Como corresponder com gratidão ao infinito dom da Eucaristia?

Havendo conhecido o célebre livro do Pe. João Pinamonti sobre a Sagrada Eucaristia, com base nos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola, Dr. Plinio considerou ter encontrado um tesouro. Damos continuidade aos comentários tecidos por ele a este respeito.

 

Continua  o Pe. Pinamonti:

“Que dirão os anjos do Céu, que conhecem muito bem de um a outro extremo a suma liberalidade de Cristo, e a excessiva estreiteza do teu coração?”

É algo que nos deixa confundidos! Nem os anjos da mais alta hierarquia celeste têm com Nosso Senhor a forma de união que nós homens possuímos, recebendo a Eucaristia. Os anjos não podem comungar, pois não têm corpo. Gozam até da visão bea­tífica, vêem a Deus face a face, estão inundados de dons celestes. Mas, a Sagrada Eucaristia eles não recebem, e nos olham como que “invejando” esta graça.

E nós não haveríamos de recebê-la com maior respeito, meditação, consideração prévia?

Imaginemos uma pequena capela onde um sacerdote dá a algum de nós a Eucaristia. Visíveis apenas o padre, um de nós, e um discozinho de farinha e água. Porém, a fé nos ensina que todos os anjos e santos do Céu adoram cada partícula do Santíssimo Sacramento existente na Terra; e portanto presenciam aquela comunhão, cantando e louvando o Divino Redentor. Nossa Senhora, por sua vez, louva a Nosso Senhor porque Ele está Se dando a nós. De maneira que o Céu inteiro está olhando para aquela cena e pede a Nosso Senhor misericórdia por aquele que está recebendo a Eucaristia.

Pode-se conjecturar algo mais alentador? Quanta alegria e que beleza nessa cena!

Se antes de comungar, pensássemos um pouco nisto, não é verdade que iríamos receber a Eucaristia com mais esperança, mais confiança, mais alegria? É evidente!

Cada comentário  do Pe. Pinamonti ao exercício inaciano é tão denso, que qualquer um deles daria para um sermão. Porém, ele os apresenta esquematicamente. Por isso, não posso deixar de ser também esquemático.

Afirma ele:

“Confunde-te da tua ingratidão: lembra-te que à medida dos benefícios, se abusares deles, serão castigos: propõe de dar tudo a quem te dá tudo sem reserva. Dá graças ao Senhor duma magnificência tão excessiva para contigo e roga-lhe que a tão excessivos benefícios acrescente este de te dar um novo espírito e um novo coração para os estimares e lhes corresponderes quanto deves”.

O pensamento aqui expresso é muito profundo.

Diz ele:

“Confunde-te de tua ingratidão”. O que é “ficar confundido”? É propriamente não saber o que dizer. Entretanto, segundo a doutrina católica a confusão por nossas faltas deve ser cheia de confiança, como quem se ajoelha aos pés do Divino Salvador e diz:

“— Meu Senhor, andei mal e não tenho o que Vos dizer. Mas confio em Vós porque sois a solução de tudo. Vós sois o caminho, a verdade e a vida. Com confiança prostro-me aos Vossos pés, como Santa Maria Madalena. Sei que não me repelireis, nem me abominareis. Vós sois Aquele que a todos emendais e curais. Curai-me e emendai-me a mim também. Estou aqui como o cego, o paralítico ou o leproso do Evangelho: sanai-me das minhas doenças de alma, como sanastes aqueles corpos. Por Vossa Mãe, a quem nunca negastes nada, e a qual nunca recusa de atender ao pecador que a Ela recorre, eu Vos suplico: curai-me!”

Essa é a confusão confiante, cheia de certeza de ser atendido, com a qual se deve comungar.

Inspirado em Santo Inácio, recomenda  o Pe. Pinamonti ainda pedirmos a Deus que mude o nosso espírito. Nosso Senhor pode transformar o espírito de uma pessoa de um momento para outro. A História conhece inúmeros casos de conversões súbitas. Ou aos poucos, gradativamente, convertendo-a ao longo dos anos.

Se em cada comunhão pedirmos a Nosso Senhor que nos converta e nos mude, em determinado dia Ele nos atenderá.

Conta-se que São Francisco de Sales durante trinta anos deu diariamente comunhão a um homem, ao qual precisava ouvir todos os dias em confissão, pois este era muito débil e fraco. O santo o absolvia e lhe ministrava a Eucaristia. Ao cabo desse tempo, o indivíduo se emendou e levou depois vida modelar.

Esse homem recebia a comunhão com confusão confiante. Em cada dia ele ia melhorando e progredindo. Isto porque a Eucaristia é o centro, o foco e a alma de nossa vida espiritual. Assim devemos considerar cada comunhão que recebemos.

Após analisar o dom — que é o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo — Pe. Pinamonti comenta o afeto de quem concede.

“Considera o afeto com que Jesus Cristo te dá este soberano dom. Nisto mais propriamente consiste o benefício, por ser o amor a alma dos dons, sendo o que se dá como o corpo de cada um deles. Foi pois, tão excessivo este amor de Cristo em nos dar a divina Eucaristia, que chegou a tocar o último termo.

“E assim como uma fornalha, pelas chamas que lança fora, dá a conhecer os ardores que em si contém, assim a imensa caridade com que Cristo instituiu este Diviníssimo Sacramento, se dá a conhecer pelo tempo e modo de o instituir, e pelas dificuldades que venceu para esta instituição.”

Para explicar o amor com que Nosso Senhor nos concedeu o Sacramento da Eucaristia, ele mostra o tempo, o modo e as dificuldades que teve para instituí-Lo.

  1. a) O tempo em que O instituiu:

“O tempo foi aquele mesmo em que os homens tratavam de Lhe dar uma morte crudelíssima; então é que quis dar aos homens este manjar de vida, achando modo de ficar sempre conosco, quando os seus inimigos, mais do que nunca, tratavam de O tirar deste mundo.”

A reflexão é das mais comovedoras que se possa imaginar!

A Sagrada Eucaristia foi instituída na Quinta-Feira Santa. E autor cita um trecho de uma epístola de São Paulo: “in qua nocte tradebatur, accepit panem” – “Na noite em que foi traído, Ele tomou o pão”. (1 Cor. 11, 23). Quer dizer, enquanto era traído e os judeus planejavam matá-Lo, Ele instituía um modo de ficar com os homens ininterruptamente.

É um fato muito bonito: Nosso Senhor, depois da instituição da Sagrada Eucaristia, não mais deixou de estar na Terra por um instante sequer.

No momento em que os judeus pensavam armar uma cilada para expulsá-Lo da Terra, O Redentor preparava uma sacratíssima rasteira contra eles. Instituiu a Eucaristia e, quando morreu, Ele ficou sob forma eucarística em Nossa Senhora, assim não abandonou o mundo em nenhum momento.

Vemos o amor dele ao gênero humano, através da maravilha que engendrou para estar com os homens o tempo inteiro: quando os Apóstolos puderam celebrar a Santa Missa, a presença eucarística começou a se multiplicar pela Terra.

Tal maneira de proceder denota uma inteligência suma, um grande amor desejo de estar conosco!

  1. b) O modo como foi instituído:

O Padre Pinamonti explica então, o modo pelo qual Nosso Senhor instituiu a Eucaristia:

“O modo com que instituiu este Divino Sacramento é debaixo das espécies de manjar para se unir tanto a nós que, assim como não há arte que possa separar da nossa substância o nutrimento que se tem já distribuído por todo o nosso corpo, assim não haja arte nem força que possa separar-nos do mesmo Cristo.”

É um raciocínio belíssimo! Jesus quis estar conosco sob a forma de alimento. Quando alguém come um pão, este se integra de tal forma ao corpo, que não se pode separar um do outro. Analogamente, através da Eucaristia, o Divino Salvador quis estabelecer uma íntima união conosco.

  1. c) As dificuldades que venceu:

“Mas sobretudo se manifesta a sua caridade nas dificuldades que venceu para nos fazer tanto bem; porque prevendo uma inumerável multidão de irreverências, de desprezos, de sacrilégios dos infiéis para com o seu Santíssimo corpo, e de tantos cristãos, ou tíbios ou malignos, contudo se expôs a tolerar tudo para chegar a unir-se com tua alma; e a esta mesma tolerância acrescentou desejos, e desejos veementíssimos: “Desiderio desideravi” — ‘Com grande desejo desejei comer esta Ceia convosco’(Luc. 22, 15). E ainda que para vir ao mundo e encarnar-se, se tenha feito desejar e esperar por tantos séculos; agora para vir ao teu coração Ele mesmo te solicita a ti com um desejo digno somente do seu Coração Divino.”

É outro pensamento belo como o sol! Para compreendê-lo é necessário colocar-se no estado de espírito de Nosso Senhor, no momento anterior à instituição da Sagrada Eucaristia.

O Redentor conhecia o passado, o presente e o futuro, previa todos os sacrilégios que iriam ser cometidos até o fim do mundo contra o Santíssimo Sacramento.

Pois bem, diz o autor:

“Nem todos esses pecados foram capazes de impedi-Lo de proceder a esta instituição.

“Um número incontável de injúrias, indiferenças e tibiezas foram as dificuldades que Ele quis vencer para te dar, ó católico, o Santíssimo Sacramento nessa hora.”

É um pensamento esplêndido!

Nós desmaiaríamos diante da perspectiva de receber por Nosso Senhor, um centésimo das injúrias que Ele recebeu por nós… Seu amor e sua bondade são tão grandes, que apesar disto, desejou sofrer tudo quanto sofreu, a fim de que o Santíssimo Sacramento viesse até nós. É algo impressionante!

Insisto sobre o respeito e a confiança que isto deve suscitar em nós na hora da comunhão: quanto é poderoso o Deus capaz de tal maravilha, mas também quanto é bom! Devemos pois imaginá-Lo entrando em nossa alma com o afeto correspondente a esta bondade, e não fazendo uma inspeção seca e aborrecida: “Tal defeito, tal falta… Esse tipo não deveria ter-me recebido!…”.

Não! Devemos pensar o contrário.

Quando Jesus entrava na casa dos doentes para curá-los, não tapava o nariz com receio do mau-cheiro; pelo contrário, ia com afeto, vontade de fazer o bem, semblante sereno, ar bondoso, disposto a ouvir. E depois concedia a graça, operando o milagre. Devemos imaginar a Nosso Senhor sempre transbordante dessa bondade.

É impossível não reconhecer a limpidez e o acerto de tais raciocínios.

Então, quando comungarmos, digamos a Nossa Senhora — porque não podemos perdê-La de vista um só instante: “Minha Mãe, estas são razões por demais elevadas para eu compreendê-las inteiramente. Mas Vós, quando comungáveis, as entendíeis plenamente. Vinde espiritualmente à minha alma e tratai a Nosso Senhor como o fazíeis na Terra. Adorai a Deus em meu lugar”.

Assim, com confiança, devemos receber o Redentor alegremente. Se Nossa Senhora O está tratando Ele está sendo esplendidamente recebido em minha alma, e eu estou oferecendo-Lhe uma festa régia.

Por fim, a utilidade:

“Considera a utilidade deste dom da Eucaristia. Por isto se chama comunhão, para significar que faz comuns à alma todos os bens de Jesus Cristo; de sorte que aquele capital imenso de merecimentos, em toda a sua vida e na sua morte, se aplica todo neste Divino Sacramento, no qual pretende o Senhor renovar em cada pessoa particular os efeitos que a sua Santíssima Paixão tem produzido em todo mundo.”

É outro pensamento diante do qual a pessoa não cabe dentro de si.

Imagine-se, cada um de nós, aos seus pés.

Considerando aquele sangue que verte, é uma bonita oração dizer: “Meu Senhor, fazei com que uma gota de Vosso sangue caia sobre mim e me transforme”. No entanto, uma comunhão é muito mais do que isto! Porque através dela, todos os méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo são oferecidos por mim para redimir os meus pecados.

Devo, pois, ir confiante à comunhão. O sangue de Cristo pode tudo e, recebendo-O, estou adquirindo o remédio para todos os males e a solução para todos os problemas.

Devo também dizer a Nossa Senhora: “ Oh! Minha Mãe, fazei com que os méritos de Nosso Senhor se apliquem a mim de modo semelhante como se aplicaram a Vós, para que minha alma se entranhe continuamente deles”.

Podemos estar certos de que assim ficaremos “milionários” de méritos, por uma simples comunhão. Se uma pessoa passasse numa gruta a vida inteira sozinha, rezando, e fazendo penitência, ela não adquiriria tanto mérito quanto o obtido em uma só comunhão. Percebemos assim de que dom inapreciável dispomos.

Conclui o Pe. Pinamonti:

“Oh Deus sempre admirável em nos amar e fazer bem! Que coisa te poderá Ele negar, depois de te ter já dado tanto? E tu, que coisa lhe poderás negar a Ele?”

E sugere, que no final da comunhão se faça uma oração a Nosso Senhor Sacramentado. Nós, que somos escravos de Nossa Senhora segundo o método de São Luis Maria Grignion de Montfort, a fazemos por meio d’Ela. Poderia ser uma prece na qual pedíssemos ao Redentor que nos concedesse, dentre Seus inumeráveis dons, mais este: o de darmos tudo a Ele.

 

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