Natividade de Nossa Senhora

Se o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo já representava a aurora da salvação do gênero humano, o mesmo se pode afirmar, de certo modo, da natividade de Nossa Senhora. Com efeito, tudo quanto Jesus trouxe ao mundo, começou a nos chegar com o nascimento d’Aquela que seria sua Mãe Santíssima.

Compreende-se, pois, todas as esperanças de salvação, de indulgência, de reconciliação, de redenção e de misericórdia que se abriram, afinal, para os homens, naquele bendito dia em que Maria surgiu nesta terra de exílio. Feliz e magnífico dia, marco inicial de uma existência insondavelmente perfeita, pura, fiel, e que seria a maior glória da humanidade em todos os tempos, abaixo daquela que devemos à Encarnação do Verbo.

Plinio Corrêa de Oliveira
Revista Dr Plinio 66 (setembro de 2003)

Natividade de Maria: aurora de esperança para as almas

Alegrias e sofrimentos sucedem-se na existência humana. E se as primeiras são sempre bem-vindas, estes últimos raramente são aceitos ou mesmo compreendidos. Afinal, quem não estremece diante da dor?

As duas festas marianas celebradas no mês de setembro, a Natividade da Virgem Maria e Nossa Senhora das Dores, entremeadas pela Exaltação da Santa Cruz, nos trazem preciosa lição a respeito.

A Igreja, Mestra infalível da verdade, ao nos propor a celebração da Santa Cruz, enaltece sua beleza e importância, sem negar as dores que a acompanham. “Pai, tudo é possível para Ti. Afasta de mim este cálice! Mas seja feito não o que Eu quero, porém o que Tu queres”(1)., foi a exclamação de angústia do Homem-Deus ao suar sangue na perspectiva de tudo o que sofreria.

Esta pungente oração, repleta de filial submissão, fora precedida por outra, introduzida por estas palavras: “Pai, chegou a hora. Glorifica o teu Filho, para que teu Filho Te glorifique…”(2)

O próprio Verbo encarnado, que após a última Ceia proclamara assim a certeza de que sua Paixão e Cruz manifestariam sua própria glória e a do Pai, sentiu pavor e angústia(3) ao considerar a enormidade dos padecimentos físicos e morais pelos quais deveria passar.

Se a perfeitíssima natureza humana do Homem-Deus, de tal maneira convicta da necessidade de seu sacrifício, tremeu diante da dor, o que dizer da nossa, tão frágil e insegura?

Sem dúvida, necessitamos, ainda mais do que o Redentor, de alguém que nos dê forças para levar com ufania a cruz que a Providência nos destinou. E esse alento podemos encontrar na filial meditação da Natividade de Maria feita por Dr. Plinio: “Quantas vezes a alma deste ou daquele está em luta, com problemas, contorcendo e revolvendo dificuldades! A pobre alma nem se dá ideia de quando virá o dia bendito em que uma grande graça, um grande favor vai acabar com seus tormentos, com suas lutas e, afinal de contas, proporcionar-lhe um grande progresso na vida espiritual.

“Há aqui o nascimento — a natividade, num sentido especial da palavra —, irrupções de Nossa Senhora em nossas almas. E na noite das maiores incertezas, das maiores trevas, de repente, Maria Santíssima aparece e começa a quebrar as dificuldades com que nós nos defrontamos. Ela desponta como uma aurora a representar algo de novo em nossa vida espiritual.

“Isso nos deve dar muita alegria e muita esperança, com a certeza de que a Santíssima Virgem nunca nos abandona. E nas ocasiões mais difíceis Ela nos visita, sua presença como que irrompe entre nós, resolve todos os nossos problemas, cura nossas dores, dá-nos a combatividade e a coragem necessárias para cumprir nosso dever até o fim, por mais árduo que seja, e arma nosso braço na luta contra o adversário.”(4)

Plinio Corrêa de Oliveira

1) Mc 14, 36.
2) Jo 17, 1.
3) Mc 14, 33.
4) Conferência de 8/9/1963.

Nascimento da criatura perfeita

Por que a Igreja festeja especialmente o Santo Natal de Nossa Senhora? Porque Ela foi tão grande que a data de sua entrada no mundo marca uma nova era na história do Antigo Testamento, a qual podemos dizer que se divide, sob este ponto de vista, em duas partes: antes e depois da Santíssima Virgem.

Porque, se o Antigo Testamento é uma longa espera do Messias, esta espera tem dois aspectos: os milhares de anos pelos quais a Divina Providência permitiu que esta expectativa se espichasse e, depois, o momento abençoado em que Deus resolveu fazer nascer Aquela que obteria o advento do Salvador.

O nascimento de Maria Santíssima é a chegada ao mundo da criatura perfeita que encontra plena graça diante de Deus, da única pessoa cujas orações têm o mérito suficiente para acabar com a espera e fazer com que, afinal, os rogos, os sofrimentos de todos os justos e a fidelidade de todos aqueles que tinham sido fiéis conseguissem aquilo que sem Nossa Senhora não se teria obtido.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/9/1966)

Nossa Senhora de Coromoto Harmonia augusta, nívea e maternal

A insondável majestade e a infatigável solicitude materna de Maria Santíssima se unem e reluzem aos nossos olhos, salientadas nesses comentários de Dr. Plinio a uma bela imagem de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela, cuja festa é comemorada em 8 de setembro.

 

Ao contemplarmos essa linda imagem de Nossa Senhora de Coromoto, notamos de imediato o proporcionado do conjunto que com ela estabelece a base e a cadeira. Esta última possui um espaldar alto que sobrepuja a cabeça da Virgem, e apresenta em seu topo um arco singelo, porém elegante, semelhante a um dossel.

Majestade e intimidade

Trata-se de um detalhe interessante, pois ele frisa a ideia de que Maria Santíssima tem perfeita noção da própria majestade e, sendo a Rainha do Céu e da Terra, condescende em manifestar tanta bondade para conosco.

Por sua vez, a base, um tanto elevada, encontra-se numa proporção muito amena com a imagem, situando-a numa altura que transmite a noção da intimidade — repassada de sacralidade — que Nossa Senhora deseja estabelecer com seus devotos. Cumpre observar, entretanto, que a base e o dossel são apenas elementos auxiliares para visualizarmos o conjunto.

Nas laterais aparecem quadriláteros superpostos, encimados por dois triângulos que insinuam vagamente ­duas colunas, com seus capitéis, de uma hipotética catedral cuja abóbada seria representada pelo arco. Embora tais figuras geométricas pudessem ter sido concebidas de modo mais artístico, se fossem retiradas o conjunto perderia em expressão.

Brancura nívea

A qualquer hora do dia, a primeira impressão causada pela imagem é de uma brancura tal que se diria ser feita de uma matéria desconhecida nesta Terra. Ao substantivo “brancura” convém acrescentar o adjetivo “nívea”, que pode parecer exagerado, mas seria uma exceção permitida pelo rico vocabulário da língua portuguesa. Ele realça, exprime melhor esse tipo de brancura que admiramos na imagem de Nossa Senhora de Coromoto: brancura nívea.

Sobretudo à noite sente-se estar em presença de um material que teria vindo, por exemplo, da lua. Não da lua explorada pelos astronautas, mas da lua cantada em versos de poesia…

Escrínio da vida divina

Esta brancura nívea indica como a Virgem Santíssima está penetrada, repleta da graça de Deus. Realça uma transparência do Criador na alma de sua criatura eleita. Nas horas noturnas, naturalmente, tudo isso resplandece de modo mais acentuado. E não apenas porque a alvura se destaca no contraste com as sombras. Esta seria uma explicação verídica, mas evidente. O fato é que, de dia, tem-se a impressão de que o mármore reflete a brancura; e à noite, de que nele habita uma luz, causando-nos a sensação de que, se apertássemos aquela matéria da qual a imagem é feita, dela jorraria luz em estado líquido.

Mais ainda. A própria psicologia da personagem (no caso, Nossa Senhora) é imaculadíssima, puríssima, toda constituída para viver dentro desse níveo, que seria uma espécie de “substância” existente no Céu.

A meu ver, a primeira nota de majestade e grandeza que dela emana é um reflexo da participação de Nossa Senhora num outro mundo e da presença dentro d’Ela da vida divina, que A coloca acima de comparação com qualquer outra mera criatura.

Insondável solicitude materna

A partir dessas impressões iniciais, realçadas pela iluminação noturna, analisemos outras.

Maria Santíssima tem consciência de todos esses aspectos de sua pessoa, e demonstra estabilidade através da posição e atitude calmas, de quem se sente perfeitamente em ordem e não se acha impelido por pressa alguma. Para a imagem, o tempo como que não existe: Nossa Senhora passaria séculos acomodada onde está. É o que, com profundo respeito, se pode chamar “felicidade de situação”.

De outro lado, percebe-se que a Santíssima Virgem tem dupla atenção: uma para seus valores internos e celestes, e outra, minor, para a pessoa que d’Ela se aproxima. Dir-se-ia que Ela é toda solicitude materna, e não nota, porque não o quer, a extrema inferioridade de quem se ajoelha a seus pés. Maria não se compara com o filho que vem lhe apresentar uma súplica, dirigir-lhe uma prece. Assim, a Mãe de Deus eleva o devoto à categoria d’Ela, sem analisá-lo: “Você tem culpa ou não; é bom ou ruim”. Apenas diz: “Você existe e, portanto, tenho misericórdia. O que deseja?”

Nesta imagem transparece muito essa bondade maternal de Nossa Senhora, e a pergunta que dirige ao fiel — “O que deseja?” — é discernida no olhar e na leve inclinação da cabeça para frente, significando seu extremo desvelo e a disposição de atender até os nossos menores pedidos.

Rainha no pleno exercício de seu poder

Nota-se, também, um senso moral firmíssimo. Ela perdoa qualquer ofensa, mas tem total incompatibilidade com o mal. Quem, diante dessa imagem, pedisse algo de ruim, causar-lhe-ia horror e se sentiria fortemente censurado. Esses extremos harmônicos — bondade e rejeição do mal — fazem parte da beleza e da perfeição de Nossa Senhora de Coromoto.

Percebe-se outrossim sua majestade pela consciência que Ela possui de governo. É uma Rainha, tem a visão superior das coisas, as considera no seu conjunto e sabe como se compaginam na criação. Ou seja, por disposição divina, Ela tem o direito de mandar na ordem universal e o exerce de modo perfeito.

Esse governo se exprime de forma interessante pelo relacionamento d’Ela com o Menino. A Mãe de Deus O segura como quem pode lhe dar ordens; de outro lado, O aponta, como quem diz: “Se Eu tenho algum direito e valor, é por causa d’Ele, que é o Redentor. Se quiserem me agradar, voltem-se para meu Divino Filho, porque vivo para Ele. Sou apenas uma intercessora junto ao Verbo Encarnado”.

Ao mesmo tempo em que Ela manda n’Ele, é a primeira de seus súditos. O Menino é o cetro de Nossa Senhora, e a Virgem é o trono no qual Ele se senta. A soberania do Rei é realçada pela majestade da Rainha, e vice-versa.

Na delicadeza dos traços, a ideia de misericórdia

Julgo que a misericórdia se afirma no caráter virginal da imagem, na extrema delicadeza e harmonia dos traços de mãe e filho. Em suas fisionomias há um misto de medieval e sulpiciano(1), que são estilos incongruentes, mas aqui apresentam uma conjunção feliz: são hieráticos como o medieval, com qualquer coisa de sumamente acessível do sulpiciano.

O manto de Nossa Senhora, que cobre sua cabeça e deixa aparecer um pouco de seus cabelos, possui um pregueado muito amplo, bonito, majestoso, lembrando a toga de um magistrado e o manto de rainha. Indica também que Ela se acha inteiramente à vontade onde está e que — independentemente do que pensem, queiram, façam ou digam — tomou conta do lugar. É verdadeiramente a Soberana.

Augusta e maternal

Tudo o acima exposto seria a descrição da imagem. O passo seguinte é a exclamação que temos diante dela.

Desde logo: nívea! Porém, essa palavra requer um complemento que a enriqueça. Exclamar: “Ó Mãe nívea, ó Rainha nívea” não seria suficiente. Poder-se-ia acrescentar “augusta”, posto ser Nossa Senhora a obra-prima da mera criação.

Aprofundando essas cogitações, creio que os títulos “harmonia nívea, régia e maternal” exprimem em algo o conjunto da imagem. Corroborados pelo seguinte fato: a matéria de que ela é feita, considerada à luz dos presentes comentários, adquire um aspecto que cria a ilusão de estar numa relação de “transcendência” quanto à matéria comum da qual provêm esculturas semelhantes. Ela possui, ao mesmo tempo, predicados análogos e diversos dessa substância trivial, e nos introduz na ideia de branco absoluto, porque o níveo é uma impressão deste último.

Diante desse tipo de luminosidade nívea, tem-se uma sensação de contato com uma ordem de realidades parecida com a conhecida por nós, mas que não se imaginaria pudesse existir. Então, essa alvura nívea está para o branco comum, mais ou menos como as coisas divinas estão para as criadas. Possui algo da luz incriada. É semelhante aos outros brancos, mas inimaginável. Transcende-os. E nos conduz Àquele que é o transcendente por excelência, Deus.

Digamos, portanto, que a exclamação inteira, louvando essa linda imagem de Nossa Senhora de Coromoto, seria: ó harmonia nívea, régia, augusta e maternal!

 

Plinio Corrêa de Oliveira

1) No século XIX, tendo como foco a igreja da Ordem Religiosa dos Sacerdotes de São Sulpício, em Paris, surgiu uma arte sacra denominada “sulpiciana”, que procurou realçar em suas imagens o afeto e a misericórdia dos personagens por elas simbolizados. Vale mencionar que os Sacerdotes de São Sulpício, além de sua presença na França, contam com membros em todo o mundo, especialmente no Canadá.

 

A maior fonte de bênçãos de todos os tempos

Com o nascimento de Maria Santíssima abriu-se a maior fonte de bênçãos de todos os tempos, cuja irradiação pessoal e ação de presença eram o prenúncio da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi o início daquilo que iria derrubar, afinal, as muralhas do paganismo.

A Natividade de Maria é, pois, uma festa de altíssimo significado na qual podemos implorar que, assim como Ela veio à Terra e imediatamente começou a pedir o advento do Messias e o fim daquela ordem de coisas embargada pelo pecado, Nossa Senhora nos dê um desejo ardente, sapiencial, refletido, ponderado, sério e profundo do Reino de Maria, que não deixe em nossas almas apego a mais nada.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/9/1966)

A severidade de São Corbiniano

Precisamos ter uma visão global da Doutrina Católica e, portanto, timbrar em conhecer as verdades esquecidas. Uma delas é a que os santos de nossos dias devem ser como São Corbiniano, em  muitas ocasiões de suas vidas. Pois nossa época é de extraordinária obstinação no pecado, sobretudo o de heresia, e a pior delas é a Revolução. Para vencer essa obstinação, em muitas  circunstâncias, o remédio é a severidade.

 

Segundo o Martirológio, em 8 de setembro se comemora São Corbiniano, Bispo de Freising, na Baviera, falecido nesse dia, em 730(1).

Recriminações a um príncipe

Regressando de Roma, onde se entrevistara  com o Papa Gregório II, São Corbiniano, ao chegar à fronteira dos Estados pertencentes a Grimoaldo, foi detido por guardas que este duque ali postara, com ordem de não permitir a passagem do bispo, se ele não aceitasse em fazer-lhe uma visita.

O Santo consentiu. Mas, ao dirigir-se ao castelo do príncipe, declarou que lá só entraria se Grimoaldo deixasse Piltrude, a viúva de seu irmão, com quem se casara. Como o príncipe não  obedecesse, perseverou na recusa, admoestando-o incessantemente com suas recriminações a fim de conduzi-lo à penitência.

Ao cabo de quarenta dias, Grimoaldo e Piltrude prometeram separar- se e o santo bispo mandou-os vir à sua presença. Absolveu-os, depois de terem pedido perdão de joelhos e lhe beijado os pés,  impôs-lhes penitências de esmolas, jejuns e orações. Depois entrou no palácio.

Jantando certo dia em companhia desse mesmo príncipe, São Corbiniano abençoou os alimentos servidos à mesa. O príncipe, que se distraíra, atirou um bocado ao seu cão favorito.

Imediatamente o santo homem derruba a mesa com um pontapé, dizendo que quem atirava a um cão semelhante bênção não era digno dela, e que desse dia em diante não comeria mais em sua  companhia.

Profundamente ferida pelo fato de São Corbiniano tê-la separado do príncipe, com suas admoestações, Piltrude aproveitou a ocasião para acusá-lo de crime lesa-majestade, merecedor de morte.

O príncipe, entretanto, que o tinha em grande e alta estima, mandou fechar as portas da cidade, temeroso de que o homem de Deus, em sua cólera, dela se retirasse. Acompanhado maiorais de sua corte, foi pedir–lhe perdão.

Noutra ocasião, quando se dirigia ao ofício da noite na Igreja de Santa Maria, o santo bispo encontrou no caminho uma camponesa, que se retirava carregada de ricos presentes. Já fora apontada como dada à prática de sortilégios. Interrogou-a sobre a razão dos presentes. Respondeu ela que curara o filho do príncipe, que estava atormentado por demônios, e que por causa disso fora  presenteada. Horrorizado, o bispo desceu do cavalo, espancou a mulher com suas próprias mãos, arrancou-lhe tudo quanto carregava e distribuiu entre os pobres à entrada da cidade. Mais do que tudo, lamentava a infidelidade do príncipe.

Para vencer a obstinação no pecado, em muitas circunstâncias o remédio é a dureza

Toda virtude concebida de maneira unilateral não é autêntica virtude. Se fôssemos imaginar um santo apenas muito suave, bondoso, invariavelmente amável em todas as circunstâncias de sua  vida, não estaríamos em presença de um verdadeiro santo, mas sim de um arremedo de santo. Como também se imaginássemos um santo que procedesse durante toda a sua vida explosivamente  como São Corbiniano agiu nesses episódios, nós estaríamos diante de um santo muito singular, porque não se pode conceber que um bispo, mesmo na era constantiniana, para remédio de todas as situações jogue as mesas no chão, etc. Mas há situações em que o dever consiste em agir assim, como existem ocasiões em que o dever se cifra em ter um procedimento diverso.

O que explica nossa insistência nesse exemplo de São Corbiniano? É que temos muitos exemplos em sentido contrário, e as virtudes “corbinianas” são extraordinariamente raras. De maneira que  encontramos aí uma razão muito boa para pôr em realce essa ficha.

Mas há uma razão mais profunda, evidentemente. Precisamos ter uma visão global da Doutrina Católica e, portanto, devemos timbrar em conhecer as verdades esquecidas.

Uma delas é que os santos devem ser assim, como São Corbiniano, em muitas ocasiões de suas vidas, sobretudo quando se trata de santos de nossa época. Época de uma dureza, de uma obstinação no pecado – e o pior deles que é o de heresia, e a pior das heresias é a Revolução, com o laicismo a ela inerente –, uma obstinação tão extraordinária que realmente não se sabe o que dizer. É claro que, para vencer a obstinação, em muitas circunstâncias, o remédio é a dureza.

Hoje, a prova de coragem consiste em enfrentar aqueles que promovem a Revolução

O primeiro exemplo do procedimento de São Corbiniano com o príncipe se explica pelo fato de que este era casado com uma mulher, a qual tinha com ele um grau de parentesco por ser viúva do  seu irmão e, portanto, precisava de uma dispensa da Santa Sé para contrair matrimônio com ela. Eventualmente, o príncipe não tinha pedido essa dispensa e vivia maritalmente com ela, e casou-se mesmo com ela, mas de um modo ilícito, sem a licença da  Santa Sé. Ele estava, portanto, numa situação que São Corbiniano não poderia tolerar.

Vimos com que extremos de severidade ele censurou a atitude do príncipe, e que humildade o Santo exigiu dele, como pedido de perdão.

Quem seria um personagem equivalente ao príncipe nos dias de hoje para um santo humilhar assim? Como poderíamos imaginar um confronto entre a fortaleza da autoridade espiritual e os  poderes temporais atualmente?

A Revolução deslocou das mãos dos príncipes, ou ao menos da maior parte deles, o poder e a riqueza. Enfrentá-los já não é grande prova de coragem. Mas é prova de coragem enfrentar aqueles  que hoje têm muito poder, ou muitos meios de subornar, de comprar. Entre esses nós temos em primeiro lugar, evidentemente, os ricos. Mas não só eles; também a imprensa, o rádio, a televisão, os instrumentos que manipulam a opinião pública, os demagogos, os chefes de correntes revolucionárias; a todos esses, se favorecem o mal, é preciso que um bispo saiba enfrentar.

O exemplo do Cardeal Mindszenty

Como é bonito, por exemplo, vermos um bispo proceder por essa forma, enfrentando o comunismo, a demagogia, a desordem e a Revolução! Nós temos hoje em dia um exemplo que vem a  propósito lembrar porque, ao menos pelo que se conhece, não é menos belo do que o exemplo de São Corbiniano. É o Cardeal Mindszenty(2), que está preso na Hungria, e a respeito do qual baixou  um tal silêncio que quase nos esquecemos de que ele existe. Pois bem, temos aí um exemplo de fortaleza extraordinária, que lembra a fortaleza de São Corbiniano.

A ficha narra outros dois episódios: um é do Santo que joga a mesa no chão porque o príncipe deu de comer alimentos abençoados a um cachorro. Alguém perguntará: “Mas ele não podia fazer de modo diferente? Por exemplo, dizer: ‘Príncipe, eu me levanto.’ Ou simplesmente manter silêncio sentido, em relação ao príncipe”. Uma pessoa mais moderada indagaria: “Ele poderia  simplesmente dizer: ‘Príncipe, para seu cachorrinho não seria demais um pão bento?’

Assim, São Corbiniano não captaria mais a simpatia e a benevolência do príncipe?”

Seriedade, respeito, confiança

É preciso sempre lembrar que a arte de tratar com as almas não consiste principalmente em incutir-lhes simpatia, mas sim, antes de tudo, em lhes granjear o respeito. E o respeito se granjeia pela seriedade. E a seriedade se documenta muitas vezes pela severidade. É tomando as coisas até as últimas consequências e punindo de acordo com a gravidade, que se mostra ser sério. E, mostrando-se sério por essa forma, impõe-se respeito, inspira-se confiança e  desse modo se dirigem as almas.

Um erro da propaganda hollywoodiana, e que o ambiente de hoje incute nas almas de um modo terrível, é a ideia de que o perpétuo “smiling”, o sorrir para todo mundo, arrasta as pessoas. Arrasta  coisa nenhuma. Os norte-americanos têm distribuído dólares e sorrisos à farta. Se houve uma potência no mundo que garganteou pouco o seu poderio foi a norte-americana. O grande poder  temporal mundial, anterior ao norte-americano, foi o da Inglaterra.

Como a Inglaterra levava a coisa de outro jeito! Antes da Inglaterra foi Napoleão. Os Estados Unidos exercem uma dominação velada, por detrás dos bastidores, com dólares, e garantindo a  independência desses países, pelo menos a independência política, e amenizando o conjunto com sorrisos. Contudo, eles estão sendo gradualmente abandonados pelo mundo inteiro. Por quê? Porque os Estados Unidos não incutem admiração. E não incutem admiração pelo fato de que não são sérios. Eles depositam toda a sua confiança no sorriso. O sorriso tem um certo papel na vida do homem, não tem dúvida. Não estou dizendo que nunca se deva sorrir. Mas que essa seja a guia régia, é um engano.

O sorriso precisa ser temperado, consertado com atos de grande valor, de grande energia. Quem não é capaz de meter um pouco de medo não é verdadeiramente santo. E por isso nós temos um  Santo de requintada bondade, mas que sabe impor medo, e consegue fazer o príncipe ficar quieto.

Na Idade Média, a virtude e a contrição dos pecadores são encantadoras

Por outro lado, é uma maravilha a atitude do príncipe. Na Idade Média, muitas coisas encantam. A virtude encanta, mas também a contrição dos pecadores é encantadora. O príncipe andou mal  porque, afinal, ele devia ter prestado atenção. À sua mesa estava um Santo que ele venerava como tal; o varão de Deus dá uma bênção nos alimentos, mas ele está pensando no cão. Contudo, em comparação com as coisas que fazemos hoje, quão ingênuo, quase se diria quão gracioso!

O príncipe leva uma admoestação tremenda, e sua primeira ideia é: “Segura o Santo porque eu quero pedir perdão para ele!” E como o Santo vai embora, manda fechar as portas da cidade. Depois pede perdão, ajoelha-se, o Santo se reconcilia e volta tudo à bonança. Nota-se que contrição entra nisso, que cordura, que brandura de alma, que inocência há numa atitude como essa. Não é verdade que, mesmo nessa penitência, há uma inocência mais profunda do que a falta cometida e que nos deixa maravilhados?

Finalmente, a sova na mulher que era uma espécie de bruxa e feiticeira e havia usado algum feitiço para curar o filho desse homem. Qual foi a atitude do Santo com ela? Eu pergunto: há casos semelhantes atualmente? Ainda hoje eu estava lendo a seguinte notícia: Houve a inauguração de um parque municipal em São Paulo, durante a qual foi realizada uma sessão ecumênica. Falou um padre, um bispo católico, logo em seguida um espírita e depois um rabino. Numa mesma sessão, em comum com o bispo. Onde está o exemplo de nosso Santo? Como estão mudadas as coisas…

Plinio  Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/9/1969)

1) Cf. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. v. XVI, p. 106-107.

2) Cardeal József Mindszenty (*1892 – †1975). Opôs-se tenazmente ao regime comunista, particularmente em seu país, Hungria. Foi perseguido, preso e morreu no exílio. Seu corpo, exumado em  1991, foi encontrado incorrupto, e em 1996 foi apresentada à Santa Sé a documentação para o processo de sua beatificação.

 

O início da vitória!

Bendito o dia em que Nossa Senhora nasceu; benditas as estrelas que a viram pequenina; bendito o momento em que seus pais constataram o nascimento d’Aquela que, permanecendo sempre virgem, fora chamada a ser a Mãe do Salvador!

 

Por que se festeja o aniversário de alguém? A razão é muito simples: o aniversário de uma pessoa representa o momento em que esta entrou no cenário da vida, o momento em que a sociedade humana se enriqueceu com mais uma presença.

Cada nascimento constitui um favor, uma graça de Deus, porque todo homem — por mais que seja concebido em pecado original ou traga alguma deficiência de família — é uma criatura de grande valor. E essa criatura representa um enriquecimento altamente ponderável para a humanidade.

Concebida sem pecado e repleta de dons sobrenaturais e naturais

Nestas condições, a festa da Natividade de Nossa Senhora leva‑nos a perguntar qual o enriquecimento que Ela trouxe para a humanidade, e a que título especial o gênero humano deve festejar seu aniversário.

Colocando-nos nessa perspectiva, ficamos sem saber o que dizer… Pois Nossa Senhora foi concebida sem pecado original.

Sendo Ela livre de qualquer mancha, um lírio de incomparável formosura, seu nascimento deve alegrar não só o gênero humano, mas também todos os coros angélicos!

Além disso, Nossa Senhora possuía todos os dons naturais que uma mulher possa ter. Nosso Senhor deu a Ela, segundo a ordem da natureza, uma personalidade riquíssima, preciosíssima, valiosíssima e, a esse título, a presença d’Ela entre os homens representava um tesouro de valor verdadeiramente incalculável.

Além disso, com sua presença entre os homens, ganhamos os tesouros de graças que A acompanhavam e que são as maiores graças concedidas por Deus a alguém, graças verdadeiramente incomensuráveis.

Compreendemos, então, o que representa a entrada de Nossa Senhora no mundo.

O mais belo nascer do Sol é pálido em relação à beleza da entrada de Nossa Senhora no mundo; a mais solene entrada de um rei no seu reino nada é em comparação com isso.

A ação de Nossa Senhora nos períodos de provação

A Natividade de Nossa Senhora nos inspira também outro pensamento.

O mundo estava prostrado no paganismo; os vícios imperavam; a idolatria dominava a Terra; o mal e o demônio venciam inteiramente.

Mas, no momento decretado por Deus em sua misericórdia, tudo mudou! Nasceu Nossa Senhora, a raiz bendita da qual nasceria o Salvador da humanidade. Começava assim a derrocada do demônio.

Quantas vezes não se passa algo semelhante em nossa vida espiritual! Há ocasiões em que nossa alma está em luta, com problemas, contorcendo e revolvendo dificuldades! Sequer temos ideia de quando virá o dia bendito onde uma graça extraordinária, um grande favor acabará com nossos tormentos, proporcionando-nos um amplo progresso na vida espiritual. E, de repente, há um nascimento no sentido especial da palavra: Nossa Senhora aparece qual aurora em nossa vida espiritual.

Isso deve nos dar muita alegria e esperança, com a certeza de que Nossa Senhora nunca nos abandona. Nas ocasiões mais difíceis Ela nos visita, resolve nossos problemas, cura nossas dores, dá‑nos a combatividade e a coragem necessárias para cumprirmos nosso dever até o fim, por mais árduo que seja.

Desde o nascimento, influenciando o destino da humanidade

Assim como no Natal celebramos o momento bendito em que Nosso Senhor veio ao mundo e começou a fazer visivelmente parte da sociedade humana, a festa da Natividade de Maria exalta a ocasião em que Ela enriqueceu a humanidade com a sua presença.

Alguém dirá: “Mas o que um bebê, sem o uso da razão, pode acrescentar a uma sociedade?”

Ora, sendo concebida sem pecado original e possuindo o uso da razão desde o primeiro instante de seu ser, já no ventre materno Nossa Senhora tinha pensamentos elevadíssimos e sublimíssimos.

Se São João Batista, o qual não foi isento da culpa original, mas libertado dela antes de nascer, ao ouvir a voz de Maria saudando Santa Isabel estremeceu no seio materno(1), não poderia a Mãe do Redentor já em sua infância ter conhecimento do que se passava?

Nossa Senhora, desde o claustro materno, devido à altíssima ciência que lhe foi concedida pela graça de Deus, pedia pela vinda do Messias e pela derrota do pecado. Desta forma Ela influenciava os destinos da humanidade.

Diz-nos o Evangelho que da túnica de Nosso Senhor saía uma virtude capaz de curar(2). Se assim o era, também sua Mãe, o Vaso de Eleição, deveria ser uma fonte de graças a jorrar para todos que d’Ela se aproximavam.

E isto desde a sua mais tenra infância! Embora Ela fosse apenas uma criancinha, já em seu natal, graças enormes começaram a raiar para a humanidade. Seu nascimento constituiu o esmagamento do demônio e a vitória da Contra‑Revolução.

Compreende‑se, então, como a vinda de Nossa Senhora à Terra foi uma graça para todos os homens.

Qual “aurora” do luar…

Para concluir lembremo-nos da noite de Natal. Há séculos essa festa se repete, e nela temos a sensação de que uma bênção se renova, descendo do Céu sobre a Terra de maneira mais intensa. E, de algum modo, renova também as energias espirituais de todos os homens.

Nosso Senhor é o Sol que nasce para a humanidade, e seu Natal nos faz lembrar a aurora.

Assim sendo, sua Mãe Santíssima pode bem ser comparada à Lua. O nascer da Lua não tem a glória do nascer do Sol, mas quanto tem de análogo! Como ele é benfazejo, como ele alegra, como ele estimula, como ele consola!

O que pedir nesse dia?

Sendo filhos de Nossa Senhora — não por méritos, mas por vontade de Deus —, ao festejar seu nascimento podemos pedir a Ela uma graça especial. Peçamos, então, que a Santíssima Virgem estabeleça com cada um de nós uma aliança especial, um vínculo de filiação todo especial em nosso relacionamento com Ela, de maneira a tomar-nos sob seu amparo de modo todo particular.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/9/1963)

 

1) Cfr. Lc 1,41

2) Cfr. Lc 8,43-48

Um nascimento todo especial…

Quando Nossa Senhora nasceu, o mundo estava prostrado no paganismo; os vícios imperavam; a idolatria dominava a Terra; o mal e o demônio venciam inteiramente.

Mas, no momento decretado por Deus em sua misericórdia, tudo mudou! Nasceu Maria Santíssima, a raiz bendita da qual nasceria o Salvador da humanidade. Começava assim a derrocada do demônio.

Quantas vezes não se passa algo semelhante em nossa vida espiritual! Há ocasiões em que nossa alma está em luta, com problemas, contorcendo e revolvendo dificuldades! Sequer temos ideia de quando virá o dia bendito onde uma graça extraordinária, um grande favor acabará com nossos tormentos, proporcionando-nos um amplo progresso na vida espiritual. E, de repente, há um nascimento no sentido especial da palavra: Nossa Senhora aparece qual aurora em nossa vida espiritual.

Isso deve nos dar muita alegria e esperança, com a certeza de que Nossa Senhora nunca nos abandona. Nas ocasiões mais difíceis Ela nos visita, resolve nossos problemas, cura nossas dores, dá‑nos a combatividade e a coragem necessárias para cumprirmos nosso dever até o fim, por mais árduo que seja.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 8/9/1963)

A alegria do mundo inteiro

Por que a Santa Igreja Católica comemora de modo particular a natividade de Nossa Senhora? A razão é simples. O nascimento da Virgem Maria marcou o início de uma nova era na História, pois foi através d’Ela que o Sol da Redenção brilhou para a humanidade.

Até então, o mundo estivera prostrado no paganismo, gemendo sob o ímpeto dos vícios e da idolatria. Durante séculos, enquanto o mal e o demônio venciam inteiramente, almas santas haviam rogado a Deus pela vinda do Redentor, porém, a hora designada por Deus ainda não havia chegado…

A partir do momento bendito em que Maria iniciou sua trajetória entre os homens, as relações de Deus com humanidade se modificaram: através das portas do céu, até então trancadas, começaram a como que filtrar luzes de esperança no sentido de que seriam abertas em breve, de par em par.

Desde a mais tenra idade, Ela começou a pedir o advento do Messias e o fim daquela ordem de coisas estabelecida pelo pecado. A ação de presença d’Ela era o prenúncio da salvação que seu Filho viria trazer.

***

Em outras épocas, Nossa Senhora opera uma repetição daquilo que então se passou, e podemos dizer que, na época presente, há uma nova interferência d’Ela na história do mundo. Prova disso é o fato de haver almas que anseiam pelo Reino de Maria, trabalham e rezam para que ele venha.

Dr. Plinio, durante toda a sua vida, não quis ser senão um arauto do Reino de Maria, e viver na perspectiva dele. Quem assim atende ao apelo marial faz o papel de Nossa Senhora no Antigo Testamento: ainda não veio a Luz, a libertação, a vitória; mas algo que é prenúncio da vitória já está presente, começa a espalhar as suas graças e a determinar movimentos entusiásticos de adesão.

Atitudes como estas são como que natividades, que preparam o dia pleno de alegria em que Nossa Senhora reinará no mundo.

***

Que Ela nos dê graças abundantes para que, também nós — assim como foi Dr. Plinio — vivamos no desejo ardente da vinda do Reino d’Ela, pedindo que cesse o quanto antes o domínio do pecado e do demônio sobre a terra.

Plinio Corrêa de Oliveira

Olhos postos em Maria

A natividade de Nossa Senhora, celebrada em 8 de setembro, representa a aurora da redenção do gênero humano, posto que, com o nascimento de Maria, inicia-se a realização das promessas divinas de enviar ao mundo o seu Salvador”, comentava Dr. Plinio. “No momento decretado por Deus em sua misericórdia”, acrescentava, “Ele faz surgir Nossa Senhora, raiz bendita da qual brotaria Nosso Senhor Jesus Cristo, começando assim a obra de destruição do reino do demônio — no exterior, bem como no interior dos homens.

“De fato, na vida espiritual de quantas almas não se verifica situação semelhante à do mundo em que surgiu Nossa Senhora, imerso no império dos vícios e do pecado! A pobre alma está em luta com seus defeitos, se contorce em dificuldades, sem vislumbrar o dia bendito em que uma grande graça, um grande favor celestial porá fim aos seus tormentos e lhe franqueará o progresso na piedade. Pois na história dessas almas há como que irrupções de Nossa Senhora. Na noite das maiores trevas e aflições, Ela aparece e começa a solucionar todos os problemas. Maria surge então como uma radiante aurora em nossa existência, incutindo-nos um alento que não conhecíamos.

“Nesse sentido, vem muito a propósito a conhecida exortação de São Bernardo, aplicando a Nossa Senhora o simbolismo da Estrela do Mar: Ó tu que nesta vida andas flutuando entre borrascas e tempestades, antes que vagando por terra, não tires os teus olhos do fulgor desta estrela, se não quiseres que te arrastem os vagalhões. Quando te vires arremessado aos escolhos da tribulação, se te surgirem os ventos das tentações, olha a estrela e invoca Maria. Quando te vires perecer nas ondas da soberba e da ambição, da detração e da luxúria, olha para a estrela, invoca Maria.

“Contrárias às ilusões de que esta vida é um constante jardim de rosas onde tudo nos sorri, as palavras de São Bernardo — conformes ao ensinamento da Igreja — nos falam do vale de lágrimas no qual expiamos o pecado original e nossos pecados atuais. Segundo o conselho do santo, o quotidiano terreno é permeado de borrascas e tempestades, de rochedos que insidiosamente aguardam o navegante durante seu trajeto, e dos ventos das tentações que podem soprar e nos solicitar para o mal.

“Ora, sob essas condições adversas, não devemos nunca deixar de pôr os olhos em Maria Santíssima, senão os vagalhões nos arrastam. A exemplo dos antigos navegantes que se orientavam pela estrela polar a fim de alcançar o porto seguro, cumpre seguirmos as maternais coruscações da Estrela do Mar. Na incerteza das ondas, no singrar atribulado, jamais percamos de vista essa luz que nos orienta para a salvação; jamais nos esqueçamos de invocar Maria Santíssima.”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 8/9/63 e 24/9/66)