Uma ave radiante de beleza

Ainda que não consigamos expressar o que nos vai à alma quando nos deparamos com a beleza posta por Deus em suas criaturas, estas nos encantam e arrebatam.
Dr. Plinio, entretanto, além de enlevar-se com elas, era capaz de, ao analisá-las, explicitar verdadeiras maravilhas.

Quando o pavão abre sua cauda, tem-se uma primeira impressão estonteantemente rica, ordenada e atraente, que faz a pessoa ficar um pouco agredida pela beleza que ela tem.

Depois, num segundo momento, após haver absorvido o aspecto geral que há na ave, começa-se a deitar os olhos neste ou naquele pormenor, a fim de explicitar a primeira impressão.

Começa-se, evidentemente, pelas penas da cauda. Elas têm qualquer coisa de sedoso, próprio do brilho da seda ou do brilho do cristal, eu diria até, do brilho da pedra. Seu brilho fica entre a pedra e a seda. Para compreendermos bem a beleza que há na cauda do pavão, deveríamos imaginar uma pedra sedosa, ou uma seda pétrea.

Suas penas possuem uns semicírculos formados por diferentes cores; no interior há umas como que sub-cores que se acumulam e se resolvem umas nas outras, deixando pasmo quem as contemple.

Quando já estamos pasmos nessa contemplação, o pavão fecha sua cauda e vai passear noutro lugar, tranquilo, arrastando no chão aquela cauda feita de pseudo pedrarias incomparáveis. Temos vontade de apanhá-lo e dizer-lhe: “Não ande assim com essa cauda, ponha isso no alto porque estraga!” Porém, sua cauda é tão superior ao solo que nada a suja. Ela tampouco varreu o chão; apenas passou sobre o solo à semelhança de um avião que sobrevoa uma cidade, sem, entretanto, derrubar nenhum prédio, mas também sem se deixar abalar pelos edifícios!

Em seguida, quando estamos entusiasmados na contemplação de sua cauda, nosso olhar deita-se no pescoço do pavão.

Éclatant1 de beleza, com um colorido composto por uma mistura de verde com azul, ele possui tal distinção que se diria quase tratar-se de uma grande dame2. O pavão, às vezes, vira-se para trás, olha de cima, toma um recuo como quem diz: “Realidade, como te atreves a estar tão próxima de meu olhar! Afasta-te, pois eu te vejo igualmente bem de longe, e tu me vês melhor quando eu estou longe de ti. Para longe!”

No alto da cabeça do pavão há um “topetinho”, que, à primeira vista, não seria necessário de nenhum modo para a beleza dele, mas que tem o encanto do supérfluo. Ele nos dá a seguinte impressão: “A partir de agora, acrescentar algo a essa ave seria demasiado, pois sua beleza não permite mais nenhum ornato”.

 

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 20/3/1993)

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