“Tu o dizes, Eu sou Rei”

Presente em todos os sacrários da Terra, Nosso Senhor Jesus Cristo exerce uma realeza efetiva sobre toda a História, por meio da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Nosso Senhor Jesus Cristo foi ora aclamado, ora ridicularizado como Rei, coroado de espinhos e, por fim, no alto da Cruz onde Ele foi imolado colocaram a inscrição: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus”. O que havia de autêntico na realeza d’Ele, e qual a relação de sua Paixão com essa realeza?

Realeza incompreensível para os ímpios

Interrogado durante a Paixão, por Pôncio Pilatos, sobre se Ele era rei, Nosso Senhor Jesus Cristo respondeu: “Tu o dizes, Eu sou Rei”.

Entretanto, pouco antes Ele afirmara que seu Reino não é deste mundo. Declaração incompreensível para aqueles bandidos que O atacavam. Do que adianta ser rei para não o ser deste mundo? Há fora deste mundo um reino no qual se possa reinar? Ora, um rei sem reino, é um ex-rei. Donde é, pois, esse reino?

Para debicar de sua realeza, aqueles algozes Lhe puseram uma coroa de espinhos, uma túnica escarlate e uma vara de bobo na mão, à guisa de cetro; e O esbofeteavam, dizendo: “Ave, Rei dos judeus!”

Uma nação ímpia, um governador romano ímpio também, insensíveis ou refratários à verdadeira realeza d’Ele que se irradiava como a luz do Sol, resolveram atender às vontades da plebe e do Sinédrio que queriam matá-Lo por torpes ambições, quiçá, por ódio à santidade d’Ele. E para provar que Ele não tinha poder, nem sabedoria, nem divindade, nem realeza, colocaram-Lhe uma coroa de espinhos sobre a cabeça.

Misto de humilhações e vitórias

O seu Corpo verte Sangue abundantemente, e Ele Se torna purpúreo como se estivesse revestido de um manto imperial, cujo valor é infinito. Abandonado pelos Apóstolos, rejeitado pelo povo eleito, sentado sobre um banquinho ou uma pedra qualquer e levando bofetadas, mantém Ele a mansidão de um Cordeiro com a altaneria de um Leão e a dignidade de um Rei em seu trono, num misto de dor lancinante e de triunfo, que O acompanharão até o Calvário.

Do alto da Cruz, pouco antes de morrer, como um Rei que premia um herói, Ele reabilita um ladrão e canoniza-o, dizendo: “Hoje, tu estarás comigo no Paraíso!”

Assim é a vida do católico, a vida da Igreja: cheia de humilhações e de vitórias. Humilhações tão profundas que se diria nunca mais poder reerguer-se delas; vitórias tão grandes que julgaríamos irreversíveis.

Entretanto, como uma nau que navega levada pelas ondas a alturas e profundidades vertiginosas, assim a barca de São Pedro vai percorrendo a História: com todas as honras, mas também com todas as dores e humilhações de Cristo coroado.

Três espinhos dessa coroa sagrada foram parar em mãos de São Luís IX, Rei de França, que para abrigá-los devidamente mandou construir um dos mais belos monumentos da arte medieval e, portanto, de toda a História: a Sainte-Chapelle, verdadeira caixa de cristal com nervuras de granito, onde se celebra o Santo Sacrifício.

Um Reino que não é deste mundo

Sim, Nosso Senhor Jesus Cristo é verdadeiramente Rei, antes de tudo por ser Ele Quem é: o Verbo de Deus encarnado. Deus é Rei, porque é Deus! Logo, Jesus Cristo é plenamente Rei por sua divindade. Se houve, portanto, alguém digno deste título na Terra, este foi, continua a ser e será Ele, até o fim do mundo.

Assim, quando Lhe perguntaram se era Rei, Ele tinha toda a razão em responder: “Verdadeiramente, tu o dizes, Eu sou Rei!”

Ele fizera inúmeros milagres, convertera os homens, viera para, por sua Paixão e Morte, resgatar do pecado o gênero humano. Não Lhe faltavam, pois, títulos para a realeza.

Os milagres, a santidade e a profundidade incomparável de sua doutrina, o testemunho da Sagrada Escritura, tudo levava a reconhecê-Lo como o Messias.

O Antigo Testamento falava que o Messias, descendente de Davi, seria o Rei de Israel cujo Reino eterno se estenderia sobre o universo inteiro.

Os judeus esperavam, portanto, a vinda de um príncipe da Casa de Davi, um conquistador, um político e um militar extraordinário que brilhasse como um potentado terreno e pusesse longe os romanos conquistadores, tomando conta de Jerusalém para estabelecer um reinado de glória, perto do qual o de Salomão não teria sido senão um tímido prefácio.

Ora, Jesus veio e não conquistou nada, reconheceu a autoridade de César, e disse não pertencer a este mundo o seu Reino.

Reinando de dentro de todos os sacrários da Terra

Contudo, sendo Homem-Deus, não só conhecia, mas dispunha do futuro. O domínio de todos os acontecimentos da História Lhe pertence. Ele sabia que o seu Reino chamar-se-ia Igreja Católica Apostólica Romana.

Não é um reino deste mundo, constituído para ter exércitos e fazer política. É o reino estabelecido para difundir o nome e a mensagem d’Ele a todos os homens, e para que a Lei d’Ele viesse a vigorar, um dia, em todo o orbe.

Grande mistério: Ele reinaria de dentro de todos os sacrários da Terra! Quem poderia compreender uma coisa dessas? Mas Ele tinha razão: “Tu o dizes, Eu sou Rei!”

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferência de 28/4/1984)

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