A maior das glórias

Muito se disse da glória da carreira militar, a qual não advém do número de vítimas que o guerreiro faz, e sim dos riscos que ele corre, emoldurados pelo seu esforço pessoal de combatente. Ele não recuou diante do perigo e da iminência da morte, enfrentou todos os obstáculos na sua ofensiva, deitou toda a energia dos seus músculos e todo o vigor da sua alma naquela refrega.

Em geral as nações — é fato comprovado pela História — têm seu período de glória militar e a fase em que tal esplendor se eclipsa, o entusiasmo pelo heroísmo cede lugar ao desejo de acomodação, de se sentir dentro de casa, protegida, sem os sobressaltos de um conflito.

Surge, então, o papel da glória literária. Esta consiste em levantar na alma do povo o apreço pelo maravilhoso por meio da palavra, da argumentação, da letra de um hino, capazes de suscitar nos corações os sentimentos que fazem do homem um herói. A literatura desse porte alcança despertar numa população inteira que vai se tornando lerda, egoísta e moleirona, o brio da coragem e, com este, a força de se reerguer à altura de seu luminoso passado.

Tal é a glória literária, cuja beleza está no ela poder servir o heroísmo, ressuscitando-o. Exemplo característico, os Lusíadas, de Camões. É um poema que exalta a glória dos navegadores portugueses que venceram todos os mares, tocaram nas Américas, na Índia, no Japão…

Esplendor militar, grandezas da literatura, excelências dignas de admiração. Porém, pode-se considerar ainda mais admirável e mais bela a glória religiosa. Compreende-se, pois esta é a glória daquele que deseja conquistar para Deus uma imensa vitória na Terra, isto é, evangelizar o maior número possível de almas a fim de que Deus seja Senhor e Rei delas no Céu por toda a eternidade. O religioso almeja dar ao Criador algo que Ele ama superlativamente, com amor infinitamente superior àquele que qualquer conquistador tenha por seu próprio triunfo.

Se um missionário conseguisse salvar a alma de um só dos seus semelhantes, ofereceria mais a Deus do que se a Ele fosse dado a terra, a lua e todo o nosso sistema planetário. Pois a Igreja nos ensina que tudo quanto Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu na sua Paixão e Morte preciosíssimas, foi em ordem à redenção de todo o gênero humano, mas o Salvador padeceria os mesmos tormentos por qualquer homem individualmente considerado. Quer dizer, se Deus tivesse criado um só homem e este tivesse pecado, Jesus estaria decidido a sofrer tudo o que sofreu para resgatar essa alma.

Imagine-se, então, a grandiosidade da missão de uma pessoa que consegue para Deus a adesão de um país inteiro, o qual permanecerá católico até o fim dos tempos! Quantas almas irão para o céu porque tal pessoa obteve esse prêmio para Deus!

Camões, Vasco da Gama, guerreiros, literatos e conquistadores ilustres: todos expressões de extrema beleza, mas pouco adiantariam se não houvesse homens especialmente voltados para converter as almas e encaminhá-las nas vias da Civilização Cristã, com suas catedrais, ­suas universidades, toda a sua cultura, obras muito mais filhas de missionários e religiosos do que daqueles expoentes da literatura e da glória militar.

Pensemos, entre outros, nos monges beneditinos, insignes evangelizadores da Europa medieval, os quais, sob o impulso irresistível de seu Fundador, se espalharam pelo Velho Continente fundando mosteiros e abadias, promovendo a edificação de imponentes catedrais, a instituição de renomados estabelecimentos de ensino, a construção de monumentos que encantam o mundo até os presentes dias. Mais. Eles desejavam fugir das cidades para se recolherem em locais ermos, e as cidades corriam atrás deles: fundavam conventos, e as populações católicas cresciam em torno dos muros sagrados.

Não será esta glória superior à militar? À literária?

É a primeira das glórias. Porque visa mais diretamente a glória de Deus. Porque conquista algo que vale incomensuravelmente mais do que terras, cidades e tesouros. Conquista almas.

Plinio Corrêa de Oliveira

Revista Dr Plinio 99 (junho de 2006)

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