Confiança especial para cumprir a vocação

Nossa Senhora concede a certas pessoas a vocação especial de lutar pela Santa Igreja e pela Civilização Cristã. Ela as chama para uma via que supõe renúncias, privações, exigindo delas esforços para os quais se sentem fracas; por vezes, na hora da tentação elas cambaleiam e correm o risco de não terem coragem de seguir esse caminho. Mas devem ter a confiança inabalável de que a Santíssima Virgem lhes dará graças especiais para o cumprimento da vocação.

 

A virtude da confiança, como descrevê-la? No que ela consiste, definidamente? Para termos disso uma ideia, valeria a pena entrarmos nos pormenores do problema da vida de um homem.

Providência geral e especial

A Providência Divina é Deus enquanto amoroso para com cada homem, e provendo todo o necessário a fim de que ele realize aquilo para o que foi destinado.

Há homens que estão debaixo da regra comum da Providência, os quais recebem uma intenção de Deus a respeito deles muito genérica. Por exemplo, é intenção de que os homens se casem, com o  próprio trabalho ali mentem suas famílias, tenham uma progênie numerosa que se multiplique e deixe uma descendência vasta sobre a Terra.

Esses são os desígnios divinos sobre o comum dos homens, e que fazem parte da providência geral. Deus guia e auxilia de um modo genérico essas pessoas que Ele ama.

Assim, as chuvas se sucedem ao bom tempo e irrigam, preparam a terra, as plantações se formam, são colhidas, alimentam os homens, estes caminham para os seus trabalhos, os governos administram o trabalho humano, as pessoas dão uma educação cada vez melhor aos seus filhos, há uma cultura cada vez mais aprimorada, os povos progridem e, de um modo geral, a humanidade vai indo para a frente.

Existem certas pessoas sobre as quais Deus tem uma providência especial, ou seja, quer delas uma vida que não é a do comum dos outros homens e deseja que elas realizem uma missão especial. Para essas pessoas,  A Deus dá auxílios também incomuns. A Providência chama-as de um modo especial para o serviço da Santa Igreja em dois ramos distintos: inscrevendo-se nas fileiras sagradas do clero, das ordens religiosas; ou, continuando no estado laical, servindo a Esposa de Cristo por meio de um trabalho prestado à Civilização Cristã, esforçando-se para que a sociedade civil se organize de acordo com a Lei do Evangelho e, por esta forma, colabore com a Igreja para a salvação das almas. Dou um exemplo.

Também o Estado precisa cumprir o primeiro Mandamento

Deus ordenou dois Mandamentos a respeito da família: o sexto e o nono. Diz o sexto Mandamento: “Não pecarás contra a castidade”. E o nono: “Não cobiçarás a mulher do próximo”. Esses dois Mandamentos devem ser cumpridos por todo o mundo, são imperativos; enquanto o homem não se case, ele deve ser casto.

Quando se casa, ele vai praticar não mais a castidade perfeita, mas a castidade segundo o seu estado, que vem a ser a fidelidade matrimonial. Se a sociedade é toda católica, as pessoas não vão procurando praticar o ato impuro antes do casamento, também não se tentam umas às outras.

O marido e a mulher têm horror à infidelidade e são mais resistentes às tentações. As famílias se mantendo, a sociedade toda sendo assim, há poucas tentações para os homens, e as almas, então, se salvam em quantidade. A Civilização Cristã serve de meio para facilitar aos homens o  cumprimento dos Mandamentos. Com isso, ela dá  glória a Deus e ajuda aos homens a irem para o Céu.

Está escrito no primeiro Mandamento da Lei de Deus: “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o coração”. Este é um preceito que todo homem deve praticar no domínio de sua vida particular, enquanto membro da Igreja. Mas também o Estado está sujeito ao mesmo Mandamento e toda nação é obrigada a servir e amar a Deus de todo o coração.

As cerimônias e solenidades da Igreja são grandes dias do Estado também. Por exemplo, dia 25 de janeiro é festa de São Paulo Apóstolo, patrono da cidade e do Estado de São Paulo. Em um país no qual a Igreja seja oficialmente unida ao Estado, todas as autoridades deveriam ir incorporadas assistir à Missa na catedral. Terminada a celebração, precisaria haver desfile solene de tropas diante das autoridades eclesiásticas e civis, reunidas no mesmo palanque. Seria natural que no dia de “Corpus Christi” o Santíssimo Sacramento desfilasse pelas ruas com as tropas formadas em alas de um lado e de outro, ajoelhadas ou apresentando armas. Por esta forma fica muito mais fácil aos homens darem toda a importância à Religião e, consequentemente, amarem a Deus sobre todas as coisas.

Compreende-se, assim, como a Civilização Cristã é preciosa para a realização dos desígnios de Deus. E Ele pode escolher determinados homens para a missão especial de figurar no mundo, como leigos, servindo a Civilização Cristã sob a inspiração da Igreja Católica. A esses, Deus escolhe e chama especialmente, dizendo: “Meu filho, olha como a sociedade civil está desgarrada! Não queres dedicar-te inteiramente para que ela sirva à salvação e não à perdição das almas?” A Civilização Cristã é fruto desse tipo de apostolado, e nós fomos chamados a fazer essa maravilha de dentro desse horror, de um mundo que caiu onde caiu, e está ao revés de tudo quanto Deus quer.

Como se constitui uma vocação

Se analisarmos como se constituiu essa vocação, notaremos, em quase todos os casos, verificar-se uma pequena história individual. Ora é um menino nascido em um ambiente ruim, cuja alma  anseia por algo melhor, o que o leva a sentir uma fricção, um desagrado em contato com os lados maus desse ambiente. Por vezes ele não sabe explicitar, mas é como se elevassem na sua alma harmonias que a inocência canta no seu interior. Ele experimenta em si algo de mais luminoso, e começa por se sentir incompreendido, com necessidade de migrar para um meio onde as coisas sejam de outra maneira.

Se, ao contrário, ele vive em um ambiente bom, digno, agradável, sereno, que convida à prática da virtude, mesmo assim em sua alma há anseios do maravilhoso e não apenas do suficiente. Ele pensa em combates, riscos e aventuras que não sabe como são, mas tem sede de outra coisa que não seja aquele casulo onde ele nasceu, e ao qual, entretanto, ele quer tão bem.

Como há larvas que em determinado momento se transformam em borboletas, assim também o menino sente que nasceu larva, mas há nele asas se formando e ele quer voar. Eis o início do chamado de Nossa Senhora, uma vocação, porque era a graça de Deus que punha na alma desse menino aqueles anseios que o levavam a procurar a Igreja, a Civilização Cristã.

Esses fatos são, mais ou menos explicitamente, passos da alma para conhecer mais de perto a Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Santíssima, amá-Los e servi-Los.

Ora, ensina a Igreja Católica que ninguém é capaz de dar um passo em direção a Deus sem o auxílio sobrenatural da graça. Sem essa ajuda o homem não pode sequer dizer de um modo amoroso os nomes de Jesus e Maria.

Então, conclui-se que a graça, pondo na alma aquele desejo, chamou. “Vocare”, em latim, é chamar. Vocação é chamado. Não se trata, portanto, de uma fantasia, mas é uma questão de Fé.

Necessidade da graça para realizar qualquer boa obra

Como se insere nisso o tema da confiança? Aqueles sobre os quais Deus tem um desígnio geral precisam ter a confiança também geral de que realizarão esse desígnio. Mas aqueles a quem a Providência destina para uma missão específica, devem ter uma confiança especial de que Deus concederá auxílios excepcionais para o cumprimento daquela tarefa.

Suponhamos um clérigo que, sendo um grande orador, é sagrado bispo para dirigir uma diocese. Talvez ele julgue que, assim como outrora arrebatava as multidões com os seus discursos, agora, como bispo, irá ao púlpito e arrebatará as multidões para as verdades da Fé.

Por certo, a eloquência é um dom natural concedido por Deus e que, uma vez recebido, pode desenvolver-se naturalmente. Contudo, se esse bispo não acreditar que necessita de uma ajuda especial da graça, ele não converterá nenhuma alma, pois suas palavras não produzirão nenhum aumento do amor de Deus em quem as ouvir, e ele não trará ninguém para a Igreja Católica.

Dou outro exemplo. Imaginem uma pessoa que monta um grande orfanato católico. Um modo de combater a limitação da natalidade, o aborto, é erigir casas onde os pais desalmados, que não querem educar os seus filhos, os deixam nos braços amorosos da Igreja. Como para a primeira infância nada é comparável ao carinho materno, são Ordens religiosas femininas que se dedicam a acolher essas crianças.

Ora, essas Ordens têm problemas, falta de dinheiro, necessidade de remédios, de médicos, de mil coisas. São necessárias pessoas com boa capacidade administrativa para levar a bom termo a fundação e a organização de um orfanato.

Como se trata de uma obra destinada a servir a Deus, se o organizador do orfanato não entender que deve pôr sua principal confiança, não nas suas capacidades nem nos seus meios de ação – como parentesco, relações, etc. –, mas no auxílio divino, o orfanato vai água abaixo.

Prece do homem desconfiado e do confiante

Se Nossa Senhora nos chama para uma via que supõe renúncias, privações, exigindo de nós esforços para os quais nos sentimos fracos, e na hora da tentação cambaleamos, por vezes corremos o risco de não ter coragem de seguir esse caminho, então é preciso ter confiança de que a Santíssima Virgem nos dará graças especiais. Nunca é válido o seguinte raciocínio: “Esse caminho é muito  bom, mas não vou seguir, pois não tenho forças”. Porque o contrário é verdade: Dê um passo e mais outro… Basta que para este minuto você tenha força, o minuto que vem Nossa Senhora proverá. Ande para a frente e peça o auxílio d’Ela; a Virgem fará milagres! Maria Santíssima é a Mãe de Misericórdia  que nos pede muitas coisas, mas nos dá muitas outras também.

Às vezes, para realizar a nossa vocação, nós precisamos de certo dom natural. Por exemplo, uma boa saúde, um pouco de repouso para nos refazermos, e desejamos isso para tornar o nosso caminho um pouco mais leve. Devemos acreditar que, na maior parte das vezes, Nossa Senhora nos concederá tais favores. Então, precisamos rezar com confiança: “Salve Rainha, Mãe de  misericórdia, vida doçura, esperança nossa, salve!” Ou então: “Lembrai-Vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido à vossa proteção, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, com igual confiança, a Vós, ó Virgem singular, como a Mãe recorro e de Vós me valho…”

Nesse caso, a confiança é a virtude por onde confiamos na sabedoria e na bondade de Deus pelos rogos de Maria; no amor materno especialmente misericordioso e próprio a perdoar de Nossa Senhora, que fez d’Ela como que uma longa manus da misericórdia divina, pois até onde Deus, por assim dizer, não poderia chegar em sua misericórdia, Ele criou Nossa Senhora para que Ela chegasse.

A confiança é, pois, a virtude pela qual, tomando isso em consideração, pensamos: “Fui chamado, preciso de tais circunstâncias especiais para realizar meu apostolado. Confio em que Nossa Senhora as dará.” Quer dizer, Ela é lógica, segura, bondosa, Ela não fará essa coisa monstruosa de me chamar para que eu não realize aquilo para o qual Ela me chamou.

Essa certeza de que Ela dará, Nossa Senhora quer como condição para atender o nosso pedido. Ela atende, mas quer que confiemos. A prece do desconfiado sobe a Deus com mais dificuldade do que a prece do homem confiante. A prece do desconfiado em relação a Ela é como quem subisse ao Céu passo a passo. Pelo contrário, a prece do homem confiante faz com que ele voe.

Às vezes, a graça nos submete a provações tremendas

Há um matiz delicado nisso. Às vezes, não há uma razão especial para termos a certeza de que Nossa Senhora vai nos dar aquilo que que remos, e podemos pensar o seguinte: Nossa Senhora sabe o que me convém, eu não o sei. Como vou ter confiança nessa oração? Se Ela é minha Mãe e me dá o melhor, eu peço uma coisa que talvez não seja a melhor, não obtenho. É uma reflexão razoável, inteiramente conforme à Fé. Como é que vou confiar?

Às vezes, Nossa Senhora põe em nossa alma uma certa doçura, uma certa esperança especial de conseguir que é uma forma de promessa de que Ela dará se pedirmos. Quando vem essa moção interna da graça, a alma cometeria uma ingratidão se não compreendesse que, por causa daquilo que ela sentiu, deve esperar com confiança. É muito delicado, porque a pessoa pode se enganar e tomar como voz da graça algo que não é. Mas, normalmente, quando se sente uma forma de alegria especial e sobrenatural, um certo pressentimento bondoso de que aquilo se vai realizar, muitas vezes é algo dito pela graça que fala em nossa alma e nós devemos confiar.

Por vezes, a graça nos submete a provações tremendas. Considerem o episódio de São Pedro no Lago de Genesaré (cf. Mt 14, 22-31). Nosso Senhor estava caminhando vi sobre as águas, e chamou São Pedro para ir até Ele. O Apóstolo não teve dúvida, saltou da barca e principiou a andar. Em certo momento, olhou para a água e sentiu como aquilo era mole debaixo dos pés, teve medo e começou a afundar. Isso pode dar-se conosco. Começamos a fazer uma coisa desejada por Nossa Senhora, e aquilo parece afundar… Nesses momentos devemos nos ajoelhar e dizer a Ela:

“Minha Mãe, nesses transes permiti-me que Vos diga com todo o respeito que uma criatura Vos possa ter: Eu não tomo a sério o que está se passando. Sei que é uma provação permitida por Vós e que me põe numa situação dificílima, mas Vós fazeis isso para ver se eu confio. Se eu confiar, obterei. Minha Mãe, continuo a confiar em Vós e a ir para a frente!”

Às vezes, é preciso rezar e esperar anos, com uma série de fracassos pelo meio. Um dia, inesperadamente, aquilo tudo se realiza. Esta é a virtude da confiança!

Uma das maiores alegrias que o homem possa ter na vida é quando ele passa por um período onde parece que tudo vai contra a sua confiança, mas, apesar disso, em certo momento, ele vê que aquilo se realizou.

“Ainda que eu caminhe em meio às sombras da morte, não temerei os males”

Lembro-me de que eu era professor de História Medieval, Moderna e Contemporânea numa das faculdades da Universidade Católica de São Paulo, onde havia uma capela com o Santíssimo  Sacramento. Sempre que eu ia a essa faculdade, após as aulas, rezava diante do Santíssimo Sacramento, fazia uma visita à imagem de Nossa Senhora que estava lá e saía. Como em todas as épocas de minha vida, essa era também de muitas provações e da necessidade de muita confiança.

Certo dia, eu estava na capela – onde havia uma galeria de vitrais de um lado e de outro, com cenas da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo; e ao levantar-me, olho para um dos vitrais que estava mais abaixo, o qual representava, se não me engano, a Ressurreição do Redentor, onde estava escrito o seguinte: “Nam et si ambulavero in medio umbræ mortis non timebo mala…” (Sl 22, 4) – Ainda que eu caminhe em meio às sombras da morte, não temerei os males. E em outro vitral ao lado havia a frase: “…in lumine tuo autem vi debimus lumen” (Sl 35, 10) – Na tua Luz veremos a luz.

Aquilo me encheu a alma e compreendi: é preciso ter mais confiança. Plinio, anima-te! Nossa Senhora te ajudará! Então eu disse a Ela: “Nam et si ambulavero in medio umbræ mortis non timebo mala. Minha Mãe, ainda que eu ande nas sombras da morte, não temerei os males porque Vós me ajudareis. Minha Mãe, na luz de vosso olhar eu verei a Luz!” Pensei nessas coisas a propósito de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano. Maria Santíssima olha com o olhar tão interior, tão embevecido, não se sabe bem se para o Filho que Ela tem nos braços, ou para um filho ajoelhado diante d’Ela e que é qualquer fiel que vai ali rezar.

E temos a impressão de que podemos dizer-Lhe: “In lumine tuo videbimus lumen”. Na luz de vosso olhar veremos a verdadeira Luz, que é Jesus Cristo Nosso Senhor, que Vós trazeis nos vossos braços.

Vocação da Bem-aventurada Petruccia

Vejam a história da Bem-aventurada Petruccia. Ela recebe uma vocação: trabalhar para reconstruir e reformar uma igreja de Nossa Senhora nesse lugarzinho chamado Genazzano. De fato, a vocação era muito maior, ela não sabia. Não era só para Genazzano, mas para abrigar um dos maiores milagres da História, uma devoção que tem expansão pelo mundo inteiro. Ela gasta tudo o que tem e fracassa!

Aos 80 anos de idade, Petruccia, que esperava morrer depois de ver a igreja construída, recebe de todo o mundo sarcasmos e censuras: – Louca, gastou o seu patrimoniozinho, está aí vivendo de esmola, pesando sobre os outros e levantando aqui esses muros que nem chegaram até uma altura normal. Louca! Ela, com doçura, responde: – Não vos incomodeis… eu sei.

Ela poderia acrescentar: “Deus me falou na alma! Sei que antes de eu  morrer, essa igreja estará construída. Um dia, como tantos outros, a Bem-aventurada Petruccia devorava em silêncio a demora da promessa, quando, de repente, as nuvens se fazem sonoras, luminosas, e desce o afresco de Nossa Senhora, e permanece ali. Todos reconhecem o milagre: a pintura fica de pé, sem em nada se apoiar, e até agora ali está, sem ser segura por nada.

Entram as doações para a construção do templo que começa a se erguer logo, porque o afresco paira em cima da igreja apenas iniciada, no lugar onde, sem dúvida, Nossa Senhora desejava que fosse construído o altar.

Portanto, Ela queria aquela igreja. Assim, antes de Petruccia morrer, a igreja estava garantida. Pode-se imaginar a morte de Petruccia, em paz, dizendo um pouco como Simeão conforme narra o Evangelho: “Agora, Senhor, levai em paz a vossa serva porque meus olhos viram a igreja que me prometestes!” É a virtude da confiança.

“Você não morrerá sem ter realizado a finalidade de seu apostolado!”

No caminho que nós seguimos, devemos esperar de Nossa Senhora muito mais do que os outros homens esperam. Precisamos aplicar todos os nossos talentos e recursos para servir a Santíssima Virgem, mas compreendendo  que tudo isso, embora indispensável, não é suficiente. As coisas só funcionam se a Mãe de Misericórdia nos ajudar pela sua graça e pela sua providência.

É necessário termos confiança de que Ela nos ajudará, antes de tudo, para perseverarmos e sermos santos; e, em segundo lugar, para vencermos a grande batalha da Contra-Revolução. Em 1967, eu tinha passado por dissabores enormes devido a dificuldades de nosso apostolado. Foram tais os desgostos e os estorvos que adoeci gravemente. Fui levado ao hospital para exames médicos e, em face dos resultados, os médicos resolveram fazer-me uma operação.

Portanto, por cima de uma série de terríveis insucessos de apostolado, vinha uma doença grave que trazia, entre outros inconvenientes, o de constituir para minha mãe uma grande preocupação. No período que antecedeu a essa doença, caiu-me nas mãos fortuitamente – vejo que foi por desígnios da Providência, mas não lembro mais por que vias o fato aconteceu – um livro a respeito de uma devoção da qual eu já ouvira falar: Nossa Senhora do Bom Conselho, em Genazzano.

Apesar da amargura em que eu me encontrava, a leitura do livro causava na minha alma um bem-estar interno tão grande, que eu me dizia: “Não compreendo por que, mas isto me faz um bem espiritual extraordinário!”

Precisamente, alguém teve a caridade de me mandar vir da Europa uma estampa da Mãe do Bom Conselho, e levaram-me quando eu ainda me encontrava no leito do hospital. Quando fiquei colocado diante da estampa, deu-se comigo um fato que o livro, aliás, contava que acontecia frequentemente. Sem ocorrer nenhum milagre, sem haver movimentação na face de Nossa Senhora, a imagem mudava de expressão para estes ou aqueles que rezavam diante d’Ela.

E eu tive a noção de que a face da Santíssima Virgem mudava de expressão diante de mim e me olhava com muita ternura, muita bondade, muito materna, dando-me a certeza relativa ao ponto que mais me atormentava, e que era o seguinte: Quem sabe se esses insucessos de apostolado se devem a alguma imperfeição espiritual minha? Quem sabe se vou morrer prematuramente como castigo dessa imperfeição?

E por mais que eu faça exame de minha consciência, não encontro resposta para essas indagações. Há uma falta em mim e em que ponto? Tive a impressão de que a imagem respondia ao mais candente da pergunta: “Meu filho, esteja seguro de que você não morrerá sem ter realizado a finalidade de seu apostolado!”

Essa certeza me alentou depois em todas as outras provações. Posso garantir que os dissabores sofridos por mim posteriormente foram tão numerosos e terríveis que, se eu não tivesse essa promessa, teria morrido. Não tenho dúvida nenhuma. Se com os meus 76 anos tenho a alegria de estar rememorando esses acontecimentos, é porque essa imagem me deu esta confiança: a finalidade de meu apostolado, no fim, se realizará!

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 9/2/1985)

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