Decisão, perseverança e reflexão

Em Santa Teresa de Jesus vemos qualidades suavemente justapostas, com algo de harmonicamente dissonante entre a ação e a contemplação, altivez e misericórdia, determinação e bondade, que denotam e constituem uma imensa personalidade. Realmente, ela foi uma das maiores figuras femininas de toda a História. Tão extraordinária que mereceu ser proclamada Doutora da Igreja.

Seu olhar e seu semblante parecem dizer: “Eu só tenho Aquele a Quem admiro, e não temo absolutamente ninguém ou nada que me possa acontecer, porque Ele é tudo e vence tudo”. É a própria expressão da decisão, perseverança e reflexão.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 22/7/1975 e 6/6/1980)

Santa Teresa de Ávila, uma alma universal

Possuidora de uma alma verdadeiramente católica, ante as devastações do protestantismo Santa Teresa se re-afervorou e reformou o Carmelo, constituindo um dos principais elementos da Contra-Reforma.

Santa Teresa de Jesus viveu na época em que o protestantismo deixara de ser uma centelha que começava a incendiar apenas uma parte da Alemanha para tornar-se um fogo invadindo o mundo inteiro. Na França — de onde vinham para a Espanha notícias muito mais frescas, por estar mais próxima da Alemanha —, o incêndio religioso era tremendo.

Sobre este aspecto de sua vida, Rohrbacher faz as seguintes considerações:

No primeiro capítulo de sua obra, “O Caminho da Perfeição”, Teresa explica os motivos que a levaram a estabelecer uma observância tão rigorosa no mosteiro carmelita de São José de Ávila.

Diz ela: “Tendo conhecimento dos desastres, em França, da devastação que aí faziam os heréticos, e como essa infeliz seita aí se fortificava dia a dia, fui por isso tão vivamente tocada que, como se eu pudesse alguma coisa, ou fosse alguma coisa, chorava em presença de Deus e implorava que remediasse tão grande mal.

“Parecia-me que eu teria dado mil vidas para salvar uma só alma, do grande número delas que se perdiam nesse reino. Mas, vendo que era somente uma mulher, e ainda tão má e totalmente incapaz de prestar a Deus o serviço que eu desejava, acreditei, como acredito ainda, que, como há tantos inimigos e tão poucos amigos, eu devia trabalhar o quanto pudesse para fazer com que esses últimos fossem bons.

“Assim, tomei a resolução de fazer o que dependia de mim para praticar os conselhos evangélicos com a maior perfeição que pudesse, e procurar levar esse pequeno número de religiosas que estão aqui, a fazer a mesma coisa. Nesse sentido, confiei-me à bondade de Deus, que não deixa jamais de assistir aqueles que a tudo renunciam por seu amor. Esperei que com essas boas moças, sendo como meu desejo as figurava, meus defeitos seriam cobertos por suas virtudes e poderíamos contentar a Deus em alguma coisa, ocupando-nos todas em rezar pelos pregadores, pelos defensores da Igreja e pelos homens sábios que sustentam discussões. Pois assim faríamos o que estava em nosso alcance para socorrer nosso Mestre, que esses traidores, que Lhe devem tantos benefícios, tratam com tanta indignidade, que parecem querer crucificá-Lo ainda e não deixar lugar algum onde Ele pudesse repousar a cabeça.”

Ante o avanço do protestantismo, Santa Teresa se reafervora e reforma o Carmelo

A reflexão de Santa Teresa é lindíssima. Simples religiosa de um convento carmelita, não propriamente corrupto, mas relaxado, ela mesma passou muito tempo na tibieza e na mediocridade quanto ao amor de Deus. Ela ouviu falar das devastações — naquele tempo muito grandes — que o protestantismo estava fazendo na França.

Os protestantes tinham conquistado completamente um pequeno reino que havia no Sul desse país: Navarra. Além disso, tinham eles se espalhado por toda a França, e um terço da nação havia se tornado protestante. Faziam toda espécie de blasfêmias, de agressões às igrejas; era um verdadeiro incêndio religioso na França.

As notícias desses fatos chegam à Espanha e ao conhecimento dessa freira. A graça de Deus toca a alma dessa religiosa e ela compreende o imenso desastre que isso representava. Em vez de ficar com ideias nacionalistas idiotas, pensando: “Aquilo é na França; estou na Espanha e não tenho nada a ver com o que se passa naquele país”, mas convicta da universalidade da Religião Católica, da Redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo, ela entendeu também que isso era um verdadeiro desastre para o mundo católico. Então, ela se pôs a chorar copiosamente, e daí veio a ideia de sua conversão.

Alma verdadeiramente católica!

Por outro lado, ela sabia naturalmente que a nação espanhola era muito mais fiel à Fé católica do que a nação francesa; portanto, para o país dela, naquelas circunstâncias, ao menos para prazo breve, o perigo não era grande. Tinha ela a felicidade de viver sob um grande rei católico, Felipe II, adversário acérrimo do protestantismo.

Santa Teresa possuía uma alma verdadeiramente católica, quer dizer, universal, capaz de considerar não só os perigos nos quais se encontrava e os problemas da Igreja que tocavam a sua pessoa, mas também a causa da Igreja Católica como um todo, e de se interessar por essa causa, ainda que seu próprio país não estivesse atingido. Ou seja, ela amava a Igreja sem nacionalismo estreito, sem egoísmo, sem personalismos. Vemos aqui um grande exemplo de espírito sobrenatural que ela dava.

Há muitas pessoas que começam a considerar apenas o que lhes é mais próximo; depois, por ampliações sucessivas, chegam até a uma visão geral das coisas. É um feitio de espírito, um modo de caminhar.

Porém, é muito frequente encontrar pessoas que, fazendo-se católicas, se interessam apenas por sua paróquia, ou então pela sua diocese ou pelo seu país. Negócios católicos de outras nações são mais ou menos como o mundo da Lua; a ideia de uma Causa católica como um todo, elas não chegam a compreender. Ora, uma alma bem formada, que ama a Deus, precisa amá-Lo não somente na sua paróquia, mas no mundo inteiro.

E, fundamentalmente falando, deve alegrar-se com os triunfos da Causa católica, desolar-se com suas derrotas, quer sejam no âmbito de sua vida ou fora dele, no próprio país ou no exterior. Esta é uma alma verdadeiramente católica, universal.

Santa Teresa de Jesus possuía uma alma de fogo, com uma viva noção da Causa católica. Embora naquela época as comunicações entre a França e a Espanha fossem muito lentas, sendo preciso atravessar os Pirineus, com estradas muito ruins, o que tornava difícil a semeadura das doutrinas más das heresias, ela se entregou por inteiro à tarefa de reformar a Ordem do Carmo.

Ideia de conversão

De onde lhe veio a ideia da conversão? Ela expõe esse assunto apenas de passagem aqui, mas em outros trechos isso fica mais claro. Santa Teresa fez o seguinte raciocínio: “Sou uma simples religiosa e, como mulher, nada posso fazer. A não ser o seguinte: os amigos de Deus são poucos e tíbios, enquanto que seus inimigos são muitos e ardorosos. Devo, portanto, rezar, imolar-me, renunciar a tudo para que os amigos de Deus se tornem mais fortes e sejam capazes de fazer face aos seus inimigos”.

Então, afervorar, “catolicizar” os católicos era o meio de levar o inimigo à derrota. Assim, tornava-se necessário que algumas freiras, as quais estavam ao seu alcance, se imolassem, rezassem, e ela mesma passasse da mediocridade para o fervor, a fim de conseguir que os pregadores, os doutores católicos, os batalhadores pelas armas católicas se tornassem capazes de derrotar os protestantes.

Dessa ideia surgiu a reforma do Carmelo. E, naturalmente, graças incontáveis se derramaram sobre a França, em consequência das orações das carmelitas.

Vemos que tudo isso foi inspirado por ideias altamente teológicas e sapienciais: a comunhão dos santos; o valor preponderante da oração e do sacrifício para a Igreja vencer suas grandes batalhas; “catolicizar” os católicos, como meio de vencer os não católicos e deter o furor destes últimos. É uma concatenação de ideias esplêndidas, que se ligam umas às outras, e têm, como desfecho, a reforma da Ordem do Carmo.

A reforma do Carmelo: um dos principais episódios da Contra-Reforma

Santa Teresa de Jesus apenas estabeleceu a reforma das Carmelitas Descalças. Humanamente falando, não é uma obra tão extraordinária. O que representa, sob o aspecto humano, multiplicar o número de conventos de religiosas trancadas no seu convento? Ou, digamos, de mosteiros de padres fervorosos?

Entretanto, não há História da Igreja, um pouco cuidadosa, que não mencione entre os principais fatos da Contra-Reforma, a reforma teresiana do Carmelo. Porque essa reforma teve um efeito extraordinário nos imponderáveis de toda a Cristandade. Em torno das carmelitas desencadeou-se um movimento de afervoramento, que foi um dos motores mais vigorosos da Contra-Reforma.

Os padres carmelitas também atuaram da mesma maneira. Quer dizer, desenvolveram uma ação maior do que os meios humanos nela empregados, uma espécie de expansão de um espírito, de uma mentalidade, de uma atitude de alma, a qual teve como consequência um afervoramento geral dos católicos.

A prioridade da vida interior

Isso se explica muito mais pelo lado sobrenatural do que pelo natural. E nos mostra quanta razão temos em algumas impostações nossas: prioridade da vida interior sobre a vida ativa; preocupar-se mais em “catolicizar” os católicos do que conquistar não católicos para a Igreja Católica; a ideia de que a oração e o sofrimento valem mais, na luta contra os adversários, do que a ação; o desejo, entretanto, ardente da ação levada até suas últimas audácias, que caracterizavam o espírito de Santa Teresa de Jesus.

Tudo isso faz com que percebamos, pela grande autoridade de Santa Teresa de Jesus, quantas concepções nossas são verdadeiras e, portanto, como a elas devemos ser fiéis.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências de 14/10/1966 e 29/11/1969)

Santa Teresa de Jesus – Alma de rara grandeza

A extraordinária figura da Santa cujo fogo de alma incutiu novo ânimo e vigoroso impulso à Ordem do Carmo, suscita em Dr. Plinio profunda admiração, refletida nestes comentários nos quais aproxima, num vívido paralelo, essas duas estrelas do firmamento da Igreja: Teresa de Ávila e Teresa de Lisieux.

Um dos comentários mais adequados que se poderia fazer a respeito de Santa Teresa de Jesus, a Grande, cuja festa se comemora em 15 de outubro, é o que tange à sua verdadeira grandeza de alma, e como esta difere da “imensa pequena” grandeza de Santa Teresinha do Menino Jesus.Um dos comentários mais adequados que se poderia fazer a respeito de Santa Teresa de Jesus, a Grande, cuja festa se comemora em 15 de outubro, é o que tange à sua verdadeira grandeza de alma, e como esta difere da “imensa pequena” grandeza de Santa Teresinha do Menino Jesus.

Qualidades naturais e espirituais deslumbrantes

Quando se lê a vida de Santa Teresa tem-se uma espécie de deslumbramento que nos leva a dizer: “Trata-se de uma avultada personalidade, com todas as suas potencialidades plenamente desenvolvidas”.

Por ocasião de sua morte, um escritor, em carta a um amigo na qual contava algumas novidades, afirmou: “Morreu um grande homem, a freira espanhola Teresa de Jesus”. Tal era a impressão causada por ela a seus contemporâneos.

Possuía inteligência vasta e privilegiada, ao mesmo tempo matizada e forte, talhada para altos vôos. Além disso, dotada de uma vontade firme e sensibilidade controlada por inteiro.

A essa riqueza natural a Providência acrescentou diversos dons sobrenaturais, cuja amplitude pode ser avaliada pelos fenômenos da vida mística com ela ocorridos. Ou seja, visões, revelações, êxtases, todo um especial convívio com Deus, em que se percebe o refulgir colossal da graça, causando-nos a impressão de extraordinária personalidade que verdadeiramente nos deslumbra. Foi, de fato, uma grande dama, uma grande mulher, uma grande freira e grande santa.

Tipo perfeito da religiosa matriarca

Todas essas culminâncias, como montanhas superpostas, produziam tais sensações de assombro que, durante sua vida terrena, algumas pessoas talvez sentissem certo receio de se acercar dela.

Era, em última análise, a grandeza da personalidade humana num de seus exemplares mais privilegiados na ordem da natureza, refulgindo com sublimidades da graça, e dando uma ideia completa do que seria o tipo perfeito da religiosa matriarca. Pois Santa Teresa de Jesus tornou-se uma admirável matriarca. Ela foi, como mãe espiritual, aquilo que o patriarca é como o fundador de uma linhagem. Possuía de modo invulgar quase todos os carismas e bênçãos do patriarca, a ponto de nos fazer esquecer das debilidades do sexo feminino e vermos nela uma espécie de querubim, com todas as eminências de um ser puramente espiritual.

Assim foi Santa Teresa de Jesus, a Grande. Aliás, poderia ser considerada também como a santa do feitio de alma da geração velha(1), dotada de todos os recursos psíquicos que caracterizam o equilíbrio ideal. Naturalmente, nessa geração houve indivíduos dos mais inteligentes até os menos favorecidos no tocante ao intelecto, porém, ainda nestes últimos existia certa normalidade, força, repouso sobre si mesmo, plenitude, que Santa Teresa manifestava de modo extraordinário.

Paralelo com Santa Teresinha

Santa Teresinha do Menino Jesus, pelo contrário, não foi geração nova, mas representa de algum modo a aurora da época em que esse tipo de personalidade surgiu. Ou seja, a família de almas pequenas, profundamente admirativas das grandes almas, pelas quais nutrem respeito, procuram imitá-las, mas compreendem que no plano natural não lhes foi concedida a mesma plenitude.

A santa de Lisieux tinha acessos de timidez, inibição e outros movimentos de alma complexos que, no âmbito humano, representam limitações. Por exemplo, quando a mãe a chamava do alto de uma escada, fazendo-o de modo risonho e acolhedor, ela a galgava num passo rápido; porém, se de maneira severa, ela ficava enregelada e não conseguia subir. Ora, se o fato ocorresse com Santa Teresa de Ávila, de uma ou outra forma, ela subiria a escada saltando os degraus.

Donde Santa Teresinha afirmar que Deus não a atraía através de fenômenos extraordinários, como visões, êxtases ou revelações, e sim por meio de pequenas coisas feitas com amor, naturalidade, com confiança ilimitada na bondade do Altíssimo.

A mesma música, com acentos de delicadeza

Santa Teresinha do Menino Jesus fundou a pequena via que não poderia ter sido vivida com mais envergadura de alma, largueza de horizonte e plenitude de santidade do que ela própria o fez. Executou a mesma música magnífica de Santa Teresa de Ávila, contudo tocada em outro instrumento, mais delicado e suave. Não obstante, no fundo com austeridade, generosidade e entrega a Deus tão grandes que, quando se lê a vida de Santa Teresinha, chega-se a esta conclusão: por mais que Santa Teresa tenha sido colossal realizando coisas extraordinárias, Santa Teresinha foi colossal fazendo coisas pequenas. E esta última característica não fica abaixo da primeira.

Trata-se da maravilhosa variedade das obras de Deus, fazendo-nos compreender que cada um de nós, procurando santificar-se naquilo para o que nasceu, deve estar tranqüilo e satisfeito, pois obedece à vontade do Criador.

Deus glorificado na junção das duas Teresas

Assim entendemos como Deus é glorificado na junção dessas duas Teresas; cada uma como que representa um capítulo da história da alma humana e uma forma de santidade da Igreja.

Como disse, não se pode reputar que Santa Teresa do Menino Jesus fosse uma pessoa cheia de debilidades e carências. Porém, estava na aurora das almas da pequena via, que fazem coisas simples, comuns, modestas, despretensiosas, e podem alcançar uma grande santidade. A esse título ela deve ser considerada a padroeira da geração nova, aquela que indica o caminho reto, fácil, para os pequenos. Estes, sem almejarem os grandes vôos de Santa Teresa de Jesus, entretanto são capazes de tocar em alturas tão elevadas quanto ela logrou alcançar.

Eis, portanto, um paralelo estabelecido entre as ­duas santas. Uma se explica pela outra. Se quisermos contemplar toda a grandeza de Santa Teresa de Ávila, consideremos Santa Teresinha. Se desejarmos aquilatar a riqueza da santa de Lisieux, analisemos a vida de sua predecessora. Tais são as maravilhas de Deus que devemos admirar e cujo alcance inteiro não raro escapa ao olhar humano.

O espírito prático não se opõe à contemplação

A propósito de Santa Teresa de Ávila, parece-me oportuno apontar algo que concerne de perto a nossa vocação.

Em geral, os fundadores das ordens contemplativas têm importante nexo com a causa contra-revolucionária, e Santa Teresa foi fundadora de um ramo da Ordem do Carmo, à qual nos é dada a ventura de pertencer na qualidade de Terceiros. De fato, esta Ordem é uma só, embora esteja dividida em dois ramos (calçados e descalços), e tanto os Terceiros de um quanto de outro integram a estirpe carmelitana. Somos, portanto, da mesma família de almas de Santa Teresa de Jesus.

Além desse vínculo, vários aspectos da sua vida demonstram haver certa semelhança entre ela e nosso movimento, e um em particular, pois tende a ser pouco analisado por nós.

Ao conhecermos a infatigável atividade de Santa Teresa, aliada à sua não menos intensa vida interior, compreendemos tratar-se de erro funesto pensar que o espírito prático é o oposto do contemplativo, gerando a falsa idéia de que a piedade de uma pessoa realizadora e dinâmica deve diminuir na proporção de suas obras, e que o tempo por ela dedicado à oração prejudica seus empreendimentos.

Conta-se que o abade trapista francês, Dom Chautard, autor do livro A alma de todo apostolado, certa vez se encontrou com Clemenceau, primeiro-ministro da França, e este lhe perguntou:

— Como o senhor tem tempo para fazer tanta coisa?A resposta do religioso:

— Acrescente às minhas ocupações diárias a celebração da Missa, a leitura do breviário, outras tantas práticas de vida de piedade, e então sobra tempo para as demais atividades…

Afirmação magnífica, à qual não falta aquela precisão francesa, que diz tudo em poucas palavras.

Algo de análogo ocorre conosco. Uma pessoa ávida dos minutos diria que dedicamos tempo exagerado à oração, e melhor serviríamos aos interesses da Igreja se comprimíssemos determinadas preces quotidianas. É uma idéia inteiramente equivocada, e o êxito notório de nosso apostolado pelo Brasil e o mundo prova que só o alcançamos porque dedicamos todo o tempo necessário à vida interior. Ou seja, se mais tempo a ela consagrássemos, resultados ainda mais práticos e eficazes seriam obtidos. E acrescento: teríamos no mais alto grau os dons para cumprir nossa missão.

Equilíbrio entre contemplação e ação

Nesse sentido, há um episódio célebre na vida de Santa Teresa de Jesus que ilustra bem como a contemplação e a ação devem estar unidas.

Certo dia recebeu ela, por obediência, ordem de preparar uma panqueca para o almoço das freiras. Para fritá-la, é necessário manusear a frigideira de modo a lançar a panqueca para o alto e fazê-la girar no ar, o que exige muita atenção de quem a prepara. Em determinado momento, entra uma freira na cozinha e vê Santa Teresa no auge de um êxtase, a face iluminada, transfigurada, e continuando a fritar a panqueca. Quando terminou sua oração, o quitute estava pronto e muito bem feito.

Vejo neste fato um belo símbolo do equilíbrio entre a contemplação e a ação. Quer dizer, quem desejar fazer boas “panquecas” em matéria de apostolado, reze fervorosamente; isto é, se orar, o apostolado dará bons frutos; sem oração, os frutos serão menores ou nulos.

Temos, assim, colhido no admirável exemplo de Santa Teresa de Jesus, um princípio de ouro que toda alma chamada a uma vocação apostólica deveria gravar e cultivar no seu interior.

Plinio Corrêa de Oliveira

1) Geração velha, geração nova: cf. Dr. Plinio número 81.