Senhor, dai-me forças que Vos seguirei!

Para conseguir o Reino de Maria —­ o grande ideal de sua vida — Dr. Plinio compreendia ser necessária muita dor, a fim de que a impiedade reinante no mundo atual fosse derrotada. Assim como o Redentor derramou todo o seu Sangue para esmagar o demônio, ele estava disposto a sofrer tudo para que, em união com os padecimentos de Cristo, fosse alcançada a vitória de Nosso Senhor sobre os ímpios.

 

Após o pecado de nossos primeiros pais, o gênero humano poderia ter sido exterminado com a precipitação de Adão e Eva no inferno. Porém, Deus não quis isso, mas sim que seu plano primitivo em relação aos homens, seres intermediários entre os Anjos e os animais, se realizasse, fosse perpetuada a ordenação do universo como Ele a havia concebido, e se operasse, em certo momento, a maravilha da Encarnação do Verbo.

Era preciso que a dor e a derrota fossem o preço da grande vitória

Com efeito, Ele quis precisar de um Homem que tivesse um mérito infinito, para expiar pelo pecado de Adão e de Eva. Então, Deus Pai decretou:

“A natureza humana, na qual a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade irá se encarnar, padecerá tudo. Ela sofrerá, será derrotada, esmagada, crucificada e liquidada aos olhos dos homens, até o momento glorioso da Ressurreição. Mas pelo valor infinito deste sofrimento, será esmagado Satanás e se abrirão para os homens as portas do Céu. Desta mesma estirpe maculada dos filhos de Adão nascerá a Virgem imaculada que, por obra do Espírito Santo, dará à luz o Imaculado por excelência, Jesus Cristo, meu Filho, no qual haverá a união hipostática. Oh! maravilha! Isto Eu farei porque Jesus resolveu sofrer até o fim. O sofrimento, a derrota, o padecimento d’Ele serão a minha vitória sobre a morte, o demônio e o pecado.

“O gênero humano vai padecer, vai pecar. Mas virá um dia em que uma Virgem nascerá. E essa Virgem, concebida sem pecado, pedirá que venha o Messias. E o que ninguém alcançou, Ela alcançará, e o que Ela não imagina se dará: o Messias será concebido, por obra do Espírito Santo, das entranhas puríssimas dessa Virgem, e esse Messias, com o consentimento e o oferecimento d’Ela, será sacrificado no alto da Cruz. Derrota espetacular! Derrota tremenda! Ela O receberá morto sobre os joelhos e presidirá a cerimônia fúnebre por onde o cadáver d’Ele, recortado de golpes, de pancadas, de dilacerações, será coberto das ervas aromáticas, que, segundo o rito judaico, devem acompanhar os corpos dos mortos na sepultura. Ela O seguirá até lá e, depois, ficará num isolamento misterioso, enquanto Ele estiver no isolamento do seu sepulcro. Três dias depois, Jesus ressuscitará num esplendor único e começará a série de vitórias. O demônio ficará arrasado!”

Era preciso, portanto, que Um resolvesse sofrer, expiar, tomar ares de derrotado, de repudiado pelos acontecimentos, pelas circunstâncias, e que a dor e a derrota d’Ele fossem o preço para a grande vitória de Deus.

Taça de dor oferecida a Nossa Senhora

Desde então, nunca deixou de haver na Igreja, ao longo de toda a sua História, almas que se oferecessem na aparência da derrota, da humilhação, das demoras inexplicáveis, dos desmentidos esmagadores de suas esperanças, vertendo, com isso, o sangue de suas almas. Mas Deus quer esse sangue para vencer as batalhas que Ele trava.

E se o Reino de Maria brilhar, como nós temos certeza que brilhará, e o demônio for esmagado, estejamos certos de que contribuíram para isso os nossos padecimentos, ao longo de todas essas décadas: os meus velhos sofrimentos e os vossos jovens sofrimentos. Tudo isso somado terá contribuído para preencher uma taça de dor que nós entregaremos a Nossa Senhora, quando chegar o último momento de sofrer, e dissermos:

“Mãe, tudo quanto é produzido por nós, apresentado a Deus sem ser por Vosso intermédio, não vale nada. Mas, oferecido por meio de Vós, vale tudo. Aqui está tudo quanto nos pedistes: todo o suor, todo o sangue, todas as lágrimas que enchem, de sobejo, essa taça. Condescendei em sorrir para tanta dor! Dignai-Vos abençoar e purificar isso que, se não passar por Vós, não tem condições para agradar a Deus. Sorri para essa oferenda, ó Mãe, purificai-a e apresentai-a ao vosso Filho!”

Nesse momento em que Maria Santíssima Se voltar para Jesus e disser “Filho, a última gota foi posta por eles, a última perfeição foi posta por Mim”, o som de um gongo simbólico percorrerá todas as vastidões dos Céus e da Terra e começará o triunfo.

”Christianus alter Christus”

O último sangue que o homem tem que verter, e que de fato verte, é o mais precioso que ele dá. É por essa razão que eu tenho tanta devoção ao episódio de Nosso Senhor transfixado pela lança de Longinus. Ele tinha derramado todo o seu Sangue, mas queria — por um desígnio insondável — dar mais. E havia ainda algum soro no interior de seu Corpo Sagrado, e esse soro, misturado com uns restos de Sangue, precisava ser vertido. Então, aquele soldado vem e crava a lança no Sagrado Coração, e jorram Sangue e água.

É a última barbaridade, a última tortura, a última dor, o último Sangue. É o perfume mais magnífico, a doação suprema, a entrega mais esplêndida. É aquilo que mais deixou os Anjos encantados no Céu, e Nossa Senhora, ao mesmo tempo rompida de dor, mas extasiada de admiração na Terra.

Esta dor, este sofrimento é o contributo para tudo quanto nós esperamos. E se é preciso que eu sofra, aqui estou, como vítima à maneira do Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. “Christianus alter Christus”: o cristão é um outro Jesus Cristo. Se é meu dever unir meus padecimentos aos sofrimentos divinos d’Ele, eu aceito! Descarregue-se em mim a dor, se for necessário! Eu me ofereço como vítima e digo: “Senhor, se o raio de vossa cólera tem que cair sobre minha inocência para comprar a vossa vitória sobre os ímpios, que caia Senhor, mas vencei-os!”

Foi preciso que o Cordeiro de Deus, puríssimo além de toda expressão possível de pureza, fosse morto para expiar pelos pecadores infames. O mérito do Sangue do Cordeiro, por assim dizer, deu a Deus o direito de resgatar das garras do demônio aquilo que não se lhe tiraria mais. E, desse modo, o demônio foi esmagado. Mas o Altíssimo quer que demos o nosso sangue junto com o d’Ele. Deus quis que nosso Rei, o Rei de toda a glória, Se apresentasse na hora da vitória coberto de chagas, de dores. Um dos profetas pôde dizer que o Redentor Se tornara como um leproso, e que do alto da cabeça até a planta dos pés, por causa da Paixão, não havia n’Ele uma parte do Corpo que estivesse sã.

Então, Nosso Senhor sofreu por mim, e eu não sofrerei por Ele? Que horror!

A alegria de participar do grande desfile inaugural do Reino de Maria

Quando o padre celebra a Missa — esse símbolo me encanta! —, após colocar o vinho no cálice, verte nele uma gota de água. Qual a razão de ser dessa água, se é o vinho que vai ser transubstanciado? Ela representa os sacrifícios dos homens, unidos ao sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ao misturar-se com o vinho, aquela água forma com ele uma só substância; ela, de si, não poderia ser matéria para a transubstanciação, mas unida ao vinho transubstancia-se em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Assim também os nossos sofrimentos, unidos aos de Nossa Senhora e aos de Nosso Senhor, adquirem o mérito que nunca teriam, e como tais se apresentam diante de Deus, que quer essa gota de água e nos pede: “Meu filho, não é uma gota, mas um tonel, pois é tudo o que há em ti. Sento-Me à tua cabeceira e te digo: Queres dar-Me?”

Como dizer “Senhor, não”?!  A única resposta possível é: “Senhor, quanta bondade de terdes pensado em mim! Eu inteiro sou vosso; dai-me forças que Vos seguirei!”

Vemos, portanto, a beleza dessa espera que padecemos. Enquanto essa espera se dá, nós estamos comprando a vitória. Talvez não entendamos, mas a Fé nos ensina que isso é assim. E quando chegar a hora da vitória, Nosso Senhor, na sua glória, Nossa Senhora, magnífica no reluzimento de sua realeza, sorrirão para nós e dirão: “Meus filhos, vós bem sabeis que sangue entrou nisso! Lembrai-vos de tal hora, de tal momento, de tal ocasião? Tudo isso ajudou para comprar agora este triunfo. Vinde,  Nós vos associamos à nossa glória!”

Qual será, então, a alegria daqueles que, pela própria dor, compraram a promulgação do Reino de Maria? A participação no grande desfile inaugural do Reino de Maria! Não há palavras que indiquem isso suficientemente.

 

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 29/1/1983)
Revista Dr Plinio 187 (Outubro de 2009)

 

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