Magnífica expressão do holocausto divino

Entre os tesouros da arte barroca conservados em Minas Gerais reluz uma peça de extrema beleza, exposta à veneração dos fiéis na Igreja de São Francisco de Assis, na histórica cidade de São João del Rei. A origem dessa preciosidade é assim narrada pelas crônicas:

Estava já a igreja no século XVII inteiramente terminada, inclusive em sua decoração interna, quando se percebeu faltar o elemento que deveria coroar o cimo do altar-mor: o Crucifixo, em que o Divino Crucificado dirigia a palavra a São Francisco.

Pasmo da comissão encarregada da decoração! O que fazer? Os artistas contratados negavam-se a continuar por mais tempo os afazeres naquela igreja, alegando contratos a cumprir em outros lugares. E assim, ficou-se numa grande indecisão. Foi quando por aquelas plagas apareceu um nobre ancião, de feições muito dignas, oferecendo-se para esculpir o Crucificado, e desse modo encerrar a obra artística daquele templo. Não sendo conhecido de ninguém, e não podendo apresentar referências à altura da tarefa, mandaram-no embora.

Passado um certo período, voltou o ancião, reiterando a sua oferta. Novamente, por falta de referências, foi rejeitado sem escrúpulos. Após mais um tempo, e não se tendo achado ainda nenhum  outro artista que quisesse levar a obra a cabo, voltou pela terceira vez o bom velho, apresentando seus serviços. Não tendo outra escolha, os encarregados decidiram aceitá-lo, perguntando-lhe quais eram suas condições.

Respondeu o ancião que não pedia nada antes de findo o serviço. Terminado, retribuiriam, caso julgassem a obra bem feita. Solicitava apenas que recebesse uma refeição e uma medida de água por dia, à hora do almoço. Por outro lado, exigia fazer todo o trabalho sozinho, trancado em uma sala, sem comunicação com o exterior, a qual só seria rompida estando tudo acabado.

Assim foi-lhe concedido. Transcorridos vários dias, verificaram os responsáveis que os alimentos deixados para o bom velho junto à porta da sala não estavam mais sendo retirados por ele. Reuniram-se então as autoridades e tomaram a decisão de arrombar a porta, a fim de saberem o que ali estava se passando. Entraram  e… surpresa! O respeitável ancião havia desaparecido, e um Crucifixo magnífico, de traços como jamais se vira, estava ali inteiramente esculpido! Esse Crucifixo é o que se encontra hoje no topo do altar-mor da Igreja de São Francisco de Assis, em São João del Rei.

Muitos crucifixos exprimem com doçura, dignidade e profundidade de alma extraordinárias a dor d’Aquele que está para expirar, e até o sangue divino escorre nobremente pelo corpo chagado.

Dir-se-ia um desenho de beleza, os filetes vermelhos irrigando magnificamente a figura do Salvador. Mas nesse de São João del Rei —  um dos mais belos e comovedores  Crucifixos que tenho visto  em minha vida —, está expresso de modo único, preciso e extremo o sofrimento espantoso de Nosso Senhor no alto da cruz. Não O magoa apenas a imensa tristeza causada pela perseguição injusta e pela ingratidão de que Ele é objeto.

Os olhos escancarados e salientes, a tensão de toda a carnatura da face e a posição do pescoço incutem a impressão de algo muito mais aflitivo do que a dor: é o mal-estar. Um mal-estar terrível,   pior do que qualquer padecimento, inundando completamente a Alma adorável e o sagrado Corpo de Nosso Senhor no madeiro.

Dir-se-ia que, nesta posição e com essa expressão fisionômica, o Divino Redentor não estaria distante de exalar o brado sublime que precedeu de momentos a sua morte: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?

Tudo n’Ele está prestes a estalar, a desaparecer. O “consummatum est” se aproxima. Sofrimento indizível cuja consideração deve nos preparar para nos unirmos a Jesus, pelos rogos de Maria Santíssima, em nossas dores, em nossas perplexidades e aflições de espírito, nas horas em que parecemos sucumbir ao peso da angústia e pensamos estar, nós também, abandonados pela Providência.

Sim, também para nos infundir ânimo e coragem esse Crucifixo é verdadeiramente sublime! Como não nos enchermos de confiança e de força de alma, ao considerarmos tudo quanto Ele padeceu por nós? Ei-Lo no auge do estertor, do não caber mais em Si. É o mal-estar nos seus aspectos mais terríveis. E assim como o poeta francês cantou “le charme plus beau que la beauté” — o encanto mais belo que a beleza —, deste Crucificado eu diria que sofre “o mal-estar mais dolorido que a própria dor!”

É o holocausto do Homem-Deus retratado de um modo magnífico. E essa perfeição de talhes justifica a suspeita de que o artífice, aquele “bom velho” desaparecido misteriosamente, não era senão um anjo, enviado por Deus para esculpir ali essa obra prima da arte católica. Esse é um Crucifixo cinzelado por mãos angélicas.

Dir-se-ia, mesmo, que o artista celestial esteve presente no Calvário, viu a Nosso Senhor nesse estado, lembrou-se da adorável fisionomia que então contemplou e a reproduziu. De tal maneira essa face divina corresponde, não ao que poderíamos imaginar, mas ao que não logramos conceber. Somente depois de admirá-lo, percebemos que deve ter sido realmente assim…

De passagem, cabe outro comentário. Nada há de mais contagioso do que o mal-estar. Por exemplo, se nos achamos perto de alguém que esteja padecendo de asfixia, facilmente nos deixamos  tomar pela aflição dele, e logo parecemos acometidos por igual tormento. Ora, o divino mal-estar de Jesus, como seria contagioso para quem tivesse um mínimo de compaixão! Quiçá, não terá sido a consideração desse mal-estar em sua fase ascensional que tocou e converteu o bom ladrão?

Mais. Incomparavelmente mais. Ao pé da Cruz encontrava-se Maria Santíssima: como A terá contagiado esse mal-estar? Que disposições de alma, que permuta de sentimentos determinou entre Ele e Ela, tão íntima, tão profunda, tão completa, tão total como nem podemos imaginar! Era preciso que um artista se inspirasse nesse Crucifixo para esculpir uma “Mater Dolorosa”. Então compreender íamos melhor Nossa Senhora das Dores, a sua aflição, o gemido do mal-estar levado, n’Ela também, ao seu extremo.

O exemplo de Simão Cireneu

Enquanto O conduziam, detiveram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para que a carregasse atrás de Jesus” (Lc 23, 26). Falando de improviso para um  auditório de jovens, Dr. Plinio compôs um quadro em torno desse episódio da Paixão.

A figura de Simão Cireneu nos aparece de passagem, na breve porém eloquente narração do evangelista. Uma só frase, através da qual podemos fazer peregrinar nossa imaginação.

Assim, devemos pensar no Cireneu como um homem modesto, pobre, levando a sua existência rural do melhor modo que lhe era possível, com aquela felicidade própria dos menos abastados,  livres dos problemas e apreensões que muitas vezes rondam os donos de maiores posses.

A perspectiva de aceitar a dor

Vinha ele, portanto, caminhando despreocupadamente, a atenção voltada para as miudezas de sua vida simples e alegre: a sandália meia desgastada que era preciso consertar; um passarinho avistado num arbusto da estrada, e que talvez fosse divertido apanhar e levar para comer ou conservar numa gaiola, etc., etc. Quiçá viesse cantarolando e assoviando, sem ter a mínima ideia do que o aguardava pela frente.

De súbito, ouve os gritos de uma turbamulta: “Mata! Mata! Crucifica! Crucifica!” Logo depois, fortes gemidos: “Ai, ai! Tende pena de mim!” E a tragédia irrompeu na tranquila vida do Cireneu. Ele nunca ouvira ninguém gemer daquele modo. Que dor lancinante! “Quem seria o homem que bradava assim? Mas, estaria gritando ou cantando? Que voz harmoniosa, que timbre bonito! Que  vontade eu teria de ajudar esse homem que geme de maneira tão celeste. Quem será ele?”

Sentiu-se meio atraído, pela primeira vez, por algo que nunca o interessara na vida. Quando ele via alguém sofrer, tinha desejo de fugir. A dor é o que a sua alegria despreocupada não queria. Seu impulso era o de se esquivar a todas as mágoas, escapar dos que sofrem, pois de repente o padecimento alheio o contagiaria. Entretanto, aquele homem à sua frente necessita de uma ajuda, implora por um apoio. O Cireneu tem pena, e vislumbra a tragédia na qual ele jamais gostaria de entrar. Securitário, quer se afastar daquele caminho.

Ao mesmo tempo, porém, a voz chegava mais perto, e os berros dos algozes também se tornavam mais altos. Simão pensava: “Que contraste! Quando este homem geme, seus lamentos são uma música; e esses que gritam contra Ele, que o perseguem, que barulho medonho, que vozes horrorosas, que charanga sem harmonia, que gente má! Estou com vontade de tomar um partido”.

Era a graça que, sem ele saber, penetrava na sua alma, em seu coração rachado de pena, inclinando-o a fazer o bem. Mas, de outro lado, vinha o egoísmo, a tentação do demônio: “Cuidado! Pense em si, não se incomode. Fuja!

Isto aqui dará encrenca, e de repente você vai para a dor junto com ele. Dor, não! Fuja da dor! Idiota, não se comova”.

O encontro com Jesus

Indeciso, ele continua a ir para a frente. Em certo momento dá-se o encontro: o Cireneu vê um homem de trinta e três anos, longos cabelos desalinhados, gotejando sangue, o rosto coberto de contusões que o tornavam azul num ponto e noutro, o nariz naturalmente arqueado, quebrado por uma pancada brutal, os olhos pisados, a cabeça coroada de espinhos, e com uma cruz pesadíssima às costas, penosamente arrastada por Ele.

Simão se enche de horror: “Mas, há tanta dor assim na vida? Pode acontecer isso a alguém? Eu nunca pensei que isso pudesse acontecer a ninguém, e de repente aconteceu a Ele. Não pode, então, acontecer a mim?”

Um dos legionários romanos, um dos senhores da Terra Santa, reluzindo no seu capacete magnífico, sua armadura lustrosa, lanças e armas de César, avista o Cireneu nessa indecisão e lhe diz  brutalmente: — Pegue a ponta da cruz!

Ele pensa: “Como?! Essa cruz ensopada de sangue? Eu vou me molhar com ele”. Mas, enquanto racionava assim, um raio de sol incide sobre o sangue, e este brilha com uma linda cor rubi. Simão se sente atraído, algo lhe diz: “Esse sangue é a salvação, agarre-o!” Mas… mas… mas… e a dor, e o peso dessa cruz?

—Pegue já! — insiste o legionário. — Porque este homem não está aguentando mais, e ainda tem de subir até o alto daquela montanha! “Mas, então tenho de levar essa cruz até aquele monte, atrás desse pobre coitado, gemendo? Não tenho coragem, é muito esforço e não gosto de fazer esforço. Oh! Como é isso?”

—Pegue, se não você apanha! “Agora a situação se complica, porque se trata do meu sangue. Dessa não fujo… Devia ter escapado antes. Vou ter de pegar”.

Diálogo de olhares

Simão apanha a cruz. Aquele que a carrega o fita, e ele percebe que esse olhar o penetra completamente. Sente algo de único em sua vida, pois ninguém jamais o olhou assim. Um olhar extraordinário, demonstrando que o conhecia desde sempre, e o envolvia de um afeto incomparável.

Ele se viu conhecido e compreendido nas suas peculiaridades mais pessoais, nas suas dores, das quais aquele olhar tinha pena. Mais do que antes, Simão se sentiu atraidíssimo. Já pegava a cruz, o sangue quente que nela escorria lhe batia nas mãos, e ele se envolvendo naquela tragédia que o cativava.

Um diálogo mudo se estabelece entre o Homem-Deus e o Cirineu. Nosso Senhor lhe diz: “Meu filho, é por você que Eu sofro. Você me vê no auge do abandono, da desgraça, no último ponto do desprezo humano. Mas olhe para Mim. Que misteriosa grandeza, que enigmática e envolvente bondade, que dedilha sua alma como um bom médico toma uma chaga para nela colocar unguento!

Você não sente que está sofrendo fisicamente com o peso da minha cruz, mas a sua alma experimenta uma leveza inusitada? Não percebe um horizonte novo abrindo-se para você?”

Estão ao pé do Calvário. É preciso continuar a subir e a cruz para Simão é cada vez mais pesada. Ele pensa: “É terrível isso, mas mais terrível seria se eu jogasse a cruz no chão e Ele caísse sob o  peso dela, quebrando as palmas das suas mãos nas pedras desse caminho. Eu não suportaria isso. Agora eu vou até em cima.”

Subiu e, lá no alto, humilde, respeitoso, com bondade ajudou Nosso Senhor a deitar a cruz no chão. Jesus lhe dirigiu um olhar de reconhecimento, o último que deu para Simão. O Cireneu afastou-se e notou que os romanos já não estavam pensando nele. Achava-se fora da tragédia. Enquanto se distanciava, ouviu as ordens gritadas pelos esbirros: “Abra os braços! Estenda bem as pernas!

Vamos cravar esses pregos nas suas mãos e nos seus pés!” E a pancadaria começou.

Feliz encontro com Nossa Senhora

De longe, ao mesmo tempo apavorado e fascinado, ainda limpando na sua  túnica as mãos tintas do sangue de Jesus, o Cireneu acompanhou todo  o desenrolar daquele terrível drama em que se consumava a Redenção da humanidade. Observou o diálogo de Nosso Senhor com os dois ladrões, soube da promessa do Paraíso que Ele assegurou a Dimas; viu o povinho que passava sob a cruz; alguns que vaiavam o Crucificado, outros que O apedrejavam, e outros que choravam. Reparou no céu que ia se escurecendo, a tarde que se transformou em noite, e então ouviu o derradeiro brado de Jesus: “Tudo acabou!

Aos pés da cruz havia um grupo de mulheres, entre as quais uma que trazia o rosto encoberto, mas exercia sobre o Cireneu atração parecida com aquela exercida pelo Homem-Deus. Ele  perguntou: — Quem é aquela que se esconde?

— É a Mãe d’Ele. A Mãe d’Ele? Mas, para mim Ela vale mais que uma rainha, mais que uma imperatriz, mais que todo o mundo! Que honra ser Mãe desse homem fracassado, desse homem tão inábil que, sendo inocente, não evitou a própria morte. Que sabedoria a desse homem derrotado, e que vitória essa cena!

O Cireneu continuava a olhar para aquele quadro grandioso à sua frente, e teve medo. Sobretudo quando sentiu a terra tremer, o Templo balançar, e viu estranhas figuras andando de um lado para outro, olhos fechados, envoltas em faixas de panos brancos (como eram então sepultados os cadáveres), e dizendo terríveis censuras ao povo.

Simão quis falar com aquela Senhora, mas não ousou. Achou-a tão pura, que ele não tinha o direito de dirigir-Lhe a palavra. Logo depois, Ela se afastava com o cortejo que conduzia o Divino  Redentor para a sepultura, com todo o ritual que precedia a deposição do corpo no seu túmulo. Ele não teve coragem de acompanhá-La, e pensou: “Afinal de contas, o que me acontecerá? Vejo-me tão cheio de idéias, de preocupações, e estou perdendo a esperança, porque sou um miserável, um medroso, um homem carregado de pecados, e nunca estarei à altura de tudo quanto presenciei…”

O cortejo aproximou-se dele, aquela Senhora deitou um olhar de bondade e só lhe disse duas palavras: “Meu filho!”

Ele pensou: “Ganhei o dia, ganhei a vida, estou perdoado! Vou para casa”.

Ao chegar na sua modesta residência, encontrou a mulher e os filhos dormindo. Tudo estava tranqüilo. Teve então o cuidado de trocar de roupa, tomou a túnica ensanguentada e osculou-a com  reverência. Era o seu primeiro ato de adoração e de fé: “Esse Homem, cujo sangue tinge a minha vestimenta, é Deus!”

Dobrou a túnica como se fosse o maior tesouro do mundo e a guardou onde ninguém podia mexer. Em seguida, dirigiu-se ao pequeno jardim de sua casa, sentou-se num rústico banco de madeira e se pôs a pensar em tudo quanto vira naquele dia. De repente, percebe que algumas pessoas daquele cortejo voltavam do sepulcro, entre elas a Senhora que tanto o impressionara. Simão saiu de novo atrás delas, acompanhando-as até a casa onde moravam. Antes de entrar, a Senhora voltou-se para ele e, do fundo da dor d’Ela, deu-lhe um machucado, mas florido sorriso. Como se lhe dissesse: “Eu vivo aqui”. Entrou e desapareceu.

Simão compreendeu que se tratava de um convite para ele. Passou então a frequentar o convívio com Nossa Senhora e os Apóstolos. Tudo leva a crer que se santificou.

O silêncio paira sobre o desenrolar desta vida que, para a história, começa também no silêncio. Um homem adulto, saído bruscamente da vulgaridade, entra nesse arco de dor e de glória. Acaba cumprindo o seu dever depois de mil dificuldades, e some de novo no anonimato. Mas a sua alma, sem dúvida, foi recebida no Céu. Ele havia tido a honra, a vocação única de, sozinho, carregar a cruz do Cordeiro de Deus.

Sofrendo por Nosso Senhor, O ajudamos a carregar a cruz

E nós, podemos carregar a cruz de Nosso Senhor? Do madeiro em que Ele foi pregado resta apenas um pedaço, em Roma, do qual se extraem fragmentos de um valor moral e religioso inapreciável: são as relíquias do Santo Lenho. Mas, a grande cruz em que o Salvador morreu, esta não existe mais. Como podemos, então, carregá-la?

Há inúmeros modos de fazê-lo, pois inúmeros são os tipos de sofrimento pelos quais passamos. E quando padecemos por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, estamos carregando com Ele o Santo  Lenho. Sejam as penas físicas que se abatem sobre nós, sejam as dores e provações morais, sejam os desprezos e malquerença de que somos objetos por nossa fidelidade à Igreja Católica, sejam  ainda os duros esforços que, não raras vezes, nos custa a prática exímia dos Mandamentos: sempre que o sofremos, é um passo a mais que damos junto com o Divino Redentor, aliviando-Lhe o peso da cruz.

Cumpre, porém, não nos esquecermos de outra verdade. Ajudando assim a Jesus na sua “Via Crucis”, a exemplo de Simão Cireneu, estaremos, como este, nos tornando merecedores de uma  recompensa demasiadamente grande, de um prêmio de valor incomensurável, que o próprio Salvador nos tem reservado no Céu.

 

“Em vossa Cruz começastes a reinar!”

Já não estais por terra, meu Deus. A Cruz lentamente se levantou, não para Vos exaltar, mas para proclamar bem alto vossa ignomínia, vossa derrota, vosso extermínio. Entretanto, era o momento de se cumprir o que Vós mesmo havíeis anunciado: “Quando for elevado, atrairei a Mim todas as criaturas” (Jo 12, 32). Em vossa Cruz – humilhado, chagado, agonizante – começastes a  reinar sobre esta Terra. Numa visão profética, víeis todas as almas piedosas de todos os tempos, que viriam a Vós.

Meu Deus, foi na Cruz que começou vossa glória, e não na Ressurreição. Vossa nudez é um manto real, vossa coroa de espinhos um diadema sem preço, vossas chagas são a vossa púrpura.

Ó Cristo Rei, como é verdadeiro considerar- Vos na Cruz como um Rei! Mas como é certo que nenhum símbolo exprime melhor a autenticidade dessa realeza quanto a realidade histórica de vossa nudez, de vossa miséria, de vossa aparente derrota.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de “O Legionário”, abril de 1943)

Por vossa bondade, salvai-me!

Ó clemente, piedosa, doce e sempre Virgem Maria, rogai por nós, porque somos tudo o que somos, mas Vós sois tudo o que sois. Concebida sem pecado, nunca tivestes a menor falta, nunca  deixastes de progredir em graça e virtude, na medida inteira que se esperava de Vós. Sois a Virgem de uma virgindade insondavelmente preciosa. Sois a Mãe de Deus, a Filha do Pai Eterno, a  Esposa do Divino Espírito Santo.

Tendes tudo para ser atendida, e sois cheia de misericórdia para com os pecadores. Um destes sou eu, que me ajoelho a vossos pés, a Vos suplicar: perdoai-me! Não olheis para os meus pecados mas para a vossa bondade. Olhai para o sangue que vosso Divino Filho derramou a fim de que eu fosse salvo. Pensai nas lágrimas que Vós mesma vertestes pela minha redenção.

Assim, ó Mãe misericordiosa, não por meu mérito, mas por vossa bondade, salvai-me!

Plinio Corrêa de Oliveira

Hora certa, pensamento certo

Sob as maravilhosas irradiações da Santa Igreja, o relógio transcende sua função meramente utilitária para tornar-se um símbolo da infalibilidade da Esposa de Cristo a orientar o pensamento humano.

 

No tempo de Carlos Magno ignorava-se a existência do relógio mecânico. Um dos sistemas utilizados para marcar o tempo era a ampulheta, composta de dois recipientes ligados entre si por um gargalo finíssimo. Cada um desses recipientes tem a forma de um meio ovo, colocados de maneira a permitir que uma areia muito selecionada, com grãos bem finos, escoe durante determinado tempo de uma parte para outra da ampulheta.

Presente recebido por Carlos Magno

O primeiro relógio mecânico que chegou ao Ocidente foi mandado de presente a Carlos Magno, durante um intervalo de paz entre os mouros e os católicos, por um maometano inimigo da Cruz de Cristo: o Sultão Harun al-Rashid.

O espírito medieval, ao qual nós nos devemos reportar continuamente como um receptáculo do espírito da Igreja e do espírito da tradição, se debruçou sobre esta invenção.

Carlos Magno, logo que recebeu o relógio e viu o que era, incumbiu Alcuíno — uma espécie de ministro de finanças dele — e outras pessoas de o estudarem. Os europeus se puseram a aprender relojoaria, e daí decorreu que veio ao espírito deles fazer da relojoaria uma maravilha de precisão na marcação do tempo, mas, por outro lado, também verdadeiras obras de arte incomparáveis.

Na Alemanha, há numa torre um relógio em cujo quadrante, a cada hora, passa a figura de um Apóstolo. E quando bate meio-dia, aparecem as representações dos doze Apóstolos.

Outros relógios têm figuras que batem um sino. Por exemplo, em Veneza um relógio de um prédio que fica ao lado da Catedral de São Marcos. Há duas figuras de homens, que batem com toda a força num sino grande, marcando assim as horas. São bonecos de bronze, de bom gosto, e que exprimem inteligência; é uma coisa admirável!

Há relógios enormes e outros tão pequenos que se tornam facilmente portáteis: o homem pode levar um relógio no seu bolso e a senhora colocá-lo num anel. Mas observem o relógio que o homem leva no bolso ou aquele que a marquesa coloca no dedo: são feitos de esmalte, têm pedras preciosas e outras coisas bonitas; são usados por quem pode comprá-los. E há coisas mais modestas para quem precisa de um relógio a fim de marcar as suas horas dignamente.

Aspectos simbólicos e utilitários dos relógios

Entretanto, o relógio-pulseira, em certo momento, fez parte do progresso, e a aparição dele suprimiu alguns aspectos da vida concreta antiga. Por exemplo: na Europa inteira usavam-se relógios grandes, bonitos, com carrilhão, para pôr na sala de jantar, ou na sala de estar, e suas badaladas se ouviam nas demais dependências da casa, marcando a hora para a família inteira.

Passaram da moda, quase ninguém mais os tem. Por quê? Porque o relógio portátil de pulso tornou inúteis esses outros relógios.

Mas quanta coisa desapareceu em torno da ideia do relógio que dava o seu carrilhão solene, enchendo a casa e pondo certa uniformidade na vida de família!

São aspectos minúsculos, mas quanta riqueza e quantas coisas lindas dentro disso!

Existe, contudo, a ideia de que o esforço humano à procura da utilidade deve ser respeitado. E, debaixo desse ponto de vista, deve ser até admirado.

Mas é diferente do esforço do espírito humano quando busca as coisas contemplativas, que se voltam para a observação da vida, a análise sociológica, psicológica, a direção espiritual das multidões humanas, dos povos, das nações, os primores da estética. Tudo isto vale mais do que a coisa verdadeiramente valiosa que está colocada dentro de um bonito objeto.

Relógios nas torres de igrejas

Há, entretanto, um maravilhoso mais belo do que esse, porque já não é só do homem: é o maravilhoso divino, a presença da graça na alma; é a Igreja Católica enquanto sobrenatural, com tudo quanto dela se irradia e que deixa longe o meramente humano. Não há instituição tão bonita como a Igreja Católica!

Considerem só esta maravilha: os relógios nas torres de igrejas.

Quando o relógio foi inventado, não se possuía ainda a tecnologia necessária para fabricar relógios pequenos. Faziam-se, então, relógios enormes que cabiam bem nas torres das igrejas. Ademais, era preciso muito dinheiro para instalar um relógio, o que devia ser feito num lugar alto para servir à população inteira. Então a torre da igreja era o lugar adequado.

Mas a Igreja transformou isso num símbolo: assim como o relógio da torre indica a hora certa para toda a população, a Esposa de Cristo dá o pensamento certo para todos os homens.

Eu não conheço nada tão bonito quanto a instituição infalível, com aquela calma da Igreja — porque a verdadeira Igreja é eminentemente calma — que dá o pensamento certo para cada um a respeito de tudo, com aquela naturalidade da mãe que diz “Meu filho”, acaricia, honra, eleva e passa para outro assunto. Avançam os séculos, ela se mantém naquela serenidade majestosa…

Tudo isto é Igreja Católica, não tem igual, é outro ramo de maravilhoso!                v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 29/5/1974, 2/8/1990 e 16/11/1992)

Revista Dr Plinio 216 (Março de 2016)

 

Templo onde Jesus quer ser invocado

Ó Jesus que viveis em Maria, vinde e vivei em vossos servos, no espírito de vossa santidade, diz São Luís Grignion de Montfort na conhecida Oração a Jesus vivendo em Maria.

Nosso Senhor viveu em Maria, e d’Ela comunicou-se aos homens. Nossa Senhora é o sacrário onde está Jesus Cristo, e o santuário de dentro do qual todas as graças se difundem para o gênero  humano. Por isso, rezemos a Jesus enquanto vivendo em Maria, porque Ele quer ser invocado dentro do seu templo, que é a Santíssima Virgem.

Pedir a Ele o quê? Que Ele venha e viva em nós, como vivia n’Ela. Jesus viver em nós significa termos o espírito da santidade d’Ele, o espírito da santidade de Maria, que é o mesmo espírito da  Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Isto é o que devemos pedir, por meio de Nossa Senhora, a Jesus enquanto vivendo n’Ela.

 

Plinio Corrêa de Oliveira

Símbolo da santidade, majestade e força – II

Percorrendo o périplo que nos conduz das realidades visíveis às invisíveis, por meio da bondade e beleza das criaturas, chegamos a Deus, Nosso Senhor. Nada torna a vida tão agradável e interessante quanto fazer este tipo de meditação.

 

Estamos longe de analisar o leão simplesmente enquanto um animal forte que domina os outros. Consideramo-lo, isto sim, como um ser de uma rara beleza, que exprime certos predicados intrínsecos de sua natureza, entre os quais um determinado tipo de força e de coragem.

Força régia a serviço da majestade

A força possui todas as características do vigor a serviço de quem é rei. É uma força régia, quer dizer, de quem tem o direito e a missão de mandar, possui a nobreza intrínseca de uma superioridade de alma inerente ao ser dele, tem um direito normal a ocupar os cargos de mando e deve normalmente ocupar esses cargos. E por causa disto o leão exprime a ideia de força régia a serviço de uma majestade régia e dominadora. O papel da heráldica é exatamente pintá-lo de um modo meio irreal, que exprima o melhor da realidade dele, de maneira que se percebe mais facilmente do que num leão de verdade. O que, aliás, é sempre o papel da arte: desfigurar um pouco a realidade para obter o melhor da realidade.

O leão é, em última análise, o símbolo da majestade, a qual inclui, entre outras coisas, a força. É próprio da majestade ser suprema dentro da ordem e da lei, um ente supremo que funciona segundo a ordem natural das coisas e mantém esta ordem. O adequado da lei é ser um ditame da razão, promulgado pela autoridade competente; essa é a definição de lei. O próprio do rei, que é o autor da lei, é de ser o auge do bem, o auge da sabedoria, o auge da justiça e o auge da força.

O leão tem exatamente isto: está numa harmonia com toda a natureza, é uma espécie de obra-prima da natureza. E, enquanto tal, é verdadeiramente régio porque supremo na boa linha, na boa ordem; supremo considerado como tendo uma força que lhe assegura o exercício da supremacia que lhe compete.

Um animal ordenador

De onde, então, existe uma ideia de santidade ligada ao conceito de leão. Ele representa o que há de santo na dignidade régia. Porque o que há de santo, de reto conforme a ordem estabelecida pelo Criador, de supremo, de excelente feito por Deus, o leão representa. De maneira tal que assim como, por exemplo, na heráldica, temos águias com halos de santos, nós poderíamos ter um leão com um halo de santidade. Pelo mesmo título; e até a um título mais alto. O que quer dizer a santidade da majestade?

A majestade é o poder supremo legítimo, e toda autoridade legítima enquanto tal é santa. Quer dizer, foi instituída por Deus para um fim santo. Posso falar da santidade de qualquer autoridade: por exemplo, de um professor dentro da sala de aula. Segundo a própria expressão da palavra “santo”, a autoridade do professor sobre os alunos decorre da ordem natural estabelecida por Deus. E enquanto querida pelo Criador para um fim bom aquela função é santa. Nesse sentido a função de rei é ainda mais santa, porque mais alta, mais nobre; é a mais alta de todas na esfera temporal, portanto enquanto tal ela é a mais santa de todas.

 O resultado disso é que se eu souber fazer uma boa interpretação do leão, nele deverei ver a majestade santa, portanto sabedoria santa pelo discernimento com que ele cumpre o seu papel; força santa porque colocada a serviço de quem precisa mandar e para o estabelecimento da ordem que deve reinar. O leão é um animal ordenador. O contrário de um chacal, por exemplo, que tira os cadáveres da tumba, os devora e deixa toda a sujeira sobre a terra.

Quem considera assim a figura de leão fica conhecendo o que é santidade, majestade e força.

A convergência da teoria com o concreto proporciona o conhecimento pleno

Alguém poderia objetar que esse é um modo medíocre de conhecer esses predicados. Melhor seria tomar um compêndio de Moral católica ou uma enciclopédia e ver a definição de majestade, santidade e força. Para que toda essa explicação sobre o leão? A definição abstrata é muito mais enriquecedora do que a noção de leão.

Eu digo: é preciso ter as duas coisas. Para um completo conhecimento do que é a santidade, a majestade e a força é necessário conhecer a definição e depois ir ao leão e verificar como essa definição se aplica a ele. A meu ver, quem se contenta com apenas uma dessas duas formas de conhecimento faz o papel de um homem que diz o seguinte: “Eu posso perfeitamente vender um olho para um transplante, porque com um olho só vejo bem. Basta-me ver com um olho só”.

Ora, embora se veja com um olho, a visão completa se obtém pela conjugação dos dois olhos. É aí que a noção completa da coisa se estabelece. A convergência da noção teórica com a coisa concreta bem analisada é que dá o conhecimento pleno. Nós não podemos nos contentar com uma coisa ou com outra. O espírito integralmente formado quer as duas coisas.

Um homem que tenha tido a oportunidade de ir a um parque de leões e analisar tal atributo em um leão, tal predicado em outro, tal atitude num terceiro, e depois considerar o leão heráldico como reunindo todas as características vistas nos vários leões, e só então conferir com a noção consignada no dicionário, ficará com a ideia completa e íntegra de santidade, majestade e força.

O Leão de Judá

Vendo as coisas assim, uma pessoa com a mentalidade bem constituída ficaria com a alma cheia de cogitações. Ao invés de pôr um ponto final no processo intelectual, começaria a levantar uma pergunta: Se a santidade e a majestade são qualidades tão belas, a santidade de uma função é algo tão bonito, se é tão esplêndida a força quando colocada a serviço da majestade, não haverá outros seres nos quais eu possa considerar, para nutrimento de minha alma, maior majestade, maior força, maior santidade? Minha alma já se extasia vendo esses atributos simbolizados no leão, mas eu quisera ver mais.

Vem, então, a conclusão: no homem precisa haver mais majestade. Devem existir homens que me deem essa ideia de um modo mais perfeito do que o leão. Que homens terão sido?

A pessoa passará, então, a estudar os homens que foram majestosos na Terra como, por exemplo, Carlos Magno, São Luís IX. E, de majestade em majestade, chegará Àquele que a Escritura qualificou de Leão de Judá: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Contempla o Santo Sudário de Turim e diz: “Nenhuma majestade realizada por um filho de homem atingiu a daquele infortúnio, daquela dor, daquela certeza, daquela esperança e daquela recusa. Aquela é a majestade das majestades, a mais alta das majestades que a face humana possa exprimir!”

Então, na sua peregrinação pelas majestades, essa pessoa vai estudar a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho. E, após ter considerado a própria humanidade do Redentor, dirá: “Nosso Senhor Jesus Cristo, na sua humanidade, é Corpo e Alma. Entretanto, eu vejo apenas os reflexos da Alma no Corpo, não vejo a Alma. Que feliz seria eu se contemplasse a Alma d’Ele diretamente! Como veria melhor a majestade e a santidade d’Ele se eu pudesse ver a Alma d’Ele, e não apenas a sua face divina!”

E depois dirá mais ainda: “A Alma d’Ele é humana, e tudo quanto é humano é limitado. Deve haver algo infinitamente maior do que a Alma humana d’Ele, e que tem uma majestade, uma santidade e uma força que, estas sim, concebidas em último grau, enchem completamente a minha alma. Para contemplá-las eu serei capaz de todos os esforços, todas as renúncias, todos os sacrifícios. É a natureza divina d’Ele. Porque Deus é infinito, supremo, perfeito, Ele tem tudo. Há, portanto, um Ser incriado que foi o ponto de partida de todas as coisas, e que possui num grau infinito aquilo que eu comecei a considerar no leão de um modo finito”.

Meditação com seu périplo total

Neste ponto os olhos se voltam novamente para o leão e a pessoa passa a ver nele, em todos os seus movimentos, em toda a sua sublimidade, reflexos criados da natureza divina; um espelho de perfeições inexcogitáveis e infinitas de Deus das quais, entretanto, a cada movimento do leão pode-se ter uma certa ideia. Porque, ao contemplar aquilo e perguntar-se como seria em ponto infinito, fica no fundo da alma algo de indizível, objeto de uma meditação propriamente religiosa e que lhe dá a verdadeira apetência do Céu.

Esta é a fase religiosa e final da meditação. É um tipo de meditação caracteristicamente da quarta via de São Tomás de Aquino(1) que, através de um ente criado, nos eleva até o Céu, mas depois nos faz voltar aos entes criados para ir degustando-os como prelibações do Paraíso, ocasiões de sentirmos um antegozo do Céu. Assim levamos a vida cercados de coisas palpáveis e visíveis, sempre considerando as coisas impalpáveis, supremas e invisíveis que elas representam.

Então eu tenho o leão, acima dele o rei, acima do rei os Anjos, acima dos Anjos Nossa Senhora, infinitamente acima de Nossa Senhora, Nosso Senhor Jesus Cristo, e em Nosso Senhor Jesus Cristo tenho o próprio Deus.

Quer dizer, por esta forma eu faço todo um circuito. E compreendo perfeitamente que no Reino de Maria houvesse, por exemplo, uma igreja consagrada a Nosso Senhor Jesus Cristo, onde existisse, quiçá do lado de fora, na praça pública, um leão heráldico, escultura talvez fundida em ouro, na base da qual estivesse escrito “Imagem do Leão de Judá”. Sei que essa escultura deixaria muita gente furiosa, mas isso seria exatamente fazer uma meditação com seu périplo total.

A graça de ver os imponderáveis da Criação

É próprio à natureza humana desejar levar uma vida agradável sobre a Terra. Eu lhes posso garantir que nada, no sentido mais estrito da palavra, torna a vida tão agradável e interessante quanto vivê-la assim. Um homem que não vive desse modo está para quem vive pior do que um cego em relação a quem enxerga normalmente. Mas muito pior, não há comparação.

Poderíamos encerrar estas considerações com a seguinte súplica a Nossa Senhora:

Ó Maria, Esposa Imaculada do Espírito Santo, dai-me a graça de ver os imponderáveis da Criação, de me enlevar por eles e de ser impelido assim, por um amor desinteressado, à contemplação das perfeições que a alma humana possui pela natureza e pela graça.

Fazei-me subir dessa consideração à da natureza angélica, puramente espiritual e, por fim, à de vosso Divino Filho que na sua humanidade santíssima é o ápice e a síntese de toda a Criação. Fazei-me em seguida, por um voo ainda mais possante de desinteresse e enlevo, fixar a minha mente na consideração da própria essência divina, da qual toda a Criação é imagem ou semelhança, de maneira que, analisando depois as criaturas, possa antegozar o Céu, preparando-me assim para entrar nele e lá Vos louvar por toda a eternidade.          v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 5/1/1973)

Revista Dr Plinio 252 (Março de 2019)

 

 

1) Cf. Suma Teológica I, q. 2, a. 3.

 

Chambord – magnifico crepúsculo da Idade Média

Expressiva característica das grandes construções medievais é o fato de elas solicitarem, de quem as contempla, o tributo de um eminente e abnegado amor, estimando-as mais do que a si próprio.

Exemplo disso é a belíssima Catedral de Notre-Dame de Paris, que manifesta, ante os que dela se aproximam, perene convite para essa superior dileção. O mesmo pedido nos é feito, à maneira de sussurro, por outra preciosa joia de arquitetura, esta já não medieval, mas que conserva algo de medievalizante: o castelo de Chambord.

Quando o visitei, em fins de 1988, tive ocasião de ali perceber restos da graça que soprou sobre a Europa e deu origem à Idade Média, pondo-se séculos depois, lentamente, como um sol  esplendoroso.

Chambord é uma das irradiações desse ocaso da Cristandade medieval, mas um ocaso magnífico, como magnífica é também a Cristandade.

Durante minha visita, voltei a vista continuamente para esta consideração: cada detalhe do castelo espelha de modo esplêndido o espírito católico, ainda que sob a forma de um glorioso crepúsculo. No fundo, eu contemplava em Chambord cintilações da Santa Igreja Católica, à qual amamos de um amor tão imenso, que este amor se torna a razão e o fundamento de todas as nossas demais benquerenças.

E é porque a alma católica me encanta, é porque nela discirno o reluzimento do Divino Espírito Santo, que me apraz admirar Chambord. Nesse castelo, tudo é amabilidade, harmonia, leveza, elegância, força e coragem. Ora, é a graça de  Deus que concede aos homens a possibilidade de serem assim e de imprimirem nas suas obras reflexos desses predicados. E a graça lhes vem através da Igreja Católica, de seus ensinamentos, de seu apostolado e maternal influência. Graças e influxo materno que, em Chambord, tocaram profundamente minha sensibilidade.

Essa maravilha que eu sonhava em conhecer, achava-se fechada aos turistas na tarde em que ali cheguei. Sozinha, silenciosa, envolta nas  discretas penumbras do pré-anoitecer que começava. O conjunto refletia aquela espécie de poesia, de tristeza e de beleza especiais das coisas abandonadas. Separava-me do castelo um terreno coberto por uma erva que nasceu de modo mais ou menos fortuito, mas que adquiriu extraordinário encanto, realçado aqui e ali por graciosas florzinhas brancas surgindo inocentemente da relva.

À direita, destacava-se uma capelinha de gótico “flamboyant”, do século passado, em perfeita harmonia com o estilo de Chambord. A floresta, sobre a qual incidia uma luminosidade amena, pareceu-me de rara beleza, imersa em suave e discreta melancolia. Contemplando aquelas árvores, tinha-se a impressão de ver um mundo de personagens que participaram de toda a existência áurea de Chambord, e que agora se encontravam para além do rio que nos separa da eternidade, considerando com certo pesar a derrota de tudo quanto eles conheceram e representaram.

Já o castelo, com sua imensa beleza, altivez e fantasia, erguia-se à maneira de um “grand-seigneur “passeando por seus domínios. Hierático, algum tanto distante do mundo ao seu redor, um “grand-seigneur” que, no mesmo dia, pela manhã tomou parte numa batalha, à tarde recebeu convidados para uma festa na qual dançou, e no fim da noite se pôs a caminhar sozinho pela floresta.

E leva consigo alguma coisa da batalha, da dança e do mato. O que tem o castelo? Proporções muito bonitas e um universo de chaminés de tamanhos variegados, surdindo como “champignons” por toda parte, numa verdadeira feeria de pequenas cúpulas e torres, algumas maiores, outras menores, causando a impressão de que um certo húmus passou do solo para o castelo, e deste para o ar.

Esse húmus, indescritível, é o responsável pela grande fantasia que existe em Chambord, emoldurada por uma regra, uma linha e uma harmonia que nos deixam encantados. De vez em quando, o silêncio daqueles instantes era interrompido por diferentes piados de pássaros. Ora era um longo trinado, como se do fundo dos séculos algo dissesse: “Eu ainda vivo!” Ora era uma ave que, perseguida por outra, exalava um grito de desespero, atraindo nossa atenção para uma espécie de pungente e oculto drama que se desenrolava no meio daquele arvoredo.

Dali a pouco os pássaros emudeciam, o silêncio se recompunha em torno do castelo, e Chambord continuava seu velho sonho, triste, digno, seguro de si mesmo e abandonado. E as penumbras do entardecer, e as derradeiras incidências de um lindo crepúsculo, tremeluzindo sobre um extenso gramado de relva selvagem, mal plantada mas que deveria ser assim — tudo se tornava úmido de absoluto, impregnado de graças celestiais.

Sim, mais uma vez é a graça que nos faz admirar em Chambord o que, sem o auxílio dela, não nos seria perceptível. São expressões do castelo, são impressões e sentimentos que ele só transmite a quem é favorecido com essa assistência sobrenatural.

E deixamos o tempo transcorrer ali com a intenção de vislumbrar a graça como uma luz acesa no interior de Chambord. O próprio castelo seria o “abat-jour”, esplendoroso, extraordinário, porém o  mais aprazível era considerar essa luz celeste que acentua sua inenarrável beleza, sua tranqüilidade recolhida, sua majestade.

Era impossível que Chambord fosse tão belo, tão perfeito, e que Deus não estivesse presente ali. Era impossível que aquele castelo possuísse essa perfeição e essa beleza, se estas não fossem fruto das lágrimas de Maria e do preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Plinio Corrêa de Oliveira

O cântico da fidelidade na noite do crime

Os Anjos puderam contemplar, após o sepultamento de Nosso Senhor, talvez no próprio edifício onde se realizou a Santa Ceia, Nossa Senhora sozinha, no silêncio daquela noite, a Terra inteira pecando, e Ela interrompendo as suas orações para, com melodias que só os espíritos angélicos conheceram e nós conheceremos quando formos para o  Céu, cantar as suas reparações.

Ali estava a Santíssima Virgem, que compôs o Magnificat, tomando ponto por ponto, descendo ao abismo de cada infidelidade e rematando a meditação por um cântico de fidelidade. Que cena tocantíssima deveria ser essa! A Mãe de Deus a passou sozinha, porque ninguém era digno de presenciá-la, somente os Anjos.

É uma magnífica maneira de meditarmos a Paixão nos associarmos a esse canto da Soledade de Nossa Senhora; inteiramente só, na noite do crime. O cântico da maior virtude de toda a Terra, elevando-se até o Céu.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraída de conferência de 13/4/1968)

Parece um conto de fadas!

A Torre de Belém dá a impressão de ser um castelo completo e não apenas uma torre. Ela tem a pompa, a imponência, o entretenimento de uma fortificação. Suas pedras brancas ao Sol possuem  particular encanto, parecendo um conto de fadas. Já a Catedral de Sevilha é uma fortaleza meio eclesiástica e uma igreja meio fortaleza.

 

A simples vista da Torre de Belém sempre me produziu uma impressão parecida, na ordem natural, com o que seria um êxtase na ordem sobrenatural. Êxtase é uma atitude da alma quando há  uma comunicação de Deus para com ela, que a faz ficar fora de si. Há coisas que na ordem natural podem produzir êxtases. Essa torre me produziu sempre um êxtase.

Pompa, imponência e entretenimento de um castelo

Quando fui a Lisboa, visitei-a detida, prolongada e embevecidamente, mas não realizei o programa que tinha a respeito dela. Quem sabe se Nossa Senhora me dará a oportunidade de fazer isso  algum dia: ir até lá à noite, inteiramente só, dar várias voltas à torre. Mais ainda, ter uma lancha à minha disposição, de maneira a poder contemplá-la a várias distâncias no Tejo.

Isso para me  fazer a ideia de qual era a atitude de alma de um missionário ou de um navegante português quando saía em direção ao Atlântico e via a Torre de Belém ficando menor… que saudades e  embevecimento ela lhe causaria. E quando voltava e a observava ficar cada vez maior, que impressão ele experimentava.

Esse edifício dá de tal maneira a impressão de ser um castelo inteiro, e não uma simples torre, que nos perguntamos como uma torre pode ser tão bela. Ela tem a pompa, a imponência, o  entretenimento de um castelo, com isso de lindo: parece um conto de fadas! Sensação causada pela pedra branca com que é construída, e cujo brilho ao Sol tem um particular encanto, mas  também por um predicado que se encontra em várias obras de arte portuguesas, e me agrada muito: o contraste entre o liso e o sobrecarregado.

Notamos que as paredes da torre são inteiramente lisas, e sua monotonia é remediada, com vantagem, apenas pelo seguinte: de alto a baixo, uma linha constituída de uma primeira janela, depois  dois pequenos arcos geminados e divididos por uma coluna graciosa, formando uma só janela.

Em seguida, um terraço com dossel e dois pequenos arcos que repetem os de cima. Esse terraço é intensamente ornamentado e muito bonito. Temos então, reunidos numa superfície pequena,  uma sobrecarga de ornatos que seria quase uma caixa de joias, um escrínio e não um terraço.

Beleza artística e utilidade militar

Logo abaixo temos a unidade assegurada pela última janela, muito simples, que repete a primeira. Assim, o  epílogo lembra o início. São Tomás dizia que o círculo é uma figura perfeita porque  volta à sua origem, pois tudo quanto retorna ao seu ponto de partida é perfeito. É bonito que o ponto de chegada desta linha perpendicular seja tão semelhante ao ponto de partida, pois essas duas janelas – a primeira e a última – são iguais.

Notem também, para quebrar a monotonia, essas guaritas colocadas simetricamente bem nos ângulos da torre, todas com as mesmas características: o teto muito sobrecarregado, constituído de  vários gomos e encimado por um cone, no alto do qual encontra-se uma esfera.

O resto, simplicíssimo. Uma simples janela, como costumam ter as guaritas, cuja pobreza, nudez e singeleza lembram a primeira e última janelas acima comentadas. Considerem as ameias da  torre. É um alto terraço circular destinado, evidentemente, a verificar o que dia e noite se passa ao redor. A torre é concebida para se defender ela mesma contra um ataque do adversário.

Mostrarei, em breve, os aspectos militares da torre. No que seria o parapeito, a torre tem uma série de brasões das casas fidalgas ilustres de Portugal. Cada uma dessas pontas é um brasão,  lembrando as glórias das casas aristocráticas portuguesas. Uma porta dá  acesso para um salão interno, onde os guardas descansavam e tomavam refeição.

É muito bonita a altaneria e dignidade dessas várias divisas lembrando as glórias de Portugal. Assim, ao invés dos muros “dentados”, como costumam ser as edificações deste tipo da Idade Média,  os “dentes” são representados por esses emblemas. Reparem como eles têm uma dignidade, um peso, um tamanho e uma força extraordinários. No intervalo entre um brasão e outro, o  soldado   atirava setas e, mais raramente, projéteis de armas de fogo primitivas que, na época em que a torre foi construída, apenas começavam a ser usadas. Feito o disparo, os combatentes se escondiam  atrás dos brasões de pedra, de maneira a não serem facilmente apanhados.

Vemos, assim, como a beleza artística coincide com a utilidade militar. O fato mesmo de haver tão poucas janelas é para defesa, limitando a entrada na torre. Por isso também a janela de baixo é  muito simples e não tem terraço, para ninguém se pendurar e ficar atacando para dentro. Ademais, é janela com grade. Tudo com a preocupação de fazer da torre um uso militar.

O “unum” se perde no céu

No centro da torre ergue-se um torreão menor do que ela a fim de dar espaço para a ronda. Há, portanto, duas rondas: uma no alto, e outra embaixo. Há nisso uma razão militar muito boa, pois  amplia muito o campo de visão e a possibilidade do acerto nos disparos. Mas além da razão militar existe uma vantagem estética.

A torre assim como está impressiona muito, mas deixa na vista uma ilusão que resolve o seguinte problema: vemos a parte mais larga da torre e, acima dela, a mais estreita. Entretanto, em cima  não existe um “unum”. Ora, tudo nesse monumento pede que haja um “unum”; essas guaritas pedem um “unum”. Onde ele está?

A ideia é que o “unum” se perde no céu. É um “unum” meio imaginário, como seria e do cone do Fuji-Yama. Essa ideia é insinuada pela diferença da largura entre as duas partes da torre. A parte  menor cria na imaginação, subconscientemente, a ilusão de outras menores que se sucedem, perdendo-se no céu, o que tem, portanto, uma grande beleza.

Se considerarmos esse terraço na base da torre, que é a primeira linha da defesa dessa fortificação, percebemos mais uma vez os escudos e as guaritas repetindo o elemento ornamental de cima.  Embaixo vemos janelas gradeadas, que dão para o calabouço, pois no porão da torre existiam prisões.

É muito bonita a largura desse terraço, porque tem uma certa relação estética com a altura da torre, fazendo com que o todo pareça muito amplo, quando na realidade é simplesmente uma torre.  Essa torre está para o terraço mais ou menos como a rainha estaria para a cauda de seu vestido. O terraço é uma espécie de projeção, de cauda magnífica da torre. A rainha de pedra tem uma cauda também de pedra e olha altiva para a cidade, e dominadora para o mar. A posição é muito bonita.

Cabral e Dom João VI

Nesse terraço, quando partiam as esquadras portuguesas, às vezes o próprio rei vinha apreciar a partida da armada, acompanhado da rainha e outros membros da família real, com a corte,  prelados, guerreiros, magistrados, que enchiam as muralhas e janelas da torre com pessoas esplendidamente vestidas.

Desses terraços pendiam tapeçarias, e o colorido era magnífico. Podemos imaginar a beleza daqueles galeões avançando com o estandarte da Ordem de Cristo. Uma esquadra com cinco, oito navios, cânticos do lado de cá, cânticos do lado de lá. Quando as naus passavam diante do rei, reverência, com salvas de tiros no tempo das armas de fogo; e as naus desapareciam aos poucos no Atlântico.

Pela Torre de Belém passou a esquadra de Cabral que vinha introduzir no mundo essa realidade chamada Brasil. Por ali passou também – em condições quão diferentes, mas não despidas de  dignidade, nem de glória – a esquadra na qual Dom João VI vinha fugindo de Junot.

À última hora, quando estava tudo pronto para partir, deu-se um episódio pitoresco. Ouviu-se do cais: “Para! Para!” Era um homem que vinha trazendo mais uma escrivaninha preciosa, esquecida no palácio real.

Aliás, a partida de Dom João VI foi muito bem preparada. O monarca trouxe todo o ouro do tesouro de Portugal, o mobiliário dos palácios dele, obras de arte, joias, e até sardinhas, das quais ele  gostava muito e sabia não haver no Brasil. De maneira que quando comermos sardinhas frescas, lembremo-nos de que elas descendem das sardinhas trazidas por Dom João VI.

“Quem não viu Sevilha, não viu maravilha”

Consideremos um outro monumento, agora na Espanha: a Catedral de Sevilha. Ela nos lembra um antigo provérbio português: “Quem não viu Sevilha, não viu maravilha”. Encontramos nesse  edifício algo, mas muito pouco, do que elogiei na Torre de Belém. Essas duas torres laterais são muito ornadas. Entre elas, um espaço simples, com fundo claro e um gradeado muito bonito de ogivas e rosáceas, que fazem o contraste do simples com o muito embelezado.

Vê-se uma faixa grande e muito ornada com imagens de Santos encimados por dosséis. Por cima do fundo simples ao qual aludi, encontra-se o portal com um triângulo Gabriel magnífico, que é uma expressão da ogiva e, embaixo, uma porta ogival profunda. Em cima há algo parecido com aquela diminuição da Torre de Belém e, depois, também um terraço como no alto daquela torre.

Essas guaritas no canto lembram igualmente a Torre de Belém. Não creio que isso tenha sido inspirado nela, mas são afinidades de estilo, muito compreensíveis entre Espanha e Portugal. A meu  ver, o bonito dessa porta é que ela tem qualquer coisa de monumental. As torres têm uma altivez, levantam-se do chão com muita decisão e galhardia. Temos a impressão de que elas seguram o   chão como se fossem garras, e sobem ao céu com uma segurança, uma inteira despreocupação do perigo de cair, e que sustentam o peso em cima com uma completa facilidade. Mais ainda, tenho a impressão de que elas olham do alto de si mesmas para a terra e para os pobres transeuntes, de cima para baixo, numa atitude de desafio, quase como quem diz: “Se ousas, experimenta. Só pela  minha fisionomia, te afugento. É assim que eu sinto a terra”.

Modos inocentes de aproveitar a vida

Notem como esses arcos, que são arrimos das torres, foram transformados em verdadeiros ornatos pelos arquitetos muito artísticos do tempo. Há qualquer coisa de porta de fortaleza nesse magnífico portal. É uma característica muito sensível para mim, agrada-me muito essa fusão. Uma fortaleza meio eclesiástica e uma igreja meio fortaleza realizam a síntese de que eu gosto, isto é, os mais altos valores do espírito defendidos pela força e postos dentro da luta, com a entrega do homem e o risco da vida.

É, por exemplo, a guerra religiosa, a guerra das almas e dos corpos, com uma integridade que constitui sua beleza. Um minúsculo pormenor característico da Península Ibérica é a palmeirinha, tão presente no Sul da Itália, da Espanha, de Portugal, mais rara no restante da Europa, frequente no litoral da África do Norte, tão comum no Brasil.

Outra coisa também minúscula, mas que compõe o ambiente e o panorama: esse chafariz que provavelmente servia para os cavalos beberem água. Termino com um pequeno comentário a respeito as árvores. Em Granada se vê muito isso: no interior do Alhambra, aquelas partes muito bonitas, com os chafarizes cantando. Mais ainda: da fonte vêm sulcos para dentro dos quartos, com regozinhos que fazem com que a água brinque e corra em pequenos sulcos dentro do próprio quarto. Para um lugar quente, que maravilha! Esses  são modos inocentes de aproveitar a vida, que tiram a mania e a obsessão de impureza. Por causa disso a Revolução combate o quanto pode para fazer com que a vida virtuosa seja sem graça. Contra isso, devemos nos levantar.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/1/1977)