sobretudo, os deveres para com Deus, a ser boa filha ou bom filho da Igreja Católica, dominar as suas paixões, santificar-se e ir para o Céu por toda a eternidade! Esse como que projeto de anjo que está aqui, que coisa extraordinária! E como eu fico enternecida vendo como algo tão grande cabe em tão pouco!”

Depois, quando ela considera que aquele é seu próprio filho, ainda aí entra uma ternura muito grande, mas também uma imensa admiração: “Que mistério admirável pelo qual eu, criatura humana, gerei outra criatura humana! Que coisa misteriosa, profunda! Este menino nasceu de mim, foi alimentado por mim, formou-se no meu claustro, eu o liberei para a vida e aqui está, tão pequenino, tão minúsculo e, entretanto, para ele existir, realizou-se um vasto mistério, semeado de aspectos fascinantes”.

De um lado, o belíssimo prodígio pelo qual de um ser humano nasce novo ser humano. Mas, depois, essa outra misteriosa maravilha: o instante no qual Deus, debruçando-se sobre aquele embrião que começa a se formar, infunde nele uma alma. E lhe dá algo que a mãe não gerou, que não veio do ato nupcial, e sim da infinita bondade do Criador. Mais ainda. Por ser espiritual, essa alma confere àquele embrião uma participação na natureza dos próprios anjos. Que coisa magnífica!

Horizontes que se abrem para a nova vida

Assim, na ternura de uma mãe verdadeira, da mãe bem orientada para com seu filho, transparece a consciência que ela tem de toda essa série de mistérios que se formaram nela: a carne da carne, o sangue do sangue, um “outro eu mesmo” dela, ao qual se somou a obra divina, tão imensamente maior, soprando no novo ser uma alma imortal.

E para essa alma, que horizontes se abrem, ainda que consideremos apenas sua vida nesta terra! Horizontes de luta, de batalha, de abnegação, como também de alegria, de vitória, de momentos em que se tem a impressão de estar tocando o Céu com as mãos. Mas ainda, horizontes de tristeza, de abatimento, de desfalecimento, em que se tem de pedir a Deus graças para continuar a percorrer o caminho.

Tal reflexão faz surgir aos nossos olhos outro aspecto do nascimento de uma criança. É que, segundo a Igreja, a vida de toda criatura humana é comparável ao combate de um gladiador. Este, antes de entrar na arena, prepara-se com exercícios, fricções, óleos, etc., a fim de que toda a sua musculatura esteja em condições de enfrentar as feras ou outros lutadores. Em seguida, munindo-se de suas armas e escudo, penetra na cena da batalha. Quem, antes de ele ser chamado para a imensa contenda, o visse sentado, tranqüilo, preparado para entrar na arena, não poderia deixar de admirá-lo.

Ora, assim é uma criança que entra no mundo. Ela está no pórtico de uma imensa batalha. E seja ela menina, seja menino, poderá a mãe dizer: “Batalhador! Batalhadora! Eu te admiro porque és combatente do bom combate! Teu dever é este. Uma vez que recebas o Batismo, a graça te chamará. E a partir desse momento, começará uma vida sobrenatural em ti”.

Estes devem ser alguns dos movimentos de afeto e admiração de uma mãe em re-lação a seu filho recém-nascido.

Nossa Senhora em face do Menino Jesus

Se assim ocorre com as mães comuns, que dizer da Mãe das mães, Maria Santíssima, diante do Menino Jesus?

Sem dúvida, a alma dEla transbordava de admiração e de carinho para com seu Divino Filho. Ela tinha o conhecimento do mistério da Encarnação do Verbo, e bem sabia que aquele Ser, gerado em suas imaculadas entranhas por obra do Espírito Santo, representava a remissão do gênero humano. Ele era seu Filho, seu Deus, seu Redentor! E como tal Ela O amava e venerava na Gruta de Belém.

Só na Gruta de Belém? Evidentemente, não.

Junto ao presépio, existe já todo o desenvolvimento de uma história. Da história de ambos, Jesus e Maria. Do período que Ele passou recolhido ao lado dEla e de São José. Do tempo em que, após a morte do glorioso Patriarca, Ele prestava assistência à sua Mãe Santíssima, num sublime convívio que extasiava os Anjos. Podemos imaginar os dois, sozinhos na casa em Nazaré, à noite, após uma refeição que fora sóbria mas cheia de agrado, porque estavam juntos, olhavam-se e se queriam bem. Que indizível felicidade o estarem unidos, conversarem, trocarem pensamentos e desejos de alma!

Depois, em certas horas, enquanto Jesus executava seus trabalhos de carpinteiro, Nossa Senhora meditava no que aconteceria com Eles; vislumbrava aquele momento em que os Anjos haveriam de elevar aos ares a santa casa de Nazaré e transportá-la para um lugar chamado Loreto. E que ali, um incontável número de peregrinos, provavelmente até o fim do mundo, iria venerar as paredes sagradas onde ecoaram essas conversas; onde se ouviram os risos cândidos e cristalinos do Menino Jesus; onde se ouviu a voz grave, paterna e afetuosa de São José; onde se ouviu a voz modelada quase ao infinito como um órgão, de Nossa Senhora, exprimindo adoração, manifestando veneração, em todos os seus graus e modalidades. Em tudo isso Ela pensava.

Como pensava também nos milagres que Nosso Senhor praticaria na sua vida pública, nas almas que Ele iria conquistar, converter e salvar. Pensava em como toda essa bondade divina seria recusada pelos judeus, em como Ele teria de sofrer o esquecimento e a covardia dos Apóstolos, a traição de Judas e a morte na Cruz.

Ela pensava em Pentecostes, na dilatação da Igreja pela bacia do Mediterrâneo e por tantos lugares aonde chegariam os discípulos de seu adorável Filho.

Com vistas proféticas, Nossa Senhora considerava o reluzimento da Santa Igreja, saída vitoriosa das perseguições e brilhando sobre a face do mundo. Ela pensou na extraordinária figura de São Bento apartando-se da sociedade decadente do fim do Império Romano, fixando-se nas grutas de Subiaco e dando início, ali, a uma vida espiritual da qual nasceriam a Idade Média e a Civilização Cristã.

Mas, Nossa Senhora via também o processo de derrocada e ruína dessa Cristandade e todos os seus desdobramentos até os dias de hoje, lançando a humanidade na grave crise moral e religiosa que a Santíssima Virgem haveria de censurar em Fátima.

E por que não imaginarmos que Nossa Senhora considerou igualmente o triunfo de seu Imaculado Coração, por Ela prometido na Cova da Iria?

E essa meditação em torno do Santo Natal estende-se na consideração também da história individual de cada um dos que participam dos nossos ideais. Do caminho que a graça percorreu nas almas de todos, os altos e baixos, as correspondências e as infidelidades, as vitórias sobre si mesmo, às vezes as derrotas, e novamente a vitória e a misericórdia de Deus.

“Não me tireis os dias na metade da minha obra”

Tudo isso nós devemos considerar quando estivermos ante o presépio. E ao nos aproximarmos para venerar a maternal e enlevada figura da Santíssima Virgem, a respeitosa e protetora figura de São José, e, sobretudo, a imagem dAquele que é, segundo a Escritura, a pedra de escândalo que divide a História ao meio — e tudo quanto está com Ele é bom, tudo quanto é contra Ele é mau — façamos esta prece:

Eis-me aqui, Senhor Jesus Cristo, ajoelhado a vossos pés, antes de tudo para Vos agradecer.

Agradeço a vida que me destes. Agradeço o plano eterno que tínheis a respeito de mim, como de qualquer homem, um plano determinado e individual. Agradeço-Vos por terdes posto uma luta no meu caminho. Agradeço-Vos a força que me destes para resistir, para combater e para rezar.

Grato Vos sou por tudo isso, Senhor. Porém, há mais. Agradeço-Vos todos os anos de minha vida que já se foram e que se tenham passado na vossa graça. Agradeço-Vos também os anos que se foram e que não se passaram em vossa graça, porque Vós os encerrastes num determinado momento, e eu abandonei o caminho da desgraça, para entrar novamente na vossa graça.

Agradeço-Vos, ó Divino Infante, ó Menino Jesus, pelas mãos de Maria Santíssima e de São José, agradeço-Vos o momento em que eu disse “sim” ao vosso chamado e comecei a travar o bom combate por Vós.

Agradeço-Vos todo o auxílio que me destes para eu vencer os meus defeitos. Agradeço-Vos por não Vos terdes impacientado comigo, e por haverdes me conservado vivo para que eu ainda tivesse tempo de corrigi-los.

E se uma prece eu Vos posso fazer nesta noite de Natal, Senhor Jesus, formulá-la-ei inspirado nas palavras do Salmista, que Vos disse: Não me chames na metade dos meus dias (Sal. 101). E eu Vos digo: Não me tireis os dias na metade da minha obra, e ajudai-me para que meus olhos não se cerrem pela morte, meus músculos não percam seu vigor, minha alma não fique privada de sua força e sua agilidade, antes que eu tenha, por vosso louvor, em mim vencido todos os meus defeitos, galgado todas as alturas interiores às quais me destinastes, e que no vosso campo de batalha tenha eu, por feitos heroicos, prestado a Vós toda a glória que esperáveis de mim quando me criastes. Assim seja.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr. Plinio 09 – Dezembro de 1998

Luz, o grande presente

Ora, naquela mesma região havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. E eis que apareceu junto deles um Anjo do Senhor, e a claridade de Deus os envolveu, e tiveram grande temor. Porém o Anjo disse-lhes: Não temais; porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que terá todo o povo. Nasceu-vos hoje, na cidade de Davi, um Salvador, que é o Cristo  Senhor (S. Lucas II, 8 a 11).

A noite ia em seu meio. As trevas tinham chegado ao auge de sua densidade. Tudo em torno dos rebanhos era interrogação e perigo. Quiçá alguns pastores, relaxados ou vencidos pelo cansaço,  estivessem dormindo.

Entretanto, outros havia a quem o zelo e o senso do dever não consentiam o sono. Vigiavam. E presumivelmente oravam também, para que Deus afastasse os perigos que rondavam. Subitamente, uma luz apareceu para eles e os envolveu: “a claridade de Deus os envolveu”. Toda a sensação de perigo se desfez. E lhes foi anunciada a solução para todos os problemas e todos os riscos. Muito mais do que os problemas e os riscos de alguns pobres rebanhos ou de um pequeno punhado de pastores. Muito mais do que os problemas e os riscos que põem em contínuo perigo todos os interesses terrenos. Sim, foi-lhes anunciada a solução para os problemas e riscos que afetam o que os homens têm de mais nobre e mais precioso, isto é, a alma. Os problemas e os riscos que ameaçam, não os bens desta vida, que, cedo ou tarde, perecerão, mas a vida eterna, na qual tanto o êxito quanto a derrota não têm fim.

Sem a menor pretensão de fazer o que se poderia chamar uma exegese do Texto Sagrado, não posso deixar de notar que esses pastores e esses rebanhos e essas trevas fazem lembrar a situação do  mundo no dia do primeiro Natal.

Numerosas fontes históricas daquele tempo longínquo nos relatam que se apoderara de muitos homens a sensação de que o mundo havia chegado a um fracasso irremediável, de que um emaranhado inextricável de problemas fatais lhes fechava o caminho, de que estavam em um fim de linha além do qual só se divisava o caos e a aniquilação.

Olhando para o caminho percorrido desde os primeiros dias até então, os homens podiam sentir uma compreensível ufania. Estavam num auge de cultura, de riqueza e de poder. Quanto distavam as grande nações do Ano 1 de nossa era — e mais do que todas o superestado Romano — das tribos primitivas que vagueavam pelas vastidões, entregues à barbárie e açoitadas por fatores adversos de toda ordem! Aos poucos, haviam surgido as nações. Essas tinham tomado fisionomia própria, engendrado culturas típicas, criado instituições inteligentes e práticas, rasgado estradas, iniciado a navegação e difundido por toda parte, tanto os produtos da terra, quanto os da indústria nascente. Abusos e desordens, havia-os por certo. Mas os homens não os notavam inteiramente. Pois cada  geração sofre de uma insensibilidade surpreendente para com os males de seu tempo.

O mais cruciante da situação em que  se encontrava o Mundo Antigo não estava, pois, em que os homens não tivessem o que queriam. Consistia em que “grosso modo” dispunham do que desejavam, mas depois de ter feito laboriosamente a aquisição desses instrumentos de felicidade, não sabiam o que fazer deles. De fato, tudo quanto haviam desejado ao longo de tanto tempo e de tantos esforços, lhes deixava na alma um terrível vazio.

Mais ainda, não raras vezes atormentava-os. Pois o poder e a riqueza de que não se sabe tirar proveito servem tão-só para dar trabalho e produzir aflição. Assim, em torno dos homens, tudo eram trevas. — E nessas trevas, o que faziam eles? — O que fazem os homens sempre que baixa a noite. Uns correm para as orgias, outros afundam no sono.

Outros, por fim — e quão poucos — fazem como os pastores. Vigiam, à espreita dos inimigos que saltam no escuro para agredir. Aprestam-se para lhes dar rudes combates. Oram com as vistas postas no céu escuro, e as almas confortadas pela certeza de que o sol raiará por fim, espancará todas as trevas, eliminará ou fará voltar a seus antros todos os inimigos que a escuridão acoberta e convida ao crime. 

No Mundo Antigo, entre os milhões de homens esmagados pelo peso da cultura e da opulência inúteis, havia homens de escol que percebiam toda a densidade das trevas, toda a corrupção dos costumes, toda a inautenticidade da ordem, todos os riscos que rondavam em torno do homem, e sobretudo todo o “non sense” a  que conduziam as civilizações baseadas na idolatria.

Estas almas de escol não eram necessariamente pessoas de uma instrução ou de uma inteligência privilegiadas. Pois a lucidez para perceber os grandes horizontes, as grandes crises e as grandes  soluções, vem menos da penetração da inteligência do que da retidão da alma. Davam-se conta da situação os homens retos, para os quais a verdade é a verdade, e o erro é o erro. O bem é o bem, e o mal é o mal. As almas que não pactuam com os desmandos do tempo, acovardadas pelo riso ou pelo isolamento com que o mundo cerca os inconformados.

Eram almas deste quilate, raras e  esparsas um pouco por toda parte, entre senhores e servos, anciãos e crianças, sábios e analfabetos, que vigiavam na noite, oravam, lutavam e esperavam a  Salvação.

Esta começou por vir para os pastores fiéis. Mas, passado tudo quanto o Evangelho nos conta, ela extravasou dos exíguos confins de Israel e se apresentou como uma grande luz, para todos os que, no mundo inteiro, recusavam como solução a fuga na orgia ou no sono estúpido e mole.

Quando virgens, crianças e velhos, centuriões, senadores e filósofos, escravos, viúvas e potentados começaram a se converter, baixou sobre eles o ciclo das perseguições. Nenhuma violência, porém, os fazia vergar. E quando, na arena, fitavam serenos e altaneiros os césares, as massas ululantes e as feras, os Anjos do Céu cantavam: Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens de boa vontade.

Este cântico evangélico, nenhum ouvido o ouvia. Mas ele comovia as almas. O sangue desses serenos e inquebrantáveis heróis se transforma, assim, em semente de novos cristãos. O velho mundo, adorador da carne, do ouro, e dos ídolos, morria. Um mundo novo nascia, baseado na Fé, na pureza, na ascese, na esperança do Céu. Nosso Senhor Jesus Cristo, resolverá tudo.

* * *

Há ainda hoje homens de boa vontade autênticos, que vigiam nas trevas, que lutam no anonimato, que fitam o Céu esperando com inquebrantável certeza a luz que voltará?

— Sim, precisamente como no tempo dos pastores. […] A esses autênticos homens de boa vontade, a esses genuínos continuadores dos pastores de Belém, proponho que entendam como dirigidas a eles as palavras do Anjo: “Não temais, porque eis que vos anuncio uma grande alegria, que terá todo o povo”!

Palavras proféticas, que encontram seu eco na promessa marial de Fátima. Poderá o comunismo espalhar seus erros por toda a parte. Poderá fazer sofrer os justos. Mas, por fim — profetizou Nossa Senhora na Cova da Iria — o seu “Imaculado Coração triunfará”.

Esta é a grande luz que, como precioso presente de Natal, desejo para todos os leitores, e mais especialmente, para os genuínos homens de boa vontade.

Plinio Corrêa de Oliveira (Transcrito da “Folha de S. Paulo”, 26/12/71)