São José, bem-aventurado entre os homens

Patriarca e Padroeiro da Igreja, São José era objeto de veneração e admiração profundas da parte de Dr. Plinio, quer por suas insignes virtudes, quer por ter sido escolhido para Esposo da Mãe de Deus e pai nutrício de Jesus. Admiração e veneração que Dr. Plinio procurava despertar também em seus discípulos, tecendo-lhes comentários como os transcritos a seguir, onde sobressaem os luminosos predicados da alma de São José.

 

Ao celebrarmos as excelsas virtudes de São José, talvez conviesse salientarmos, primeiramente, um aspecto da vida do glorioso patriarca pouco ressaltado nos comentários que sobre ele temos lido.

A glória de ter sido recusado

Refiro-me ao fato de ele, ao procurar um abrigo para Nossa Senhora prestes a dar à luz o seu divino Filho, ver que lhes recusavam lugar nas hospedarias de Belém. São José, Príncipe da Casa de David, nobre da família real ao mesmo tempo deposta e no seu apogeu, pois dela ia nascer o esperado das nações, bate às portas e é rechaçado.

Despedem a quem representava algo que a mediocridade de alguns homens sempre rejeitou, ou seja, a distinção, a majestade, enfim porque simbolizava a grandeza e a sublimidade do próprio Verbo Encarnado que Maria Santíssima trazia consigo.

Foi esta a primeira glória de São José, sua especial bem-aventurança de ter sido recusado no momento mais augusto da História. Nesse sentido, prenunciava em sua pessoa a renúncia tão mais acerba que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreria mais tarde, culminando na crucifixão e morte no Calvário.

Sucessivas glórias e bem-aventuranças

Logo depois, teve São José a glória de conduzir Nossa Senhora aos arredores de Belém, e de com Ela se refugiar num lugar ermo, numa gruta que servia de habitação aos animais. Ali A acomodou e ali esteve, por amor à virtude, sozinho e abandonado dos outros homens. Ali também foi-lhe dada a suprema dita de presenciar o nascimento do Salvador.

A partir de então podemos dizer que as glórias se acumulam sobre São José, mas — oh! paradoxo! — quase todas negativas. Por exemplo, a de ser um homem apagado, do qual não se fala, ou a ele se referem com menosprezo. “Este (diziam os que motejavam de Nosso Senhor) não é filho daquele carpinteiro? Um filho de mero carpinteiro não pode ser Deus”. O que significa tomar São José como um fator de descrédito para o próprio Messias.

Os evangelistas são lacônicos ao mencionarem a figura do pai do Menino Jesus. Sobre ele pouco se sabe. Transparece nesse quase anonimato a glória daquele que padeceu, previamente, as humilhações e todo o peso da renúncia que devia cair sobre Nosso Senhor.

Bem-aventurado São José, que sofreu por amor à justiça, assim como bem-aventurado porque nele se cumpriam todas as bem-aventuranças que o Divino Mestre enumerou no sermão da montanha. Varão bem-aventurado entre os homens, abaixo do próprio Jesus e de Maria Santíssima, limpo de coração como nenhum outro, porque esposo virginal da Virgem por excelência.

Único homem à altura de Maria

Esposo de Nossa Senhora! Todos os louvores e exaltações, todas as enaltecedoras palavras sobre São José não podem dizer tanto quanto a simples afirmação de que ele foi o esposo de Maria e o pai adotivo do Menino Jesus.

Compreende-se que a Divina Providência, ao eleger a mãe do Verbo Encarnado, adornou-a de qualidades e atributos insondáveis inerentes a tão excelsa prerrogativa. Donde excederem a toda capacidade de intelecção humana o conceber os limites desses atributos e qualidades existentes na pessoa de Maria Santíssima. Ela é, inconteste, a mais perfeita dentre as simples criaturas. Se tomarmos a soma das excelências de todos os anjos e de todos os homens que já existiram, existem e existirão na face da Terra, não teríamos sequer pálida ideia da perfeição da Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ora, então pergunta-se: se Deus foi tão magnificente no predestinar e modelar a mulher que daria ao mundo o Salvador, e em cumulá-la das mais preciosas graças, seria Ele menos pródigo no escolher o homem que deveria ser o esposo dessa Virgem e dessa Mãe?

Evidentemente não. Um homem tinha de ser considerado proporcionado a essa esposa: por seu amor a Deus, pela sua justiça, pureza, sabedoria e todas as demais qualidades. Esse homem, escolhido por tal adequação à pessoa de Nossa Senhora, foi São José.

Proporcionado ao Filho

Em segundo lugar, o pai deve ser proporcionado ao filho. E só nesse aspecto a grandeza de São José se nos apresenta indizível. Cumpria que o homem escolhido para tal missão a desempenhasse com incomparável dignidade, e assumisse a posição de verdadeiro pai do Redentor, mostrando-se à altura d’Ele. São José foi este homem. Estava na proporção de Jesus Cristo, assim como estava na proporção de Nossa Senhora.

Para formarmos alguma ideia do que representa essa maravilhosa condição de pai e protetor do Verbo Encarnado, pensemos, por exemplo, nas imagens de Santo Antônio que se veneram em certos altares: o santo traz em seu braço o Menino Jesus, e para este dirige um olhar embevecido, repassado de uma felicidade imensa porque, em razão de um milagre, teve o Filho de Deus em seus braços durante alguns instantes. E nós, do nosso lado, fitamos a imagem igualmente embevecidos, exclamando em nosso interior: “Feliz Santo Antônio, ao qual foi dada essa honra inefável de carregar o Menino-Deus”.

Ora, quantas vezes São José terá conduzido o Divino Infante em seus braços? Dias, meses, anos ele O viu crescer, rezar, praticar todos os atos de sua vida comum.Ouvi-O, e teve, ele mesmo, os lábios suficientemente puros e a humildade suficientemente grande para fazer essa coisa formidável: responder a Deus, dar ao Menino os conselhos que Este lhe pedia, sabendo que era a criatura aconselhando o Criador…

Vemos, então, essa glória única de São José, a de ser o homem capaz de governar a Sagrada Família, de cuidar das necessidades terrenas de Nossa Senhora e de Jesus Cristo, inteiramente adequado e proporcionado à altura dessa dignidade.

Modelo de devoção mariana

Devemos acrescentar a tais excelências essa outra: São José é o modelo do devoto mariano. Com efeito, ninguém representa melhor a devoção a Nossa Senhora do que o homem escolhido para ser seu esposo, aquele que — podemos imaginar — A contemplava continuamente, admirando-A nos seus gestos e nas suas palavras, haurindo dessa contemplação ricas lições de sabedoria, recebendo a propósito dela graças extraordinárias, e a todo momento conformando sua alma à d’Ela.

Por isso mesmo, além de perfeito devoto de Nossa Senhora, São José é também o modelo do espírito contemplativo, do espírito afeito ao cultivo da vida interior, para o qual elevar-se às altas cogitações e considerar todas as coisas em função de Deus constitui a genuína felicidade de sua existência. Glorioso São José, modelo de sabedoria, de força, de pureza.

A verdadeira face de São José

Concluo esses comentários com uma ponderação colateral, porém a meu ver oportuna.

Não raro nos deparamos com gravuras e imagens que representam São José com um perfil moral muito aquém de todas essas excelsas qualidades e virtudes que acima salientamos. Donde me parecer não devermos aceitá-las como legítimas manifestações da verdadeira personalidade do pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Creio que, para se ter alguma ideia do semblante espiritual de São José, seria preciso deduzir, à maneira de suposição, o caráter de um homem que esteve à altura de ser o pai d’Aquele cuja Sagrada Face está estampada no Santo Sudário de Turim. Quer dizer, o homem que foi o educador, o guia, o protetor do senhor daquele rosto impresso no sudário; um homem que foi da mesma linhagem, parente e esposo da Mãe d’Ele.

Conceber algo menor que isso é não ter ideia da extraordinária figura de São José, modelo de fisionomia sapiencial porque consorte da Sede da Sabedoria, do Espelho da Justiça, Maria Santíssima. Modelo de fortaleza, porque pai do Leão de Judá, Nosso Senhor Jesus Cristo.

A este verdadeiro São José devemos elevar nossas preces, rogando-lhe interceda por nós junto à Virgem Santíssima e a seu Divino Filho, e nos alcance a graça de o imitarmos nas suas magníficas virtudes.

Plinio Corrêa de Oliveira (Extraído de conferências em 19/3/1966 e 18/3/1967)

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