A beleza da hierarquia angélica

Dr. Plinio tinha um apreço especial pelo estudo sobre os Anjos e grande devoção a eles. Comentando alguns trechos de um livro de Dionísio Areopagita, analisa a ordem, a atividade dos espíritos angélicos e faz aplicações desse tema aos indivíduos, à sociedade, a áreas de civilização e até mesmo a épocas históricas.

 

Dionísio Areopagita, em seu “Tratado da hierarquia celeste”, descreve uma concatenação dos Anjos, apresentada por ele como a ordenação perfeita do ser criado. O puro espírito criado não teria necessariamente aquela ordenação, mas ele não está longe de dizer — ou até mesmo afirma — que os traços essenciais da ordenação são aqueles.

A multiplicidade das criaturas

O cabide que carrega todo o tema tratado por Dionísio é: uma vez que Deus criou, não poderia deixar de criar vários seres.

São Tomás defende essa tese: O Altíssimo não poderia criar um só ser, porque nenhum ser único tem suficientes qualidades para refletir adequadamente as perfeições do Criador. Ora, a ordem do criado precisa refletir a Deus globalmente e não apenas em um de seus traços.

Então, esquematizando, seria o seguinte:

  1. A ordem do criado tem que refletir a Deus globalmente, e não apenas em uma de suas perfeições.
  2. Refletir a Deus globalmente é algo de tão grande, que não pode ser feito por uma criatura, mas por várias, portanto por um universo, quer dizer, por um conjunto de criaturas que esteja em condições de dar esse reflexo global do Criador.
  3. Deus dispôs que essas criaturas fossem muitíssimas e dotadas de propriedades cujo conjunto, de fato, refletisse a Ele.

Não me parece necessário que o número de seres fosse esse, nem que as criaturas fossem exatamente como são. Podiam ser criaturas numa quantidade diferente, cuja disposição e o inter-relacionamento entre elas adequadamente refletissem a Deus, num modo pelo qual os Anjos não refletem. Mas o Criador dispôs que fossem assim. Isso equivale a julgar que haveria outros universos possíveis. Isso é uma coisa que me parece absolutamente certa.

A ordem na sociedade humana deve ser análoga à existente entre os Anjos

Contudo, uma vez que Deus criou esse número de Anjos com essa natureza, não podia deixar de ser que eles estivessem ordenados como estão. Quer dizer, eles já foram criados assim em vista a refletir o Criador. E a ordenação, o inter-relacionamento entre eles, uma vez que são assim, seria necessariamente esse.

E como a tarefa das criaturas consiste em refletir a Deus não só sendo, mas agindo sobre outros, essas criaturas não podiam existir enclausuradas sem terem contato umas com as outras. Tinham que se relacionar para que essas qualidades, esses predicados divinos se articulassem e representassem um só todo.

Essas criaturas, assim articuladas, teriam que desempenhar um papel que, esquematicamente, é o papel que Dionísio atribui aos Anjos porque, na ordem absoluta do ser, um é aquele conhecimento amoroso dos Serafins, outro é aquela inteligência dos Querubins, outro é aquele poder dos Tronos, e assim por diante.

Como nós, homens, estamos no mesmo universo que os Anjos, fazemos parte da mesma Criação, eles devem nos governar. Em consequência, nossa ordem deve ser análoga e consonante com a deles. E, como tal, o modo de nos relacionarmos e os traços fundamentais de governo da sociedade humana, feitos os descontos da diferença de naturezas, têm que ser análogos aos do mundo angélico.

A força motora do governo legítimo

Entretanto, não pode ser que alguns de nós sejamos apenas cognoscitivos e volitivos, como os Anjos. Vê-se que nossa natureza não comporta isso, mas está menos longe de nossa natureza do que se pode imaginar à primeira vista.

Em muitos trechos dos seus discursos à nobreza romana, Pio XII encaixava o regime democrático, afirmando que as mais autênticas democracias devem ter instituições aristocráticas. Nesta perspectiva e tomando, portanto, a ideia de aristocracia no seu sentido mais amplo, quer dizer, as elites, é mais ou menos certo, a meu ver, que em face da missão de uma sociedade, do que ela é, do que deve fazer, há um maior descortino das classes mais altas do que das mais baixas. E esse descortino deve fazer com que as classes mais altas conheçam melhor o espírito do país, o que este é como um todo, amem-no com mais finura, de maneira tal que elas filtrem isso para as classes mais baixas. E que essa filtração produza, por sua vez, um impulso diretivo do poder sobre as classes mais baixas que é verdadeiramente a força motora do autêntico governo legítimo.

As classes mais baixas, assim iluminadas e impulsionadas, têm uma capacidade de execução muito maior do que numa sociedade onde não haja isso. E disto decorre, propriamente, o vigor e a coesão de um corpo social.

Alguém que inventasse copiar a ordem angélica para a ordem humana — não se inspirar, mas copiar —, faria as coisas mais pesadas, mais tontas que se possam imaginar.

Por exemplo, é de experiência comum que, de vez em quando, saem da classe mais baixa elementos extraordinariamente dotados; mas não correspondem à figura clássica do homem muito inteligente, que vai ficar um “ploc-ploc”(1). São pessoas muito dotadas de dons naturais vivos, capazes de vencer as batalhas da vida e aproximarem-se da aristocracia merecidamente, afinarem-se.

As raízes de uma árvore e a nobreza

As raízes de uma árvore pegam matéria inerte nas capilaridades, assimilam-na e a transpõem para o estado de matéria viva, passando a circular dentro do fluxo vital da árvore. A matéria morta que passa a ter vida lembra um pouco uma ressurreição. Isto é uma maravilha que ocorre nas raízes de todas as plantas a todo momento.

Há um fenômeno parecido com esse pelo qual a nobreza suga continuamente da plebe — uma sucção generosa, bondosa, honorífica para a plebe — os elementos aproveitáveis e os eleva, ejetando de si outros que, muitas vezes, se jogam eles mesmos para baixo.

Nesse sentido, tenho certa reserva contra algumas instituições que, sob o pretexto de manter longevas as famílias, amarram-nas nos seus próprios tronos, de tal maneira que quando elas estão apodrecendo, ainda se mantêm sentadas ali.

A inalienabilidade de certo bem em determinada família, enquanto o mundo durar, revela o propósito de evitar que ela seja despojada imerecidamente de alguma coisa. Mas denota também a intenção de assegurar aquilo para a família, mesmo quando as mãos débeis dela não forem mais capazes de agarrar e sustentar.

O Anjo não pode ser promovido para uma categoria superior, nem rebaixado a uma inferior. O homem pode. Se o anjo for um Querubim, sê-lo-á até no Inferno.

Portanto, é preciso saber entender como se inspirar nisso.

A esse respeito, poder-se-ia dar a seguinte regra:

Para nos inspirarmos no mundo angélico, seria preciso ver como isso foi modelado pelo surto de vida natural e sobrenatural do começo da Idade Média até a Revolução Francesa, feitos os descontos da decadência que houve naquele período. Depois procurar ver no que aquilo, sem a intenção de imitar os Anjos, de fato imitava, para assim compreender como esta semelhança pode jogar, e como devemos fazer no Reino de Maria.

A coisa errada, “ploc-ploc”, seria: vem o Reino de Maria, consultamos nossos especialistas em matéria de Anjos, eles nos dão os esquemas e organizamos uma sociedade. Não é isso! Precisamos ver como o bom impulso natural e sobrenatural vai movendo as coisas. E procurar interpretar esse impulso à luz do exemplo angélico, para em algum ponto retificar, apoiar, fazer o que executa o jardineiro com a planta.

Ele não faz o plano da planta e puxa o vegetal para ser daquele jeito, mas toma as possibilidades de progresso da planta e a orienta, poda de cá, de lá, leva-a para o lugar onde incide mais sol, enfim, manobra, segundo uma ideia que ele tem da planta, o que há de autêntico e orgânico dentro dela.

A pulcritude da abstração

Para isso serve enormemente o estudo dos Anjos, porque, desde que se compreenda em que sentido aquele surto está imitando-os — e que as pessoas tenham consciência de que, deixando-se tocar por esse impulso, elas estão fazendo uma coisa angélica —, o surto fica ainda mais forte e toma mais autenticidade.

Se, por exemplo, sou professor e percebo que é em virtude de um tal influxo angélico que estou agindo de determinado modo, compreendo como aquilo que surge em mim, como de minhas raízes, é “angeliforme”. Então, sou capaz de dar instintivamente àquilo uma espécie de perfeição que, se eu não soubesse isso, não daria.

O exemplo dos Anjos faz sobre nós o papel do exemplo do Sol sobre a planta. Não se trata tanto de raciocínio, mas é um “heliotropismo” rumo aos Anjos, estando Deus acima. O Anjo aqui é um hífen para Deus.

Seria preciso termos teólogos e artistas da sociedade que vai nascendo, capazes, antes de tudo, de senti-la no seu fluxo providencial, natural e sobrenatural. E saber apenas iluminar esse fluxo com o exemplo dos Anjos, e outras coisas tiradas da Teologia.

Imaginemos uma sociedade que tivesse toda a atenção posta sobre aqueles que são de algum modo os maiorais dela, os Anjos, e sobre o fato de que tudo o que existe na Terra, provavelmente, é reflexo de algo de angélico para depois tocar algo em Deus e ser reflexo d’Ele. Por exemplo, o modo de o homem ver as coisas abstratas, que é o píncaro do pensamento humano por vários lados — e depois contemplar as coisas simbólicas que é também esse píncaro sob diversos aspectos —, levaria o homem a ser capaz de perceber na abstração um “pulchrum”, que é parecido com o “pulchrum” das abstrações do Dionísio.

Quando ele fala de criaturas espirituais, que nem sequer podemos conceber, e desenvolve toda esta “ordenação com beleza” das coisas espirituais que acabamos de ver, dá-me a impressão de que em muitos dos trechos dele a abstração toca violino.

O que há de encantador em muitos trechos do Dionísio?

Ouvindo a leitura deles, várias vezes eu procurava ver se, além de acompanhar o pensamento, poderia apanhar no que estava essa beleza.

Na pura abstração há certo modo de concatenar as ideias e de ver o “pulchrum” delas, bem como um certo senso do “pulchrum” que se desperta de vez em quando; isso é, penso eu, algo de parecido com o que o homem sentiria se visse um puro espírito. Mas infinitamente ainda mais se visse Deus, porque Deus é absoluto e o absoluto é a personificação de muita coisa que conhecemos como abstrato, visto por certo lado.

Sentindo o belo da vida interna de Deus

Outro dia, estávamos numa das nossas sedes em que se entoou o Credo. Em determinado momento cantou-se “Deum de Deo, lumen de lumine, Deum verum de Deo vero, genitum non factum, consubstantiálem Patri”(2). Nós todos já ouvimos isso mil vezes, mas no momento em que foi cantado me pareceu sentir o belo desta vida interna de Deus, por onde Ele toca e não é tocado, e tudo se passa sem que Ele decaia ao tocar nas coisas.

Não podemos dizer que Deus seja uma abstração, mas nossa noção sobre Deus tem algo do abstrato, porque não corresponde a nenhuma imagem do sensível. Mas foi um momento em que de repente apareceu a beleza disso.

Se tivéssemos o espírito inteiramente adestrado, seríamos capazes de ver nas abstrações todo o belo musical delas, que daria ao homem uma fome e uma sede de abstração, que tenho a impressão de que os povos do Oriente possuíam.

De onde vinha exatamente o fato de eles se interessarem tanto pela manutenção da ortodoxia contra essa ou aquela heresia; e depois torcerem pela propagação dessa ou daquela heresia contra a ortodoxia, como alguém hoje poderia torcer por uma partida de futebol. A meu ver, porque eles pegavam isso e a mudança de qualquer matiz os tocava a fundo. Eram povos que estavam numa clave muito superior à nossa.

E acrescento: só as almas capazes de verem isto assim compreendem o píncaro de uma cultura, de uma nação. Não digo que um aristocrata precisa ter necessariamente esta visão de espírito, mas afirmo que se não houver gente como estou dizendo para tocar esse fogo sagrado na mente do aristocrata, não teremos aristocracia.

Se tivéssemos isso bem organizado e posto no espírito, compreenderíamos muito melhor algo da luz primordial(3) e até do senso do ser de cada um de nós, que fica preso no porão de nossa própria personalidade, como uma mercadoria no porão do navio, e que levamos do berço até a sepultura sem nunca desembalar esse tesouro, para fazê-lo tomar ar e procurar, enfim, adornar-se com ele.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 26/4/1984)

 

1) Expressão onomatopeica criada por Dr. Plinio para designar o defeito de certas pessoas que, desprovidas de intuição e bom senso, querem explicar tudo por meio de raciocínios desenvolvidos de modo lento e pesado, à maneira de um paralelepípedo que, ao ser girado sobre o solo, emite o ruído “ploc-ploc”.

2) Trecho, em latim, do Credo Niceno-Constantinopolitano: “Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”.

3) Termo cunhado por Dr. Plinio para significar a aspiração existente na alma de cada pessoa, ou num povo, para contemplar a Deus de um modo peculiar, refletindo d’Ele determinada perfeição. Ver Dr. Plinio, n. 54, p. 4.

Assunção de Nossa Senhora

Quando ascendeu ao Céu, Maria pôde contemplar os coros angélicos e a multidão de bem-aventurados que A receberam em festa. Considerações de Dr. Plinio manifestando seu encanto com a Assunção de Nossa Senhora

Devoção às alegrias de Nossa Senhora

Era costume entre os antigos reportar-se às alegrias da Santíssima Virgem. Essa era uma devoção bastante difundida, a ponto de um dos santuários marianos mais famosos do Brasil, o de Guararapes, em Pernambuco, ser dedicado a Nossa Senhora dos Prazeres.

Na vida de Nossa Senhora notamos inúmeros movimentos de alegria. O mais insigne deles é evidentemente o Magnificat.

Porém, nenhuma das alegrias que a Santíssima Virgem teve nesta vida foi tão grande quanto à da sua Assunção.

Após a dormitio(1), Maria ressuscitou no apogeu de seu estado físico, mas também no auge de sua vida espiritual, pois a maturidade do corpo e a maturidade da alma se relacionam.

No dia de sua Assunção, Nossa Senhora estava na plenitude da santidade. Sua alma santíssima, que não deixou de progredir um minuto sequer durante toda a sua existência terrena, tinha chegado ao clímax. A Virgem Maria chegara à suprema perfeição. Possuía incomparável beleza de alma, pois estava repleta de virtude; seu amor a Deus atingira o apogeu. Essa santidade transluzia em toda a sua pessoa e Lhe dava uma beleza incomparável.

Entrada de Maria no Céu

Podemos imaginar sua alegria, sabendo que, a partir daquele momento, entraria no Céu com corpo e alma. Passaria por um cortejo incontável de Anjos, que prestariam a Ela homenagens como nunca nenhuma rainha deste mundo, nem de longe, recebeu. E Ela compreendia a natureza de cada Anjo, sua luz primordial(2), a graça recebida por cada um, seu amor a Deus, e o amor de Deus para com cada um deles. Maria Santíssima tinha o conhecimento perfeito da hiperdulia que as miríades de Anjos Lhe prestariam. E Ela, tendo uma alegria completa por cada um desses louvores, sabia que os merecia, porque tinha sido a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu espelho fidelíssimo.

Imaginemos que um Anjo da guarda aparecesse para um de nós e dissesse: “Meu filho dileto, você é extraordinário! Sobre você pousam todas as minhas complacências. Você é inteiramente digno de minha benevolência.” Esta pessoa teria grande tentação de vaidade. Um elogio desses, feito por uma natureza angélica, imensamente maior do que a nossa, é algo inebriante…

Sendo mera criatura humana, Nossa Senhora estava recebendo o amor entusiástico de todos os Anjos, e a corte que durante milhares de anos tinha esperado sua Rainha ficou transformada em algo lindíssimo, porque Ela estava chegando. A beleza do mundo angélico não atingira toda a formosura para a qual fora criado, porque era preciso que uma criatura humana o governasse. Nossa Senhora coroava com uma perfeição altíssima a beleza do Céu.

Certamente, Ela deve ter se encontrado com as almas santas que tinham subido ao Céu após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, e sem dúvida encontrou-se com São José, com quem permutou uma saudação cheia de respeito e afeto sobre a qual nem sequer podemos ter idéia. Como deverá ter sido a alegria da alma de São José ao rever Nossa Senhora?

Beleza do transluzimento da santidade em Nossa Senhora

Maria Santíssima crescia continuamente em graça e santidade, por isso, quando chegou a hora de sua morte, Ela era muito mais santa do que quando São José morreu. Quando ele A viu ressurrecta, repleta de toda a santidade que deveria atingir segundo os planos de Deus — e que de fato Ela atingiu —, notou que a santidade transluzia em toda a sua pessoa com uma beleza incomparável. Com que veneração São José, afinal, via Nossa Senhora em corpo e alma, cujo esplendor era ainda maior do que Ela possuía na Terra!

São Joaquim e Santa Ana, sendo pais de Nossa Senhora, devem certamente ter tido o privilégio de assistirem, a partir de um lugar de destaque o ingresso d’Ela no Céu. Sabemos que os pais têm uma propensão natural por seus filhos, sobretudo quando são excelentes pais. Afinal, era justo que, tendo dado Maria Santíssima ao gênero humano, assistissem de um lugar especial a sua entrada no Céu.

Adão e Eva, os primeiros pais do gênero humano, deveriam estar ali presentes. Depois de verem tantas desgraças causadas por seu pecado, puderam contemplar o remédio concedido por Deus para solucionar esse pecado, fazendo nascer Nosso Senhor Jesus Cristo e glorificando de tal maneira a Mãe Imaculada do Redentor.

Podemos ainda imaginar o desfile maravilhoso das almas eleitas e dos Anjos que A receberam no Céu, por assim dizer gradualmente, num como que desfile esplêndido, cantando hinos de glória. E, afinal, todo o paraíso celeste pondo-se a cantar, enquanto Ela sobe até o trono da Santíssima Trindade.

Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Não é uma hipérbole, mas uma festa autêntica, em termos e modos que não podemos imaginar. Foi o mais alto grau de alegria que possa haver. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 15/8/1966 e 1/11/1975)

1) A morte d’Ela foi tão leve que se compara a uma dormição.
2) Dr. Plinio assim designava o conjunto de virtudes ou atributos divinos que cada Anjo, ou cada alma, é especialmente chamado a conhecer e amar.

 

Assumpta est Maria, gaudent angeli!

Quando ascendeu ao Céu, Maria pôde contemplar os coros angélicos e a multidão de bem-aventurados que A receberam em festa. Considerações de Dr. Plinio manifestando seu encanto com a Assunção de Nossa Senhora

 

Devoção às alegrias de Nossa Senhora

Era costume entre os antigos reportar-se às alegrias da Santíssima Virgem. Essa era uma devoção bastante difundida, a ponto de um dos santuários marianos mais famosos do Brasil, o de Guararapes, em Pernambuco, ser dedicado a Nossa Senhora dos Prazeres.

Na vida de Nossa Senhora notamos inúmeros movimentos de alegria. O mais insigne deles é evidentemente o Magnificat.

Porém, nenhuma das alegrias que a Santíssima Virgem teve nesta vida foi tão grande quanto à da sua Assunção.

Após a “dormitio”(1), Maria ressuscitou no apogeu de seu estado físico, mas também no auge de sua vida espiritual, pois a maturidade do corpo e a maturidade da alma se relacionam.

No dia de sua Assunção, Nossa Senhora estava na plenitude da santidade. Sua alma santíssima, que não deixou de progredir um minuto sequer durante toda a sua existência terrena, tinha chegado ao clímax. A Virgem Maria chegara à suprema perfeição. Possuía incomparável beleza de alma, pois estava repleta de virtude; seu amor a Deus atingira o apogeu. Essa santidade transluzia em toda a sua pessoa e Lhe dava uma beleza incomparável.

Entrada de Maria no Céu

Podemos imaginar sua alegria, sabendo que, a partir daquele momento, entraria no Céu com corpo e alma. Passaria por um cortejo incontável de Anjos, que prestariam a Ela homenagens como nunca nenhuma rainha deste mundo, nem de longe, recebeu. E Ela compreendia a natureza de cada Anjo, sua luz primordial(2), a graça recebida por cada um, seu amor a Deus, e o amor de Deus para com cada um deles. Maria Santíssima tinha o conhecimento perfeito da hiperdulia que as miríades de Anjos Lhe prestariam. E Ela, tendo uma alegria completa por cada um desses louvores, sabia que os merecia, porque tinha sido a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu espelho fidelíssimo.

Imaginemos que um Anjo da guarda aparecesse para um de nós e dissesse: “Meu filho dileto, você é extraordinário! Sobre você pousam todas as minhas complacências. Você é inteiramente digno de minha benevolência.” Esta pessoa teria grande tentação de vaidade. Um elogio desses, feito por uma natureza angélica, imensamente maior do que a nossa, é algo inebriante…

Sendo mera criatura humana, Nossa Senhora estava recebendo o amor entusiástico de todos os Anjos, e a corte que durante milhares de anos tinha esperado sua Rainha ficou transformada em algo lindíssimo, porque Ela estava chegando. A beleza do mundo angélico não atingira toda a formosura para a qual fora criado, porque era preciso que uma criatura humana o governasse. Nossa Senhora coroava com uma perfeição altíssima a beleza do Céu.

Certamente, Ela deve ter se encontrado com as almas santas que tinham subido ao Céu após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, e sem dúvida encontrou-se com São José, com quem permutou uma saudação cheia de respeito e afeto sobre a qual nem sequer podemos ter ideia. Como deverá ter sido a alegria da alma de São José ao rever Nossa Senhora?

Beleza do transluzimento da santidade em Nossa Senhora

Maria Santíssima crescia continuamente em graça e santidade, por isso, quando chegou a hora de sua morte, Ela era muito mais santa do que quando São José morreu. Quando ele A viu ressurrecta, repleta de toda a santidade que deveria atingir segundo os planos de Deus — e que de fato Ela atingiu —, notou que a santidade transluzia em toda a sua pessoa com uma beleza incomparável. Com que veneração São José, afinal, via Nossa Senhora em corpo e alma, cujo esplendor era ainda maior do que Ela possuía na Terra!

São Joaquim e Santa Ana, sendo pais de Nossa Senhora, devem certamente ter tido o privilégio de assistirem, a partir de um lugar de destaque o ingresso d’Ela no Céu. Sabemos que os pais têm uma propensão natural por seus filhos, sobretudo quando são excelentes pais. Afinal, era justo que, tendo dado Maria Santíssima ao gênero humano, assistissem de um lugar especial a sua entrada no Céu.

Adão e Eva, os primeiros pais do gênero humano, deveriam estar ali presentes. Depois de verem tantas desgraças causadas por seu pecado, puderam contemplar o remédio concedido por Deus para solucionar esse pecado, fazendo nascer Nosso Senhor Jesus Cristo e glorificando de tal maneira a Mãe Imaculada do Redentor.

Podemos ainda imaginar o desfile maravilhoso das almas eleitas e dos Anjos que A receberam no Céu, por assim dizer gradualmente, num como que desfile esplêndido, cantando hinos de glória. E, afinal, todo o paraíso celeste pondo-se a cantar, enquanto Ela sobe até o trono da Santíssima Trindade.

Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Não é uma hipérbole, mas uma festa autêntica, em termos e modos que não podemos imaginar. Foi o mais alto grau de alegria que possa haver. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo.

 

(Extraído de conferências de 15/8/1966 e 1/11/1975)

 

1) A morte d’Ela foi tão leve que se compara a uma dormição.

2) Dr. Plinio assim designava o conjunto de virtudes ou atributos divinos que cada Anjo, ou cada alma, é especialmente chamado a conhecer e amar.

A Assunção e o maternal legado da Virgem Maria

Ao concluir seu Evangelho, São João afirma que se fossem narrados todos os feitos do Salvador, “nem o mundo inteiro poderia conter os livros que seria preciso escrever”(1).

Não obstante a beleza e profundidade desta afirmação, quem de nós leu os Evangelhos sem se lamentar, nesta ou naquela passagem, da ausência de certos detalhes que julgávamos indispensáveis à nossa piedade?

Se isso ocorre com as narrativas evangélicas, o que dizer, então, dos episódios que, por misteriosos desígnios de Deus, nem sequer foram mencionados nas páginas sagradas?

Tal se dá com a Assunção da Santíssima Virgem, cujos esplendores ocultam-se misteriosamente sob o véu do silêncio, rompido apenas pela Tradição e pela elucubração teológica, entretanto suficientemente eloquentes para fundamentar tão augusta verdade. Com efeito, a força da Tradição, que Dr. Plinio relaciona intimamente a Maria nesta edição(2), afirma-se de modo incontestável no dogma da Assunção de Nossa Senhora ao Céu.

Como os Evangelistas, também a proclamação deste dogma mariano não fornece detalhes… Contudo, isso favorece a ação do Espírito Santo em nossas almas, permitindo-nos imaginar piedosamente aquilo que a Revelação e o Magistério não explicitaram.

Para Dr. Plinio(3), a Assunção começa com a manifestação de todas as glórias que havia em Nossa Senhora, como ocorrera com seu Divino Filho no Tabor, causando nos presentes exclamações de admiração.

Ao mesmo tempo, no auge dessa “mariofania”, todos devem ter experimentado uma tal intimidade e união com Ela, vendo-A “tão meiga, tão afagante, tão tonificante, tão reparadora e tão mãe, que se sentiam como ajoelhados junto a Ela, recebendo suas carícias, ‘embebidos’ d’Ela, como um papel pode estar impregnado de perfumado azeite”.

Em determinado momento, “começam os ares a se mover, e os ventos como que a tomar forma e flutuar de modo singular; definem-se figuras angélicas e o céu se revela sucessivamente povoado de Anjos a cantar. Nossa Senhora, atingindo o auge de esplendor indescritível, torna pálidos os puros espíritos, entretanto tão majestosos!

“Chega a hora da despedida… A Virgem Maria começa a mover-se, olhando um a um com afeto, na tentativa de transpor a distância física que aumenta a cada instante. Os Anjos cantam celestialmente e, por fim, Nossa Senhora desaparece no céu. Os cânticos angélicos fazem-se ouvir por mais alguns instantes para consolar os homens, mas depois vão desaparecendo também gradualmente.”

Restava à humanidade enlevada, a doce lembrança desse augusto momento, perpetuada ao longo dos séculos pela Tradição e por um certo imponderável, maternal legado da Santíssima Virgem que permitirá sempre, a qualquer fiel verdadeiramente sincero, reconstituir e reconhecer a face inteira da Igreja(4).

Plinio Corrêa de Oliveira

1) Jo 21, 24.
2) Ver seção “Reflexões teológicas”, número 185 da Revista Dr Plinio, p. 22-25.
3) Citações adaptadas, extraídas de conferência de 15/8/1980.
4) Cf. “Reflexões teológicas”, no número 185 da Revista Dr Plinio, p. 25.

O fato mais glorioso da História, depois da Ascensão

Durante a Assunção de Nossa Senhora, toda a natureza e os próprios Anjos refulgiam magnificamente, como nunca, refletindo de modos diversos, à maneira de uma verdadeira sinfonia, a glória de Deus. Porém, nada disso podia se comparar com o esplendor da Santíssima Virgem subindo ao Céu.

 

Um fato que chama a atenção, na História Sagrada, é Nosso Senhor ter querido subir ao Céu aos olhos dos homens; e que acontecesse o mesmo com a Assunção de Nossa Senhora. Por que a Ascensão e depois a Assunção deveriam dar-se à vista dos homens?

Ascensão e Assunção

Quanto à Ascensão há várias razões e a mais protuberante delas é de caráter apologético. Era preciso que os homens pudessem dar testemunho deste fato histórico duplo: não só de que Jesus ressuscitou, mas de que Ele subiu ao Céu, a sua vida terrena não continuou. Subindo ao Céu, Ele abriu o caminho para incontáveis almas e Se assentou à direta do Padre Eterno. Ele, na sua humanidade santíssima, foi a primeira criatura – e ao mesmo tempo é Deus – a subir aos Céus em corpo e alma, como nosso Redentor, abrindo o caminho dos Céus para os homens.

Mas havia uma outra razão: era necessário que Ele, tendo sofrido todas as humilhações, recebesse todas as glorificações. E glória maior e mais evidente não pode haver para alguém do que subir aos Céus, porque é ser elevado por cima de todas as alturas.

E aqueles que se salvarem transcenderão todo esse mundo onde nos encontramos, e irão para o Céu empíreo aonde Deus Nosso Senhor está, para se unirem a Ele eternamente. E assim como Nossa Senhora havia participado como ninguém do mistério da Cruz, o Redentor quis que Ela tivesse a mesma forma de glória, participasse como ninguém da glorificação d’Ele. E a glorificação de Maria Santíssima se dava por esta forma, sendo levada aos Céus. E no momento em que lá entrou, a Virgem Maria foi coroada como Filha dileta do Padre Eterno, como Mãe admirável do  Verbo Encarnado e como Esposa fidelíssima do Espírito Santo. Anjos rutilantíssimos Nossa Senhora teve uma glorificação na Terra e depois uma glorificação no Céu. Portanto, nós precisamos considerar a Assunção como tendo sido um fenômeno gloriosíssimo.

Infelizmente os pintores, a partir da Renascença, não sabem representar de um modo adequado a glória que deve ter cercado este espetáculo. Devemos imaginar o seguinte: É próprio às coisas da Terra que quando se quer glorificar uma pessoa, em sua residência, por exemplo, todos vestem seus melhores trajes, se exibem os mais belos objetos, colocam-se flores e tudo aquilo que há de  mais nobre para homenageá-la.

Tal regra está dentro da ordem natural das coisas e é seguida também no Céu. O maior brilho da natureza angélica, o fulgor mais estupendo da glória de Deus nos Anjos deve ter aparecido exatamente no momento em que subiu ao Céu Nossa Senhora. E se foi permitido aos mortais verem os Anjos com seus próprios olhos, eles deveriam estar rutilantíssimos, com um esplendor absolutamente invulgar. E se não foi dado a todos os mortais contemplar os Anjos nesta ocasião, é certo, pelo menos, que a presença deles se fazia sentir de um modo imponderável, porque muitas vezes na História isso ocorreu, embora não fosse propriamente uma visão, ou uma revelação deles.

A glória interior de Nossa Senhora ia transparecendo como no Tabor

É natural também que nesta hora o Sol tenha brilhado de um modo magnífico, que o céu tenha ficado com cores variadas, refletindo de modos diversos, como uma verdadeira sinfonia, a glória de Deus. E que as almas das pessoas felizes ali presentes tenham sentido essas glórias em si de um modo extraordinário, de maneira tal que houve uma verdadeira manifestação do esplendor de Deus em Nossa Senhora.

Mas nenhum desses esplendores podia se comprar com o próprio esplendor da Santíssima Virgem subindo ao Céu. À medida em que Ela ia se elevando, certamente, como numa verdadeira  transfiguração, a exemplo do Tabor, a glória interior d’Ela ia transparecendo aos olhos dos homens.

Falando de Nossa Senhora, diz o Antigo Testamento: “Omnis gloria eius filiæ regis ab intus” (Sl 44, 14), toda glória da filha do rei lhe vem do interior, daquilo que está dentro dela, e com certeza essa glória interna que Maria Santíssima possuía se manifestou do modo mais estupendo quando, já no alto de sua trajetória celeste, Ela olhou uma última vez para os homens, antes de definitivamente deixar esse vale de lágrimas e ingressar diante da glória de Deus.

Relíquia concedida a São Tomé

Compreende-se que deve ter sido, depois da Ascensão de Nosso Senhor, o fato mais esplendorosamente glorioso da História da Terra, comparável apenas com o dia do Juízo Final, em que Nosso Senhor Jesus Cristo virá em grande pompa e majestade, diz a Escritura, para julgar os vivos e os mortos; e com Ele, toda reluzente da glória do Divino Salvador, de um modo indizível aparecerá também Nossa Senhora aos nossos olhos.

Devemos considerar a impressão que tiveram os Apóstolos e os discípulos quando A viram subir ao Céu, recordando o fato que a tradição narra a respeito de São Tomé. Ele duvidou da Ressurreição e por isso foi convidado por Nosso Senhor a meter a mão na chaga sagrada do flanco d’Ele, para comprovar que era realmente Jesus. Depois recebeu o Espírito Santo em Pentecostes, ficou um Apóstolo confirmado em graça e tornou-se um grande Santo. Mas conta uma tradição venerável que, por ter duvidado, na hora da morte de Nossa Senhora, São Tomé não se encontrava  presente. Quando a Santíssima Virgem estava subindo ao Céu, já a certa distância da Terra, São Tomé foi trazido por Anjos para contemplar o final da Assunção. Aí vemos aquilo que poderíamos chamar a índole de Nossa Senhora, para cuja qualificação a palavra “materna” não basta, seria uma índole super materna, arqui materna, incomparável.

E ao receber esse castigo pungente, merecido, por uma culpa tão reparada de não ter podido estar presente à morte e ao início da Assunção de Nossa Senhora, ele olhou para Ela. Então, a Mãe de Deus sorrindo concedeu-lhe uma graça que não deu a nenhum outro. Ela desatou o seu cinto e, de lá de cima, fê-lo cair sobre São Tomé, de maneira tal que ele recebeu não direi o perdão, porque já estava perdoado, mas uma suprema graça, que era uma relíquia d’Ela atirada para ele do mais alto dos céus.

Nossa Senhora é assim quando tem algo a perdoar de algum filho muito dileto. Às vezes Ela nem sequer pune, mas quando castiga Ela faz seguir essa punição de um sorriso bondoso, de um perdão completo e de uma grande graça. Poder-se-ia imaginar que São Tomé, voltando para casa com os Apóstolos, mostrou-lhes esse presente dado a ele e disse: “O felix culpa – Ó feliz culpa –,  eu por desgraça duvidei de meu Salvador, mas em compensação tive a felicidade de receber esta relíquia celeste de minha Mãe Santíssima”. O último sorriso, o último favor d’Ela, a amenidade mais extrema, a bondade mais suave Nossa Senhora deu exatamente a São Tomé, e isto nos deve encorajar.

Que a Santíssima Virgem nos prepare para os dias terríveis que se aproximam Não há nenhum de nós que em relação à Santíssima Virgem não tenha falhas, e não precise pedir algum perdão. Nós devemos rogar a Nossa Senhora, nesta preparação da solenidade da Assunção, que proceda assim maternalmente conosco; que Ela olhe para nossas falhas, mas nos dê um perdão.

E que esse perdão seja o seguinte: Nós estamos cada vez mais claramente na orla dos acontecimentos preditos por Nossa Senhora em Fátima, e é possível que, analisando as nossas próprias almas com aquela severidade implacável que a condição de seriedade de todo exame de consciência exige, consideremos estarmos chegando um pouco atrasados na nossa preparação espiritual para esses acontecimentos.

Pois bem, nós devemos fazer uma oração, lembrando-nos de São Tomé. Se chegarmos atrasados, que Ela nos dê o favor especial particularmente rico e suave, por onde, de um momento para outro, nos preparemos de maneira tal que, quando bater à porta de nossas almas a graça dos dias terríveis que se aproximam, estejamos prontos, cheios de enlevo e capazes de seguir a vocação que Nossa Senhora nos deu.

Esta é a reflexão que me ocorre por ocasião da Assunção de Nossa Senhora. Se quisermos fazer uma meditação bonita sobre a Assunção, podemos ler as revelações de Fátima, narrando o milagre do Sol, que se manifestou de um modo tão terrível e esplêndido naquela ocasião. O astro-rei há de ter sido esplêndido, sem terribilidade, por ocasião da Assunção de Nossa Senhora.

Plinio Corrêa de Oliveira

Cruzados da glória de Maria

O dogma da Assunção de Maria constitui mais uma das afirmações sobre a Santíssima Virgem que A coloca completamente fora de qualquer paralelo com outra criatura, justificando assim o culto de hiperdulia que a Igreja Lhe tributa.

Depois de uma morte suavíssima, a Mãe de Deus ressuscitou e subiu aos Céus na presença dos Apóstolos e de uma grande quantidade de fiéis. Essa Assunção representava uma verdadeira glorificação aos olhos de toda a humanidade até o fim dos tempos, e o proêmio da glória que Ela deveria receber no Céu. Não existindo descrições desse fato, é legítimo fazermos uma composição de lugar imaginando, conforme o gosto de nossa piedade, como a Assunção se passou: a presença dos Apóstolos, todos ajoelhados, rezando, em um ambiente inefavelmente nobre, sublime, recolhido, enquanto o céu enche-se gradualmente de Anjos, e vai tomando, aos poucos, coloridos os mais diversos, com matizações e irradiações magníficas, de maneira a apresentar um espetáculo absolutamente incomparável.

Se Maria Santíssima pôde produzir fenômenos tão excepcionais em Fátima, por que o mesmo não poderia ter-se dado por ocasião de sua Assunção?

Ressurrecta, Maria coloca-Se em pé, em oração; o respeito e recolhimento de todos vão crescendo à medida que a semelhança física que certamente existiu entre Ela e seu Divino Filho vai se acentuando cada vez mais. E a cada instante Ela Se manifesta mais Rainha, mais majestosa e mais materna também. Os mais esplêndidos Anjos do Céu acompanham-Na em sua elevação e, aos  poucos, toda aquela maravilha vai mudando, a Terra volta ao aspecto primitivo, os homens retornam para suas casas com uma sensação idêntica à que tiveram na Ascensão de Nosso Senhor: ao mesmo tempo maravilhados, com uma saudade sem nome, desolados, por um lado, mas levando na retina algo que nunca tinham visto, nem podiam ter imaginado a respeito de Nossa Senhora.

Começa o triunfo de Maria Santíssima no Céu. A Igreja Gloriosa inteira recebe-A, com todos os coros de Anjos, Jesus Cristo A acolhe, junto a São José. Ela é coroada Rainha do Céu e da Terra pela Santíssima Trindade. Assim Ela foi glorificada aos olhos de toda a Igreja Triunfante e Militante. Com certeza, também a Igreja Padecente teve uma efusão de graças extraordinárias nesse dia. E não é temerário pensar que quase todas as almas então presentes no Purgatório foram libertadas por Nossa Senhora. Eis como podemos imaginar a glória de nossa Rainha. Algo assim se repetirá  por ocasião da vinda do Reino de Maria, quando virmos o mundo todo transformado e a glória de Nossa Senhora brilhar sobre a Terra.

Ao meditar nisso, aproximamo-nos da festa da Assunção de Maria pedindo esta graça: que tenhamos o senso da glória d’Ela para compreender bem tudo quanto esta glória representa na ordem da Criação, como ela é a mais alta expressão criada da glória de Deus, e de que maneira devemos ser sedentos de afirmar e defender, por uma virtude da combatividade levada ao seu último extremo, a glória da Santíssima Virgem na Terra.

Que Ela faça de nós verdadeiros cavaleiros, cruzados d’Ela, lutando por sua glorificação na Terra. Esta parece ser a virtude mais adequada a pedir nessa festa de glória que é a Assunção de Nossa Senhora.

Plinio Corrêa de Oliveira

Verdadeira transfiguração

Durante a Assunção de Maria Santíssima, é possível que o Sol tenha brilhado de um modo magnífico, o céu tenha ficado com cores variadas, refletindo de modos diversos, como uma verdadeira sinfonia, a glória de Deus. Mas nenhum desses esplendores podia se comparar ao próprio esplendor de Nossa Senhora subindo ao Céu.

Toda a glória de Maria provinha de seu interior, e à medida que Ela ia Se elevando, essa glória ia transparecendo aos olhos dos homens como numa verdadeira transfiguração, alcançando todo seu brilho quando, já no alto de sua trajetória celeste, Ela olhou uma última vez para os homens, antes de definitivamente entrar nos Céus.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 10/8/1968)

As alegrias de Nossa Senhora na Assunção

Devemos nos alegrar não só com as boas coisas que acontecem em nossas vidas, mas também pensar nas alegrias extraordinárias da Assunção, depois da qual Maria Santíssima, entrando no Céu, encontrou-Se com São José, com as almas dos eleitos e todos os Anjos, e foi coroada como Rainha por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo.

 

Tem-se tratado muitas vezes a respeito das dores de Nossa Senhora, mas os antigos falavam, mais do que os contemporâneos, das alegrias de Maria Santíssima. E era até uma devoção bastante intensificada, generalizada outrora, a tal ponto que uma das igrejas mais famosas do Brasil foi exatamente a de Nossa Senhora dos Prazeres dos Guararapes, onde os hereges holandeses foram derrotados, e depois se realizou uma espécie de primeiro armistício com eles.

Nesta Terra temos necessidade das verdadeiras alegrias

Devemos tratar também dos prazeres de Nossa Senhora, porque todos os aspectos da vida d’Ela nos são caros, mas também por causa de um lado muito importante, que é o seguinte: São Tomás de Aquino diz que nenhuma pessoa pode subsistir nesta Terra numa infelicidade total. Esta por pouco tempo se aguenta, mas por um longo período é sempre preciso haver algum alívio, sem o qual esse infortúnio não é suportável. Portanto, devemos nos alegrar pelas razões que merecem alegria, e é virtuoso que assim façamos.

A virtude não consiste só em nos entristecermos com as coisas que devem despertar tristeza, mas também em nos alegrarmos com aquilo que causa alegria. E há muitas coisas que devem despertar júbilo na vida do católico, embora não seja de nenhum modo a alegria como o mundo a entende.

Quando falta nas almas a alegria pelas boas razões de alegrar-se, surge a má tristeza, a depressão, e as pessoas começam a sentir atrativo pelas coisas do mundo e a se alegrarem com elas. A partir desse momento, naturalmente, inicia-se um processo de entibiamento, porque um dos sintomas da tibieza é a incapacidade de se alegrar com as coisas boas, santas, acompanhada de uma alegria ruim com uma porção de coisas indiferentes ou positivamente más.

Por isso, notamos na vida da Santíssima Virgem muitos movimentos de alegria, o mais insigne dos quais é, evidentemente, o Magnificat. Mas há outros fatos de sua vida que indicam o prazer que Ela teve. E daí os mistérios gozosos do Rosário, que mostram as alegrias da Mãe de Deus desfrutada em vários momentos de sua existência.

Mas nenhuma alegria de Nossa Senhora nesta vida foi tão grande quanto à da Assunção, que foram as maiores que Ela teve na sua existência terrena, se é que a Assunção pode ser considerada da existência terrena.

Mas elas são passageiras e desaparecem

Como podemos refletir a respeito da Assunção? Usemos de uma comparação.

No cerimonial de coroação da Rainha da Inglaterra, a soberana, portando um diadema, entra numa carruagem dourada magnífica, esplendidamente ornada.

Tocam os sinos, troam os canhões, a carruagem avança, precedida por um esplêndido cortejo de cavalaria, em direção à Abadia de Westminster, onde a rainha recebe a homenagem de todos os pares do Reino, dos membros da Casa Real e de outras notabilidades. Em seguida dirige-se ao seu trono à espera do momento máximo em que, após algumas cerimônias, ela será coroada. Realizada a coroação, o júbilo toma conta da cidade, espalha-se pelo reino e deste para o mundo. Há uma espécie de alegria universal.

Podemos compreender que a alegria desta rainha passe por etapas. Ela amanhece jubilosa e este júbilo — feito de honra, de dignidade e de consórcio com um destino magnífico que o Criador lhe deu: o de reger um enorme povo — vai subindo de grau até o momento da coroação, quando o seu triunfo é completo.

Mas, no meio de todas essas alegrias, quantas pequenas coisas incomodam…

Ela está andando na carruagem e, de repente, sente uma coceira no rosto, mas não pode se coçar porque fica feio. Aguenta esse incômodo e, ao invés de estar cogitando na popularidade, começa a pensar na coceira.

Certa vez, li um comentário da Imperatriz Maria Teresa, do Sacro Império Romano Alemão, descrevendo a coroação dela como Rainha da Boêmia.

Ela falava dos joalheiros que tinham estado, dias antes, adaptando a antiga coroa da Boêmia ao formato de sua cabeça, o que é uma obra de ourivesaria, mas também de estética; porque se um chapéu de senhora precisa ser bem colocado, quanto mais uma coroa! E descrevia, então, a paciência de ficar sentada, enquanto provavam a coroa: mexe um pouco para lá, põe para cá, e ela equilibrando aquele peso na cabeça. Depois, o cortejo, portando a coroa pesadíssima, dentro de uma carruagem que dava solavancos, nos maus calçamentos de Praga daquela época.

Esses pequenos pormenores acabam ofuscando, com seu prosaísmo, cenas magníficas. E, por outro lado, sabemos que tais júbilos desaparecem, não têm continuidade. O momento da coroação é transitório; o dia seguinte já se apresenta pálido em relação à véspera, e cheio de preocupações face ao próximo dia.  Essas são as alegrias autênticas desta vida! Porque essa é uma alegria verdadeira e nobre.

A coroação de Nossa Senhora no Céu

Reportemo-nos, agora, à Assunção de Maria Santíssima.

Nossa Senhora sabia o dia da sua Assunção e que, imediatamente após sua ressurreição, seria elevada pelos Anjos ao Céu. Ela estava na plenitude de sua santidade, sua alma santíssima, que durante toda sua existência terrena não deixou um instante de progredir de um modo perfeitíssimo em matéria de vida espiritual, tinha chegado àquele clímax em que Maria possuía a perfeição perfeita, a beleza belíssima, a virtude virtuosíssima, portanto ao apogeu dos apogeus, e o seu amor de Deus nunca fora maior do que naquele momento.

Podemos imaginar o estado de espírito d’Ela, sabendo que, a partir daquele instante, iria gozar da visão beatífica, passaria por um cortejo infindo de Anjos, dos quais receberia as maiores homenagens possíveis, como nunca nenhuma rainha do mundo recebera ou receberá.

Ademais, a Santíssima Virgem é capaz de compreender a natureza, a luz primordial, a graça de cada Anjo, o amor que cada um deles tem a Deus e o amor do Altíssimo a cada Anjo. E teve um conhecimento perfeito da veneração e da hiperdulia dos milhões e milhões de Anjos, todos se dirigindo a Ela e aclamando-A com o maior amor, o maior respeito, a maior veneração; e sentindo um amor e uma alegria completa por todos e cada um desses louvores, ciente de que eram merecidos porque Ela tinha sido a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e o espelho fidelíssimo d’Ele.

Imaginem que um Anjo da Guarda aparecesse para um de nós e dissesse: “Meu filho dileto, você é extraordinário e sobre você pousam todas as minhas complacências! Você é digno inteira e perpendicularmente do jorro de minha benevolência!” Um elogio como esse, feito por uma natureza imensamente maior do que a nossa, seria inebriante.

O que seria, então, para uma mera criatura humana, como era Nossa Senhora, o amor entusiástico de todos os Anjos, com o Céu angélico transformado numa coisa lindíssima porque a Rainha estava indo para lá. Era uma corte que durante milhares de anos tinha esperado sua Rainha, a qual chegava e ia pôr o termo final na beleza do Paraíso.

Depois de Nossa Senhora ter percorrido todos esses Anjos — e, antes disso, as almas santas que já haviam subido ao Céu após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como ter Se encontrado com seu esposo São José e ali permutado com ele uma saudação cheia de um respeito e de um afeto, de que nós nem sequer podemos fazer uma ideia —, a Assunção estava no auge. Maria Santíssima tinha chegado ao termo da Assunção, que foi a coroação d’Ela.

Quer dizer, Ela ia ser coroada como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. E, com a coroação, houve uma verdadeira festa no Céu; isso não é uma hipérbole, pois se realizou uma festa autêntica no Céu, embora em termos e modos que não podemos imaginar bem.

A festa de coroação foi o auge total e pleno de alegria, mas sem sombra, sem mancha, sem incerteza, sem preocupação, sem a menor nuvem. Porque Ela foi coroada como Rainha por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Padre Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo.

E podemos imaginar o que foi para Nossa Senhora o primeiro momento da visão beatífica — mas desde logo um instante eterno, porque a visão beatífica é eterna —, a primeira alegria da visão direta de Deus? Ora, toda a Assunção d’Ela era uma marcha para isso. E Maria Santíssima o sabia e o desejava ardentemente.

De maneira que é possível, por aí, aquilatar os oceanos — eu diria infinitudes — de alegrias que Ela teve em sua alma santíssima por causa disso.

No Céu, nossas dores serão transformadas em alegrias

Podemos fazer alguma aplicação para nós e tirar disso algum proveito? Evidentemente sim.

Precisamos tomar em consideração que também nós somos chamados para uma verdadeira assunção. Devemos morrer, mas logo depois nossas almas serão julgadas e mostradas a Nossa Senhora, e vão gozar — pela misericórdia d’Ela, evidentemente — da visão beatífica. Depois, quando vier o Juízo Final, seremos levados para o Céu. É misterioso se será por ação angélica ou por império de Deus, mas também nós vamos fazer essa viagem da Terra, completamente transformada, para o Paraíso celeste a fim de gozarmos daquilo que Nossa Senhora já desfruta.

Então, nas delícias do Céu, teremos a familiaridade dos Anjos, dos santos, iremos nos encontrar novamente uns com os outros. E uma das fontes maiores de alegria que teremos lá vai ser de lembrar as dores desta Terra, e tudo quanto aqui passamos.

Ao encontrarmos alguém com quem tínhamos implicância, diremos:

— Oh, meu caro, lembra-se daquele desacordo entre nós? E também daqueles aborrecimentos que lhe dei? Olhe, eu passei no Purgatório tanto tempo…

O outro responde:

— Eu o aborreci também, mas Nossa Senhora nos perdoou. Aquilo vai constituir entre nós um vínculo maior. Lembra-se dos favores que Ela nos concedeu? E de Fulano e Sicrano que eram tão nossos amigos?

— Onde estão? — pergunta o primeiro.

— Estão lá.

Não tenho a menor dificuldade em admitir que haverá festas no Paraíso, em que todos os de nosso Movimento se encontrarão juntos para louvar de um modo especial Maria Santíssima. Então, todas as dores que temos no momento presente serão transformadas em alegrias superabundantes, em satisfações insondáveis, que nos inundarão durante toda a eternidade.

Em comparação com a eternidade nossa vida terrena é um pesadelo

Meus caros, nossa vida pode durar trinta, cinquenta anos, mas passa. É um minuto quando nos colocarmos diante da ideia da eternidade. Sofremos agora, mas depois, quantas alegrias! E a maior delas será olhar para Nossa Senhora.

Há uma história medieval, bastante conhecida, referente a um homem que pediu muito para ver Nossa Senhora. A Mãe de Deus apareceu-lhe e ele ficou encantado, deliciado com a vista d’Ela. Quando Maria Santíssima desapareceu, ele estava cego de um olho. Então um Anjo perguntou-lhe se ele quereria vê-La ainda mais uma vez, com a condição de perder o outro olho. Ele pensou e respondeu: “Quero. Vale a pena ficar cego para ver Nossa Senhora mais uma vez. Qualquer treva é aceitável, desde que, por um instante, eu possa pôr os meus olhos outra vez nessa luz!”

A Santíssima Virgem veio de novo. Ele A contemplou longamente e, quando Ela foi embora, estava curado da outra vista!

Se é tão magnífico ver Nossa Senhora, imaginem o que significa ver Nosso Senhor Jesus Cristo! E, depois, a essência de Deus na visão beatífica. Tudo isso é eterno, pelos séculos dos séculos!

E agora pergunto: Em comparação dessa eternidade fixa, imóvel, perpetuamente nova, sem jaça, insondavelmente interessante, curiosa para ver, animada, empolgante, o que é esta vida que passa? Não é absolutamente nada, é uma escória, um pesadelo. Temos a impressão de que esta vida é uma realidade. Muito mais do que ser uma realidade, ela é um pesadelo.

Então, pensarmos que vamos ter alegrias análogas às de Nossa Senhora, uma ida ao Céu a qual é uma analogia com a ida de Maria Santíssima ao Paraíso no dia da Assunção, é, a meu ver, a melhor das meditações.

Representa-se Nossa Senhora com um coração circundado de rosas brancas, para lembrar a pureza; e também perfurado por sete gládios. Estes evidentemente são gládios espirituais e o coração simboliza a alma d’Ela, ferida pela espada de dor sobre a qual falou o Profeta Simeão.

Eu gostaria de ser pintor para representar Maria Santíssima subindo ao Céu, com o coração à mostra e desses gládios saindo a maior das luzes que se possa imaginar. Porque essa era a grande alegria d’Ela, ou seja, os tormentos sofridos, as lutas aceitas. E também vai ser a nossa. Quanto mais sofrermos, mais devemos lembrar-nos da glória e alegria que teremos na passagem desta Terra para o Céu, e, sobretudo neste, pelos séculos dos séculos.

Na Ladainha do Espírito Santo, há uma jaculatória que sempre me impressionou muito: “Senhor, dignai-vos elevar nossas almas para o desejo das coisas celestes!” É com meditações assim que nos damos conta das coisas celestes, temos alegria e inteira consolação para suportar as coisas da Terra porque o Céu existe.

Contaram-me que uma senhora simples viu pela primeira vez a sala do Reino de Maria(1), e fez este comentário: “Depois de ver esta sala, a gente tem menos medo de morrer”.

Isto é de uma teologia profunda. Até então ninguém fizera igual elogio à sala do Reino de Maria. É o mais faustoso elogio que se possa fazer de uma sala.

Assim deveríamos pensar nós: vendo a sala do Reino de Maria e outras maravilhas, não só não termos medo, mas quase vontade de morrer, para sair depressa daqui e irmos para o Céu. Só não fazemos isso porque, vivendo na Terra todo o tempo que Nossa Senhora quiser, teremos o Paraíso perfeito que para nós Ela destina.

Peçamos a Maria Santíssima, nesta festa de sua Assunção, que essas considerações tenham vida em nossas almas.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 15/8/1966)

 

1) Sala nobre da sede social do Movimento fundado por Dr. Plinio. Ver Revista Dr. Plinio, n. 194, p. 14.

 

Festa de todas as alegrias

A festa de todos os gáudios e todas as alegrias, a festa do dia em que Nossa Senhora, ressurrecta, foi levada aos céus em corpo e alma, terá sido a maior celebração realizada no Paraíso, depois dos esplendores retumbantes da Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo. Maria Santíssima, a obra-prima da mera criação ocupará seu lugar ao lado do trono de seu Divino Filho.

Pode-se imaginar que, nesse instante, todas as gloriosas perfeições da Mãe de Deus brilharam de modo ímpar: a bondade imensurável, a suavidade, a soberania, o domínio, o atrativo, a virginal firmeza, tudo se manifestou de maneira fulgurante, misteriosamente reluzindo e se acentuando, acentuando-se e reluzindo, para maravilhamento dos anjos e dos bem-aventurados que então A contemplavam na eternidade…

Pedido a Maria assunta aos Céus

Na vossa Assunção, ó Maria, vossa Pureza, vossa Fé e vossa Fortaleza encontraram, por fim, o prêmio merecido.

Fazei-me puro, cheio de fé e forte para lutar convosco na Terra e vencer a Revolução, de modo a contemplar-Vos eternamente no Céu.

Do alto da glória de onde reinais, sede para mim a Mãe de Misericórdia, apoiando-me em todas as minhas defecções, reerguendo-me em todas as quedas, perdoando-me em todas as faltas e amando-me em todos os instantes, de maneira que em tudo Vos ame, ó Rainha santa, que deveis ser o enlevo de toda a minha vida.

Plinio Corrêa de Oliveira