AMOR, OBEDIENCIA E VENERAÇÃO PELA CÁTEDRA DE SÃO PEDRO

 

A Cátedra de São Pedro lembra o supremo governo da Igreja Católica Apostólica Romana. Se as vicissitudes humanas podem dar a essa Cátedra brilho maior ou menor, ou até rodeá-la de trevas, ela é sempre a mesma. Nosso amor à Santa Igreja é absolutamente sem limites e acima de todas as coisas da Terra, e deve incidir de modo especial sobre a Cátedra de São Pedro, qualquer que seja o seu ocupante.

A respeito da festa da Cátedra de São Pedro, Dom Guéranger, em sua obra L’Année Liturgique, cita um trecho do Sermão 82 de São Leão Magno. Eis os dizeres deste Santo Pontífice:

A Providência preparou o Império Romano para a pregação do Evangelho

O Deus bom, justo e todo-poderoso, que jamais negou sua misericórdia ao gênero humano, e que pela abundância de seus dons forneceu a todos os mortais os meios de conhecermos o seu Nome, nos secretos desígnios de seu imenso amor, teve piedade da cegueira voluntária dos homens e da malícia que os precipitava na degradação, enviou o seu Verbo, que Lhe é igual e coeterno.
Ora, esse Verbo, tendo-Se feito carne, tão estritamente uniu a natureza divina à natureza humana que o abaixamento da primeira até nossa abjeção tornou-se para nós o princípio da elevação mais sublime.
Mas, a fim de difundir no mundo inteiro os efeitos desse favor, a Providência preparou o Império Romano e deu-lhe tão grandes limites que ele abarcava em seu vasto meio a universalidade das nações. Foi feita uma coisa muito útil à realização da obra projetada, que os diversos reinos formassem uma confederação de um império único, a fim de que a pregação geral chegasse mais rapidamente aos povos, unidos que já estavam sob o regime de uma só cidade.

Roma, dominada pelo demônio, foi conquistada por Cristo

o Autor de seus destinos, fizera-se escrava dos erros de todos os povos, no instante mesmo em que ela os tinha sob suas leis e acreditava possuir uma grande religião, porque não rejeitava nenhuma mentira. Mas quanto mais duramente foi dominada pelo demônio, mais maravilhosamente foi conquistada por Cristo.
Com efeito, quando os doze Apóstolos, após terem recebido do Espírito Santo o dom de falar todas as línguas, espalhados pelos quatro cantos da Terra, e que tomaram conta deste mundo onde deviam difundir o Evangelho, o Bem-aventurado Pedro, príncipe dos Apóstolos, recebeu como herança a cidadela do Império Romano, a fim de que a luz da verdade que se manifestava para a salvação de todas as nações se propagasse mais eficazmente, difundindo-se no centro desse Império sobre o mundo inteiro.
Qual a nação, com efeito, que não contava com numerosos representantes nessa cidade? Qual povo ignorava o que Roma ensinava? Era lá que deviam ser esmagadas as opiniões de Filosofia, dissipadas as vaidades da sabedoria terrestre, o culto dos demônios seria confundido, destruída enfim a impiedade de todos os sacrifícios, no mesmo lugar onde uma superstição hábil reunira tudo o que os diversos erros haviam produzido.

A unidade civil do Império Romano preparou a aceitação da unidade religiosa

 

A primeira ideia que aparece neste texto é de que a humanidade estava extremamente degradada, e Nosso Senhor Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnou-Se, realizando por esta forma uma descida que era imensa – porque do mais alto dos Céus, do infinito, para uma condição degradada –, mas há uma correspondência entre o enorme dessa descida e a extraordinária ascensão que o gênero humano teve. Porque, assim como Deus Se humilhou imensamente encarnando-Se, nós fomos incomensuravelmente elevados pela Encarnação d’Ele.
Há uma expressão que diz: “Quanto maior a altura, tanto maior o tombo.” Aqui se poderia afirmar, salvadas as proporções: “Quanto maior o tombo, maior a altura.” Quanto mais Deus Se humilhou, tanto mais nós fomos prodigiosamente levantados por Ele. Então, vem acentuada aqui a imensa misericórdia do dia de Natal, que patenteia aos homens a elevação sublime e incompreensível da natureza humana pela união hipostática na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. O segundo pensamento é o seguinte: esse favor da Providência só daria todos os seus resultados pela constituição do Império Romano. Porque era um Império enorme que continha, dentro de seu bojo, todas as nações da orla do Mediterrâneo e muitas outras ainda. Como se sabe, o Império Romano estendeu-se até o atual território da Inglaterra e um pouco o da Escócia; e que na linha sul ele tocou as lindes da Etiópia.
A África do Norte era povoada, fértil e intensamente latina no tempo dos romanos, e o poder destes afundou pela Pérsia adentro, tocando quase até na Índia. De algum modo, se podia dizer que o mundo conhecido era todo romano. Ou seja, houve uma unificação de incontáveis nações sob um só Império, e São Leão Magno mostra porque esta unificação serviu para a difusão do enorme benefício que houve, em que Cristo se Encarnasse e elevasse a natureza humana. Ele, então, dá algumas razões.
Uma razão, muito rapidamente mencionada, é ligada ao fato de que onde há um só Estado, sem fronteiras, cabe mais facilmente a ideia de uma só religião. E por causa disso a unidade civil do Império Romano preparava as mentes para a aceitação de uma unidade religiosa.

A Roma dos Papas

Depois ele desenvolve uma ideia mais viva, que é a seguinte: a cidade de Roma era como que um coração mantendo dentro de si, com movimentos de sístole e diástole, um sangue que circulava por todo o Império. Em Roma havia habitantes de todas as partes do Império, que ou ali moravam e exerciam influência sobre suas respectivas províncias, ou estavam sempre em viagem e assim levavam a influência de Roma para os últimos recantos.
De um modo ou de outro, Roma era como um coração que havia atraído para si pessoas de todo o Império, e depois mandava para longe funcionários, legionários e todo o aparelho administrativo e militar romano. De maneira que, cristianizando a cidade de Roma, estava conquistado o ponto estratégico para a cristianização do Império. Feita a cristianização do Império, estava potencialmente cristianizado o mundo.
Então ele explica que, por um desígnio soberano de Deus, Roma foi escolhida para ser a cidade do Papa porque era uma cidade estratégica, onde este benefício da salvação podia se tornar mais geralmente conhecido.
Daí vem a Cátedra de São Pedro, a qual se trata de venerar, posta no centro de influência do mundo inteiro, e que inoculou em todo o orbe a regeneração católica, a verdadeira Fé, disseminou a Igreja.
É bonito verificar como a Providência age de um modo político interessante. E eu não recuo diante da palavra “político”. Enquanto a Igreja era pequena e fraca, tornava-se necessário que a sede d’Ela fosse na mais importante cidade do mundo, para poder espalhar a sua influência. Mas depois que a Igreja se difundiu por todo o orbe, convinha que o Papa, tornado personagem humanamente poderosíssimo, não convivesse na mais importante cidade do mundo com o maior poder temporal, porque sairia fricção. E em certo momento, tornou-se necessário que Roma não fosse mais a capital política do mundo.
Então, Constantino deixou Roma e se transladou para Bizâncio. Atribuem alguns esta ideia a que exatamente o Imperador não incomodasse o papa, mas isso é um pouco discutido, porque Roma já não era capital do Império. A capital do Império era Milão, Ravena, e nunca mais Roma veio a ser a capital de um país que fosse uma potência internacional.
Nós tivemos a Roma dos Papas, que foi sempre um pequeno Estado temporal. Depois a carnavalesca Roma dos Saboias, capital do reino da Itália. Esta Roma foi capital de um Estado de alguma importância na Europa, mas não de um poder político e militar mundial. De uma influência cultural mundial, sim; de um poder político e militar mundial, não.

Amor sem limites ao papado e à Cátedra de São Pedro

 

Poderia começar a aparecer, então, uma espécie de opressão da Roma civil, poderosa, sobre a Roma religiosa. O que se passou? Ocorreu a coisa mais inesperada do mundo. Para tocar para a frente a obra de humilhação do Papa, a Roma dos Saboias foi uma Roma constitucional e depois se transformou numa república. Mas quando se fizeram as eleições, verificou-se que a maior influência eleitoral da Itália era o Papa. E hoje em dia, por detrás do governo democrata-cristão, é o Papa que governa.
De maneira que os papéis se inverteram e, em vez de ser a Roma civil que governa a Roma religiosa, nós temos, até certo ponto, a Roma religiosa que governa a Roma civil. E assim, o desígnio de que o papado fosse opresso pelo poder civil não ser realizou.
Será o melhor possível esse governo democrata-cristão? Uma coisa é verdadeira: se São Pio X estivesse no Sólio Pontifício, a Itália seria a nação mais bem governada do mundo. Quanto a isto não há dúvida!

Quando se fala da Cátedra de São Pedro, refere-se naturalmente ao móvel da cátedra. No fundo da Igreja de São Pedro há uma cátedra em bronze, feita por Bernini1, cercada de resplendores, recebendo por isso o nome de “a glória de Bernini.” Essa cátedra é oca e dentro se encontra o pequeno trono de madeira, que São Pedro usava em Roma, o qual até hoje se conserva para veneração dos fiéis e é exposto em certas ocasiões.

A cátedra simbolicamente lembra o poder, o papado, o pontificado, a continuidade dessa instituição, através de todos os homens tão diferentes que a têm ocupado. Recorda, então, o supremo governo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Se as vicissitudes humanas podem dar brilho maior ou menor, ou até rodear de trevas essa Cátedra, ela é sempre a mesma. O supremo governo da Igreja é a cabeça da Igreja. Quando se ama alguém, se ama sobretudo sua face, sua cabeça. Portanto, nosso amor à Santa Igreja Católica Apostólica Romana, que é um amor absolutamente sem limites e acima de todas as coisas da Terra, deve incidir especialmente sobre o papado e a Cátedra de São Pedro, qualquer que seja o seu ocupante. Porque esse é Pedro, a quem foram dadas as chaves dourada e prateada, a do Céu e a do poder indireto na Terra.
E a este Pedro nós osculamos, em espírito, os pés, como expressão de homenagem e de adesão. Porque em relação à Cátedra de São Pedro, nosso amor, nossa obediência, nossa veneração absolutamente não têm limites.v

(Extraído de conferência de 17/1/1966)

1) Gian Lorenzo Bernini (*1598 – †1680), arquiteto e escultor italiano.

Misericórdia

Na gloriosa corrente constituída pela Santíssima Trindade, Nossa Senhora e o Papado, este último vem a ser o elo menos vigoroso: porque mais terreno, mais humano e, em certo sentido, estando envolto por aspectos que o podem menoscabar.

Costuma-se dizer que o valor de uma corrente se mede exatamente pelo seu elo mais frágil. Assim, o modo mais excelente de amarmos essa extraordinária cadeia é oscular o seu elo menos forte: o Papado. É devotar à Cátedra de Pedro, em relação à qual esmorecem tantas fidelidades, a nossa fidelidade inteira!

Plinio Corrêa de Oliveira

 

Cátedra de São Pedro

Uma lenda antiga nos conta que à beira de certo lago havia um rochedo que crescia à medida que as ondas o acometiam, de sorte a nunca ser submergido, ainda nas maiores tempestades. Hoje em dia, este rochedo é a Pedra, é a Cátedra de Pedro, que tem avultado com as revoluções, zombando das heresias, crescendo em vigor à medida que seus adversários crescem em rancor.

Há já vinte séculos, ela vem espargindo água benta sobre os adversários prostrados no caminho. (…) Neste mar revolto do século XX, naufragam homens, idéias e fortunas. Só ela continua e será “via, veritas et vita”, devendo ser aceita pela humanidade, para levantar um voo salvador sobre o próprio abismo que ameaça tragá-la…

Plinio Corrêa de Oliveira (Do “Legionário”, nº 130, de 15/10/1933)

A Cátedra de Pedro é a coluna do mundo

Vigário de Cristo na Terra sempre foi objeto do ardoroso enlevo de Dr. Plinio. Desde suas primeiras atividades públicas nas Congregações Marianas, ele defendeu nas páginas do Legionário, aquele a quem considerava “a coluna do mundo”: o Papa.

Por ocasião da festa da Cátedra de Pedro, que se comemora a 22 de fevereiro, Dr. Plinio comentava seu enlevo pela instituição do Papado:

“A festa da Cátedra de São Pedro é extremamente necessária, porque ela celebra o papado enquanto tendo uma cátedra infalível que se dirige ao mundo inteiro.

“A cadeira de São Pedro cuja estrutura foi quase toda conservada nos é guardada na Basílica de São Pedro, em Roma, onde está a Glória de Bernini. Ali existe uma cadeira de bronze na qual há uma portinhola que é aberta e se retira um bancozinho, considerado como tendo sido de São Pedro.

“Na nave central da Basílica de São Pedro, há uma imagem, de bronze escuro, que representa São Pedro, com as chaves nas mãos, sentado numa cátedra e com os pés à altura dos lábios dos fiéis. E os peregrinos que vão a Roma passam por lá e beijam um dos pés da imagem. O resultado é que, com o ósculo mil e mil vezes repetido, esse pé está desgastado. Parece-me ser o único exemplo da História em que ósculos destroem bronze.

“E, fato bonito, no dia de São Pedro revestem essa imagem com os paramentos pontificais, inclusive a tiara, como se fosse um Papa vivo, para identificar a magnífica e evidente solidariedade e continuidade que vai de São Pedro até o Pontífice de nossos dias.

“Devemos, em espírito, oscular o pé dessa imagem, para significar que osculamos o Papado, esse princípio de sabedoria ou de infalibilidade da autoridade que governa a Igreja Católica. E, por meio de Nossa Senhora, agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a instituição desta cátedra infalível, que é propriamente a coluna do mundo, porque se não houvesse infalibilidade, a Igreja estaria destroçada e com ela o mundo ficaria perdido.

“Ela é o caminho para o Céu, e os homens não o encontrariam se não houvesse uma autoridade infalível para governar a Igreja.

“Não se pode ter uma fidelidade abstrata no papado. É preciso que ela seja concreta ao Papa atual, em toda medida em que ele é infalível, e tem o poder de governar e reger a Igreja Católica.”

 

 

(Extraído de conferência de 22 de fevereiro de 1964.)

Elo entre o Céu e a Terra

“Meu último pensamento seja de amor ao Papa”. Esta é a frase acrescida por Dr. Plinio — de próprio punho — em sua carteira de identidade católica.

Um dos principais pilares de sua espiritualidade era, sem dúvida, a profunda devoção que nutria em relação à Cátedra de Pedro, na pessoa do Romano Pontífice.

Esta devoção tornou-se de tal modo manifesta no decorrer de sua vida, que não seria dificultoso reunir um incontável número de páginas contendo considerações repletas de Fé e submissão acerca do Santo Padre, o Doce Cristo na Terra.

Por ocasião do dia do Papa — 29 de junho —, homenageando tão edificante devoção, Dr. Plinio traz em seu editorial excertos de conferências proferidas pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, nas quais ele manifesta seu entranhado amor ao Papado:

“Já em minha infância, eu percebia que deveria haver uma autoridade infalível, a qual ensinasse a todos, pois, caso isso não fosse assim, não haveria possibilidade de as pessoas pensarem do mesmo modo, e a vida seria um caos, indigna de ser vivida. Então nasceu em mim uma pujante veneração ao Papado e, consequentemente, ao Episcopado e aos outros graus da Hierarquia”.

Assim se manifestaria ele, dois anos mais tarde: “Tão grande é a fragilidade humana, que, inevitavelmente, cairíamos em erro, caso não houvesse um mestre infalível, o qual nos ensinasse toda a verdade.

“Imaginemos uma cidade com milhares de habitantes, onde cada um possuísse ao menos um relógio. Nesta cidade haveria milhares de relógios. De nada serviriam esses relógios caso não houvesse um relógio posto por Deus, chamado sol, pelo qual os homens pudessem saber a hora certa.

“Ora, à semelhança do sol que regra as horas, há um homem que, em matéria de fé e moral, não cai em erro. Este é o Santo Padre; de seus lábios abençoados só pode sair a verdade. Ele é o ‘relógio’ que regula a Humanidade; o Bispo dos bispos; o pastor dos pastores; o Rei da Igreja e de todas as almas. É a mais alta criatura que há na Terra. Não há rei, não há imperador, não há presidente da república, não há milhardário, não há nada, que valha tanto quanto o homem a quem Deus garantiu: ‘As portas do inferno não prevalecerão contra ti. Pedro tu és pedra e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja’.

“Assim sendo, nós devemos ser cuidadosíssimos em amar o Papado acima de todas as coisas da Terra.

“Sem o Papado, a Terra seria um antro de confusão, de desordem e de horror.”

Com o decorrer dos anos, tal amor ao Papa evidenciou-se cada vez mais, como se pode verificar nas seguintes palavras de Dr. Plinio:

“Não é com meu entusiasmo dos tempos de jovem que eu me coloco hoje ante a Santa Sé. É com um entusiasmo ainda muito maior, pois à medida que vou vivendo, refletindo e ganhando experiência, compreendo e amo mais ao Papa e ao Papado.

“E este amor não é abstrato. Ele inclui um especial amor à pessoa sacrossanta do Papa, seja ele o de ontem, como o de hoje ou o de amanhã. Amor de veneração, amor de obediência.

“Insisto: amor de obediência. Pois desejo dar a cada ensinamento deste Papa, como de seus antecessores e sucessores, toda a adesão que a doutrina da Igreja me prescreve, tendo por infalível o que ela manda ter por infalível, e por falível o que ela ensina que é falível. Quero obedecer às ordens deste ou de qualquer outro Papa em toda a medida que a Igreja indica que sejam obedecidos. Isto é, não lhes sobrepondo jamais minha vontade pessoal, nem a força de qualquer poder terreno.”

O corolário dessa profunda devoção, cultivada cuidadosamente durante sua existência, foram as tocantes afirmações de Dr. Plinio, pronunciadas exatamente três meses antes de sua morte: 

“O mesmo amor que devoto a Nossa Senhora e a Nosso Senhor Jesus Cristo, também o possuo em relação ao Papado. Pois há um princípio segundo o qual uma corrente vale conforme seu elo mais fraco. Poderá uma corrente ter cem elos, cada um deles com o diâmetro do braço de um atleta, mas estarem presos a um outro elo muito delicado, essa corrente tem o valor do elo frágil.

“Ora, na corrente da tríplice devoção à Santíssima Trindade, à Maria e ao Papado, o elo mais frágil é o Papado, por ser o mais humano. Então, o modo mais vigoroso de amar a corrente inteira é oscular o elo mais fraco.

“Ao dedicar meu inteiro amor ao Papado, meu ato toma o sentido de quem replica ao adversário: ‘Vocês estão recriminando tais e tais debilidades do Papado. Pois ali vai meu ósculo, ali vai minha fidelidade.’

“Onde a infidelidade de alguns poderia tentar a fidelidade dos fiéis em sua totalidade, eu quero pôr a minha fidelidade inteira.”

Plinio Corrêa de Oliveira

O mundo aos pés do Trono da Verdade

Já tivemos ocasião de publicar numerosos artigos nos quais Dr. Plinio manifesta seu amor ao Papado. E muitos outros ainda se seguirão, pois este era um de seus temas prediletos. Transcrevemos aqui um artigo para o “Legionário” em 1946.

 

As notícias provenientes da Cidade do Vaticano informam que o Corpo Diplomático junto à Santa Sé fez uma démarche coletiva para obter da Secretaria do Estado o privilégio de participar de Consistório em que vão ser concedidos os chapéus vermelhos aos Cardeais recentemente nomeados. A atitude dos diplomatas não terá sido tomada sem o consentimento, pelo menos tácito, dos  respectivos governos. 

Assim, pode-se considerar que quase todas as nações do mundo  quiseram expressamente estar presentes àquele ato, manifestando de modo delicado e nobre, seu agradecimento pela honra que o Papa Pio XII lhes concedeu, com a internacionalização ainda mais ampla do Sacro Colégio.

Por sua vez, este gesto vem demonstrar o alto grau de importância moral e política que todos os governos do mundo reconhecem ao Papado. 

Em toda a longa e gloriosa história do Vaticano, durante a qual tantas cerimônias brilhantes se desenrolaram sob o teto de Pedro, em nenhuma talvez, a universalidade da Igreja se tenha patenteado de modo mais evidente. Aos pés do Trono da Verdade, estarão os embaixadores de quase todas as nações do mundo. E, nos lugares reservados ao Sacro Colégio, figurarão lado a lado Cardeais europeus, americanos, asiáticos e africanos. 

Nunca se viu na História da Igreja, que a Púrpura cardinalícia cobrisse uma tão grande porção da terra. Dir-se-ia que a sombra do báculo de Pedro cresceu, que entre suas extremidades que vão de mar a mar, de monte a monte, dos Alpes ao Himalaia, fica o mundo inteiro. O quadro é de uma grandeza apocalíptica. É impossível não pensar nas lágrimas, no suor e no sangue, nas  fortificações, nas preces, na paciência e no heroísmo por meio do qual a Igreja ajudada por Deus chegou a tamanha glória. Quando se pensa nos primórdios do Catolicismo, comparado por seu Divino Fundador com o pequenino grão de mostarda, e se vê hoje que a copa da árvore é maior que os mais extensos desertos e as mais vastas nações, são todas as fibras católicas que vibram e se dilatam nos nossos
corações. 

Do esplendor desta magnifica realidade se desprende uma voz, porque os fatos falam. E esta voz, eco de outra Voz, nos diz com firmeza mais do que nunca: “non praevalebunt”! Do que adiantou a [tantos inimigos] investir contra a Igreja com uma fúria desabrida e ferina? Do que adiantou […] procurar infiltrar-se como um cupim silencioso e cheio de lepra, nas próprias fileiras dos católicos? “Non praevalebunt”. Não prevaleceram.

Está dito, porém, que as alegrias neste vale de lágrimas nunca serão completas. Uma sombra passa diante de nossos olhos. Se é tal, tão universal, tão incontrastável o prestígio da Igreja, como explicar que ela esteja à margem da Organização das Nações Unidas? Como explicar que, precisamente neste fastígio de sua universalidade, ela seja mantida à margem da universal organização dos povos? Se a circunda uma auréola de prestígio, é impossível não reconhecer que é no exílio, é fora de seu trono natural, que é a presidência das nações cristãs, é fora  de tudo isto, que nasce em torno dela este arrebol de glória. Extraordinária expressão de sua força, que brilha até mesmo no isolamento. Mas motivo não menos extraordinário para que temamos por esta humanidade que vê a Luz, mas que não se utiliza dela para “iluminar a casa inteira”, para iluminar e dirigir a sociedade universal das nações. […] 

Como de direito, o máximo de nosso filial afeto voa aos pés do Santo Padre. “Ubi Christus ibi Deus; ubi Ecclésia ibi Christus; ubi Petrus ibi Ecclésia” (Onde está Cristo, aí está Deus; onde esta a Igreja, aí está Cristo; onde está Pedro, aí está a Igreja). E só nos unimos a Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Só nos unimos a Jesus Cristo na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana que é o próprio Corpo Místico do Senhor. E só estaremos unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante uma união sobrenaturalmente forte, união de vida e de morte, à Cátedra de São Pedro. Onde está Pedro, aí está a Igreja de Deus. Dizem as notícias telegráficas que o Santo Padre pronunciará nesta ocasião um discurso de grande importância, seguido poucos dias depois de mais outro, igualmente importante. Aguardamos sua palavra com amor e confiança. Amor e confiança que, como de costume, se traduzem num inabalável propósito de adesão e submissão. 

Não há melhor meio de testemunhar amor ao Papa, senão obedecendo- lhe. E obedecer significa fazer aquilo com que estamos de acordo, e aquilo que por nossa própria vontade faríamos; significa aceitar como verdadeiro o que ele ensina e nós vemos que é verdadeiro, e o que ele ensina e a nossos olhos mortais pareceria fraco e errôneo. 

Plinio Corrêa de Oliveira (Excertos de artigo publicado no “Legionário”, nº 706, de 17/2/1946. Título nosso.)

A Cátedra de Pedro: coluna do mundo

Fervoroso devoto da Cátedra de Pedro, Dr. Plinio não dispensava a ocasião — como atestam suas palavras aqui transcritas — de fazer reluzir aos olhos de seus discípulos a magnitude e a santidade com as quais a instituição pontifícia paira acima de todos os valores humanos, em sua divina missão de governar a Igreja e conduzir as almas à eterna bem-aventurança.

 

Como se sabe, no primeiro período de seu pontificado, o Papa [Beato] Pio IX tomou certas atitudes conciliadoras que alguns revolucionários chegaram a elogiar. Razão pela qual o brado de “Viva Pio IX!” passou a ecoar pelas ruas entre aqueles que não aceitavam a autoridade do Sumo Pontífice.

Distinção entre a pessoa do Papa e o papado

Nessa delicada conjuntura em que a figura de um Papa era assim vinculada aos ideais dos anarquistas italianos, vivia outro grande santo, São João Bosco. Este, quando ouvia algum de seus alunos ou conhecidos repetir aclamações a Pio IX, censurava-o, dizendo: “Não brade Viva Pio IX!; grite Viva o Papa!”

Eis a solução soberanamente inteligente. Porque “Viva o Papa!” pode-se bradar sempre. “Viva Pio IX!” ou outro pontífice, saúda-se conforme as circunstâncias.

Esse episódio consta no processo de canonização de São João Bosco, e tal atitude não impediu que fossem reconhecidas suas virtudes heroicas — e, portanto, sua inteira obediência ao Vigário de Cristo — nem que sua obra fosse abençoada pela Providência de todos os modos, ao longo dos tempos.

Devemos considerar que na raiz dessa posição de Dom Bosco encontra-se a importante distinção entre o Papa e o papado. Quer dizer, entre a pessoa do sucessor de Pedro, sujeita às misérias humanas e também a erros, em toda medida que não é garantida pela infalibilidade; e, de outro lado, a instituição pontifícia, inteiramente distinta da pessoa.

A festa da ortodoxia infalível

Por causa dessa distinção, a festa da Cátedra de Pedro, celebrada em 22 de fevereiro, é extremamente oportuna, pois celebra o Papa como mestre infalível, e o papado como a rocha inabalável do alto da qual o Soberano Pontífice se dirige ao mundo inteiro revestido da infalibilidade que Deus lhe outorgou. É, portanto, a comemoração da ortodoxia inerrante, dessa infalibilidade que nunca claudica.

Consta que da cadeira de São Pedro conservou-se quase toda a estrutura, a qual é guardada na Basílica do Vaticano, em Roma. Há ali um relicário de bronze, cujo interior abriga um banco de madeira, considerado a cadeira original do primeiro Papa.

Claro está, mais do que esse objeto venerável, a festa da Cátedra de São Pedro tem em vista o fato de Nosso Senhor Jesus Cristo ter confiado ao Príncipe dos Apóstolos as chaves dos Céus e da Terra, dando-lhe poder sobre tudo e sobre todos, a fim de governar a Santa Igreja Católica Apostólica Romana e conduzir as almas à eterna bem-aventurança.

Oscular em espírito os pés da imagem de Pedro

Também no interior da Basílica do Vaticano, em sua nave central, encontra-se uma imagem de São Pedro sentado numa cátedra, as chaves pontifícias na mão esquerda e a direita erguida, na atitude de quem abençoa os fiéis. O pé direito do Apóstolo se projeta à frente, e sobre ele os devotos de todas as partes do mundo vêm depositar seu ósculo de amor e veneração. Em virtude desse preito mil e mil vezes repetido, os pés da imagem se desgastaram. Talvez seja o único exemplo da História em que a delicadeza do beijo alquebrou a força do bronze…

Em determinados dias do calendário litúrgico, essa imagem é revestida com os solenes ornamentos pontificais, como se fora um Papa vivo, para indicar a magnífica e evidente continuidade da instituição do Papado, desde São Pedro até nossos dias.

Creio que uma bela forma de nos unirmos a essa importante celebração seria oscularmos em espírito os pés dessa imagem. Quer dizer, em espírito oscular o Papado, esse princípio de sabedoria ou de infalibilidade da autoridade que governa a Igreja Católica. E por meio de Nossa Senhora, agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo a instituição desta infalibilidade, dessa cátedra que é propriamente a coluna do mundo, porque se ela não existisse, a Igreja não sobreviveria e o mundo estaria completamente perdido.

Como também — já o frisamos acima — estaria obstruído para nós o caminho que nos leva ao Céu, pois os homens não o encontrariam sozinhos, sem o socorro de uma autoridade infalível que os governasse e para lá os dirigisse.

Fidelidade concreta ao Romano Pontífice

Dessas breves considerações um aspecto me parece deve ser ressaltado. Falamos da distinção entre a pessoa do Papa e o papado, mas devemos considerar que o catedrático é o Romano Pontífice, e os poderes da cátedra nele residem. À Cátedra de Pedro estaremos unidos até morrer, notando sempre que ela nunca estará alheia ao catedrático. Este poderá sair da cátedra; esta, porém, jamais o abandona.

Portanto, não se pode ter uma fidelidade ao papado sem que seja fidelidade concreta ao Papa atual, na medida em que ele é infalível e detém o poder de governar e reger a Esposa Mística de Cristo.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 22/2/1964)

Catedra de São Pedro

Na gloriosa corrente constituída pela Santíssima Trindade, Nossa Senhora e o Papado, este último vem a ser o elo menos vigoroso: porque mais terreno, mais humano e, em certo sentido, estando envolto por aspectos que o podem menoscabar.
Costuma-se dizer que o valor de uma corrente se mede exatamente pelo seu elo mais frágil. Assim, o modo mais excelente de amarmos essa extraordinária cadeia é oscular o seu elo menos forte: o Papado. É devotar à Cátedra de Pedro, em relação à qual esmorecem tantas fidelidades, a nossa fidelidade inteira!
Plinio Corrêa de Oliveira

Catedra de São Pedro – “Ubi Petrus, ibi Ecclesia”

Em diversos números desta revista tivemos oportunidade de acompanhar as calorosas palavras com as quais Dr. Plinio reiterava suas manifestações de amor e devoção à Cátedra de Pedro. No ensejo da festa litúrgica do dia 22 de fevereiro, recordemos novamente uma dessas suas filiais expansões de entusiasmo pelo Papado, ao comentar nas páginas do “Legionário” a imposição do chapéu cardinalício a dois prelados brasileiros.

Em toda a longa e gloriosa história do Vaticano, durante a qual tantas cerimônias brilhantes se desenrolaram sob o teto de Pedro, em nenhuma, talvez, a universalidade da Igreja se patenteará de modo mais evidente [do que no próximo consistório]. Aos pés do Trono da Verdade, estarão os embaixadores de quase todas as nações do mundo. E, nos lugares reservados ao Sacro Colégio, figurarão lado a lado Cardeais europeus, americanos, asiáticos e africanos.

De mar a mar, dos Alpes ao Himalaia

Nunca se viu na História da Igreja, que a Púrpura cardinalícia cobrisse uma tão grande porção da Terra. Dir‑se‑ia que a sombra do báculo de Pedro cresceu, que entre suas extremidades que vão de mar a mar, de monte a monte, dos Alpes ao Himalaia, fica o mundo inteiro. O quadro é de uma grandeza apocalíptica. É impossível não pensar nas lágrimas, no suor e no sangue, nas mortificações, nas preces, na paciência e no heroísmo por meio do qual a Igreja, ajudada por Deus, chegou a tamanha glória. Quando se pensa nos primórdios do Catolicismo, comparado por seu Divino Fundador com o pequenino grão de mostarda, e se vê hoje que a copa da árvore é maior que os mais extensos desertos e as mais vastas nações, são todas as fibras católicas que vibram e se dilatam nos nossos corações.

Não prevaleceram!

Do esplendor desta magnífica realidade se desprende uma voz, porque os fatos falam. E esta voz, eco de outra Voz, nos diz com firmeza mais do que nunca: “non praevalebunt”. Do que adiantou a Nero, a Lutero, ao “Comité de Salut Public”, aos comunistas, investir contra a Igreja com uma fúria desabrida e ferina? Do que adiantou a Juliano o Apóstata, aos jansenistas, aos modernistas, aos nazistas, procurar infiltrar‑se como um cupim silencioso e cheio de lepra, nas próprias fileiras dos católicos? “Non praevalebunt”. Não prevaleceram. (…)

Frutuoso porvir para o Brasil católico

O Brasil se apresenta hoje, no concerto das nações, como uma força que nasce. Nossos recursos começam a pesar decisivamente na economia mundial. Nosso potencial humano já é tomado em consideração por todos que fazem estatísticas de guerra. Nossa posição geográfica começa a fazer de nós uma potência de primeira classe, neste “mare nostrum” dos povos civilizados, que é o Oceano Atlântico. Nossa vida intelectual se vai firmando, e, em todos os sentidos, começam a aparecer entre nós valores que marcam uma ascensão nas atividades do espírito. Hoje já somos alguma coisa. E, sobretudo, não há quem não veja que amanhã poderemos ser quase tudo.

Este Brasil tão rico em tudo, é sobretudo rico da maior das riquezas. É católico, profundamente católico, e o Batismo de Anchieta, que o consagrou a Deus em seus primeiros passos, até hoje não foi repudiado. Aos missionários sucederam os organizadores de nossa vida religiosa já irrevogavelmente firmada no solo agreste do novo mundo. A Hierarquia Eclesiástica se desdobrou aos poucos, e é hoje em nossa terra uma grande falange de pastores, cujos rebanhos crescem dia a dia. Cinco séculos em que Bispos, Clero, Religiosos, fiéis, trabalharam e lutaram para confirmar a graça recebida nas primeiras missões [que] frutificam nos dias de hoje. E tudo isto promete frutificar ainda mais amanhã.

É fácil imaginar com que carinho, com que predileção toda especial a Santa Sé vê hoje em dia este quinhão inapreciável de seu império espiritual. E é fácil imaginar com que atenção, com que simpatia, com que respeito todos os olhos se voltarão para os dois Prelados que o Sumo Pontífice encarregou da honra incomparável de velar pelos interesses mais delicados, pelos assuntos mais altos e mais nobres, que se referirem ao Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo nas terras iluminadas pelo Cruzeiro do Sul(1).

Não fosse um deles o nosso próprio Metropolita, a quem nos prendem os laços de uma filiação espiritual selada com o próprio Sangue de Cristo, e ainda assim, como católicos e como brasileiros, não poderíamos deixar de nos associar a seu júbilo, em situação tão privilegiada em que se aproximarão do Trono de São Pedro.

Onde está Pedro, está a Igreja de Deus

Como de direito, porém, o máximo de nosso filial afeto voa aos pés do Santo Padre. “Ubi Christus ibi Deus; ubi Ecclesia ibi Christus; ubi Petrus ibi Ecclesia”. Só nos unimos a Deus em Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Só nos unimos a Jesus Cristo na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana que é o próprio Corpo Místico do Senhor. E só estaremos unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo, mediante uma união sobrenaturalmente forte, união de vida e de morte, à Cátedra de São Pedro. Onde está Pedro, ai está a Igreja de Deus. (…)

Não há melhor meio de testemunhar amor ao Papa, senão obedecendo‑lhe. E obedecer significa fazer aquilo com que estamos de acordo, e aquilo que por nossa própria vontade faríamos. Significa aceitar como verdadeiro o que ele ensina e nós vemos que é verdadeiro.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído do “Legionário”, de 17/2/1946)

 

1) Os dois prelados eram Dom Jaime de Barros Câmara e Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, este último, então Arcebispo de São Paulo.

Incondicional amor à Cátedra de Pedro

Ao comentar um filme documentário sobre a vida no Vaticano na época de Pio XII, Dr. Plinio manifestava, uma vez mais, sua fidelidade à Igreja na pessoa do Papa.

 

Acima de qualquer poder temporal, o Papado é o mais alto poder existente na Terra. É o mais alto, pois tudo quanto diz respeito ao sobrenatural vale mais do que aquilo que se refere ao natural, e o espírito vale mais do que a matéria. Ademais, o Papa tem um poder universal sobre todos os povos, em todos os lugares, enquanto as outras soberanias existentes no mundo são limitadas.

Alguém pode ser rei de um país ou presidente de outro; não há rei do mundo, nem presidente do mundo. Ora, o Papa é o Pastor do mundo inteiro, ele tem uma jurisdição sobre as almas de todo o orbe. O resultado é que, mesmo sob esse terceiro título — o menos importante de todos, mas que é tão importante — ninguém pode se comparar ao Papa.

Então, a ideia é a seguinte: sendo o Papa o representante de Deus na Terra e, portanto, do mais sobrenatural dos poderes, toda a ordem da graça está na mão dele, a ele compete exercer em sumo grau as faculdades de ensinar, de guiar e de santificar, próprias à Igreja Católica. Por exercer esse ministério de uma ordem tão transcendente, ele é o maior hierarca de toda a Igreja e, por isso, também deve estar cercado das maiores manifestações de respeito que a um homem possam ser tributadas.

Respeito, amor e força na monarquia papal

Por causa disso, toda a vida ao redor do Papa há de ser organizada de maneira a torná-lo objeto desse respeito e desse amor. O governo papal sobre a Igreja é uma monarquia que corresponde a três ideias: a ideia do respeito, a ideia do amor e a ideia da força.

A ideia do respeito, em primeiro lugar. O Papa deve ser venerado, como eu já disse.

Em segundo lugar, a ideia do amor. Se o Papa é o representante de Cristo na Terra, todo o amor que os homens tributam a Nosso Senhor Jesus Cristo deve ter como seu ponto de aplicação imediata o Papa, que representa Cristo na Terra.

Depois, a ideia de força. O Papa é um pastor. Os senhores não podem conceber um pastor que não tenha um papel de força a desenvolver, porque o pastor precisa defender as ovelhas contra o lobo. E, portanto, ele deve aplicar a força contra o lobo. O poder de governar as ovelhas tem como elemento intrínseco o de combater o lobo pelas armas espirituais.

Então os senhores veem em torno do Pontífice uma pompa que é religiosa, ao mesmo tempo paterna, mas também é uma pompa de força. E a nota força precisa ser um pouco salientada. Os senhores veem ali as guardas pontifícias: a Guarda Suíça, a Guarda Palatina, a Guarda Nobre — composta exatamente de elementos da nobreza romana —, que serviam ao Papa gratuitamente e se revezavam no serviço papal. Essas três milícias guarneciam os palácios do Papa. É claro que com uma primeira preocupação imediata de garantir a integridade pessoal do Pontífice, a ordem naquele enorme movimento de pessoas e a incolumidade dos colossais tesouros de arte que ali se encontram.

Uma visita que valia por um verdadeiro exercício espiritual

Assim, tudo era organizado de modo a que, em torno do Papa, esses sentimentos pudessem se exprimir. De maneira a ser dada a todos os que fossem ver o Papa a oportunidade de ter os seus sentimentos de devoção, de respeito, de amor, de temor diante da força, levados ao mais alto grau. Portanto, toda a organização ali visava a incutir nos fiéis os sentimentos que eles deveriam possuir.

Por esta razão, uma visita à Basílica de São Pedro e ao Palácio do Vaticano valia por um verdadeiro exercício espiritual do qual o fiel saía com sua alma mais aderente, mais unida ao Papa do que anteriormente.

Quando apareceu o cinema, a possibilidade de realizar filmes como esse e de passá-los ao mundo inteiro levou para os que não podiam ir até lá o espetáculo magnífico e cotidiano dentro do qual a vida de um Papa se desenvolvia.

É natural que, sendo o Papa a cabeça visível da Igreja, pessoas do mundo inteiro procurem ir a Roma para vê-lo. E o número dos que viajavam para ver o Sumo Pontífice — desde São Pedro, primeiro Papa, até nossos dias — foi se multiplicando à medida que os meios de locomoção se tornavam mais fáceis. De maneira a Roma passar a ser, sobretudo nos últimos cem anos, um ponto de atração dos estrangeiros, católicos de todas as partes do mundo chegando continuamente lá.

Os senhores viram, no filme, feridos de guerra, freiras que querem falar com o Papa. Havia de tudo. É um resumo do mundo que quer falar com o Papa. É preciso falar com o Papa!

Os senhores prestem atenção nas fisionomias das pessoas quando falam com o Papa, sobretudo depois de sua passagem. É quase a fisionomia de quem acaba de comungar. Recebeu do Pontífice uma palavrinha só, mas que palavrinha! É guardada na alma para a vida inteira: o timbre de voz, o sorriso, a temperatura da mão, como a mão apertou, como não apertou, os eflúvios, os imponderáveis que o Papa traz em torno de si, tudo isso a pessoa guarda para a vida inteira, e até para a hora da morte, porque é para a hora da morte que guarda.

Estar unido à Cátedra de Pedro até na hora da morte

Eu tive a experiência disso. Eu levei vários objetos para serem abençoados por Pio XII, entre eles algumas velas. As velas que se levavam para o Papa benzer eram velas lindas, que se vendiam na Via de la Conciliazione, todas trabalhadas, com relevos, com figuras, etc. Ele abençoou. Eu guardei de novo na minha pasta, com muitos outros objetos.

Quando cheguei ao hotel, pensei o seguinte — eu tinha a intenção de pôr uma vela dessas na sede do nosso Movimento e dar outra a minha mãe — eu pensei com meus botões: “O que é que eu vou fazer com essas velas? Uma dessas velas deve ser guardada para quando eu morrer. O agonizante católico morre com a vela na mão, e eu quero que a vela com a qual eu morra seja a vela abençoada pelo Vigário de Cristo. Assim estarei unido à Cátedra de Roma até quando eu estiver sem sentidos, até quando me encontrar entre a vida e a morte, e o meu intelecto não articular mais nenhum pensamento. Por minha recomendação, minha mão vai ser agarrada a esta vela que representa tudo aquilo que eu amo na Terra: o Papa, com o qual tudo quanto há na Terra é digno de amor e sem o qual nada é digno de amor, apenas de desprezo, porque está marcado pelo pecado original e pelo domínio do demônio.” É o movimento natural da minha alma.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 13/1/1976)