Santo Edelberto, Rei de Kent

A história da conversão e santificação do primeiro rei católico inglês oferece a Dr. Plinio oportunidade de nos aconselhar a prática da prudência e da sabedoria semelhantes às exercitadas por Santo Edelberto, pelas quais seremos sempre capazes de escolher o bem e rejeitar o mal.

 

No dia 24 de fevereiro a Igreja celebra a festa de Santo Edelberto, Rei de Kent, na Inglaterra. Segundo nos relata o Martirológio, foi o primeiro dos príncipes dos anglos que se converteu ao cristianismo, pela evangelização do Bispo Santo Agostinho, em Canterbury, no ano de 616.

Os missionários do Papa recebidos com procissão

Sobre Santo Edelberto, diz Rohrbacher, na sua Vida dos Santos:

Em 596, o Papa São Gregório Magno enviou, sob a chefia de Santo Agostinho, um grupo de missionários à Inglaterra, então pagã. Aportando à ilha, os apóstolos fizeram saber ao Rei Edelberto de sua chegada e que lhes traziam uma mensagem de vida eterna. O soberano, que por intermédio de sua esposa já ouvira falar da religião católica, prometeu recebê-los numa entrevista pública.

Os monges chegaram em procissão, trazendo como estandarte uma cruz de prata e a imagem do Salvador pintada num quadro, entoando ladainha a Deus em prol da salvação deles e do povo pelo qual haviam se dirigido à Inglaterra. Mandou o soberano que se sentassem e eles começaram a lhe anunciar o Evangelho.

Prudente atitude do Rei Edelberto

Respondeu Edelberto: “As vossas palavras e promessas são belíssimas. Mas por serem novas e incertas, não me é dado aquiescer e deixar o que tenho observado há tão longo tempo com a nação dos ingleses. Todavia, como viestes de longe e como se me afigura perceber que desejais participar-me aquilo que julgais ser mais verdadeiro e melhor, em vez de vos opor obstáculo, vos recebemos bem e vos damos o que é necessário à vossa subsistência. Não vos impediremos de atrair para vossa religião todos quantos puderdes persuadir”.

Protegeu os cristãos, converteu príncipes e edificou igrejas

Cedeu-lhes, então, um abrigo na ilha que receberia, no futuro, o nome de Cantuária. Algum tempo depois, impressionado com o exemplo dos monges e com sua doutrina, o rei converteu-se e foi batizado. E dos vinte anos em que ainda viveu, dedicou-os à propagação da fé entre seus súditos, apoiado e exortado pelo pontífice Gregório Magno.

Protegeu os cristãos, levantou templos, fez leis admiradas e imitadas durante séculos, aplicou-se também à conversão dos príncipes vizinhos e conduziu dois deles ao cristianismo.
Faleceu Santo Edelberto em 606. Seu exemplo frutificou, pois nunca nação alguma deu à Igreja tantos reis santos quanto a Inglaterra.

Grandes figuras de fundadores da Idade Média

Aparecem-nos aqui duas grandes figuras de impulsionadores da Idade Média. Por essa breve e bela narração, podemos conceber o encontro de um insigne missionário, que é Santo Agostinho da Cantuária, com um extraordinário monarca fundador, Santo Edelberto.

Refiro-me a ele como fundador, porque da Inglaterra anterior à conversão pode-se dizer não passava senão de uma nação ainda em seus primórdios. Não havia uma civilização britânica, nem uma Inglaterra propriamente dita. Existiam apenas os germes da futura Inglaterra que, em contato com Santo Agostinho, floresceram e deram na nação em que ela se tornou posteriormente.

Magnífico preâmbulo de evangelização

A solenidade que o historiador nos descreve é, na verdade, maravilhosa. Podemos imaginar aquele rei e seus guerreiros semi-bárbaros, congregados na clareira de uma floresta, e, admirados uns, céticos outros, vêem chegando ao longe, entoando cânticos e ladainhas, Santo Agostinho com os seus monges e seguidores. Os enviados do Papa São Gregório Magno se aproximam, cumprimentam-se, são convidados a se sentar e começam as conversas entre apóstolos e futuros convertidos.

Sabedoria e simpatia

Percebe-se claramente a atitude ao mesmo tempo sábia e simpática do Rei Edelberto. Com efeito, embora se veja o coração dele tocado pela doutrina e exemplos de Santo Agostinho, ele responde com muita liberdade de movimentos e de palavras, dizendo: “Tudo o que vós nos dizeis é muito belo, mas não posso mudar de ideia tão depressa, abandonando as crenças que herdei de meus maiores. Desejo estudar melhor essas novidades que nos trazeis”.

Porém, ele o disse com notória benevolência e inclinação para aceitar o Evangelho, pois em seguida, ele agradece a Santo Agostinho e aos que o acompanhavam por terem vindo de tão longe para lhes falar, oferece-lhes um bom abrigo e lhes concede liberdade para pregarem e converterem à religião deles quantos o quisessem.

Ou seja, a posição dele em relação a Santo Agostinho revela um primeiro passo de sua alma em direção àquela verdade cujo precônio ele estava ouvindo naquele momento.

Confirmando essa sua intenção, ele facilita todas as coisas para a missão apostólica de Santo Agostinho, e este logo dá início à tarefa de evangelizar o povo e instaurar a religião católica na Inglaterra. Santo Edelberto, depois de examinar devidamente a nova doutrina, como homem consciencioso que era, abraçou-a de toda a alma. Converteu-se, tornou-se um modelo de soberano cristão, edificou igrejas, trouxe para o catolicismo outros príncipes ingleses e protegeu os súditos que foram acolhidos no grêmio da Santa Igreja Católica.

Pela ação da graça, discernimos a religião autêntica

O exemplo da conversão de Santo Edelberto nos faz deitar a atenção sobre um ponto que merece ser considerado. Trata-se de que, as condescendências primeiras que manifestamos em relação a alguma doutrina, revelam nossa simpatia: boa, quando para o bem; má, se tende para o mal.

Assim, quando alguém, de bom espírito, estranho à religião católica toma contato com esta, ver-se-á sob uma especial ação da graça, pela qual lhe é dada a possibilidade de vislumbrar — de propósito não afirmo que é dada uma certeza absoluta, mas um vislumbre — que ela tomou conhecimento da religião verdadeira. Donde, será bom todo movimento que essa pessoa faça no sentido de abraçar essa religião.

Pelo contrário, quando um católico trata com uma religião falsa, tem todos os elementos para se saber em presença de uma doutrina errônea. E, por conseguinte, todo movimento de simpatia para com tal doutrina será ruim.

Peçamos a Nossa Senhora, pelos rogos de Santo Edelberto, que nos conceda uma prudência e uma sabedoria semelhantes àquelas de que ele nos deu exemplo, e saibamos desse modo sempre escolher o bem e rejeitar o mal.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência em 23/2/1966)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *