Supremacia da alma

Como já tivemos ocasião de assinalar, a mentalidade do homem medieval se alicerçava na ideia da existência de uma outra vida e de uma ordem de coisas superior à terrena.

A meu ver, retratos fiéis de pessoas com essa concepção aparecem nas pinturas de Fra Angélico, o qual, embora de uma época posterior, é um artista talhado nos moldes da Idade Média. Em seus afrescos ele costuma representar figuras imbuídas de uma luz, claridade e leveza que não encontramos na vida real, e que nos falam de uma ordem eminentemente superior. Personagens, dir-se-ia, isentos das fraquezas humanas e sem a marca do pecado original, tão grande é a elevação de que o pintor os revestiu.

E não apenas nas figuras humanas, como também nos anjos que retratou, Fra Angélico soube expressar a temperança e a sabedoria do espírito medieval, voltada para as riquezas celestiais. Anjos de alma tão límpida, tão honesta, que estão dispostos a toda espécie de serviço. Tão fortes e conscientes de si, que estão prontos para toda sorte de domínio. Tão pacíficos, que são anjos da paz; tão combativos, que são anjos de combate ao mal. Todos os contrastes, todos os opostos harmônicos neles se acham em estado maravilhoso. São uma síntese magnífica e um símbolo perfeito das melhores disposições da alma medieval.

Outros exemplos, ainda, poder-se-ia ver nas figuras esculpidas nos portais e fachadas das catedrais góticas. Mesmo quando se tratam de imagens que representam pessoas na atitude de exercer sua profissão, percebe-se que têm o espírito povoado por idéias de uma ordem superior, o que lhes confere dignidade, equilíbrio, recolhimento e uma total preponderância da alma sobre a matéria. v

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 15/9/1966 e 3/6/1967)

Revista Dr Plinio 123 (Junho 2008)

 

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