Belezas filhas da santidade

Entre todas as civilizações que se formaram ao longo da História, nenhuma produziu riquezas e maravilhas superiores às da Civilização Cristã, nascida do influxo direto da santidade da Igreja Católica, Apostólica, Romana. Considerada nos seus vários séculos de existência, a Europa nos aparece grande não apenas pelas obras primas que engendrou, mas, sobretudo,  pelos grandes homens e grandes povos que teve, dotados de virtudes, peculiaridades, graus de cultura e de bem-estar incomparáveis, dos quais brotaram tudo quanto houve — e ainda há — de mais belo e digno de admiração no Velho Continente.

Daquele conjunto de indivíduos e nações, movido por um consenso bafejado pela Igreja, surgiram, por exemplo, as célebres corporações medievais, assim como as mais renomadas universidades  ou os mais lindos tesouros de arquitetura urbana, jóias que cintilam com as luzes de uma Paris, uma Viena, uma Veneza… Goethe, o insigne literato alemão, registra em suas Memórias a visita que fez à esplendorosa “Rainha do Adriático”, onde, diz ele, “até nas mais humildes choupanas encontram-se traços de elaborada arquitetura”. Quer dizer, sobre o que outrora eram pântanos, os nobres edificaram palácios, e os homens do povo construíram casinholas nas quais, de repente, a forma de uma porta ou de uma janela, o colorido de um vitral ou de uma lanterna refletem o mesmo senso artístico que admiramos nos primeiros.

Como esses, quantos outros cenários, instituições e estabelecimentos fizeram da Europa algo sem precedentes na História! Uma Europa que se tornou maravilhosa em tudo, desde a receita do pão  preto popular até o mais fino vinho de Champagne, do Reno, de Cades ou do Porto que se possa querer. Portanto, uma civilização que sempre procurou píncaros, ideais, pulcritudes, inclusive nas  menores coisas. E que — ciente de ser a terra um vale de lágrimas, um lugar de degredo, com seus inevitáveis prosa “ísmos” — soube criar um modo de atenuá-los e de torná-los pitorescos.

Creio não me enganar se dissesse que, talvez sem o perceber muito, as pessoas não vão à Europa somente atrás dos grandes monumentos ou dos melhores hotéis. Vão, também, por causa dessa legenda dourada, variada e pitoresca que cada povo europeu cultivou à sua maneira.

Todas essas maravilhas, reiteramos, nasceram das graças da Igreja Católica, e de uma noção muito ampla do amor a Deus, fonte de toda beleza, inundado na glória de sua essência eterna, imutável, perfeita, absoluta. Nasceram de um modo de ver a santidade com uma plenitude e com uma extensão de conseqüências concretas, quase inimaginável. Entendendo que a prática dos Mandamentos, sobretudo do primeiro, leva o homem a querer implantar no mundo o “verum, bonum, pulchrum” — o verdadeiro, o bom e o belo — em todas as matérias e em todos os campos, para que tudo fique semelhante a Deus, para que a terra se pareça com o Céu.

Daí as ordens religiosas, constituídas para praticar a perfeição espiritual e o completo desapego aos bens materiais, estarem na origem de alguns dos vinhos e licores mais preciosos que o homem já concebeu, além de queijos, chás, cervejas e outros produtos de primeira categoria. Coisas de que eles, monges feitos para a renúncia a tudo, não desfrutam, mas fabricam por amor a Deus, sabendo que Lhe dão uma glória especial contribuindo para o ornato desses aspectos cotidianos da vida.

Por outro lado, essa mesma santidade, esse mesmo impulso para o sublime inspirou os castelos fabulosos, as residências principescas e régias, assim como as imponentes catedrais góticas que  proclamam, com sua altivez e esplendor, a triunfante beleza de Cristo ressurrecto.

Pequenas e grandes obras-primas de almas cheias de entusiasmo, de amor a Deus, de anseio por levar as coisas à máxima expressão de “verum, bonum e pulchrum” de que são capazes. Em torno delas floresceu a maior das civilizações. Desabrocharam as magnificências da Europa cristã.

Plinio Corrêa de Oliveira – Revista Dr Plinio 56 (Novembro de 2002)

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