No Antigo Testamento – tanto quanto me lembre isso não ocorre no Novo – encontramos preces nas quais o orante dirige perguntas a Deus. Por exemplo: “Senhor, por que dormis?”, e outras interrogações análogas que esperam uma resposta do Criador.

De passagem, é interessante notar que as súplicas presentes nas páginas do Antigo como nas do Novo Testamento são inspiradas pelo Divino Espírito Santo, ou ensinadas diretamente por Nosso Senhor Jesus Cristo. São diferentes de uma prece privada, como esta que agora passo a comentar.

A pergunta-chave

A Oração da Restauração contém uma indagação, que é o ponto chave dela: “Não tendes também Vós , Senhora, saudades deste tempo?”

É a impetração de um pecador que se encontra no início ou na plenitude de um processo de arrependimento, e por isso se lembra com nostalgia do tempo em que ele era bom. E se recorda do convívio espiritual que tinha com Nossa Senhora, através da graça. Essa lembrança o enche de contrição e de saudades, pois ele quereria reviver aquela felicidade matutina do começo de sua vida, e que depois não teve igual.

Argumento do faltoso em seu favor

Então ele deseja dar a Maria Santíssima um argumento que A leve a atender seu pedido. Porque, precisamente por ser pecador, sente a insuficiência de seus próprios meios. Sozinho, nada obtém, e só alcançará algo se os seus argumentos forem aceitos. Então, com ânimo redobrado, parte à procura de uma razão para apresentar, e diz a Nossa Senhora: “Se eu, que sou filho, tenho saudades de Vós, quanto mais Vós, que sois Mãe, deveríeis ter saudades de mim!”

É a essência da oração.

E tão grande é a certeza da reciprocidade de sentimentos, que o suplicante não espera resposta. Como se Nossa Senhora lhe tivesse dito: “Sim, meu filho, tenho saudades de ti”, ele tira a conclusão: “Vinde, pois, minha Mãe, e por amor ao que desabrochava em mim, restaurai-me!”

Quer dizer, “por amor ao bem que ia surgindo em mim (está subentendido: ‘que eu sufoquei’), restaurai-me”.

“Recomponde em mim o amor a Vós”. Significa que ele não sente tanto quanto deveria o amor a Nossa Senhora, merecedora de maior devoção sua. Então pede-Lhe recomponha na sua alma esse amor, como conseqüência das saudades que Ela, por sua vez, tem dele: “Se Vós, minha Mãe, lembrais de mim, restaurai-me!”

“Dai-me aquilo que perdi…”

“E fazei de mim a plena realização daquele filho sem mancha que eu teria sido, se não fosse tanta miséria”.

Ou seja: “Eu era um filho que Vós amáveis inteiramente, pois não tinha manchas. Nesse tempo, estabelecia convosco um convívio amado por mim e por Vós. Entretanto, agora apresento essas nódoas. Vós não podeis desejar tal relacionamento com esse homem manchado. Então, tirai-me as máculas! Se tendes de fato saudades de mim, compadecei-vos e dai-me aquilo que eu perdi!”