Nossa Senhora do Sagrado Coração

Ao cantar as glórias de Nossa Senhora no seu relacionamento com o Sagrado Coração de Jesus, Dr. Plinio nos deixa ver o alto grau de contemplação ao qual, quando ainda muito jovem, chegou sua alma profundamente mariana.

 

Se há uma época para cuja miséria só pode existir esperança de remédio no Sagrado Coração de Jesus, esta é a nossa.

Inútil seria atenuar a enormidade dos crimes que por toda a parte pratica a humanidade em nossos dias. Disse Pio XI, em uma de suas Encíclicas, que a degradação moral do mundo contemporâneo é tal, que o coloca na iminência de se ver precipitado, de um momento para outro, em condições espirituais mais miseráveis do que aquelas em que se encontrava quando veio ao mundo o Salvador. (…)

O sol da misericórdia divina

Uma humanidade perseverante na sua impiedade tudo tem a esperar dos rigores de Deus.  Mas Deus, que é infinitamente misericordioso, não quer a morte desta humanidade pecadora, mas  sim “que ela se converta e viva”. E, por isto, sua graça procura insistentemente todos os homens, para que abandonem seus péssimos caminhos e voltem para o aprisco do Bom Pastor.

Se não há catástrofes que não deva temer uma humanidade  impenitente, não há misericórdias que não possa esperar uma humanidade arrependida. E para tanto não é necessário que o arrependimento tenha consumado sua obra restauradora. Basta que o pecador, ainda que no fundo do abismo, se volte para Deus com um simples início de arrependimento eficaz, sério e profundo, que ele encontrará imediatamente o socorro de Deus, que nunca se esqueceu dele. Di-lo o Espírito Santo na Sagrada Escritura: ainda que teu pai e tua mãe te abandonassem, eu não me esqueceria de ti. Até nos casos extremos em que o paroxismo do mal chega a esgotar a própria indulgência materna, Deus não se  cansa.  Porque a misericórdia de Deus beneficia o pecador até mesmo quando a Justiça  divina o fere de  mil  desgraças  no  caminho da iniquidade.

Estas duas imagens essenciais da justiça e da misericórdia divina devem ser constantemente postas diante dos olhos do homem contemporâneo. Da justiça, para que ele não suponha temerariamente salvar-se sem méritos. Da misericórdia, para que não desespere de sua salvação desde que deseje emendar-se. E, se as hecatombes de nossos dias já falam tão claramente da justiça de Deus, que melhor visão para completar este quadro, do que o sol da misericórdia, que é o Sagrado Coração de Jesus?

Infinito amor para com os homens

Deus é caridade. E por isto mesmo a simples enunciação do Nome Santíssimo de Jesus lembra a ideia do amor. O amor insondável e infinito que levou a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade a se encarnar! O amor expresso através dessa humilhação incompreensível de um Deus que se manifesta aos homens como um menino pobre, que acaba de nascer em uma gruta.

O amor que transparece através daqueles trinta anos de vida recolhida, na humildade da mais estrita pobreza, e nas fadigas incessantes daqueles três anos de evangelização, em que o Filho do Homem percorreu estradas e atalhos, transpôs montes, rios e lagos, visitou cidades e aldeias, cortou desertos e povoados, falou a ricos e a pobres, espargindo amor e recolhendo na maior parte do tempo principalmente ingratidão.

O amor demonstrado naquela Ceia suprema, precedida pela generosidade do lava-pés e coroada pela instituição da Eucaristia! O amor daquele último beijo dado a Judas, daquele olhar supremo posto em São Pedro, daquelas afrontas sofridas na paciência e na mansidão, daqueles sofrimentos suportados até a total consumação das últimas forças, daquele perdão medi-

ante o qual o Bom Ladrão roubou o Céu, daquele dom extremo de uma  Mãe celestial à humanidade miserável.

Cada um destes episódios foi meticulosamente estudado pelos sábios, piedosamente meditado pelos Santos, maravilhosamente reproduzido pelos artistas, e sobretudo inigualavelmente celebrado pela liturgia da Igreja. Para falar sobre o Sagrado Coração de Jesus, só há um meio: é recapitular devidamente cada um deles.

Realmente, venerando o Sagrado Coração, outra coisa não quer a Santa Igreja, senão prestar um louvor especial ao amor infinito que Nosso Senhor Jesus Cristo dispensou aos homens. Como o coração simboliza o amor, cultuando o Coração, a Igreja celebra o Amor.

Nossa Senhora, Advogada dos pecadores

Por mais variadas e belas que sejam as invocações com que a Santa Igreja se refere a Nossa Senhora, em nenhuma delas deixaremos de encontrar uma relação entre Ela e o amor de Deus. Essas invocações, ou celebram um dom de Deus, ao qual Nossa Senhora soube ser perfeitamente fiel, ou um poder especial que Ela tem junto ao Seu Divino Filho. Ora, o que provam os dons do Deus, senão um amor especial do Criador? E o que prova o poder de Nossa Senhora junto a Deus, senão este mesmo amor?

Assim, pois, é com toda a propriedade que Nossa Senhora pode ao mesmo tempo ser chamada “espelho de justiça” e “onipotência suplicante”. Espelho de Justiça, porque Deus a amou tanto, que n’Ela concentrou todas as perfeições que uma criatura pode ter, e por isto mesmo em nenhuma Ele se espelha tão perfeitamente como n’Ela. Onipotência suplicante, porque não há graça que se obtenha sem Nossa Senhora, e não há graça que Ela não obtenha para nós.

Assim, pois, invocar Nossa Senhora sob o título do Sagrado Coração é fazer uma síntese belíssima de todas as outras invocações, é lembrar o reflexo mais puro e mais belo da Maternidade Divina, é fazer vibrar a um só tempo, harmonicamente, todas as cordas do amor, que tocamos uma a uma enunciando as várias invocações da ladainha lauretana, ou da Salve Rainha.

Mas há uma invocação que quero lembrar especialmente. É a da advogada dos pecadores. Nosso Senhor é Juiz. E por maior que seja a sua misericórdia, não pode também deixar de exercer a sua função de juiz. Nossa Senhora, porém, é só advogada. E ninguém ignora que não é função do advogado outra coisa senão defender o réu. Assim, pois, dizer que Nossa Senhora do Sagrado Coração é nossa advogada implica em dizer que temos no Céu uma advogada onipotente, em cujas mãos se encontra a chave de um oceano infinito de misericórdia.

O que de melhor para se mostrar a esta humanidade pecadora, a qual, se não se fala de justiça de Deus, se embota cada vez mais no pecado, e se dela se fala desespera de se salvar? Mostremos a justiça: é um dever cuja omissão tem produzido os mais lamentáveis frutos. Ao lado da justiça que fere os impenitentes, nunca nos esqueçamos,  entretanto, da misericórdia que ajuda o pecador seriamente arrependido a abandonar o pecado e, assim, a se salvar.

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